Aptidão física relacionada à saúde. Estudo comparativo entre escolares obesos e não obesos de uma escola pública do município de Venâncio Aires, RS Aptitud física relacionada con la salud. Estudio comparativo entre estudiantes obesos y no obesos de una escuela pública del municipio de Venancio Aires, RS |
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*Graduada em Educação Física pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) **Docente do Curso de Educação Física e do Mestrado em Promoção da Saúde da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) Doutora em Educação UPS-Salamanca, Espanha Doutora em Ciências da Motricidade Humana UTL, Lisboa, Portugal ***Acadêmica do curso de Educação Física da UNISC **** Farmacêutica. Pós-Graduanda em Análises Clínicas e Toxicológicas da UNISC *****Docente do Curso de Educação Física da UNISC Mestre em Ciência do Movimento Humano pela Universidade de Santa Maria Doutoranda em Ciências de la Actividad Física y Deporte pela Universidad de Córdoba, Espanha (Brasil) |
Andréia Aparecida Ehlert* Miria Suzana Burgos** Luciana Tornquist*** luciana.tornquist@yahoo.com.br Cézane Priscila Reuter**** Miriam Beatris Reckziegel**** |
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Resumo Este estudo buscou verificar as possíveis diferenças entre o perfil dos indicadores de saúde, de escolares obesos e não obesos. O estudo tem caráter descritivo-exploratório, tendo como sujeitos 62 escolares, com idade entre 7 a 14 anos, de ambos os sexos. Para a coleta de dados foram realizados testes somatomotores, conforme o protocolo do projeto PROESP-BR. Foram encontradas diferenças estaticamente significativas entre obesos e não obesos, em relação à resistência aeróbia e resistência/força abdominal para ambos os sexos, onde os não obesos demonstraram um melhor desempenho. Quanto à flexibilidade, não se obteve diferenças significativas. Unitermos: Aptidão física. Obesidade. Testes de aptidão.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A obesidade é resultante do desequilíbrio crônico entre a energia ingerida e a utilizada. Tem origem multifatorial, como as influências ambientais e o componente genético, não sendo ainda possível a identificação da potencialidade de cada um desses fatores e a interação entre eles. Dado que o patrimônio genético humano não mudou em tempos recentes, têm-se considerado a "dieta ocidental", caracterizada pelo alto consumo de gordura, açúcares refinados e pouca fibra, juntamente com a diminuição da atividade física, como fator contribuinte para esse processo (BRASIL, FISBERG e MARANHÃO, 2007).
A realidade atual tem demonstrado aumento considerável da prevalência da obesidade nos países em desenvolvimento, onde o excesso de peso é prevalente nas classes econômicas mais altas, demonstrando como o fator socioeconômico interfere no seu aparecimento. A transição nutricional, pela qual o Brasil passa, é constatada pelo aumento progressivo da obesidade, em substituição à desnutrição, acontecendo mais rapidamente na faixa etária adulta que na pediátrica (BRASIL, FISBERG e MARANHÃO, 2007).
Nos últimos anos, vem-se observando importante aumento na prevalência da obesidade, em diversos países e em variadas faixas etárias, inclusive a pediátrica. No Brasil, a prevalência de obesidade, em menores de cinco anos, varia de 2,5% entre as crianças de menor categoria de renda a 10,6% no grupo economicamente mais favorecido. As conseqüências da obesidade na infância podem ser notadas a curto e a longo prazo. No primeiro grupo, estão às desordens ortopédicas, os distúrbios respiratórios, o diabetes, a hipertensão arterial e as dislipidemias, além dos distúrbios psicossociais. A longo prazo, tem sido relatada mortalidade aumentada por causas diversas, em especial por doença coronariana em adultos que foram obesos durante a infância e a adolescência (SILVA, BALABAN e MOTTA, 2005).
Para Guedes e Guedes (2003), o conceito da aptidão física relacionada à saúde implica a participação de componentes associados às dimensões morfológicas, funcional-motora, fisiológica e comportamental. Para efeito de prescrição de exercícios físicos voltados ao controle de peso corporal, destacam-se as informações associadas às dimensões morfológica e funcional-motora. Na dimensão morfológica, informações quanto aos parâmetros da composição corporal, mediante dados relacionados à quantidade e distribuição da gordura corporal e à massa isenta de gordura, são os de maior significado. Na dimensão funcional-motora deve-se incluir dados quanto às funções cardiorrespiratória e músculo-esquelética.
