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Efeitos de diferentes tipos de feedback sobre 

a propriocepção de praticantes de ballet clássico

Efectos de diferentes tipos de feedback sobre la propiocepción de practicantes de ballet clásico

 

*Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

**Universidade Federal de Pelotas - UFPEL

(Brasil)

Ellen dos Santos Soares* | Ricardo Drews*

Juliana Izabel Katzer** | Priscila Lopes Cardozo*

Sara Terezinha Corazza*

ellensoa@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos de diferentes tipos de feedback sobre a propriocepção de praticantes de ballet clássico. A amostra foi constituída por 16 bailarinas (média de 10±25 anos), participantes de uma Escola de Dança, divididas em dois grupos: Grupo A (feedback proprioceptivo) e Grupo B (feedback visual e verbal). Foram realizadas análises da propriocepção pré e pós o desenvolvimento de oito aulas priorizando o feedback extrínseco. Avaliou-se a propriocepção através de um cinesiômetro (PAIXÃO, 1981) para membros superiores e um goniômetro (CAMARGOS et al, 2004) para membros inferiores. A análise dos dados revelou que não houve diferença estatística significativa entre pré e pós-teste, como também, não houve significância entre os resultados de pós-teste intergrupos. Conclui-se, portanto que, analisar a variável propriocepção, tanto na estimulação de elementos proprioceptivos, quanto visuais e verbais, pode acrescentar em qualidade na execução dos movimentos para o aprendiz de ballet clássico.

          Unitermos: Feedback. Propriocepção. Ballet clássico.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O Ballet Clássico requer, além de beleza, um bom desempenho motor dos bailarinos. A prática desta habilidade desenvolve sensibilidade, percepção, coordenação, equilíbrio, tônus, lateralidade, noção espacial, noção temporal, ritmo, entre outras (PRATI; PRATI, 2006). É uma modalidade que exige a execução de movimentos técnicos perfeitos e, para tanto, necessita de fornecimento de informações sensoriais que contribuam para a realização de uma performance habilidosa e que poderão oportunizar aos bailarinos a detecção e correção de erros durante a execução dos movimentos (BERTONI, 1992). Estas informações, necessárias para a produção dos movimentos, chegam de diversas fontes sensoriais e podem surgir de fontes internas (interocepção) ou externas (exterocepção) ao corpo (SCHMIDT; WRISBERG, 2001).

    Entre as fontes de informação exteroceptiva encontram-se a visão e a audição. (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). Já em relação à interoceptiva, sua fonte básica de informação é a propriocepção, sendo esta uma importante fonte de informação sensorial do corpo, que tem influência no controle postural, estabilidade articular e diversas sensações conscientes (CORAZZA et al., 2005; ANTES et al., 2008; LEPORACE et al., 2009). As informações proprioceptivas são oriundas dos receptores musculares e tendíneos, denominados fuso muscular e órgão tendinoso de Golgi, além de receptores localizados nos ligamentos, cápsula articular, meniscos e tecidos cutâneos (LEPORACE et al., 2009).

    A propriocepção faz parte de um sistema denominado somatossensorial. Esse sistema possui receptores distribuídos pelo corpo e responde a diferentes estímulos que são agrupados em quatro categorias: toque, temperatura, posição do corpo e dor. Os receptores de toque e de posição, especialmente, relacionam-se com a propriocepção, visto que, estes sensores estão na pele e nas paredes do corpo, nos músculos, tendões, ligamentos, nos tecidos conectivos das articulações e nos órgãos internos. A sensação de toque é estimulada mecanicamente na superfície corporal e a sensação de posição é dada pelo estímulo mecânico dos músculos e articulações. Os receptores proprioceptivos respondem a mudanças de ângulo, direção e velocidade de movimento de uma articulação. Respondem ainda sobre a localização do corpo no espaço, a direção e a intensidade do movimento e têm duas funções: detectar a posição do corpo para auxiliar na identificação de coisas ao nosso redor e guiar os movimentos (MOCHIZUKI; AMADIO, 2006).

