efdeportes.com

Identificação dos tipos cronobiológicos da equipe de atletismo de

Paranavaí-Paraná, qualidade do sono e a prática de exercícios físicos

Identification of chronobiologycal types of athletics team of Paranavai-Parana, sleep quality and physical exercise

Identificación de los tipos cronobiológicos del equipo de atletismo de Paranavaía, 

Paraná, calidad de sueño y la práctica de los ejercicios físicos

 

Projeto de Pesquisa

em Pedagogia do Exercício e Esporte – UFPR

(Brasil)

Prof. Fabiana Maria Alexandre | Dr. Ricardo de Melo Germano

Esp. Aguinaldo de Souza | Drd. Gislaine Cristina Vagetti

Dr. Antonio Carlos Gomes | Dr. Valdomiro de Oliveira

voliveira@ufpr.br

 

 

 

 

Resumo

          A cronobiologia pode ser definida como o estudo da ritmicidade biológica dos organismos viventes. E através desses estudos o presente trabalho tem por finalidade identificar os cronotipos dos atletas da equipe de Atletismo da cidade de Paranavaí - Paraná referencia no País. Foram avaliados 31 atletas através de um questionário de identificação de cronótipos. A amostra foi composta de 20 atletas do sexo masculino e 11 do sexo feminino entre 14 e 28 anos, que foram classificados em, (3,22%) moderadamente matutino, (47,42%) intermediário, (16,14%) moderadamente vespertino e (3,22%) definidamente vespertino. E o período que gostariam de freqüentar os treinamentos, 6,45% optaram pelo período da manhã, 19,35% de manhã e tarde, 3,22% de manhã e noite, 48,40% de tarde, 9,68% tarde e noite e 12,90% à noite. A partir dos resultados, pode-se observar que a predominância dos cronotipo intermediário se faz presentes entre os atletas e que a prática de exercícios físicos mesmo não tendo absoluta certeza de sua relação com a qualidade de vida e do sono se faz indispensável para a qualidade de ambas.

          Unitermos: Cronobiologia. Cronotipo. Ritmo circadiano. Atletismo. Exercício físico. Sono.

 

Abstract

          Chronobiology can be defined as the study of the biological rhythm of living organisms. And through these studies, this study aims to identify athletes chronotypes Athletics Team City Paranavaí - Paraná reference in the country 31 athletes were evaluated using a questionnaire to identify chronotypes. The sample consisted of 20 male athletes and 11 females between 14 and 28, who were classified as, (3.22%) moderately morning (47.42%), intermediate (16.14%) moderately and evening (3.22%) definitely afternoon. And the period that would like to attend the training, 6.45% opted for the morning, 19.35% in the morning and afternoon, 3.22% in the morning and evening, 48.40% in late afternoon 9.68% and night and 12.90% at night. From the results, one can observe that the predominance of intermediate chronotype becomes present among the athletes and the physical exercise while not having absolute certainty of its relationship to quality of life and sleep is indispensable for quality both.

          Keywords: Chronobiology. Chronotypes. Circadian rhythms. Athletics. Physic exercise. Sleep.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A Cronobiologia pode ser definida como o estudo da ritmicidade biológica dos organismos viventes e esta ritmicidade pode ser definida como sendo uma recorrência sistêmica, regular e periódica de fenômenos biológicos. Assim, podendo ser identificados diariamente padrões comportamentais tanto em plantas como em animais, que podem persistir por séculos sob condições constantes (NAYLOR, 2005).

    Para MARQUES & MENNA-BARRETO (1999) os ritmos biológicos evidenciam sua importância fundamental na organização dos seres vivos. São capazes de permanecer em um organismo mesmo na ausência de pistas temporais, os chamados “zeitgebers”, que em alemão é aquele que impõe o tempo, capaz de provocar um arrastamento, sincronizando os ritmos endógenos aos eventos cíclicos ambientais. O arrastamento dos diversos ritmos circadianos não é o mesmo para cada organismo (GONGORRA, 2002).

