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Introdução

    A coesão de grupo pode ser definida como um processo dinâmico que tem como objetivo favorecer a união de um grupo para o alcance de seus objetivos e satisfação das necessidades afetivas dos membros (CARRON; HAUSENBLAS; EYS, 2005). De acordo com o modelo conceitual de coesão no esporte de Carron, Widmeyer e Brawley (1985), a coesão está relacionada para o grupo como uma totalidade e para a maneira na qual o grupo satisfaz suas necessidade pessoais e objetivos (EYS et al., 2009), além de ser um indicador fundamental para o grau de união de uma equipe (JOWETT; CHAUNDY, 2004).

    Vários estudos demonstraram que as percepções de coesão de grupo de uma equipe esportiva podem influenciar o bom desempenho dos atletas e o sucesso da equipe na busca de seus objetivos (CARRON et al., 2002; CARRON; BRAY; EYS, 2002; SÉNECAL; LOUGHEAD; BLOOM, 2008). Contudo, muitos aspectos e fatores inerentes ao ambiente de uma equipe esportiva podem influenciar na coesão do grupo, interferindo tanto nas relações e interações sociais entre os atletas quanto nos objetivos e metas da equipe (WIDMEYER; BRAWLEY; CARRON, 1990; EYS; CARRON, 2001).

    Nesse contexto, técnicos de equipes esportivas têm se preocupado em reforçar, a coesão de suas equipes (SÉNECAL; LOUGHEAD; BLOOM, 2008), visto que estudos têm apontado que um bom nível de coesão está relacionado com o melhor desempenho e sucesso da equipe (CARRON et al., 2002; BLOOM; EYS et al., 2003; STEVENS; WICKWIRE, 2003; RAMZANINEZHAD; KESHTAN, 2009;).

    Fica visível que no esporte de alto nível a coesão de grupo é um elemento muito importante para o bom desempenho dos atletas e conquista dos objetivos da equipe (CARRON et al., 2002), demonstrando a importância da coesão para a tarefa no alcance das metas e do sucesso em detrimento à coesão social (RAMZANINEZHAD; KESHTAN, 2009).

    Face ao exposto, o estudo teve como objetivo analisar a percepção de coesão de equipes de futsal da região noroeste do Paraná, buscando especificamente verificar se atletas de alto nível apresentam maior percepção de coesão para a tarefa ou social e comparar a percepção de coesão das equipes melhores e piores classificadas.

Metodologia

Caracterização do estudo

    O presente estudo teve um caráter descritivo e correlacional, uma vez que o objetivo foi observar, registrar e analisar fenômenos, entretanto, sem interferir ou influenciar os mesmos, com uma posterior comparação e correlação dos resultados obtidos em função das características avaliadas (THOMAS; NELSON, 2002).

Sujeitos

    Participaram do estudo 58 atletas de futsal de quatro equipes profissionais da região noroeste do Paraná, participantes do Campeonato Paranaense de Futsal Adulto Masculino – Chave Ouro, que consentiram voluntariamente em participar do estudo. No momento da coleta de dados, duas equipes estavam entre as seis últimas colocações (piores classificadas) e duas equipes estavam entre as seis primeiras colocações na competição (melhores classificadas).

Instrumento

    Para verificar a percepção de coesão de grupo dos atletas, utilizou-se o Questionário de Ambiente de Grupo, adaptado e validado para a língua portuguesa por Costa (2005), a partir do questionário desenvolvido originalmente por Carron, Widmeyer e Brawley (1985). O instrumento é composto por 18 itens que avaliam a coesão de grupo em equipes esportivas. Os itens são distribuídos em quatro dimensões (Integração no Grupo-Tarefa, Integração no Grupo-Social, Atração Individual para o Grupo-Tarefa e Atração Individual para o Grupo-Social), sendo as afirmações respondidas numa escala tipo “likert” de nove pontos que variam de “discordo totalmente” (1) a “concordo totalmente” (9). As pontuações mais altas significam valores mais elevados de coesão em cada uma das dimensões.

    A estimativa de consistência interna foi computada para cada dimensão do Questionário de Ambiente de Grupo em relação aos indivíduos avaliados. Os valores do alfa de Cronbach para todas as dimensões do questionário foram consideradas aceitáveis de acordo com as recomendações de Nunally (1978), uma vez que o alfa de Cronbach para as dimensões de coesão variaram de α = 0,54 a α = 0,73, resultado semelhante aos encontrados em pesquisas anteriores (LI; HARMER, 1996; SÉNECAL; LOUGHEAD; BLOOM, 2008).