    Neste contexto, as informações de origem somatossensorial, através dos proprioceptores, juntamente com as informações do sistema visual e do sistema vestibular fornecem ao Sistema Nervoso Central conhecimento da estruturação do corpo no espaço (BARCELLOS; IMBIRIBA, 2002). Estas informações sensoriais, quando proporcionam ao indivíduo conhecimento sobre o seu desempenho durante ou após a execução de um movimento, são denominadas de feedback (MAGILL, 2000). Sendo assim, o feedback quando provêm de fontes exteroceptivas é denominado intrínseco e quando advém de fontes interoceptivas é denominado intrínseco, podendo ser fornecido como feedback visual, verbal ou proprioceptivo (SCHMIDT; WRISBERG, 2001).

    Partindo destes pressupostos teóricos, o objetivo deste estudo foi verificar os efeitos de diferentes tipos de feedback sobre a propriocepção de praticantes de ballet clássico.

Materiais e métodos

Sujeitos

    O grupo de estudos foi composto por 16 meninas com idade entre 9 e 13 anos (10±25 anos), praticantes de Ballet Clássico em uma Escola de Dança da cidade de Santa Maria – RS. Adotou-se como critério de inclusão o tempo de prática do Ballet Clássico há, no mínimo, 2 anos, com freqüência semanal de duas vezes por semana. Além disso, não apresentar nenhuma alteração visual, somatossensorial, auditiva, ou ferimentos que impedissem ou dificultassem a realização dos testes.

Procedimentos

    As participantes juntamente com seus responsáveis, foram devidamente esclarecidas sobre todos os procedimentos adotados na pesquisa e após assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    As meninas foram divididas em dois grupos: Grupo A (GA) (feedback proprioceptivo) e Grupo B(GB) (feedback visual e verbal). O GA recebeu, durante a correção, apenas feedback proprioceptivo (toque do professor), sendo privadas as informações visuais e verbais. Já o GB obteve apenas feedback verbal e visual na correção dos movimentos, onde era dado toda a vez que o indivíduo errava o movimento, sem nenhuma informação proprioceptiva.

    Foram feitas análises da propriocepção anterior e após o desenvolvimento de oito aulas de Ballet Clássico priorizando o feedback dado pelo professor durante a correção dos exercícios. A avaliação foi realizada nas dependências da mesma escola de dança em que se desenvolveram as aulas, as quais aconteceram no período posterior das respectivas aulas, individualmente e havendo um prévio treinamento dos avaliadores para posterior aplicação dos testes, no qual foi realizado pelos mesmos avaliadores.

Instrumentos

    Avaliou-se a propriocepção de membros superiores por meio do cinesiômetro, conforme o protocolo de Paixão (1981) e de membros inferiores por meio do goniômetro seguindo o protocolo proposto por Camargos et al. (2004).

    Durantes as avaliações, em ambos os testes, foram fornecidas informações apenas em relação às posições, sem citar os ângulos correspondentes. Logo após solicitava-se à bailarina que repetisse a seqüência demonstrada e anotava-se o ângulo correspondente a cada posição alcançada pela mesma.

    Por fim, anotava-se o ângulo correspondente a cada posição apresentada e após calculava-se o resultado através do erro absoluto, de quantos graus faltaram ou extrapolaram os ângulos correspondentes a cada ponto pré-determinado.

Tratamento estatístico

    Para análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva, com média e desvio padrão, um Teste t pareado para verificar a diferença entre pré e pós-testes intragrupos e ainda um Teste t para amostras independentes para verificar a diferença entre os tratamentos pós-testes intergrupos. Utilizou-se o pacote estatístico SPSS for Windows versão 14.0, com nível de significância de 5%.

Resultados e discussão

    Nos resultados apresentados estão expressos o erro absoluto para cada tarefa requerida. As Tabelas 1 e 2 demonstram os resultados mínimos e máximos, as médias, desvios padrão e as comparações intragrupos de pré-teste e pós-teste e também intergrupos no pós-teste.