    O primeiro estudo realizado sobre a ritmicidade dos comportamentos biológicos foi pelo astrônomo francês De Mairan no século XVIII, quando observava os movimentos diários, abertura e fechamento das folhas da planta Mimosa pudica, que ficava ao lado de seu microscópio em seu laboratório, e que continuava inalterado mesmo quando em escuridão constante em um porão. De acordo com NAYLOR (2005) houve muita resistência em aceitar o controle dos comportamentos pelos relógios biológicos internos, que durou até a segunda metade do século XX.

    Os comportamentos biológicos possuem fatores cíclicos importantes que podem estar interferindo no funcionamento dos relógios biológicos, como a temperatura, o ambiente, o ciclo sono/vigília, a luminosidade, as estações do ano, tensão de oxigênio e ciclos de gravitação. Para os seres vivos a luz é um sincronizador importante, enquanto que para o homem, além da luz, o trabalho, juntamente com as relações sociais, também são fundamentais para sua sincronização (MIRANDA-NETO & IWANKO, 1997). Estudos cronobiológicos demonstram que também existem momentos especiais para a prática de exercícios físicos (BORGES & STABILLE, 2004).

    Para que os relógios biológicos funcionem adequadamente é determinante a participação de vários ritmos e os de maior importância são os ultradianos que duram menos de 24 horas, infradianos, superior à 24 horas e os circadianos que oscila num período de 24 horas. Para NEVES et al. (2002), esses ritmos se caracterizam como estados funcionais que variam periodicamente no tempo. Entre os ritmos, o mais importante é o ritmo circadiano (do latim: cerca de um dia), pois está extremamente associado com o ciclo claro/escuro, um ciclo geofísico periódico com que o marcapasso circadiano humano está associado. Com as variações dos ciclos geofísicos é possível classificar os seres vivos em diferentes cronotipos, porque cada indivíduo se comporta fisiologicamente diferente, de acordo com a hora do dia (GONGORRA, 2002). São três os cronotipos: matutinos, vespertinos e intermediários.

    Segundo MELLO et al. (2002), os matutinos e vespertinos podem ainda ser classificados em extremos ou definidos e moderados. Os matutinos preferem despertar bem cedo, por volta das 5 e 7 horas da manhã e tem preferência por dormir cedo, entre às 21 horas. Para MARQUES & MENNA-BARRETO (1999) indivíduos matutinos quando comparados aos vespertinos, apresentam um avanço de fase em variáveis diferentes como por exemplo, a temperatura e o ciclo sono/vigília. Os matutinos representam de 10 à 20% da população. Os vespertinos têm preferência por dormir e acordar tarde, tem maior desempenho no período da tarde e noite. Eles representam de 8 à 10% da população. Segundo MIRANDA-NETO & IWANKO (1997) os vespertinos são considerados indivíduos desajustados e preguiçosos, porque a sociedade privilegia os matutinos, e os vespertinos têm que se adaptar aos horários dos matutinos e intermediários. Enfim, os intermediários são indiferentes, pois não tem preferência específica para o horário de dormir e acordar, desempenhando bem suas atividades a qualquer período do dia. Representam à maioria da população.

    Outro aspecto importante que deve ser levado em consideração é a necessidade de horas de sono de cada indivíduo, pois cada um tem a necessidade de dormir algumas horas à cada 24 horas, sendo mais importante a qualidade que a quantidade do sono obtido nestas horas. Desta forma, os indivíduos podem ser classificados em grandes e pequenos dormidores. Os grandes dormidores necessitam de 8,5 à 9,5 horas de sono por dia, e os pequenos dormidores de 5,5 à 6,5 horas de sono diárias (CIPOLLA-NETO, 1988).

    O ritmo circadiano, além de determinar o ciclo sono/vigília, também é capaz de determinar o ritmo da temperatura central, que de acordo com MELLO et al. (2002) cai para um valor mínimo durante o sono, entre as quatro horas da manhã, e se eleva antes do início da vigília. Este padrão de temperatura pode ser influenciado pelo sono e exercício como também a conservação e a restauração corporal.

