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Perfil referido de aptidão física e do treinamento físico 

de árbitros de futebol da Federação Baiana de Futebol

Perfil de aptitud física y de entrenamiento físico de árbitros de fútbol de la Federación Bahiana de Fútbol

 

*Bacharelado em Educação Física. Faculdade Social

**Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública

Universidade Estadual de Feira de Santana

(Brasil)

Paulo de Tarso Bregalda Gussen*

Cloud Kennedy Couto de Sá* **

paulo.bregalda@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo descrever o perfil de aptidão física e do treinamento físico referido de árbitros de futebol da Federação Baiana de Futebol. A amostra foi constituída por 14 árbitros federados de futebol profissional, todos do sexo masculino. Os sujeitos responderam a um questionário sobre o seu programa de treinamento físico destinado à preparação física para sua atuação profissional. Todos referiram realizar corridas. Destes, 29% ainda fazem trabalho de musculação em academia e 7% realizam o remo como preparação física. Sobre a freqüência semanal de treinamento, 50% dos árbitros treinam 3 vezes, 43% treinam 4 vezes e 7% treinam 5 vezes. Quanto a duração da sessão de treinamento físico: 29% treinam por volta de 60 minutos, 50% gastam 90 minutos e 21% treinam por volta de 120 minutos. Apenas 36% dos árbitros realizam treinamento técnico de corrida em campo de futebol. Cinquenta e sete por cento responderam que não realizam treinamento físico específico. Conclui-se que os árbitros de futebol deste estudo realizam quase que exclusivamente o treinamento aeróbio como parte do seu treino e a maioria não possui acompanhamento específico por um profissional da área de Educação Física.

          Unitermos: Árbitro. Treinamento físico. Aptidão física.

 

Abstract

          This study aimed to describe the profile of physical fitness and physical training of football referees of Bahia´s Federation of Soccer. Fourteen professional soccer referees of Bahia´s Soccer Federation (FBF), males, answered a questionnaire about their physical training program. All of them realized aerobic training. These referees, 29% did weight training, and 7% did rowing for training. About the week frequency of training 50% of the referees realized three times a week, 43% four times and 7% five times a week. The duration of training that referees spent per day in physical training is 29% of the referees worked out about sixty minutes, 50% spend ninety minutes and 21% trained around one hundred and twenty minutes per day. Just 36% of the referees realized specific technical race training. We conclude that soccer referees realize almost exclusively aerobic training as part of their training and have no specific follow-up mostly by Physical Education Professional.

          Keywords: Referee. Physical training. Physical fitness.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Diversos estudos têm procurado analisar o efeito, organização e papel do futebol na sociedade atual. Muitos estudos se referem ao treinamento dos jogadores e outros elementos em questão têm sido a atuação e preparação de árbitro de futebol e seus assistentes, os quais têm como função principal dirigir uma partida de futebol¹. A função dos árbitros de futebol exige altos níveis de demanda metabólica para poder suportar o tempo e a intensidade da partida. Assim, considerado um ritmo cada vez maior fruto do avanço na preparação dos jogadores, é necessário que eles apresentem níveis adequados de aptidão física e de treinamento físico.

    Durante muito tempo o árbitro de futebol foi considerado uma figura secundária. Hoje, o seu papel é tão importante que uma decisão equivocada pode retirar a conquista de um campeonato de uma equipe que investiu milhões de dólares na compra e preparação de jogadores², ou muitas vezes afetar a segurança de jogadores e daqueles que acompanham diretamente o futebol. Devido à importância do árbitro, a comunidade científica passou a considerá-lo como objeto de investigação para melhor compreender a sua intervenção e fundamentar a sua preparação.

    Dentre uma série de estudos com árbitros de futebol, encontram-se aqueles que descrevem as ações motoras do árbitro durante a partida e as distâncias percorridas por ele³ e pelos árbitros assistentes, os parâmetros antropométricos, a acuidade visual, o condicionamento físico, e os parâmetros relacionados com a intensidade da atividade física do árbitro e do árbitro assistente durante a partida, mensurada pela freqüência cardíaca4.

