Variação do impulso e da freqüência de remada entre o inicio e no final de uma prova de K1, 500 metros La variación del impulso y de la frecuencia de la remada entre el inicio y el final de una prueba de K1, 500 metros |
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Laboratório de Avaliação da Carga Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil) |
Bruno Mezêncio Leal Resende | André Fernandes da Silveira Alves Daniel Favilla | João Gustavo Oliveira Claudino João Batista Soldati | Jacielle Carolina Ferreira Leszek Antoni Szchmurowski |
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Resumo A canoagem de velocidade é uma modalidade esportiva muito popular na Europa, mas pouco difundida no Brasil. O acelerômetro tri-axial é um dispositivo que permite medir, indiretamente, a movimentação do caiaque nos eixos X, Y e Z (RESENDE et al., 2009), bem como inferir acerca de algumas questões relacionadas à técnica de remadas (McKeague, 2007). O monitoramento das trajetórias do remo e do caiaque pode ser uma ferramenta importante para se avaliar a eficiência do movimento, já que durante a prova devem ser evitados todos os movimentos desnecessários do caiaque (McKeague, 2007). Os objetivos deste estudo foram: verificar a variação do impulso e da freqüência de remadas entre o inicio e o final do percurso e o índice de fadiga de um tiro de 500 metros; identificar a estratégia de prova dos atletas através da interação destas variáveis. Participaram do estudo 9 atletas da seleção brasileira de canoagem. Os voluntários realizaram um tiro de 500 metros na maior velocidade possível. Utilizou-se para a coleta dos dados um acelerômetro JBA Staniak tri-axial (Polônia) que foi fixado na parte interna do caiaque. Foram utilizadas para análise duas fases: os 10% iniciais e os 10% finais da prova em relação ao tempo total. Os resultados apontam para uma tendência na estratégia dos atletas em manter o ritmo das remadas durante toda a prova em detrimento do impulso gerado pelo atleta. Porém, ao se observar os valores individuais dos atletas, nota-se que a estratégia adotada entre eles foi diferente. Com estes resultados pode-se concluir que a fadiga gerada durante a prova não influência na Freqüência de Remadas e que o impulso gerado em cada remada é determinante para a queda de desempenho observada. Percebe-se, com os resultados apresentados, que a acelerometria fornece importantes informações do rendimento no treinamento de canoístas de velocidade. Unitermos: Monitoramento. Canoagem. Acelerometria.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A canoagem de velocidade é uma modalidade esportiva muito popular na Europa, mas pouco difundida no Brasil, embora existam vários locais adequados para a prática no país.
Entre os trabalhos publicados sobre este esporte podemos citar, estudos sobre a caracterização física do atleta (Gobbo et al., 2002), avaliação de indicadores de aptidão física específicos para a modalidade (Zamparo et al., 1999; Pendergast et al., 1989), esforços submáximos e máximos sob condições laboratoriais controladas (Fontes et al. 2005; Hill et al. 2003) e no campo (Nakamura et. al. 2004), diagnóstico do perfil de treinamento do canoísta (Vermulst et al. 1991) e um estudo que aborda questões técnicas (McKeague, 2007).
Existem poucos estudos brasileiros que investigaram esta modalidade. Isto se deve provavelmente a pequena divulgação da modalidade. Dentre estes podemos citar Resende et. al. (2009), que realizaram um trabalho demonstrando as possibilidades de utilização de acelerômetros na avaliação de atletas de canoagem e três trabalhos de Nakamura et al. (2004, 2005 e 2008), abordando parâmetros do modelo de potencia crítica e realizando estimativa de custo energético e predição do desempenho de canoístas.
O acelerômetro tri-axial é um dispositivo que permite medir, indiretamente, a movimentação do caiaque nos eixos X, Y e Z (RESENDE et al., 2009), bem como inferir acerca de algumas questões relacionadas à técnica de remadas (McKeague, 2007). O monitoramento das trajetórias do remo e do caiaque pode ser uma ferramenta importante para se avaliar a eficiência do movimento, já que durante a prova devem ser evitados todos os movimentos desnecessários do caiaque, ou seja, movimentos que não contribuam com a propulsão gerada na direção da linha de chegada (McKeague, 2007).
Não existe na literatura algum trabalho que tenha mensurado o impulso total e por remada em uma prova de velocidade na canoagem bem como a freqüência de remadas de cada atleta, associando tais fatores à estratégia de prova adotada pelos mesmos. Portanto, os objetivos do estudo foram: verificar a variação do impulso e da freqüência de remadas entre o inicio e o final do percurso e o índice de fadiga de um tiro de 500 metros; identificar a estratégia de prova dos atletas através da interação destas variáveis.