    Os estudos sobre os efeitos do exercício no padrão de sono tiveram início há pouco mais de 30 anos. O exercício quando praticado de forma controlada traz efeitos benéficos para uma boa noite de sono, da mesma forma que ele é restaurador e relaxante. Este tem uma significante influência nos ritmos circadianos, igualmente aos efeitos da luz. (Youngstedt apud MELLO et al., 2002).

    O exercício é considerado como sendo uma intervenção não-farmacológica, que melhora a qualidade do sono, não sendo prescritos pelos médicos e professores, pela sua falta de conhecimento de seus benefícios (MARTINS, MELLO & TUFIK, 2001). Segundo ACKEL (2005) a relação entre o exercício e o sono também pode sofrer influência de fatores como o nível de aptidão física individual, intensidade, duração e o tipo de exercício realizado.

    Considerando que os estudos cronobiológicos se tornam eficientes na identificação dos cronotipos, assim, sendo capaz de interferir na melhoria da capacidade motora e intelectual e também na qualidade do sono, o presente trabalho tem por finalidade identificar os cronotipos dos atletas da equipe de Atletismo da cidade de Paranavaí-Pr e também relacionar a qualidade de sono com a prática de exercício físico.

Material e métodos

    Este trabalho foi realizado com 31 atletas da equipe de Atletismo de Paranavaí-Pr, no ano de 2005. Para a obtenção de dados para a identificação do cronotipo foi aplicado aos atletas um questionário proposto por HORNE & OSTBERG (1976) e adaptado por CARDINALI et al. (1992) composto de 9 questões de múltipla escolha. Foi acrescida 7 questões abertas referente ao conhecimento dos entrevistados sobre cronobiologia e sua preferência em relação aos períodos de treinamento, como horário em que treinam e gostariam de treinar, que não foram utilizadas para a classificação dos cronotipos por não serem pertinentes à mesma e não foram pontuadas para a classificação dos tipos cronobiológicos, mas foram utilizadas para subsidiar os resultados e discussões sobre a relação de horário de treinamento, preferências e cronótipos. O questionário utilizado foi o: “Cronobiológico proposto por HORNE e OSTBERG (1976) e adaptado por CARDINALI et al. (1992). O projeto faz parte do grupo de estudos em Pedagogia do Esporte da Universidade Federal do Paraná.

Resultados

    A partir do questionário aplicado aos atletas da equipe de Atletismo da cidade de Paranavaí-Pr, pode-se chegar aos seguintes dados: Dos 31 atletas que responderam ao questionário, 20 eram do sexo masculino e 11 do sexo feminino, com idade variando entre 14 e 28 anos. Dos que responderam, 6 (19,35%) já haviam ouvido falar dos estudos da Cronobiologia e 25 (80,65%) nunca haviam ouvido falar .

Tabela 01. Porcentagem referente ao nível de conhecimento sobre os estudos da Cronobiologia

    Através da devida somatória dos pontos das respostas fornecidas a cada questão foi possível identificar que: 1 (3,22%) atleta é moderadamente matutino; 24 (77,42%) são intermediários; 5 (16,14%) moderadamente vespertinos e 1 (3,22%) definidamente vespertino. Nesta equipe não identificado nenhum atleta definitivamente matutino.

Tabela 02. Porcentagem e freqüência de tipos cronobiológicos dos atletas da equipe de Atletismo da cidade de Paranavaí-Pr

    Além de praticar atletismo, 22 (70,97%) dos atletas ainda estudam, sendo que 13 (59,09%) freqüentam as aulas no período da manhã, 4 (18,18%) manhã e tarde e 5 (22,73%) no período da noite. Quando questionado se trabalham e qual o período, 11 (35,48%) trabalham. Destes, 3 (27,28%) trabalham de manhã e tarde, 4 (36,36%) no período da tarde, 2 (18,18%) de tarde e noite e 2 (18,18%) de noite. E quanto ao período que gostariam de trabalhar no futuro, 6 (19,35%) tem preferência pelo período da manhã, 15 (48,40%) manhã e tarde, 6 (19,35%) à tarde, 3 (9,68%) tarde e noite e 1 (3,22%) no período da noite.