Segundo Taranto (2006), a flexibilidade é a capacidade funcional das articulações se movimentarem através de uma amplitude plena de movimento. A amplitude plena de movimento funcional refere-se à capacidade de movimentar a articulação sem sofrer dor nem um limite para o desempenho. A flexibilidade depende do músculo e da articulação que estão sendo avaliados; sendo assim, é específica para cada articulação. A avaliação da flexibilidade é necessária por causa da redução associada no desempenho das atividades da vida diária, quando a mesma é inadequada. Uma flexibilidade precária na região lombossacra e no quadril pode contribuir para o surgimento de uma lombalgia de origem muscular. Para o autor, a resistência aeróbia reflete as capacidades funcionais do coração, dos vasos sangüíneos, do sangue, dos pulmões e de músculos relevantes, durante os vários tipos de demanda de exercícios. A resistência aeróbia está relacionada à capacidade de executar um exercício de intensidade moderada a alta, de natureza dinâmica, com a participação de grandes grupos musculares, por períodos de tempo prolongados.
Guedes e Guedes (2003) definem força como nível de tensão máxima, que pode ser produzida por um grupo muscular específico e resistência muscular como a capacidade desse mesmo grupo muscular em manter os níveis de força submáxima alcançado por um período de tempo mais elevado. Constata-se que a manutenção de adequados índices desses dois componentes da aptidão física torna-se importante modulador, na prática de exercícios físicos.
Diante do exposto, este estudo tem como objetivo, verificar possíveis diferenças entre o perfil dos indicadores de saúde, de escolares obesos e não obesos, de ambos os sexos de uma escola municipal do município de Venâncio Aires/RS/Brasil.
Metodologia
Estudo descritivo-exploratório, tendo como sujeitos 62 escolares, de ambos os sexos, com idades entre 7 e 14 anos, pertencentes à uma escola pública do município de Venâncio Aires – RS/ Brasil.
Para coleta de dados foi realizada a avaliação antropométrica (peso e estatura), a fim de verificar o índice de massa corporal, classificado conforme Must et al. (1991), apud Vitolo (2003). Foram realizados também testes somatomotores - Flexibilidade (Sentar e Alcançar), Força-Resistência Abdominal e Capacidade Cardiorrespiratória (9 minutos), conforme o protocolo do Projeto Esporte Brasil (GAYA e SILVA, 2007).
Os dados foram analisados através da estatística descritiva (média, desvio padrão e percentuais) que buscaram caracterizar os grupos e subgrupos estudados, bem como o Teste t de Student para amostras independentes e o Teste do Qui-quadrado, para definir diferenças significativas entre os grupos, em variáveis numéricas e categóricas, respectivamente. Para essa análise, utilizou-se o programa estatístico SPSS for Windows, versão 9.0, com um nível mínimo de significância de p< 0,05.
Resultados
Indicadores socioeconômicos
Conforme a classificação socioeconômica estipulada pelo critério ABEP (2008), (tabela 1) percebe-se que a maioria dos não obesos faz parte da classe C1 e C2, com 55% e 26%. Já entre os obesos, a maioria está nas classes C1 e B2, com 42% e 35%, percebendo-se, de uma forma geral, que os obesos encontram-se em uma situação socioeconômica melhor que os não-obesos.
Tabela 1. Classificação socioeconômica (critério ABEP)
Flexibilidade
Analisando a classificação do teste sentar-e-alcançar (tabela 2), percebemos que, de forma geral, os obesos apresentaram um melhor desempenho do que os não obesos, com 26% estando classificado na classe muito bom e 26% na classe bom. Já, os não obesos apresentaram 23% e 19% para as mesmas classes, respectivamente. Podemos perceber também, que 57% dos meninos não obesos estão com a flexibilidade razoável, 21% boa e apenas 7% muito boa. Já, entre os obesos, 29% apresentam flexibilidade muito boa, 21% boa e 7% razoável. As meninas, de uma forma geral, têm melhor flexibilidade do que os meninos, pois 35% das não obesas alcançaram classificação muito boa, 18% boa e 29% razoável; e entre as obesas 24% muito boa, 29% boa e 29% razoável.
