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Estado nutricional de escolares e sua relação 

com a participação nas aulas de Educação Física

Estado nutricional de estudiantes y su relación con la participación en las clases de Educación Física

 

*Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física

Escola Superior de Educação Física

Universidade Federal de Pelotas (UFPEL)

**Professor Escola Superior de Educação Física

Universidade Federal de Pelotas (UFPEL)

Tiago Wally Hartwig*

Mário Renato Azevedo**

tiagowh@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo verificar a relação entre a participação de escolares nas aulas de Educação Física e o índice de massa corporal (IMC) em uma turma de ensino fundamental da rede pública da cidade de Pelotas-RS. A amostra foi constituída por 28 escolares com idades variando entre 9 e 15 anos. Foram coletados os dados de peso e altura assim como criada uma escala likert para a classificação da participação nas aulas de Educação Física. Através dessa escala o aluno era classificado de acordo com sua participação no número de atividades propostas naquela aula. Do total da amostra, 60% foram classificados com IMC normal, sendo o restante possuindo excesso de peso (sobrepeso e obesidade). A prevalência de excesso de peso foi maior nos meninos em comparação com as meninas (53% e 19%, respectivamente). Analisando o percentual de alunos inativos nas aulas de Educação Física, os resultados mostraram que não houve diferença entre indivíduos classificados como normais e com excesso de peso em relação ao estado nutricional. Os meninos foram considerados mais ativos do que as meninas. A participação dos alunos nas aulas de Educação Física, assim como outros estudos na literatura mostraram, parece não possuir relação com o estado nutricional. O baixo envolvimento nas aulas de Educação Física pode estar associado a outros fatores motivacionais nesta faixa etária.

          Unitermos: Educação Física. Estado nutricional. Participação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nas últimas décadas tem-se notado uma alta prevalência de indivíduos com sobrepeso e obesidade no âmbito mundial, sendo essa situação classificada como epidêmica (WANG et al., 2002). Dentro desse contexto, uma forma de avaliar o crescimento e proporções corporais e conseqüentemente o estado nutricional é o IMC (Índice de massa corporal). Dentre as classificações que o índice permite analisar estão o sobrepeso e obesidade, destacando-se o aumento do número de crianças e adolescentes inseridos nessa faixa.

    Esse excesso de peso pode estar relacionado a hábitos de vida pouco saudáveis, tais como a inatividade física e alimentação inadequada (DÂMASO, 2003). Estudos mostram que a inatividade física, tempo assistindo televisão e excesso de peso estão associados (AMARAL & PALMA, 2001; MASCARENHAS et al., 2005). Ainda, o consumo em excesso de alimentos industrializados ricos em gorduras e carboidratos refinados e a redução do consumo de alimentos “in natura” também contribui para essa realidade (KINSEY, 1994).

    Considerando que a grande maioria das crianças e adolescentes em idade escolar freqüentam a escola, torna-se este um espaço privilegiado para intervenções nesta faixa etária. O ambiente escolar possui papel de destaque dentro dos hábitos alimentares e de pratica de atividade física (COSTA et al., 2006). Desta forma, os programas de Educação Física escolar devem, segundo Guedes & Guedes (1997), atender a duas metas prioritárias: a) promover experiências motoras que possam repercutir satisfatoriamente em direção a um melhor estado de saúde, procurando afastar ao máximo a possibilidade de aparecimento dos fatores de risco que contribuem para o surgimento de eventuais distúrbios orgânicos; e b) levar os educandos a assumirem atitudes positivas em relação a prática de atividades físicas para que se tornem ativos fisicamente não apenas na infância e na adolescência, mas também na idade adulta.

    Bracco et al. (2002) e Frey et al. (2006) destacam que a obesidade repercute de maneira negativa nos níveis de aptidão física, pois crianças obesas demonstram capacidade cardiorespiratóia inferior, sendo que despendem maiores esforços para a mesma intensidade de atividade física, quando comparadas às demais. Essa realidade pode ser um fator preponderante na participação ou não em aulas de educação física, em virtude da frustração pelo não acompanhamento nas atividades. Ainda, o excesso de peso acarreta em atrasos no desempenho motor nas mais variadas habilidades motoras fundamentais de locomoção e controle de objetos (BIGOTI et al, 2005; AMORIN et al, 2006).