    Definida como a habilidade de realizar tarefas diárias com vigor e prontidão, sem fadiga e com energia para desfrutar dos desafios do tempo de lazer e enfrentar as emergências, a aptidão física inclui uma série de atributos como a resistência cardiorrespiratória, a resistência, força e potência muscular, velocidade, flexibilidade, agilidade, tempo de reação e a composição corporal. Assim, compreende-se que a aptidão física é um requisito indispensável para a realização de tarefas que requerem esforço físico superior às demandas metabólicas de repouso, sendo que postula-se que um baixo nível de aptidão física pode provocar confusão no momento de se tomar uma decisão durante a execução de exercício extenuante e, conseqüentemente, prejudicar a capacidade de julgamento das pessoas nesta situação5.

    Além das variáveis metabólicas, cabe ressaltar que a aptidão física depende de uma composição corporal adequada, pois o excesso de peso ou a obesidade limitam os movimentos, além de desempenharem papel de sobrecarga para o sistema locomotor6.

    Vários parâmetros fisiológicos podem ser utilizados para determinação do índice de esforço realizado. Geralmente tem-se utilizado a ventilação pulmonar, consumo máximo de oxigênio (VO2máx), depleção de substratos, freqüência cardíaca, índice de esforço percebido e limiar anaeróbio. Em adição aos mesmos, é evidente a importância do controle da dinâmica da alteração de diferentes capacidades biomotoras através de testes específicos para cada uma delas como: força (potência); velocidade (velocidade de deslocamento máximo e lateral); resistência (membros inferiores) e, finalmente, testes de habilidade técnica e psicológica7.

    A estrutura do treinamento desportivo atual propõe a base para o planejamento e desenvolvimento adequado de uma preparação física para diversos fins. Particularmente se caracteriza pelos aspectos: conveniente ordenação dos conteúdos da preparação no processo de treinamento (exercícios de preparação física geral e especial, técnica e tática); relações entre os parâmetros da carga do treinamento (características quantitativas e qualitativas do treinamento e competição); sucessão das diferentes ligações do processo (sessões isoladas e suas partes, micro-etapas, etapas, macro ciclos), cuja estruturação possibilita o desenvolvimento de momento ótimo de forma desportiva, observada uma perspectiva temporal8.

    Pesquisas relacionadas aos níveis de aptidão e a forma de organização do treinamento dos árbitros podem fornecer subsídios para conhecer melhor o perfil de aptidão física e do treinamento físico desta categoria de profissional, servindo como referência para a entidade maior do futebol a FIFA, bem como, para pesquisadores e treinadores no momento da formulação de um programa de treinamento físico e seleção para a arbitragem de futebol. Desta maneira, torna-se evidente a necessidade em se investir em estudos que abordem o perfil físico de árbitros de futebol.

    Além disso, as informações que são obtidas a partir do delineamento da aptidão física e do treinamento físico, em combinação com informações do indivíduo acerca da sua saúde, podem ser usadas para ajudar o árbitro de futebol a alcançar seus objetivos específicos em termos de aptidão. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi descrever o perfil de aptidão física e do treinamento físico re-ferido de árbitros de futebol da Federação Baiana de Futebol.

Metodologia

    Trata-se de uma pesquisa de corte transversal, realizada com aplicação de questionário.

    A amostra foi constituída por catorze árbitros de futebol profissional da Federação Baiana de Futebol (FBF), sendo alguns deles também credenciados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), todos do sexo masculino.

    Cada voluntário, antes de participar deste estudo, assinou o termo de consentimento livre e pré-esclarecido, que apresentou detalhes do estudo realizado e visou informar a destinação dos dados coletados. Os voluntários não receberam nenhum estímulo econômico para participação desta pesquisa.

    Os sujeitos responderam a um questionário sobre o seu programa de treinamento físico destinado à sua preparação física para os jogos e para os testes práticos regulamentados pela FIFA. Neste questionário constavam perguntas sobre o tipo de atividade física praticada no treinamento, quantos dias na semana e quanto tempo por dia se dedicavam ao treinamento, se realizavam treino técnico ou treino específico em campo de futebol e se já sofreram algum tipo de lesão durante o treinamento físico ou durante o jogo de futebol. Ao final do questionário os árbitros classificaram seu condicionamento físico entre zero a dez, sendo zero atribuído para o mais baixo nível de condicionamento e dez para o máximo condicionamento físico.

    O teste prático da FIFA consta de:

  1. teste de velocidade que consiste em realizar seis tiros de quarenta metros em seis segundos, tendo um minuto e trinta segundos de recuperação entre essas corridas.