Tabela 1. Valores dos índices da avaliação da propriocepção do GA e GB, indicados por erro médio

Variáveis

Mínimo

Máximo

Média

Desvio Padrão

t

p

PréPMI A

1,0º

8,0º

3,6º

2,33º

1,31

0,35

PósPMI A

0,0º

6,0º

2,7º

2,25º

PréPMS A

6,3º

31,0º

13,9º

10,40º

0,88

0,92

PósPMS A

6,0º

16,6º

10,2º

4,08º

PréPMI B

0,0º

11,0º

3,8º

3,8º

0,2

0,84

PósPM B

0,0º

7

3,6º

2,50º

PréPMS B

3,3º

20,3º

12,8º

5,98º

0,99

0,35

PósPMS B

6,0º

16,6º

10,2º

4,08º

Legenda: PMI= Propriocepção de Membros Inferiores; PMS= Propriocepção de Membros Superiores; 

A = Grupo com feedback proprioceptivo; B = Grupo com feedback visual e verbal; º=Graus.

    A partir destes resultados pode-se notar que, após o desenvolvimento das oito aulas de ballet clássico, ambos os grupos tiveram uma leve superioridade (verificada em erros) de pré para pós-teste na variável propriocepção, tanto de membros inferiores, quanto de membros superiores, porém não houve diferença estatisticamente significativa entre os mesmos.

    Santos (2008), em um estudo que teve o objetivo de investigar a influência do feedback extrínseco na performance de uma manobra de skatistas, constatou que as informações fornecidas pelo feedback extrínseco auxiliaram no aperfeiçoamento da manobra, melhorando a técnica apresentada pelos skatistas.

    Freitas et al. (2008) verificaram o efeito do feedback extrínseco nos indicadores biomecânicos de desempenho da virada no nado crawl. Os autores identificaram melhoras no comportamento proporcionadas após o fornecimento do feedback extrínseco. As melhoras foram relacionadas às informações verbais e visuais fornecidas, que orientaram os indivíduos para alterarem as características pessoais do movimento.

    Herbert et al. (2003) enfatizam a importância do feedback intrínseco na detecção de erros por parte do indivíduo, para comparar a execução planejada com a realizada, fortalecendo o referencial interno.

    Magill (2000) afirma que normalmente as estratégias utilizadas durante os estágios iniciais de aprendizagem não apresentam sucesso e, embora os indivíduos tenham consciência de que estão fazendo alguma coisa errada, em geral, são incapazes de detectar a origem ou as características do erro cometido. Sendo assim, assegura que são indispensáveis as informações fornecidas por fontes externas, como o professor, para tornar o feedback intrínseco mais significativo.

Tabela 2. Comparação entre os escores dos pós-testes do GA e do GB

Variáveis

N

t

p

PósPMI A

8

-0,74

0,47

PósPMI B

8

-0,74

0,47

PósPMS A

8

1,29

0,21

PósPMS B

8

1,29

0,21

Legenda: PMI= Propriocepção de Membros Inferiores; PMS= Propriocepção de Membros Superiores; 

A = Grupo com feedback proprioceptivo; B = Grupo com feedback visual e verbal; º=Graus.

    A Tabela 2 traz a diferença do GA e GB no pós-teste nos membros superiores e membros inferiores, revelando que não houve significância entre os resultados de pós-teste intergrupos.

    Piekarzievcz (2004) realizou um estudo que procurou investigar a influência do feedback extrínseco aumentado verbalmente e do feedback extrínseco aumentado visualmente durante a aprendizagem da habilidade motora do putting no golfe. Foram investigados 30 sujeitos divididos em três grupos: G1 - feedback extrínseco verbal; G2 - feedback extrínseco visual; e G3 - feedback intrínseco. Os resultados demonstraram que, independente do tipo de feedback, ocorreu uma melhora no desempenho dos grupos após o período de prática.

