Aspectos gerais da deficiência intelectual Aspectos generales de la discapacidad intelectual |
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Laboratório de Estimulação Psicomotora (LEP) Departamento de Educação Física (DES) Universidade Federal de Viçosa (UFV) Viçosa/MG (Brasil) |
Angelina de Faria Freitas angelinafariafreitas@yahoo.com.br Felipe Alves Soares Eveline Torres Pereira |
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Resumo Alguns atrás a Deficiência Intelectual (DI) era abordada de uma maneira técnica e preconceituosa, que predizia as capacidades dos indivíduos desse grupo. A literatura tem evoluído nesse campo, sendo que já se considera, por exemplo, o problema dos sistemas de classificação em rotularem as pessoas, no qual, esses rótulos tendem a desencadear expectativas comportamentais absolutas e reações emocionais negativas por parte da sociedade, provocando também idéias preconcebidas em relação às capacidades, às deficiências e ao potencial do indivíduo. Objetiva-se com essa revisão mostrar o estado da arte atualmente e os novos horizontes que têm aberto aos poucos para os deficientes, e especificamente, as pessoas com deficiência intelectual. Unitermos: Deficiência intelectual. Estimulação. Características.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Ao longo dos anos, a Deficiência Intelectual (DI) passou por diversas definições e terminologias para caracterizá-la, tais como: Oligofrenia, Retardo mental, Atraso mental, Deficiência mental, etc. Segundo o conceito da Associação Americana de Deficiência Mental (AAMR) (1992):
“deficiência Intelectual ou deficiência mental (DM - como não é mais chamado) é o estado de redução notável do funcionamento intelectual, significativamente abaixo da média, oriundo no período de desenvolvimento (antes dos 18 anos), e associado às limitações de pelo menos dois aspectos do funcionamento adaptativo ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente as demandas da sociedade em comunicação, cuidado pessoais, competências domesticas, habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia, saúde e segurança, aptidões escolares, lazer e trabalho.”
Existem vários sistemas de classificação para a deficiência intelectual, sistemas esses comportamentais, etiológicos e educacionais. Serão abordadas classificações de acordo com a dependência da criança, de acordo com a capacidade funcional e adaptativa, e ainda de acordo com a gravidade da deficiência.
De acordo com a dependência, que seria o grau de apoio que o indivíduo necessita em um ambiente particular, o comprometimento pode ser classificado, segundo Winnick (2004), como:
Intermitente: apoios de curto prazo se fazem necessários durante as transições da vida, como por exemplo, na perda do emprego ou fase aguda de uma doença, esse apoio pode ser de alta ou de baixa intensidade;
Limitado: apoio regular durante um período curto. Nesse caso incluem-se deficientes que necessitam de um apoio mais intensivo e limitado, como por exemplo, o treinamento do deficiente para o trabalho por tempo limitado ou apoios transitórios durante o período entre a escola, a instituição e a vida adulta;
Extensivo: apoio constante, com comprometimento regular; sem limite de tempo. Nesse caso não existe uma limitação temporal para o apoio, que normalmente se dá em longo prazo;
Generalizado: apoio constante e de alta intensidade, possível necessidade de apoio para a manutenção da vida. Estes apoios generalizados exigem mais pessoal e maior intromissão que os apoios extensivos ou os de tempo limitado.
Já no que diz respeito à capacidade funcional e adaptativa, a deficiência se classifica em:
Dependentes: Geralmente QI abaixo de 25, casos mais graves, nos quais é necessário o atendimento por instituições. Há poucas, pequenas, mas contínuas melhoras quando a criança e a família estão bem assistidas;
Treináveis: QI entre 25 e 75, são crianças que se colocadas em classes especiais poderão treinar várias funções como disciplina, hábitos higiênicos, etc. Poderão aprender a ler e escrever em ambiente sem hostilidade, recebendo muita compreensão e afeto e com metodologia de ensino adequada;
Educáveis: QI entre 76 e 89, a inteligência é dita “limítrofe ou lenta” e estas crianças conseguem se adaptar em classes comuns (ainda que com muitas dificuldades, visto o sistema de ensino atual) embora necessitem de acompanhamento psicopedagógico especial.
Com relação a gravidade da deficiência, de acordo com a classificação da Organização Mundial da Saúde – CID-10 é baseada no critério quantitativo e pode ser:
Profunda: São pessoas com uma incapacidade total de autonomia, apresentando dependência completa e limitações extremamente acentuadas de aprendizagem, inclusive aquelas que vivem num nível vegetativo. Por isso recomenda-se uma intervenção realizada no contexto domiciliar;
Grave ou Severa: Fundamentalmente necessitam que se trabalhe para instaurar alguns hábitos de autonomia, já que há probabilidade de adquiri-los. Sua capacidade de comunicação é muito primária. Podem aprender de uma forma linear, são crianças que necessitam revisões constantes;
Moderado: São pessoas que podem ser capazes de adquirir hábitos de autonomia e, inclusive, podem realizar certas atitudes bem elaboradas. Quando adultos podem freqüentar lugares ocupacionais;
Leve ou Limítrofe: Podem chegar a realizar tarefas mais complexas com supervisão. São os casos mais favoráveis.