    Quanto ao período em que freqüentam os treinamentos, 9 (29,03%) treinam de manhã e tarde, 21 (67,75%) à tarde e 1 (3,22%) no período da tarde e noite. E ao período que gostariam de freqüentar os treinamentos, 2 (6,45%) gostariam de treinar no período da manhã, 6 (19,35%) de manhã e tarde, 1 (3,22%) de manhã e noite, 15 (48,40%) de tarde, 3 (9,68%) de tarde e noite e 4 (12,90%) de noite.

    Através da análise relacionada ao nível de satisfação com o período de treinamento, 5 (16,13%) não estão satisfeitos com o período de treinamento e 26 (86,87%) estão satisfeitos com seu período de treinamento.

Tabela 03. Porcentagem e freqüência do nível de satisfação dos atletas com o período de treinamento

 

Tabela 04. Cronotipo, período de treinamento e preferência de período de treinamento dos atletas da equipe de Atletismo da cidade de Paranavaí, no ano de 2005

M (manhã); T (tarde); N (noite); MT (manhã e tarde); MN (manhã e noite); TN (noite e tarde); 

MM (moderadamente matutino); I (intermediário); MV (moderadamente vespertino); DV (definidamente vespertino).

Discussão dos resultados

    A divulgação dos conhecimentos cronobiológicos se faz importante, para que as atividades diárias, escolar e profissional, como também a prática de exercícios físicos, sejam realizados de maneira que se possa obter um bom desempenho (MIRANDA-NETO, 1997; GONÇALVES & STABILLE, 2001) e também porque estudos cronobiológicos demonstram que existem momentos especiais para a prática de exercícios físicos (BORGES & STABILLE, 2004). Constata-se assim, que esta ciência também se faz desconhecida pela maioria dos atletas (80,65%) (Tab. 02), fato também encontrado por PIVETA, CAETANO & SILVA (1998) com alunos do ensino médio. Dado também encontrado por BERTOLI, STABILLE & EVANGELISTA (2004) entre universitários.

    Os animais dividem as 24 horas do dia de maneira sistemática e periódica, alocando, em certos momentos, expressões comportamentais (CIPOLLA-NETO, 1988). Diante desses fatos, os seres vivos desenvolveram uma distribuição temporal de suas funções ao logo do dia e da noite, mês e do ano, como uma maneira de se adaptar aos fatores cíclicos ambientais (DEL-VECCHIO & MIRANDA-NETO, 1997).

    O conhecimento de seu próprio cronotipo e seus horários pertinentes e mais adequados para estudar e trabalhar tende a distribuir suas atividades diárias em favor da produtividade e qualidade de vida (BERTOLI, STABILLE & EVANGELISTA, 2004). Como também incluir a prática de exercícios em sua rotina diária em benefício à saúde (BORGES & STABILLE, 2004). Para MIRANDA-NETO & IWANKO (1997) o desconhecimento de seu cronotipo interfere na capacidade que o indivíduo tem para realizar trabalho em diferentes turnos.

    Dos 31 atletas avaliados, 3,22% são moderadamente matutinos (MM), 77,42% intermediários (I), 16,14% moderadamente vespertino (MV) e 3,22% definidamente vespertino (DV) (Tab. 03). A maior incidência entre os atletas foi de I (77,42%), resultados semelhantes foram encontrados por MELLO et al. (2002) entre atletas paraolímpicos, seguido pelos cronotipos MM e MV, não sendo identificados atletas DV e DM, contudo apenas este último não foi encontrado no presente trabalho. No trabalho realizado por BORGES & STABILLE (2004) com praticantes de atividade física a predominância foi de indivíduos com o cronotipo moderadamente matutino e ausência de definidamente vespertino.

    A predominância do cronotipo intermediário é esperada (CARDINALI et al.,1992), e este foi identificado também por BERTOLI, STABILLE & EVANGELISTA (2004) entre estudantes universitários, por PIVETA, CAETANO & SILVA, (1998) com alunos do ensino médio, por GONÇALVES & STABILLE (2001) com professores do ensino fundamental, e por ALMONDES & ARAÚJO (2003) também com estudantes universitários.