    Marinzeck (2009) afirma que é importante apreciar a relação entre as diversas formas de feedback (visual, verbal e proprioceptivo) durante o treinamento porque elas têm uma forte influência no aprendizado e na retenção de habilidades.

Conclusão

    Em virtude de todos os grupos apresentarem uma melhora no desempenho, porém sem diferença significativa, independente do tipo de feedback recebido, conclui-se portanto que, ao analisarmos a variável propriocepção, tanto a estimulação de elementos proprioceptivos, quanto visuais e verbais, pode acrescentar em qualidade na execução dos movimento para o aprendiz de ballet clássico. Permitindo que o aprendiz, através do desenvolvimento do sistema cinestésico, consiga assimilar as informações importantes sobre o posicionamento do seu corpo no espaço corrigindo os seus movimentos corporais, se necessários, executando-os de maneira eficaz. Para que dessa forma contribuam para a realização da performance na habilidade motora específica ballet clássico.

Referências bibliográficas

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  • BARCELOS, C.; IMBIRIBA, L. A. Alterações posturais e do equilíbrio corporal na primeira posição em pontas do balé clássico. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v.16,n.1,p: 43-52, jan./jun, 2002.

  • BERTONI, I. G. A dança e a evolução; O Ballet e seu contexto teórico; Programação didática. São Paulo: Tanz do Brasil, 1992.

  • CAMARGOS, F. F.; LANA, D. M.; DIAS, R. C.; DIAS, J. M. D. Estudo da propriocepção e desempenho funcional em idosos com osteoartrite de joelhos. Revista Brasileira de Fisioterapia. v..8, n° 1, 2004.

  • CORAZZA, S. T.; PEREIRA, E. F.; VILLIS, J. M. C. Propriocepção e a familiarização ao meio líquido. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 10, N° 82, Marzo de 2005. http://www.efdeportes.com/efd82/propio.htm

  • FREITAS, E. S. Comportamento dos indicadores biomecânicos de desempenho da virada na natação com diferentes tipos de feedback. Cinergis.v. 9, n. 2, p: 33-41, Jul/Dez, 2008

  • HERBERT, U. Freqüência de feedback como um fator de incerteza no processo adaptativo em aprendizagem motora. Revista Brasileira de Cineantropometria e Movimento. Brasília. v. 11, n. 2, p: 41-47, junho, 2003.

  • LEPORACE, G.; Metsavaht, L.; Sposito, M. M. M. Importância do treinamento da propriocepção e do controle motor na reabilitação após lesões músculo-esqueléticas. ACTA FISIATR,v. 16,n.3,p: 126-131 ,2009.

  • MAGILL, R. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. 5 ed. São Paulo: Edgard Bluncher Ltda. 2000.

  • MARINZECK, S. Feedback e a estabilização segmentar terapêutica. Disponível em: http://www.terapiamanual.com.br/site/artigos/?id=133&c=1. Acesso em: 22 de agosto de 2010.

  • MOCHIZUKI, L.; AMADIO, A. C. As informações sensoriais para o controle postural. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v.19, n.2, p. 11-18, abr./jun., 2006

  • PAIXÃO, J. S. Efeitos do plano na aquisição, retenção e transferência de uma destreza fechada. 268 f. Dissertação (Mestrado em Ciência do Movimento Humano) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1981.

  • PIEKARZIEVCZ, L. E. Efeitos do feedback extrínseco aumentado no processo de aprendizagem de uma habilidade motora fechada. 84 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004.

  • PRATI, S. R. A.; PRATI, A. R. C. Níveis de aptidão física e análise de tendências posturais em bailarinas clássicas. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. v.8,n.1,p:80-87,2006.

  • SANTOS, M. M. L. Efeitos do feedback extrínseco na performance da manobra ollie em skatistas do município de Irati – PR. Monografia (Graduação em Educação Física) – Universidade Estadual do centro Oeste, Irati, 2008.

  • SCHMIDT, R. A . & WRISBERG, C. Aprendizagem e Performance Motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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