De acordo com Winnick (2004) o problema dos sistemas de classificação é o fato de rotularem as pessoas, no qual, esses rótulos tendem a desencadear expectativas comportamentais absolutas e reações emocionais negativas por parte da sociedade, provocando também idéias preconcebidas em relação às capacidades, às deficiências e ao potencial do indivíduo.
O grau de comprometimento da Deficiência Intelectual irá depender também da história de vida do paciente, particularmente, do apoio familiar e das oportunidades vividas, bem como das necessidades de apoio e das perspectivas de desenvolvimento.
A deficiência sempre será considerada de acordo com os demais indivíduos de uma mesma cultura, pois, a existência de alguma limitação funcional, principalmente nos graus mais leves, não seria suficiente para caracterizar um diagnóstico de Deficiência Intelectual, se não existir um mecanismo social que atribua a essa limitação um valor de morbidade. E esse mecanismo social que atribui valores é sempre comparativo, portanto, relativo.
A pessoa com deficiência intelectual tem, como qualquer outra pessoa, dificuldades e potencialidades. O processo de estimulação consiste em reforçar e favorecer o desenvolvimento e proporcionar o apoio necessário às suas dificuldades. As técnicas utilizadas para um programa de estimulação são um suporte comunicacional – gestual, tônico, mímico, ocular e outros – entre o adulto que propõe a atividade e a criança que aceita e executa (Herren e Herren, 1986).
A escola é, por exemplo, um meio de estimulação tanto social e motor, quanto cognitivo, no qual a criança tem maiores possibilidades de ampliar seu desenvolvimento global. Se tratando da inclusão de uma criança com deficiência intelectual é preciso que não só a instituição esteja preparada, mas também os funcionários e os próprios alunos da escola, porém têm-se uma preocupação no que diz respeito à inclusão dessa criança em uma escola regular.
Após a década de 90 intensificou-se, na educação brasileira, o processo de inclusão de alunos com deficiência no ensino regular. Entende-se que o movimento de inclusão, não se restringe à inserção de alunos com deficiências nas escolas regulares, mas visa criar também condições necessárias para que todos os alunos tenham acesso e permaneçam neste tipo de ensino ao longo dos anos escolares (MANTOAN, 2003; MITTLER, 2003 apud PÍNOLA et al, 2005).
Considerando esse contexto, estudos (BATISTA; ENUMO, 2004; CAPELLINI, 2001; CAPELLINI, 2004; ZANATA, 2004 apud PÍNOLA et al, 2005) sugerem que a maior dificuldade ocorre para com os alunos com deficiência intelectual, já que estes apresentam baixo rendimento acadêmico e as grandes dificuldades de interação social.
Apoiada nas definições científicas sobre a deficiência intelectual, como a da Associação Americana de Retardo Mental (AAMR), a compreensão sobre essa deficiência vem se alterando nas últimas décadas, deixando, para um passado remoto, a perspectiva popular e passando gradativamente para uma compreensão científica, comprometida com avaliações cuidadosas e sistemas de atendimentos mais eficazes.
Levando em consideração o âmbito da inclusão social de crianças com deficiência intelectual no ensino regular, fica evidente a necessidade de primeiramente identificar os déficits e recursos interpessoais das crianças, com e sem deficiência e ou dificuldade de aprendizagem, para assim, melhorar o planejamento desse processo.
Para classificar e diagnosticar da melhor forma possível os comprometimentos do deficiente intelectual, é interessante a atuação de uma equipe multiprofissional apta a trabalhar com este público de maneira integrada. Com essa equipe de trabalho, é bem mais fácil a orientação da família que, após entender as potencialidades do filho e suas necessidades poderá participar e cooperar nos tratamentos propostos. A participação familiar é fundamental no processo de atendimento à pessoa com deficiência intelectual.
Torna-se assim necessária a formação de uma equipe composta por assistente social, um médico e um psicólogo, podendo também profissionais da educação física e fonoaudiólogos, por exemplo, ser incluídos nessa equipe multiprofissional. Esses profissionais terão as seguintes funções:
Assistente social: através do estudo e diagnóstico familiar, da dinâmica de relações, da situação do deficiente na família, aspectos de aceitação ou não das dificuldades da pessoa (análise dos aspectos sócio-culturais);
Médico: aplicará o exame físico e recorrerá a avaliações laboratoriais ou de outras especialidades. Nesse caso, serão analisados os aspectos biológicos e psiquiátricos;
Psicólogo: através da aplicação de testes, provas e escalas avaliativas específicas, avaliará os aspectos psicológicos e nível de Deficiência Intelectual;
Fonoaudiólogo: trabalha como terapêutico-fonaudiólogo com desenvolvimento da linguagem, quanto para a aquisição e o domínio de atitudes sócio-culturais disponibilizadas e partilhadas pelos seus diversos componentes;
Educador Físico: pode trabalhar, por exemplo, com a Psicomotricidade, conteúdo da Educação Física – o tripé motor/cognitivo/social fundamenta o desenvolvimento das valências psicomotoras como coordenação, equilíbrio, lateralidade, noção espaço-temporal, esquema corporal e tonicidade (SILVA et al, 2009).