    As aplicações dos estudos da cronobiologia no contexto escolar tornam-se importantes (MIRANDA-NETO & IWANKO. 1997; DEL-VECCHIO & MIRANDA-NETO, 1997; PIVETA, CAETANO & SILVA, 1998; GONGORRA, 2000; GONÇALVES & STABILLE, 2001), porque segundo ALMONDES & ARAÚJO (2003) os estudantes apresentam um padrão de sono irregular caracterizado por atraso de início e final do sono dos dias de semana para os finais de semana. Constatamos que 70,97% dos atletas ainda freqüentam as aulas, sendo que, 3 atletas (1 MM e 2 MV) freqüentam as aulas em turnos que não condizem com os seus cronotipos. O MM estuda no período da noite e os MV no período da manhã. De acordo com BERTOLI, STABILLE & EVANGELISTA (2004) o horário noturno, não é ideal para indivíduos do cronotipo matutino.

    Esta situação também pode ser aplicada aos vespertinos que freqüentam as aulas pela manhã, pois estão propícios a apresentarem baixo rendimento escolar, que para ALMONDES & ARAÚJO (2003) os estudantes que iniciam suas aulas às 7 horas, apresentam privação parcial do sono e irregularidade do sono decorrente dos horários escolares. Pois a memória se consolida mais facilmente em indivíduos bem dispostos do que em pessoas fatigadas, e períodos de vigília prolongados levam a uma maior lentidão de pensamentos (PIVETA, CAETANO & SILVA, 1998; GUYTON, 2002).

    O turno em que são realizados os trabalhos também sofre influência do cronotipo de cada indivíduo, que de acordo com DEL-VECCHIO & MIRANDA-NETO (1997) a organização temporal do trabalho é o esquema temporal onde se realizam as atividades profissionais. De todos os atletas entrevistados, poucos trabalham (35,48%), os quais consideraram os treinamentos como seu trabalho diário, apontando como horário de trabalho os mesmos horários de treinamento.

    Quanto ao período que gostariam de trabalhar no futuro, a maioria escolheu o período da manhã e tarde, que é o período normal de funcionamento da maioria dos segmentos da sociedade, pois a sociedade privilegia os matutinos, iniciando suas atividades às 8 horas da manhã, fazendo com que os vespertinos se adaptem a este período sob pena de exclusão do convívio social, mesmo que estas alterações prejudiquem seu padrão cronobiológico natural (MIRANDA-NETO & IWANKO, 1997). Ainda para estes autores o homem necessita produzir continuamente sua própria existência, que em vez de se adaptar a natureza, tem que adaptar a natureza a si, transformando-a, o que pode ser feito pelo trabalho.

    O homem é essencialmente entendido como um ser diurno, significando que toda a sua ordem temporal interna, permite um funcionamento diferencial entre o período do dia, em que se dão todas as suas atividades e o período da noite é dedicado, em sua maior parte ao sono (DEL-VECCHIO & MIRANDA-NETO, 1997).

    Assim, os estudos da cronobiologia fornecem uma importante contribuição ao estudo da atividade humana no trabalho (GONÇALVES & STABILLE, 2001), que para DEL-VECCHIO & MIRANDA-NETO (1997) os horários de trabalho são um dos mais potentes sincronizadores para a espécie humana por ser social.

    O efeito do exercício segundo MELLO et al. (2005) realizado em diferentes horas do dia pode influenciar no aumento da temperatura corporal, sendo que esta pode sofrer um atraso ou avanço de fase, dependendo da hora em que foi realizada. O período da tarde é o período em que a maioria dos atletas (67,75%) realizam seus treinamentos, próximo ao horário em que a temperatura corporal se eleva, isto por volta das 17 e 18 horas, apresentando um dos mais conspícuos ritmos circadianos do organismo humano (CIPOLLA-NETO, 1988).