Procedimentos

    O estudo está integrado ao projeto institucional sob parecer do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos nº 175/2007. Para coleta de dados foi contatada a diretoria, a comissão técnica e os jogadores das equipes de futsal. Após a autorização das equipes, os atletas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta de dados foi realizada no local de treinamento dos atletas e a aplicação dos questionários foi uma hora antes do início do treinamento, com duração de aproximadamente 30 minutos.

Análise de dados

    Para análise da distribuição dos dados, utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov. Os dados não apresentaram distribuição normal, assim foi utilizada Mediana (Md) e Quartis (Q1; Q3) para caracterização dos resultados. Para a avaliação da consistência interna das dimensões de coesão de grupo efetuou-se o alfa de Cronbach. Para a comparação entre coesão para a tarefa e coesão social e entre as equipes melhores e piores classificadas na competição aplicou-se o teste “U” de Mann-Whitney, sendo adotada significância p ≤ 0,05. Para a correlação entre as dimensões de coesão utilizou-se o coeficiente de correlação de Spearman.

Resultados

    A Tabela 1 apresenta os dados descritivos (Mediana, o Primeiro e o Terceiro Quartil) de cada uma das dimensões de coesão de grupo dos atletas de futsal.

Tabela 1. Mediana, Primeiro e Terceiro Quartil das dimensões de coesão dos atletas das equipes de futsal

    Verificou-se que os atletas apresentaram bons resultados em todas as dimensões de coesão, com medianas melhores para as dimensões relacionadas à tarefa (Integração no Grupo-Tarefa e Atração Individual para o Grupo-Tarefa). Com esse resultado, notou-se a importância de estratificar as dimensões relacionadas à tarefa e ao social em apenas dois grupos (Coesão para a Tarefa e Coesão Social), possibilitando observar qual o tipo de coesão predominante em atletas de alto rendimento. A Tabela 2 apresenta a comparação entre a coesão social e para a tarefa dos atletas de futsal.

Tabela 2. Comparação entre coesão para a tarefa e coesão social dos atletas de futsal

Diferença significativa – P<0,05.

    Notou-se diferença significativa entre a coesão para a tarefa e coesão social para os atletas de futsal, verificando que as equipes apresentaram maior percepção de coesão para a tarefa em detrimento à coesão social, evidenciando que atletas de alto nível focam a união para o alcance de metas e objetivos da equipe em detrimento aos aspectos sociais. A Tabela 3 apresenta os escores das dimensões de coesão de grupo das equipes piores e melhores classificadas na competição.

Tabela 3. Comparação da percepção de coesão das equipes de futsal em função da classificação no Campeonato Paranaense

*Diferença significativa – P<0,05.

    Observou-se que as equipes piores e melhores classificadas apresentaram boas percepções de coesão em todas as dimensões. No entanto, verificou-se diferença significativa entre os dois grupos nas dimensões Integração no Grupo – Tarefa (GI-T) e Atração Individual para o Grupo – Social (AI-S), nas quais as equipes piores classificadas obtiveram escores mais altos em ambas as subescalas.

    Além disso, notou-se a importância de verificar se existe correlação entre as dimensões de coesão em atletas de alto rendimento, isto é, se o aumento ou diminuição de uma dimensão tem relação com as demais subescalas. A Tabela 4 apresenta a relação entre as quatro dimensões da variável de coesão de grupo.

Tabela 4. Correlação entre as dimensões de coesão de grupo em atletas de futsal.

**p< 0,01/ *p< 0,05.

    Encontrou-se correlação positiva e estaticamente significativa da dimensão e Atração Individual para o Grupo-Tarefa (AI-T) com Integração no Grupo-Tarefa (GI-T) (r=0,58), e Integração no Grupo-Social (GI-S) (r=0,40), evidenciando a existência de uma relação positiva e moderada da dimensão Atração Individual para o Grupo-Tarefa com a Integração no Grupo Social e para a Tarefa.

Discussão

    Na análise descritiva da percepção de coesão grupo (Tabela 1), os atletas de futsal apresentaram boas percepções de coesão em todas as dimensões, com escores mais altos nas dimensões relacionadas à tarefa. Carron, Bray e Eys (2002) afirmam, em um estudo sobre coesão de grupo e sucesso esportivo com atletas de esportes coletivos de alto nível, que altas percepções de coesão favorecem o melhor desempenho e sucesso de uma equipe esportiva, demonstrando a importância do desenvolvimento da coesão de grupo, principalmente, em atletas de alto rendimento (como o caso dos atletas deste estudo), uma vez que estão sempre na busca do melhor desempenho.