Resistência Aeróbia
Em relação à condição cardiorrespiratória, os não obesos apresentaram-se muito melhor condicionados, estando 29% deles classificados na classe muito bom e 45% na classe bom. Já, entre os sujeitos obesos apenas 16% ficaram na faixa bom e mais da metade, 55%, foram classificado na faixa fraco (tabela 2). Há uma grande diferença na condição cardiorrespiratória entre os meninos obesos e não obesos, onde, somados, 86% dos não obesos atingiram a classificação muito bom ou bom. Já, entre os sujeitos obesos, 93% foram classificados como fraco ou muito fraco. Entre as meninas, as não obesas, 18% atingiram uma resistência aeróbia muito boa, 47% boa e 24% razoável; e entre as obesas, nenhuma menina conseguiu atingir índices muito bom, 59% foram classificas na faixa fraco e muito fraco (somados) e 24% na faixa bom.
Resistência / Força Abdominal
Na avaliação da força e resistência abdominal, de maneira geral (tabela 2), os obesos demonstraram um desempenho muito fraco (52%) ou razoável (23%). Já, os não obesos apresentaram desempenho bom (32%) e muito bom (13%). Verificou-se que os não obesos de ambos os sexos obtiveram um melhor desempenho; entre os meninos 50% dos não obesos obtiveram desempenho bom e 71% dos obesos tiveram um desempenho muito fraco. Nenhuma das meninas obesas atingiu desempenho bom ou muito bom e 35% obtiveram desempenho muito fraco. Já, entre as não obesas, 30% obtiveram desempenho bom ou muito bom, somando estas duas variáveis, e 41% tiveram um desempenho razoável.
Tabela 2. Comparação da aptidão física relacionada à saúde entre escolares não-obesos e obesos
Indicadores de saúde e gênero
A tabela 3 apresenta as médias gerais nos testes somatomotores, onde se percebe que, como média geral, os escolares alcançaram 26,06 cm, no teste de sentar-e-alcançar. Em relação à flexibilidade, não houve diferença significativa entre obesos e não obesos.
O teste de resistência geral teve como média geral 1203,14 m, tendo uma diferença significativa em ambos os sexos, pois os não obesos obtiveram melhor desempenho. Já o teste de abdominal teve como média geral 22,84 repetições, apresentando diferença significativa, onde os não obesos tiveram melhor desempenho, em ambos os sexos.
Tabela 3. Comparação da aptidão física relacionada à saúde entre escolares não-obesos e obesos
*Diferença estatisticamente significativa para p< 0,05.
De acordo com a tabela 4, observa-se uma correlação moderada e inversa entre resistência geral e IMC, indicando que, quanto mais elevado o valor do IMC dos escolares, menor à distância percorrida no teste de resistência geral. Ainda, observou-se uma correlação fraca e direta do IMC com o teste de abdominal, indicando que, quanto maior o valor do IMC, menor a quantidade de abdominais realizada.
Tabela 4. Correlação entre IMC e demais testes de aptidão física relacionada à saúde
IMC: índice de massa corporal; C: correlação linear de Pearson; p: nível de significância;
*Correlação fraca (de r= 0,30 a r = 0,49); ** Correlação moderada (de r= 0,50 a r = 0,69).
Indicadores de saúde e faixa etária
Observando a tabela 5, percebemos que, em relação à flexibilidade, não houve diferença significativa em nenhuma faixa etária, para ambos os sexos. Já no teste de 9 minutos, na média geral, houve diferença significativa, onde os não obesos apresentaram-se melhores condicionados. Analisando os resultados dos meninos, percebe-se que, na faixa etária de 11 a 14 anos não ocorreu diferença significativa; as meninas também não apresentaram diferença nessa faixa etária.
Em relação ao teste de força abdominal, na média geral houve diferença significativa, apresentando os não obesos um melhor desempenho. Os meninos apresentaram diferença significativa em ambas às faixas etárias, sendo os não obesos melhor condicionados. Já as meninas, na faixa etária de 11 a 14 anos, não apresentaram diferença significativa.
Tabela 5. Comparação dos testes de aptidão física relacionada à saúde de acordo com faixa etária, sexo e status nutricional
T: total geral; M: masculino; F: feminino. *Diferença estatisticamente significativa para p< 0,05.