    De acordo com MARTINS, MELLO & TUFIK (2001) os efeitos do exercício físico sobre o sono estão associados às hipóteses termorregulatórias da conservação de energia e da restauração corporal. Pois o exercício ao aumentar a temperatura corporal facilitaria o disparo de início do sono (MARTINS, MELLO & TUFIK, 2001; MELLO et al., 2005; ACKEL, 2005). MELLO et al.(2002) relata que o ritmo da temperatura é influenciado pelo sono e pelo exercício, onde existe uma correlação inversamente proporcional entre a temperatura corporal e a liberação de melatonina. Para MARTINS, MELLO & TUFIK (2001) quando os exercícios são realizados próximo do horário de dormir, elevam o aumento na latência para o sono e aumento no sono de ondas lentas (NREM). E alguns atletas têm a preferência de realizar os treinamentos em períodos que antecedem ao horário de dormir.

    Quando os exercícios são realizados pela manhã, não ocorre o aumento da latência do sono de ondas lentas. E quando são realizados a noite, estes podem atrasar a curva circadiana de TSH e melatonina em humanos, e seu deslocamento de fase pode ser determinado pela duração e pela intensidade do exercício físico (MELLO et al., 2005).

    MELO et al.(2002) considera o sono como restaurador, estando o exercício associado à alterações no padrão de sono. Um fato importante que deve ser levado em consideração é a duração dos exercícios físicos, pois MARTINS, MELLO & TUFIK (2001) mencionam que em exercícios com duração acima de uma hora levam a redução do sono REM o que aumenta o sono de ondas NREM. Para os mesmos autores o tempo total de sono também mostra uma relação linear com a duração do exercício, sendo que os maiores aumentos no tempo de sono foram observados após exercícios de maior duração.

    Em relação ao período de treinamento, 86,87% dos atletas relatam estar satisfeitos, pois treinam em horários de acordo com o seu cronotipo, mas alguns gostariam de alterar este horário, o que não influenciaria no seu tipo cronobiológico, por serem de maioria I. Mas três casos chamam a atenção, um atleta MM treina à tarde e não quer alterar este horário, outro caso é um I e um MV que treinam de manhã e tarde, estão insatisfeitos, mas preferem continuar treinando no mesmo período.

    Isto talvez ocorra talvez por estarem adaptados a este horário e, continuando assim, o seu desempenho não sofreria muitas alterações, ou ainda pela influência dos sincronizadores sociais sobre os ritmos biológicos (Ferreira apud BORGES & STABILLE, 2004). No trabalho de BORGES & STABILLE (2004) a maioria dos praticantes de atividade física estavam satisfeitos com seu horário, e os insatisfeitos desejam alterar seu horário, por serem do cronotipo moderadamente vespertino e para os intermediários insatisfeitos, seis desses indivíduos desejam caminhar pela manhã.

Conclusão

    De forma ainda não conclusiva e com base apenas nos objetivos desse trabalho, os relatos apresentados confirmam convergem com a literatura e mostram que não existi um consenso em relação ao melhor tipo, horário, intensidade ou duração dos exercícios em função da especificidade biológica e ambiental de cada ser humano, mas a sua prática é recomendada para promover a melhora da qualidade de vida e do sono em atletas. O exercício físico e o sono adequado, são importantes para uma qualidade de vida e para a recuperação física e mental do ser humano, isso nos leva a entender a importância do sono para atletas em qualquer fase de desempenho.

    A partir dos resultados, pode-se observar que a predominância dos cronotipos intermediário se faz presentes entre os atletas e que a prática de exercícios físicos mesmo não tendo absoluta certeza de sua relação com a qualidade de vida e do sono se faz indispensável para a qualidade de ambas. Finalizando, quando se tem conhecimento do seu padrão de sono pode-se alcançar um melhor desempenho na realização de exercício, bem como inferir o nível de estresse de treinamento excessivo.

Referências bibliográficas

  • ACKEL, C. R. Sono e exercício. Centro de estudos de fisiologia do exercício. UNIFESP. Disponível em: http://www.centrodeestudos.org.br/pdfs/sono.pdf. Acesso em 05 de set. de 2005.

  • ALMONDES, K. M.; ARAÚJO, J. F. Padrão do ciclo sono-vigília e sua relação com a ansiedade em estudantes universitários. Estudos de Psicologia, 8(1): 37-43, jan./abr. 2003.