    O presente estudo teve como objetivo verificar a relação entre a participação de escolares nas aulas de Educação Física e o seu índice de massa corporal (IMC) em uma turma de ensino fundamental da rede pública da cidade de Pelotas-RS.

Metodologia

    O presente estudo é caracterizado por ser do tipo observacional de corte transversal. A amostra consistiu em 28 alunos de uma 5º série do ensino fundamental de uma escola estadual, localizada no município de Pelotas – RS. Este trabalho foi desenvolvido junto ao estágio curricular obrigatório no curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Pelotas. A pesquisa foi realizada nos meses outubro e novembro de 2008.

    Para obtenção do IMC realizaram-se as mensurações de estatura e peso corporal. Para a mensuração da estatura utilizou-se uma fita métrica fixada à uma parede lisa de forma perpendicular ao solo. Já para a mensuração do peso corporal utilizou-se uma balança da marca Filizola com precisão de 0,1 Kg. As crianças foram avaliadas no mesmo dia, sendo padronizada a pesagem e a mensuração da estatura sem o uso de calçado e blusas de maior peso, sendo somente permitido o uso de bermuda e camiseta. As orientações para a coleta de peso e estatura seguiram orientações do Projeto Esporte Brasil (GAYA et al., 2007).

    O IMC foi obtido através da fórmula (IMC = Peso corporal/ estatura ²) . Para classificar o estado nutricional dos alunos foi utilizado o valor proposto por Cole et al. (2000), que permite uma continuidade de critério de sobrepeso e obesidade na infância, adolescência e idade adulta. Para fins de análise, foi adicionada a categoria “excesso de peso”, formada por indivíduos classificados como “sobrepeso” ou “obeso”.

    A análise da participação foi realizada em 11 aulas/ períodos, sendo que as atividades propostas foram desenvolvidas de acordo com os programas de Educação Física escolar, contemplando o aprendizado, os gestos técnicos e as formas lúdicas de ensino para os desportos como o futsal, handebol, basquete e vôlei. O período possuía duração total de 45 minutos. Para a classificação da participação dos alunos nas aulas foi criada uma escala likert de classificação pelo professor na qual foi preenchida imediatamente após a realização da aula de Educação Física. Através dessa escala o aluno era classificado de acordo com sua participação no número de atividades propostas naquela aula. A escala foi composta por quatro classificações diferentes: 1) O aluno não participou (aluno que não realizou nenhuma atividade nessa aula); 2) Eventualmente (aluno que participou de apenas uma atividade da aula); 3) Freqüentemente (participou de mais de uma atividade proposta pelo professor naquela aula) e 4- Realizou toda aula (participou de todas as atividades propostas naquela aula de educação Física). Foi considerado inativo nas aulas de Educação Física aquele aluno classificado nos dois primeiros itens em pelo menos seis aulas, ou seja, não participou ou a participação foi eventual na maioria das aulas. Foram considerados ativos aqueles que se enquadraram nas duas últimas classificações em pelo menos seis aulas. Cada período possuiu em média 3 (três) atividades oferecidas pelo professor.

    Foi elaborado um termo de consentimento à direção da escola. As coletas de estatura e peso foram realizadas em sala de aula como parte do conteúdo programático. Os resultados foram discutidos com os próprios alunos individualmente.

Resultados

    Foram avaliados 28 alunos com média de idade de 11,9 anos, sendo 17 meninos (60%) e 11 meninas (40%). Em relação ao peso corporal e estatura, a média encontrada foi de 56,1 Kg (DP 9,3) e 1,58 m (DP 0,05), respectivamente. Enquanto que a estatura média de meninos e meninas foi muito próxima (1,57 versus 1,58), o peso médio dos meninos (57,3 Kg) foi ligeiramente superior ao das meninas (54.4 Kg). O IMC médio da amostra foi de 22,4 Kg/m², sendo 23,11 Kg/m² para os meninos e 21,69 Kg/m² para as meninas.