Discussão
Conforme a classificação socioeconômica, os estudantes obesos estão em sua maioria classificados na classe média baixa e média, variando uma renda média familiar de R$1195,00 à R$2013,00. Já, os não obesos variam da faixa baixa à média baixa com uma renda familiar entre R$726,00 à R$1195,00 (ABEP, 2008). Demonstrando assim que, de uma forma geral, os obesos encontram-se em uma situação socioeconômica melhor, que os não-obesos. Estudo realizado em Campina Grande/PB (NUNES, FIGUEIROA e ALVES, 2007), também constataram uma maior freqüência de obesidade e sobrepeso em adolescentes de classes econômicas mais altas; encontrando uma freqüência de sobrepeso/obesidade nas classes econômicas A1, A2 e B1 de 31,4% enquanto nas classes C, D e E esta freqüência foi de 18,1%. De mesma forma, estudo de Silva, Balaban e Motta (2005) também constataram uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade nos escolares de melhores condições socioeconômicas.
Segundo Silva, Balaban e Motta (2005), o nível socioeconômico associa-se a obesidade, pois influência na disponibilidade de alimentos e no acesso a informações. Podendo também estar associado a determinações nos padrões de atividade física
Os resultados referentes aos indicadores de saúde mostram que, quanto à flexibilidade, não houve diferença significativa entre os obesos e os não obesos, mas sim entre os gêneros, uma vez que as meninas, de forma geral, apresentaram melhores resultados que os meninos. Corroboram com este resultado, a pesquisa de Bergmann et al. (2005), sobre aptidão física de crianças e adolescentes do estado do Rio Grande do Sul, que coloca que, com relação à flexibilidade as meninas foram superiores aos meninos em todas as faixas etárias. Segundo Glaner (2003), a flexibilidade é normalmente maior nas mulheres que nos homens, e esta aumenta até o início da fase adulta e depois tende a diminuir para ambos os sexos.
No teste de resistência aeróbia, os obesos demonstraram uma menor resistência aeróbia que os não obesos, em ambos os sexos, havendo diferença significativa. Isso nos revela que, essas crianças e adolescentes já podem estar tendo seu bem estar prejudicado, uma vez que, para desempenhar atividades cotidianas, é importante ter uma boa condição cardiorrespiratória. Da mesma forma, estudos de Scodeler e Paschoal (2008), realizados em Campinas, perceberam através de testes de esforço físico submáximo que as crianças obesas apresentaram capacidade cardiorrespiratória reduzida quando comparadas a crianças não obesas. Estudos de Pate, Slentz, Katz (1989) relacionaram inversamente testes aeróbios e a soma das medidas de dobras cutâneas tricipital e abdominal, concluindo que os adolescentes mais aptos são os que possuem menores níveis de gordura corporal. Há ainda, estudos de Brum (2009), realizados em Florianópolis (SC), onde apenas 16,7% das crianças obesas ou com sobrepeso estudadas alcançaram níveis satisfatórios de capacidade cardiorrespiratória.
Com relação à resistência/força abdominal, também houve diferença significativa, onde os obesos apresentaram desempenho inferior aos não obesos, em ambos os sexos; podendo com isso, aumentarem os riscos de desenvolverem dores na coluna, uma vez que seus músculos abdominais são fracos para a sustentação da posição ereta. Segundo o Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM, 1996), uma baixa força/ resistência muscular abdominal vem sendo relacionada com a dor lombar de origem muscular. Glaner (2003), afirma que índices adequados de força e resistência muscular são importantes na prevenção de problemas posturais, lesões músculo-esqueléticas e problemas articulares. A força/ resistência muscular é importante, pois é requisitada em diversas atividades cotidianas, como: manter a postura, carregar compras e transportar objetos.
O desempenho dos sujeitos desta pesquisa vem ao encontro à afirmação de Oliveira, Ribeiro e Santos (2006), de que a aptidão física e a capacidade de tolerância ao exercício, submáximo e máximo, de indivíduos obesos, é mais baixa comparada com a dos seus pares não obesos. Bar-Or (1987), afirma que a obesidade é um dos principais fatores para baixos níveis de aptidão física. Afirma ainda que, a obesidade afeta não só a capacidade física da criança e adolescente, mas também sua auto-estima e a sua capacidade de socialização. Há ainda, estudos que relacionam a obesidade a uma menor capacidade cardiorrespiratória, índices de aptidão física inferiores, quando comparados a crianças eutróficas (FREY e CHOW, 2006) e maior gasto energético no decorrer das atividades, pois requerem maior esforço físico, que sujeitos eutróficos, para o desempenho de uma mesma atividade (BRACCO et al., 2002).