  • BERTOLI, J. S.; STABILLE, S. R.; EVANGELISTA, C. C. B. Cronotipo de alunos do curso de ciências biológicas da Universidade de Mato Grosso do Sul - Mundo Novo. Arq. Apadec, 8 (supl.): 58-60, 2004.

  • BORGES, G. F.; STABILLE, S. R. Identificação dos cronotipos de indivíduos praticantes de caminhada no parque do Ingá-Maringá/Paraná. Arq. Apadec, 8 (2): 33-39, 2004.

  • CARDINALI, D. P.; GOLOMBEK, D. A.; REY, R. A. B. Relojes y calendarios biológicos: la sincronía del hombre con el medio ambiente. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica de Argentina, 1992. p. 59-78.

  • CIPOLLA-NETO, J. Fisiologia do sistema de temporização circadiana. In: CIPOLA-NETO, J; MARQUES, N; MENNA-BARRETO, L.S. Introdução ao estudo da cronobiologia. São Paulo. Ícone, 1988.

  • DEL-VECCHIO, L. H. G.; MIRANDA-NETO, M. H. Fundamentos de cronobiologia como base para compreensão dos três eixos que norteiam o programa de ciências do currículo básico para as escolas públicas do Paraná. Arq. Apadec, 1(1): 17-27, jul./dez., 1997.

  • GONÇALVES, V.; STABILLE, S. R. Cronotipos dos professores da 1ª a 4ª séries do ensino fundamental das escolas municipais Emílio Ribas e Dilson Teixeira Coelho, do município de Jardim Alegre-Pr, em 1999. Arq. Apadec, 5(2): 14-20, jul./dez., 2001.

  • GONGORRA, E. M. Cronotipos e horários adequados para o trabalho de técnicos-administrativo do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Maringá no ano de 2000. Maringá: UEM, 2000. 21p. Monografia (Morfologia Aplicada à Organização do Ambiente Escolar e do Trabalho), Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2000.

  • GUYTON, A.C. Tratado de fisiologia médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. p. 565-582.

  • MARQUES, N; MENNA-BARRETO, L. Cronobiologia: princípios e aplicações. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999. Cap. 1;9-11.

  • MARTINS, P. J. F.; MELLO, M. T.; TUFIK, S. Exercício e sono. Rev Bras Med Esporte, 7(1): 28-36, jan./fev., 2001.

  • MELLO, M. T. et al. Avaliação do padrão e das queixas do sono, cronotipo e adaptação ao fuso horário dos atletas brasileiros participantes da Paraolimpíadas em Sidney-2000. Rev Bras Med Esporte, 8(3): 122-128, mai./jun, 2002.

  • MELLO, M. T. et al. O exercício físico e os aspectos psicológicos. Rev Bras Med Esporte, 11(3): 203-207, mai./jun., 2005.

  • MIRANDA-NETO, M. H.; IWANKO, N. S. Reflexões sobre a aplicação da cronobiologia nos ambientes de trabalho e escolar. Arq. Apadec, Maringá, 1(1): 36-38, jul./dez., 1997.

  • NAYLOR, E. Chronobiology: implications for marine resource exploitation and management. SCI. MAR. 69 (Suppl. 1): 157-167, 2005.

  • NEVES, W. S. et al. Cronobiologia e suas aplicações na prática médica. Revista HB Científica, 7(1): 1-12, janeiro / fevereiro / março / abril, 2000.

  • PIVETA, J.; CAETANO, L. A.; SILVA, M. A. Classificação dos tipos cronobiológicos de alunos da 1ª série noturno, ensino médio, dos colégios: Estadual “Helena Kolody” e Estadual de Cianorte, dos municípios de Terra Boa e Cianorte, respectivamente, no ano letivo de 1998. Jandaia do Sul: FAFIJAN, 1998. 27p. Monografia (Curso de Biologia), Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Jandaia do Sul, Jandaia do Sul, 1998.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 151 | Buenos Aires, Diciembre de 2010
© 1997-2010 Derechos reservados