    A Tabela 1 descreve a amostra segundo estado nutricional. Entre os meninos, os valores encontrados para sobrepeso e obesidade foram de 35% (6 alunos) e 18% (3 alunos), respectivamente. Já para o sexo feminino, a prevalência de obesidade foi de 19% (2 meninas), sendo o restante do grupo (9 meninas) classificadas com o IMC normal (81%).

Tabela 1. Descrição e percentuais dos estados nutricionais de ambos os gêneros da amostra total

    A Tabela 2 descreve a amostra segundo o estado nutricional e a participação nas aulas de Educação Física. O percentual de alunos inativos nas aulas de Educação Física não diferiu entre indivíduos classificados como normais e com excesso de peso em relação ao estado nutricional.

Tabela 2. Comparação dos estados nutricionais com a participação nas aulas de Educação Física

    A Figura 3 descreve a participação em aulas de Educação Física segundo o estado nutricional e sexo. Independente do estado nutricional, a participação nas aulas de Educação Física é maior entre os meninos, chegando a 100% entre aqueles com excesso de peso. Entre as meninas com excesso de peso, apenas 50% participava das aulas de Educação Física.

Figura 1. Participação nas aulas de Educação Física segundo o estado nutricional em meninos e meninas

* Não há casos de meninas com sobrepeso.

Discussão

    A proporção de adolescentes com sobrepeso e obesidade é uma preocupação em termos de saúde pública. Tal problema, já classificado como uma situação epidêmica requer constante e crescente investimento de iniciativas com o objetivo da promoção da saúde e combate ao sobrepeso e obesidade já na infância e adolescência.

    Diante disso, estudar o desenvolvimento do sobrepeso e obesidade no meio escolar pode ser uma importante estratégia para a mudança de hábitos e atitudes adotadas por jovens. A informação e a conscientização dos problemas posteriores nessa população passam a ser uma forte ferramenta em posse de professores, visando alterar essa realidade.

    A comparabilidade dos resultados aqui discutidos com a literatura deve ser feita com cautela, pois observa-se a utilização de pontos de corte diferentes para a identificação e classificação do estado nutricional, gerando dessa forma, resultados desiguais e de difícil comparação. No presente estudo, a utilização por valores propostos por Cole et al. (2000) se deu em virtude de serem pontos de corte recomendados por importantes instituições internacionais como a IOTF (International Obesity Taskforce), sendo assim, relacionando e comparando estudos com a mesma metodologia.

    Prevalências elevadas de sobrepeso (22%) e obesidade (18%) foram encontradas nesse estudo. Comparando-se os dados com um estudo realizado por Soar e seus colaboradores em uma escola pública da cidade de Florianópolis em 2004, notam-se valores maiores para este, em ambas as classificações. Campos et al. (2007) em sua amostra de escolares realizada no município de Fortaleza encontrou uma prevalência de excesso de peso inferior aos nossos achados (18% versus 40%, respectivamente). O presente estudo também obteve valores maiores de excesso de peso quando comparado a um estudo proposto por Fernandes et al. (2007) em escolares da cidade de Presidente Prudente – SP. Analisando a amostra por gêneros, ambos os estudos encontraram valores de sobrepeso e obesidade maiores para os meninos.

    Em um estudo epidemiológico proposto por Nogueira (2009) com escolares entre 7 e 10 anos na cidade de Porto Alegre, foram encontradas prevalências de sobrepeso e obesidade inferiores à esse estudo (14,2 % e 11,2%, respectivamente). A prevalência de sobrepeso para os meninos foi de 11,5%, enquanto as meninas atingiram 17,2%, sendo esse último valor bem acima do que foi encontrado neste. Comparando as prevalências de obesidade, em ambos os gêneros o estudo proposto por Nogueira (2009) obteve valores inferiores. Analisando a prevalência de sobrepeso e obesidade de escolares da cidade de João Pessoa – PB, ambos os valores chegaram a 10%, mostrando-se mais elevada nos rapazes (FARIAS JÚNIOR et al., 2008).