    Notou-se que os atletas apresentaram maiores percepções de coesão para a tarefa (Tabela 2) em detrimento à coesão social, evidenciando que atletas de alto nível são totalmente focados para o alcance de metas e objetivos da equipe e para a busca do melhor desempenho e sucesso esportivo. Ramzaninezhad e Keshtan (2009) encontraram resultados semelhantes em um estudo sobre coesão de grupo e estilos de liderança de treinadores com jogadores de futebol profissionais irlandeses, verificando que atletas profissionais demonstraram melhor nível de coesão para as tarefas e objetivos da equipe, evidenciando que as relações e interações sociais entre atletas no esporte de alto rendimento não são tão importantes.

    A presente pesquisa também vai ao encontro de Leitão (1999) que observou, ao analisar os níveis de coesão de grupo em atletas de futebol portugueses, que para jogadores de alto nível o objetivo fundamental no esporte é a busca da vitória, concluindo que a coesão para a tarefa é uma variável que pode influenciar diretamente os níveis de rendimento alcançados por um atleta.

    Na comparação entre as equipes piores e melhores classificadas (Tabela 3), percebeu-se que as equipes piores classificadas demonstraram estar mais unidas e integradas para a busca e alcance das metas que as equipes melhores classificadas, o que pode estar relacionado ao fato de que atletas de alto rendimento se unem ainda mais quando se encontram em uma situação adversa em uma competição e almejam objetivos maiores na mesma.

    Nesse contexto, Carron et al. (2002) ressaltam, em um estudo sobre coesão de grupo e desempenho esportivo, que a integração e união da equipe para a tarefa é um aspecto essencial para um grupo que possui metas e objetivos que ainda não foram alcançados em uma determinada competição, uma vez que está relacionada aos sentimentos e desejo dos membros em relação à semelhança e à proximidade da equipe quanto às tarefas a realizar (CARRON; HAUSENBLASS; EYS, 2005).

    Notou-se diferença significativa também na dimensão Atração Individual para o Grupo-Social (Tabela 3), na qual as equipes piores classificadas apresentaram níveis maiores de coesão, demonstrando que este grupo possui melhor percepção em relação aos sentimentos individuais dos membros sobre seu envolvimento pessoal, aceitação e interação social com os demais atletas (EYS et al., 2003). Isso mostra que atletas de equipes que ainda não conseguiram alcançar seus objetivos em uma competição podem se envolver e buscar maior interação social com os demais atletas para, provavelmente, superarem as situações adversas e conhecerem melhor o grupo do qual fazem parte.

    Ao analisar a correlação entre as dimensões de coesão de grupo para os atletas de futsal (Tabela 4), observou-se quanto mais os atletas se sentem atraídos individualmente para as tarefas do grupo, maior é a integração e união dos jogadores para o alcance das metas da equipe e para a conquista do sucesso no esporte, além proporcionar melhor integração social do grupo. Assim, percebe-se que no contexto esportivo profissional e de alto nível, os atletas dão maior ênfase para os fatores relacionados à tarefa (RAMZANINEZHAD; KESHTAN, 2009), como o alcance de metas, melhor desempenho em treinamentos (SÉNECAL; LOUGHEAD; BLOOM, 2008) e competições e sucesso esportivo (CARRON; BRAY; EYS, 2002).

Conclusão

    Os resultados evidenciaram que atletas profissionais e de alto nível estão focados para os aspectos relacionados à tarefa, em detrimento aos aspectos sociais, visto que a vitória e o bom desempenho é o objetivo maior de um atleta profissional. Ainda percebeu-se que equipes em situações adversas durante uma competição podem se unir ainda mais na busca dos objetivos da tarefa.

    Ressalta-se que no contexto esportivo profissional a atração individual do atleta para a tarefa se evidenciou como um fator interveniente para a integração e união do grupo para o alcance das metas, além de ser um aspecto essencial para a integração social da equipe, demonstrando que o envolvimento pessoal do atleta para a tarefa é um elemento fundamental para a união social do grupo e para o alcance das metas da equipe

    É fundamental destacar que muitos fatores podem influenciar a percepção de coesão de uma equipe, como a preparação física, técnica, tática e os resultados, além de variáveis psicológicas como ansiedade, liderança e motivação podem influenciar o rendimento de um atleta. No entanto, no presente estudo estes fatores não foram analisados por uma questão de limitação da pesquisa, investigando apenas o tipo de coesão predominante em atletas de alto nível (tarefa ou social). Outra limitação foi que participaram do estudo apenas as equipes da região Noroeste do Paraná, que ocupavam colocação intermediária na competição e que consentiram em participar voluntariamente da pesquisa.

    Diante disso, sugere-se a necessidade da realização de pesquisas relacionadas à coesão de grupo no contexto esportivo de alto rendimento, visando explorar essa variável psicológica importante para o desempenho e sucesso das equipes esportivas.

Referências

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