Metodologia
Participaram do estudo 9 atletas da seleção brasileira de canoagem. Os voluntários realizaram um tiro de 500 metros na maior velocidade possível.
Utilizou-se para a coleta dos dados um acelerômetro JBA Staniak tri-axial (Polônia) que foi fixado na parte interna do caiaque. Os dados de todo o percurso foram armazenados e transferidos para um computador portátil. Foram utilizadas para análise duas fases da prova, os 10% iniciais e finais da prova em relação ao tempo total de prova.
O software utilizado para análise dos dados foi o CPC 2 Staniak (Polônia), com freqüência de amostragem de 200Hz.
O impulso total de cada uma das fases da prova foi calculado como a soma das integrais das curvas de aceleração de cada remada, o impulso médio por remada foi calculado como o impulso total dividido pelo número de remadas executadas naquela fase, a freqüência média de remada foi obtida pela razão entre o número de remadas e o tempo. O índice de fadiga do impulso total foi calculado como a queda percentual do desempenho de impulso total e o índice de fadiga do impulso médio por remada foi calculado como a queda percentual do desempenho de impulso médio por remada, através da fórmula
Índice de fadiga = (X i – X f) x 100/X i
Para verificação da normalidade dos dados foi realizado o teste de Kolmogorov Smirnov. Os dados foram apresentados em média, desvio padrão e coeficiente de variação. Para avaliar diferenças entre as fases foi utilizado o teste T de Student entre as fases iniciais e finais de impulso total, impulso médio por remada e freqüência média de remada. Para avaliar correlações entre as variáveis foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson. Foi adotado um nível de significância de 5% (p<0.05).
Resultados
Todas as variáveis apresentaram distribuição normal dos dados. A tabela 1 apresenta os valores de média, desvio padrão e coeficiente de variação de todas as variáveis.
A análise estatística mostrou diferença significativa entre os valores iniciais e finais de impulso total e impulso médio por remada, sendo os valores iniciais maiores do que os finais. Não houve diferença significativa entre os valores iniciais e finais de freqüência média de remada.
A tabela 2 apresenta os valores de correlação entre as variáveis.
Tabela 1. Média, desvio padrão e coeficiente de variação das variáveis
*Diferença significativa (p < 0.05)
Tabela 2. Correlação entre as variáveis
*Diferença significativa (p < 0.05)
(IFM: Índice de Fadiga Médio; IFT: Índice de Fadiga Total; IMRi: Impulso Médio por Remada inicial; IMRf: Impulso Médio por
Remada final; ITi: Impulso Total inicial; ITf: Impulso Total final; FRi: Freqüência de Remadas inicial; FRf: Freqüência de Remadas final.)
Tabela 3. Análise individual da variável Freqüência de Remadas
Tabela 4. Análise individual dos impulsos
Discussão
Não foram encontradas diferenças significativas entre a freqüência de remada no inicio e no final da prova, porém houve uma redução significativa do impulso nas duas situações. Estes dados apontam para uma tendência na estratégia dos atletas em manter o ritmo das remadas durante toda a prova em detrimento do impulso gerado pelo atleta. De acordo com Nakamura (2004), o desempenho em competição de modalidades esportivas cíclicas máximas, tal como a canoagem, depende da capacidade do organismo de regenerar o ATP consumido na contração muscular a taxas e em quantidades suficientes para a realização do trabalho externo. Assim, devido à fadiga decorrente da alta intensidade de realização da prova, ocorre uma redução do impulso gerado pelo atleta.
Porém ao se observar os valores individuais dos atletas, apenas dois deles realmente mantiveram a freqüência de remada, enquanto quatro atletas diminuíram a freqüência de remada e três aumentaram. Com relação aos valores de impulso, todos os atletas apresentaram redução destes no final da prova com relação ao inicio. Portanto a estratégia adotada pelos atletas foi diferente.
Observou-se que, tanto o Impulso Médio por Remada quanto o Impulso Total apresentaram redução significativa na parte final da prova, comparando com a inicial. Admite-se que a capacidade para sustentar a intensidade de um exercício máximo é dependente da capacidade anaeróbia que, quando se esgota, determina a exaustão (MORTON R.H., ET AL, 2000).
Como dito anteriormente, com a análise da variável Freqüência de Remadas não foram encontradas diferenças significativas entre os valores iniciais e finais. Esse resultado, aliado aos resultados e discussão das variáveis Impulso Médio por Remadas e Impulso Total, nos mostram que a fadiga gerada durante a prova não influência na Freqüência de Remadas. Com isso, podemos concluir que o impulso gerado em cada remada é a variável determinante da queda do desempenho na fase final da prova.