    A prevalência de sobrepeso e obesidade encontrada nesse estudo foi superior à maioria dos estudos brasileiros realizados. Contudo, o presente estudo restringe-se a uma turma escolar apenas, não sendo representativa da população de origem, tornando os dados epidemiológicos disponíveis como boas referências mas não permitindo qualquer comparação ao mesmo nível de análise.

    Abordando mais precisamente a relação entre a prática nas aulas de Educação Física com o estado nutricional foi encontrado apenas um estudo como análise comparativa. Aquino Junior et al. (2008) avaliou crianças em uma escola municipal na cidade de São Carlos-SP e não encontrou diferença na participação de crianças com excesso de peso e as crianças com peso normal, onde os alunos mostraram o mesmo envolvimento, interesse e dinamismo na aula, sendo dessa forma semelhante ao ocorrido nesse estudo.

    A relação entre composição corporal e prática de atividades físicas (neste caso as aulas de Educação Física) está sujeita a influência de diferentes fatores. Do ponto de vista biológico, a maturação sexual pode exercer papel determinante. Segundo Siervogel et al. (2000), dependendo do estágio de maturação sexual das crianças ocorre um aumento significativo da massa de gordura corporal durante o processo de desenvolvimento. Vale ainda ressaltar que durante a puberdade a criança passa por intensas modificações antropométricas e de composição corporal interferindo diretamente na classificação final do estado nutricional das mesmas. Días et al.(1996) ao estudar 2976 crianças e adolescentes, entre 7 e 17 anos de idade de ambos os sexos, mostrou que o IMC aumentava, significantemente, a cada estágio de maturação sexual, entre 0,5 a 1,3 kg/m2. Além disso, em um estudo de cunho epidemiológico realizado por Foster et al. (1977) na cidade de Louisiana, nos Estados Unidos encontrou-se que nas meninas com maior peso, a maturação sexual ocorreu precocemente. Portanto, não há como deixar de salientar a importância da análise da maturação de indivíduos na faixa etária deste estudo.

    A prática de atividades físicas fora da escola pode ser outro fator de confusão importante. Aqueles alunos que não se mostraram ativos nas aulas de Educação Física podem ser ativos fora da escola. A contribuição de atividades físicas e esportivas no controle e manutenção do peso de adolescentes está bem definida (HALLAL et al., 2006), porém evidências apontam para uma baixa intensidade das aulas de educação Física, diminuindo assim seu potencial de melhora da aptidão física (GUEDES & GUEDES, 1997).

    Guedes & Guedes (1997) ressaltam a importância de tornar as aulas de Educação Física mais atrativas a fim de buscar uma maior aderência dos alunos. Os mesmos autores descrevem que a utilização das quatro modalidades esportivas tradicionais (Futsal, Handebol, Basquete e Vôlei) pode ter uma influência negativa na prática de um estilo de vida ativo fora do ambiente escolar, pois muitos não apresentam a mesma facilidade quanto ao domínio das habilidades específicas que a prática exige, levando a um desinteresse por esse tipo de atividade. Dessa forma, o ambiente escolar é de fundamental importância, pois a criação e o planejamento de aulas atrativas e que atendam os anseios dos alunos são fundamentais para a melhora do estilo e qualidade de vida desse público.

Considerações gerais

    O resultado final mostra um alto índice de alunos que possuem excesso de peso, corroborando com o grande crescimento que ocorre nos últimos anos de sobrepeso e obesidade em crianças escolares, sendo o percentual de meninos maior do que o de meninas nessas classificações.

    A participação dos alunos nas aulas de Educação Física, assim como outros estudos na literatura mostraram, parece não possuir relação com o estado nutricional. Desta forma, nesta idade pelo menos, as exigências físicas e de habilidades, não raras às vezes em pior condição entre indivíduos com excesso de peso, parecem não representar uma barreira ao envolvimento com atividades físicas na escola. Portanto, o baixo envolvimento nas aulas de Educação Física pode estar associado a outros fatores motivacionais nesta faixa etária.

Referências bibliográficas

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