Diagnóstico
É preciso que haja uma série de sinais associados para o diagnóstico da deficiência intelectual. Um único aspecto não pode ser considerado como indicativo de qualquer deficiência.
Na maioria dos casos o diagnóstico se baseia em possíveis atrasos do desenvolvimento neuropsicomotor (a criança demora a sentar, andar, falar, etc.) e na dificuldade no aprendizado (dificuldade de compreensão de normas e ordens, prejudicando conseqüentemente o aprendizado escolar).
Segundo AAMR (1992) o diagnóstico deve ser formulado em três passos sendo a dimensão 1 referente ao funcionamento intelectual e aos padrões adaptativos, avaliados a partir de instrumentos padronizados, com incapacidades em diferentes áreas adaptativas ocorrendo antes dos 18 anos. A dimensão 2 verifica e identifica aspectos psicológicos e emocionais bem como etiologia e déficits físicos associados e ambiente em que o indivíduo se situa. E por fim, a dimensão 3, as necessidades e dificuldades identificadas nas outras duas, estabelecem-se suportes necessários para que este indivíduo possa ter diminuído a sua capacidade e maximizado o seu desempenho adaptativo.
Causas e fatores de risco
Inúmeras causas e fatores de risco podem levar a Deficiência Intelectual, mas é importante ressaltar que muitas vezes não se chega a estabelecer com clareza a causa da mesma.
Em seu livro Gorgatti (2005) divide as causas e/ ou fatores de risco para a deficiência intelectual em três níveis, causas Pré-natais, Perinatais e Pós-natais.
a. Fatores de risco e causas pré-natais
São os fatores que ocorrerão desde a concepção até o início do trabalho de parto, e podendo ser:
Infecções adquiridas pela mãe, durante a gestação, como rubéola, malária, caxumba, toxoplasmose, herpes (citomegalovírus) e sífilis;
Uso de álcool, drogas, intoxicações e radiações por parte da mãe;
Hidrocefalia ou macrocefalia;
Microcefalia;
Alterações na distribuição cromossômica;
Anormalidades genéticas que afetam o metabolismo.
b. Fatores de risco e causas Peri natais
São os fatores que ocorrerão a partir do início do trabalho de parto até o 30° dia de vida do bebê, podendo ser:
Hipóxia (carência de oxigênio) ou Anóxia (ausência de oxigênio) no parto;
Algum tipo de trauma que resulte em lesão cerebral (ex: parto de fórceps);
Prematuridade e baixo peso.
c. Fatores de risco e causas pós natais
Aqueles que incidirão do 30° dia de vida até o final da adolescência e podem ser:
Moléstias desmielinizantes (sarampo e caxumba);
Radiações e medicamentos;
Privação econômica que está associada à privação nutricional;
Privação familiar e cultural, privações que envolvem desde a privação do ambiente, no que diz respeito à estimulação motora e pedagógica, até as influências emocionais resultantes da estrutura familiar.
Referências bibliográficas
AAMR – AMERICAN ASSOCIATION ON MENTAL RETARDATION – Mental Retardation: definition, classification, and systems of support. 9th ed. Washington, AAMR, 1992.
ASSUMPÇÃO JUNIOR, F. B.; SPROVIERE, M. H. Introdução ao estudo da deficiência mental. São Paulo: Memnon, 2000.
FREITAS, A. P. de; CASTRO, G. S. A constituição de processos dialógicos em um grupo de jovens com deficiência mental. Revista Brasileira de Educação Especial, 12(1), 49-64, 2006.
GORGATTI, M. G.; FERNANDES, R. Atividade Física para deficientes. Baurueri, SP: Manole, 2005
HERREN, H.; HERREN, M. P. Estimulação psicomotora precoce. Porto Alegre, Artes Médicas, 1986.
PÍNOLA, A.R.R.; DEL PRETTE, Z.A.P.; DEL PRETTE, A. Habilidades sociais e problemas de comportamento de alunos com deficiência mental, alto e baixo desempenho acadêmico. Revista Brasileira de Educação Especial, 13(2), 239-256, 2005.
SILVA, T.R.; ALVES, F.A.; GOMES, T.P., PEREIRA E.T. Estimulação psicomotora no serviço único de saúde (SUS). Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde. V.14, Florianópolis, SC, 2009.
WINNICK J.P. Educação Física e Esportes Adaptados. Barueri: Manole, 2004.
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