  2. na segunda prova os árbitros realizam vinte corridas a uma distância de cento e cinqüenta metros em trinta e cinco segundos, tendo quarenta segundos de descanso para percorrer uma distância de cinqüenta metros de caminhada. Segundo a FIFA, esta prova tem o objetivo de medir a capacidade de rendimento da potência aeróbica.

    Foram analisadas as repostas sobre o planejamento e preparação física que os sujeitos realizam objetivando o melhor desempenho nos testes. Os dados que caracterizaram os sujeitos foram descritos através da média, desvio padrão, valores máximos e mínimos.

Resultados e discussão

    As características gerais dos árbitros participantes deste estudo se encontram descritas na tabela 1.

    O árbitro de futebol se não estiver bem preparado poderá reduzir sua atenção, com conseqüente impacto negativo sobre sua atuação. Para conduzir as partidas de futebol de nível profissional, o árbitro deve apresentar um bom nível de preparação física, pois seu esforço físico deve acompanhar o nível dos jogadores, sendo que muitas das exigências do jogador também são do árbitro. Tal como os jogadores, por exemplo, o árbitro de futebol percorre distâncias entre nove e doze quilômetros no transcorrer do jogo3.

    Neste estudo todos os árbitros reportaram realizar alguma forma de atividade física como preparação para as competições, também corroborando com a idéia de que um bom condicionamento permite ao árbitro acompanhar os lances de perto e em melhor posição. Dentre as modalidades ou tipo de atividade física realizadas por eles, todos (n=14) responderam que realizam corridas. Destes, quatro (29%) ainda fazem trabalho de musculação em academia e um (7%) realiza o remo como preparação física.

    Observa-se, portanto, que de acordo com as exigências da atividade profissional a maioria dos árbitros pratica a corrida aeróbica como forma de preparação. Um estudo com árbitros dinamarqueses de alto nível também observou que seus treinamentos freqüentemente incluem a corrida aeróbica de intensidade moderada com percursos entre três a sete quilômetros9.

    Porém, uma observação empírica da atividade do árbitro dentro de campo pode revelar que além de andar e correr moderadamente, o árbitro corre em aceleração, faz corridas rápidas em distâncias curtas (sprint) e realiza corridas de forma diversificada (corrida lateral; corrida de costas, dentre outras). A literatura dispõe que o tempo médio que o árbitro se desloca correndo em moderada e alta intensidade varia de quatro a dezenove por cento do tempo total de jogo3, 10, 11.

    Neste estudo, apenas cinco árbitros (36%) realizam o treinamento técnico de corrida em campo de futebol como parte de sua preparação e nove (64%) não fazem este trabalho técnico. Embora se considere o treinamento aeróbico importante modalidade de exercícios para a preparação de árbitros, observa-se que é ignorada a realização de treinamentos para o desempenho anaeróbico com corridas intermitentes e com mudança de direção, características da atividade de árbitros5, 9, 12.

    No treinamento técnico em campo de futebol o árbitro encontra uma situação que simula sua exigência real e assim tem a condição de melhorar seu estilo de corrida aliada ao bom posicionamento em campo. É neste tipo de treino que se aprimora as corridas laterais, de costas e corridas diagonais em que o árbitro realiza durante as partidas de futebol. Quando questionados sobre a realização de algum programa de treinamento físico específico, oito árbitros (57%) responderam que não realizam tal treinamento e seis (43%) realizam programa específico de treino. Dentre estes treinos, destacam-se as corridas contínuas, corridas com tiros de quarenta metros e treinamento de fortalecimento de membros inferiores em academia.

    Alguns estudos9,12 sugerem que o árbitro seja submetido a um programa de treinamento específico, com sessões de treinamento com cargas intermitentes de alta intensidade, sendo essa prescrição suficiente para aperfeiçoar as fontes energéticas usadas pelos árbitros durante o jogo.

    Diante destes dados, pode-se observar que durante uma partida de futebol o árbitro realiza a maior parte do tempo o trabalho de resistência mista sendo muito importante também que ele tenha a força explosiva para conseguir acompanhar o lance de perto durante os piques do jogo. Para tanto, além de corridas alguns estudos13 recomendam exercícios básicos para fortalecer os membros inferiores, como o agachamento com barra, o leg press no aparelho e a flexão plantar, e que os exercícios de potência também são importantes para melhorar a velocidade e a rapidez nas extremidades inferiores.