Segundo Pinho e Petroski (1999), a falta de atividade física seria uma característica marcante no comportamento habitual de crianças com sobrepeso e obesidade. E esta carência de atividades, além de poder vincular-se a problemas cardiorrespiratórios e outras doenças crônicas, poderia também influenciar no desenvolvimento das habilidades motoras, devido ao insuficiente nível de experiências motoras. Pazim, Frainer e Moreira (2007) alertam para o fato de esses atrasos acontecerem devido à inatividade que está ligada a obesidade. Pois, as crianças e adolescentes obesas podem demonstrar certa resistência à prática de atividades, por apresentarem dificuldade na realização das mesmas ou por vergonha da exposição da aparência corporal. Este cuidado com a exposição proporciona aos obesos, muitas vezes, a opção por atividades com baixo gasto calórico, abandono de hábitos saudáveis de vida, que, geralmente, nestas faixas etárias, estão muito ligados as atividades desportivas em grupo. Desta forma, a criança ou adolescente, troca atividades ativas, como a participação em escolinhas esportivas, atividades como o escotismo e até mesmo as aulas de Educação Física, por atividades sedentárias em casa, como horas em frente ao videogame, assistindo TV, internet e computador; atividades estas que não proporcionam a ela vivências motoras amplas, limitando o desenvolvimento de suas capacidades, em um período fundamental para o desenvolvimento destas.
Estudo de Brum (2009), realizado em Florianópolis, constatou que, de maneira geral, as crianças que apresentaram obesidade possuem um atraso em seu desenvolvimento motor; alertando para o fato de que este atraso pode decorrer devido aos longos períodos em que as crianças e adolescentes dedicam a atividades em casa, como assistir televisão e computador, fazendo com que os movimentos motores não sejam totalmente desenvolvidos e aprimorados. Resultados semelhantes também foram encontrados por Berleze, Haeffner e Valentini (2007), em estudo realizado na cidade de Santa Maria (RS), com crianças de 6 a 8 anos; os resultados demonstraram que as crianças obesas obtiveram maior atraso na execução de habilidades de equilíbrio, saltar e correr com relação às crianças eutróficas.
Em relação aos testes de resistência aeróbia e resistência/força abdominal os meninos não obesos apresentaram melhor desempenho do que as meninas. Resultados que vem ao encontro a afirmação de Bergmann et al. (2005), que dizem que os meninos são superiores às meninas nos testes de aptidão cardiorrespiratória e resistência/força abdominal pois, aliado ao maior aumento de massa magra dos meninos, está também um maior aumento dos níveis de força, provindos também das características hormonais de desenvolvimento. Porém, quando comparado os gêneros entre os obesos, não houve a superioridade dos meninos; as meninas obtiveram melhor desempenho cardiorrespiratório e de resistência/força abdominal.
Analisando os resultados dos testes por faixa etária, percebemos que apenas a flexibilidade não apresentou diferença significativa. A resistência aeróbia não apresentou diferença significativa, na média geral e para ambas as faixas etárias, apenas na faixa etária de 7 a 10 anos. Em relação à resistência/força abdominal, obteve-se diferença significativa na média geral e nos meninos para as duas faixas etárias (7 a 10 anos e 11 a 14 anos); já, as meninas só apresentaram diferença significativa na faixa etária de 7 a 10 anos.
Considerações finais
Concluímos que, quanto aos indicadores de saúde, houve diferença significativa entre obesos e não obesos, com relação à resistência aeróbia e resistência/força abdominal em ambos os sexos, onde os não obesos demonstraram melhor desempenho, diferença que não ocorreu em relação à flexibilidade.
Os resultados do estudo apontam para a insuficiência da aptidão física relacionada à saúde entre os obesos. Entretanto, não podemos concluir até que ponto os melhores resultados obtidos pelos indivíduos não-obesos, deve-se ao fato da menor adiposidade corporal ou a uma maior prática de atividade física. Sabe-se que a aptidão física tem significativas melhoras com a prática e o treinamento e que, indivíduos obesos tendem a ser mais sedentários. Sendo assim, os resultados superiores em indivíduos não obesos, podem tanto se dar ao fato da menor prática de atividades nos indivíduos obesos, como também ao fator do peso corporal. Sugere-se uma investigação mais ampla, que aborde também o estilo de vida dos sujeitos investigados, buscando explanar a realidade desses indivíduos.
Diante do exposto, recomendamos que, nas aulas de Educação Física, o professor faça um trabalho pedagógico que permita ao aluno um bom desenvolvimento dos indicadores de saúde, e que oriente o aluno da importância de um estilo de vida ativo e saudável (prática regular de atividade física e cuidados com alimentação) como um hábito cotidiano.
Referências
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