O menor valor para o índice de fadiga representa a menor queda do desempenho entre as duas fases (inicial e final). Embora não haja na literatura valores de referência para esta variável, é desejado um valor mais baixo quanto possível. O monitoramento desta variável pode ter importante papel no planejamento do treinamento do atleta, uma vez que quanto menor este índice, menor será a diferença do rendimento entre o início e o fim do percurso. Não foram encontradas diferenças significativas entre os índices de fadiga relacionados ao Impulso Total e ao Impulso Médio por Remada. Apesar disso, não foi verificada uma correlação entre esses dois índices.
Conclusões
Em média, houve uma tendência por parte dos atletas em manter a estratégia de manutenção do ritmo das remadas e diminuição do impulso gerado, durante toda a prova. Entretanto, numa análise dos valores individuais, na variável freqüência de remadas, dois atletas mantiveram, quatro diminuíram e três aumentaram, sendo que todos os atletas reduziram os valores de impulso, resultando em diferentes estratégias utilizadas.
Impulso Médio por Remadas e Impulso Total reduziram significativamente no final da prova. Com a observação destes resultados pode-se concluir que a fadiga gerada durante a prova não influência na Freqüência de Remadas e que o impulso gerado em cada remada é determinante para a queda de desempenho observada.
Não foram encontradas diferenças significativas entre os índices de fadiga relacionados ao Impulso Total e ao Impulso Médio por Remada, porém, não foi verificada uma correlação entre esses dois índices. O monitoramento desta variável se mostrou importante na verificação das diferenças do rendimento dos atletas entre os períodos inicial e final da prova.
Percebe-se, com os resultados apresentados, que a acelerometria fornece importantes informações do rendimento no treinamento de canoístas de velocidade.
Referências
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GOBBO L.A.; PAPST R.R.; CARVALHO F.O.; SOUZA C.F.; CUATTRIN S.; CYRINO E.S. Perfil antropométrico da seleção brasileira de canoagem. Rev. Bras. Ciên. Mov. 2002; 10:7-12.
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MCKEAGUE, C.C. Design of Kayaking Training Aid. Faculty of Sciences, Engineering and Health Central Queensland University, 2007.
RESENDE, B.M.L.; SONCIN, R.; CLAUDINO, J.G.O.; FERREIRA, J.C.; SZMUCHROWSKI, L.A. Utilização de Acelerometria em Canoagem. In: Anais do II Congresso Internacional de Educação Física e Qualidade de Vida, 2009, Taguatinga - DF. Grande área: Ciências da Saúde / Área: Educação Física / Subárea: TREINAMENTO ESPORTIVO.
MORTON R.H.; BILLAT V. Maximal endurance time at VO2max. Méd. Sci. Sports Exerc. 2000; 32:1496-504.
NAKAMURA F.Y.; BORGES T.O.; SALES O.R.; CYRINO E.S.; KOKUBUN E. Estimativa de custo energético e contribuição das diferentes vias metabólicas na canoagem de velocidade. Rev Bras. Med. Esporte. 2004; 10 (2): 70-77.
NAKAMURA F.Y.; BORGES T.O.; BRUNETTO A.F.; FRANCHINI E. Correlação entre os parâmetros do modelo de potência crítica no cicloergômetro de membros superiores e no caiaque. R. bras. Ci. e Mov. 2005; 13(2): 41-48
NAKAMURA F.Y.; BORGES T.O.; DE-OLIVEIRA F.R.; SOARES-CALDEIRA L.F.; BERTUZZI R.C.M.; MATSUSHIGUE K.A. Predição do Desempenho Aeróbio na Canoagem a Partir da Aplicação de Diferentes Modelos Matemáticos de Velocidade Crítica. Ver. Bras. Méd. Esporte Set/Out, 2008; 14:416-21.
PENDERGAST D.R.; BUSHNELL D.; WILSON D.W.; CERRETELLI P. Energetics of kayaking. Eur. J. Appl. Physiol. Occup. Physiol. 1989;59:342-50.
VERMULST L.J.M.; VERVOON C.; BOELENS-QUIST A.M.; KOPPESCHAAR H.P.F.; ERICH W.B.M.; THIJSSEN J.H.H.; ET AL. Analysis of seasonal training volumes and working capacity in elite female rowers. Int. J. Sports Med. 1991;12:567-72.
ZAMPARO P.; CAPELLI C.; GUERRINI G. Energetics of kayaking at submaximal and maximal speeds. Eur. J. Appl. Physiol. Occup. Physiol. 1999;80:542-8.
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