    Quanto a freqüência semanal de treinamento, sete árbitros (50%) reportaram treinar três vezes, seis (43%) treinam quatro vezes e um árbitro (7%) treina cinco vezes por semana. A associação portuguesa de árbitros de futebol relata que o árbitro, mesmo não sendo profissional, deve treinar duas a três vezes por semana de forma diferenciada (para além da competição no fim de semana). Outro estudo aponta que os árbitros treinam em média três vezes por semana, sendo que estas sessões de treinamento possuem uma duração média de 60 minutos10.

    No presente estudo, quatro árbitros (29%) relataram que treinam por volta de sessenta minutos por dia, sete (50%) se dedicam noventa minutos e três árbitros (21%) treinam por volta de cento e vinte minutos diariamente. Cabe ressaltar que os árbitros de futebol em vários países, inclusive onde o futebol é altamente competitivo não são árbitros profissionais, trabalham em tempo integral em atividades profissionais distintas, o que pode acabar comprometer a planificação de seu treinamento, e conseqüentemente seu desempenho no treino e na partida de futebol.

    Aqui, também foi solicitado que os árbitros classificassem o seu condicionamento físico entre zero e dez, sendo zero para nenhum condicionamento físico e dez para o máximo condicionamento físico. Dos catorze árbitros estudados, dois (14%) responderam nota sete para seu condicionamento, oito (57%) responderam nota oito e quatro (29%) responderam nota nove para o seu condicionamento físico. A despeito de uma preparação física específica, a maioria dos árbitros deste estudo considera seu estado físico atual muito bom ou excelente.

Considerações finais

    A evolução do nível físico e da preparação física dos atletas de futebol teve como conseqüência um aumento da intensidade e volume das atividades competitivas desenvolvidas durante o jogo. Por causa desta evolução, as ações motoras desenvolvidas pelo árbitro no transcorrer da partida também aumentaram e conseqüentemente a exigência e o desgaste físico ficaram maiores.

    Durante este estudo notou-se que a maioria dos árbitros de futebol federados na Bahia realiza quase que exclusivamente o treinamento aeróbio como parte do seu treino. É certo que o treinamento da resistência aeróbia proporciona um aumento da aptidão física, melhora a capacidade de recuperação, diminui o risco de lesões e contusões, mas vale-se salientar que é muito importante o trabalho da resistência anaeróbia, da força explosiva e velocidade.

    Mais da metade dos árbitros de futebol não possuem nenhum acompanhamento por um profissional da área de Educação Física. Este fato faz com que eles treinem aleatoriamente sem seguir uma seqüência lógica e correta de treinamento.

    Outro fator que dificulta a preparação física dos árbitros deve-se pelo fato de todos desenvolverem outras atividades profissionais em paralelo com a arbitragem. Eles têm que dividir o seu tempo com a família, trabalho, atividades de lazer entre outros.

    Para que os árbitros tenham um nível ótimo de preparo físico, observa-se a necessidade de se ter a orientação de um profissional especializado que deve enfatizar e reforçar a importância e a qualidade da estrutura de seus programas de treinamento, fornecendo o estímulo adequado para o treinamento a fim de que consigam atingir o nível adequado de preparo, uma vez que o tempo que pode ser dedicado aos treinos é curto.

    Apesar dos árbitros deste estudo considerarem seu estado físico muito bom ou excelente é imprescindível a busca pelo aperfeiçoamento físico e técnico quando falamos de uma modalidade esportiva tão importante em nossa sociedade.

    Algumas qualidades físicas que devem se desenvolver no treino são a resistência (Específica e Geral), a velocidade, a força (em regime de resistência; explosiva), a flexibilidade e a coordenação.

    Durante as partidas de futebol o árbitro se encontra frente a diversos momentos de estresse, estresse mental característico da atividade, e muitos outros, como o do esforço físico e térmico. Assim, torna-se destacadamente importante apresentar um bom nível de condicionamento físico. Pode-se conjeturar que o árbitro bem preparado fisicamente poderá apresentar menor exigência física durante o jogo, retardo da fadiga periférica e central, o que lhe proporcionará maior tranqüilidade para refletir e decidir sobre os lances de uma partida.

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