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A prática pedagógica da Educação Física no ensino médio de 

uma escola pública de Macapá, AP: uma análise da realidade

La práctica pedagógica de la Educación Física en la Escuela Media en ámbito público de Macapá, AP: un análisis de la realidad

 

*Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Amapá.

**Doutor em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Professor Adjunto da Universidade Federal do Amapá

(Brasil)

Joanderson Olímpio Gregório*

Erick Carlo da Silva*

Elder Maurício Santos Ribeiro*

Márcio Romeu Ribas de Oliveira**

fernandogentry@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo objetivou realizar uma análise do perfil da prática pedagógica do professor de Educação Física do ensino médio da rede pública de uma escola da cidade de Macapá-AP, concernente ao planejamento, objetivos, conteúdos, metodologia, relação professor-aluno e avaliação. Realizou-se um estudo de caso de natureza qualitativa, durante sete meses de observação das aulas de Educação Física, tendo como amostra um professor, 150 alunos e um coordenador pedagógico, além disso, efetivou-se pesquisa bibliográfica, e aplicação de questionários ao professor e alunos e entrevista com a coordenação da escola. A relevância deste trabalho se dá pelo fato de contribuir para uma reflexão sobre a prática pedagógica do professor de Educação Física, proporcionando uma ação educativa mais eficaz dentro do universo escolar. Desta forma, é importante o professor de Educação Física perceber o alcance cultural e social de sua prática para, com isso, realizar um trabalho competente e vislumbrar uma prática pedagógica que leve à transformação da realidade e à construção de um homem crítico, convicto e decisivo frente aos problemas sociais. Constatou-se que a prática pedagógica do professor de Educação Física entrevistado não atende às exigências de uma educação de qualidade e de compromisso social, pois o professor não consegue sistematizar uma unidade lógica e coerente entre planejamento, conteúdo, metodologia, avaliação e objetivo.

          Unitermos: Educação Física. Prática pedagógica. Ensino médio.

 

Abstract

          This study was a profile analysis of the pedagogical practice of physical education teacher in high school from public school in the city of Macapá-AP, concerning the planning, objectives, content, methodology, teacher-student relationship and evaluation. Was did a qualitative research, it based on observations of physical education classes, interviews and aplie of questionnaires aimed at the teacher, students and coordination. The relevance of this work is given by the fact contribute to a reflection on teaching practices of physical education teacher, providing a more effective educational activities within the school environment. Thus, it is important to the physical education teacher understand the cultural and social scope of their practice to thereby achieve a competent work and envision a pedagogical practice that leads to the transformation of reality and the construction of a man critical, decisive and confident front social problems.

          Keywords: Physical Education. Pedagogical practice. High.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Educação Física possui um diversificado conhecimento dentro de cada conteúdo de ensino, formado pelas manifestações corporais criadas pelo homem ao longo da história, tais como os jogos, as brincadeiras, as danças, os esportes, as lutas, as ginásticas, etc. Entretanto, o que se observa é que tais conteúdos não são adequadamente transmitidos nas escolas. Betti e Zuliani (2002), ao comentarem sobre as finalidades da Educação Física, afirmam que a mesma deve introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir de todo conhecimento da área para o benefício da qualidade de vida.

    A Educação Física no ensino médio é considerada pelos alunos e por muitos professores como uma disciplina que possibilita apenas a prática de exercícios físicos e jogos desportivos e não como uma área de conhecimento que possui objetivo e saberes para serem vivenciados e construídos.

    De acordo com Lorenz e Tibeau (2003), existe uma tendência em enfatizar apenas a parte prática da Educação Física, em detrimento da sistematização teórica e do aprofundamento do estudo em outras áreas de conhecimento. Para Gruppi (1998), as aulas de Educação Física perdem o significado no Ensino Médio, pois se não são percebidas pelos alunos como atividades recreativas e de lazer, são consideradas como uma prática específica de atividades esportivas.

    A relevância deste trabalho se dá pelo fato de contribuir, por meio das informações obtidas, para uma reflexão sobre a prática pedagógica de um professor de Educação Física, proporcionando uma ação educativa mais eficaz dentro do universo escolar, visto que, segundo Galvão (2002), o professor exerce uma função única dentro da escola, ligando o contexto interno (escola), o externo (sociedade), o dinâmico e o aluno.

    Desta forma, é importante que esta reflexão indique a necessidade do professor de Educação Física perceber o alcance cultural e social de sua prática, para, com isso, realizar um trabalho competente e vislumbrar uma prática pedagógica que, leve a transformação da realidade diante dos fatos observados, permitindo, assim, a construção de um homem crítico, convicto e decisivo frente aos problemas da realidade

    Além disso, a prática pedagógica do professor é tida como um dos problemas centrais da ação educativa (COSTA 1988, citado em CONCEIÇÃO et al., 2009), pois ela está relacionada com a preparação do aluno para a participação ativa na vida social, ao possibilitá-lo um domínio dos conhecimentos culturais e científicos. Vale ainda lembrar que, o trabalho pedagógico que se expressa dentro da escola, no planejamento de ensino, na formulação dos objetivos, na seleção dos conteúdos, no aprimoramento de métodos de ensino, na relação professor-aluno e na avaliação, deve estar voltado para os interesses populares de melhoramento da sociedade, a partir de suas necessidades e lutas.

    Deve-se identificar a prática pedagógica a partir de uma concepção socialmente determinada, pois, de acordo com Libâneo (1994), ela reflete as exigências e as expectativas dos grupos e classes sociais, em relação ao tipo de homem a educar e às funções sociais que este deve desempenhar durante a vida. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Brasileira, de 1996, estabelece, no parágrafo 3° do artigo 26, que: “a educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatória da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”.

    Portanto, pode-se verificar que a Educação Física, como parte integrante da escola, por meio da prática pedagógica, contribui na construção do ser humano em desenvolvimento. E que o aluno do ensino médio precisa de uma Educação Física que possa colaborar na sua formação e participação ativa na sociedade.

    Este trabalho teve como objetivo realizar uma análise do perfil da prática pedagógica da Educação Física, no ensino médio de uma escola pública, da cidade de Macapá (AP). Tendo como eixos analíticos: o planejamento, objetivos, conteúdos, metodologia, relação-professor aluno e avaliação de um professor de Educação Física. Para isso foram utilizadas observações, a fim de analisar a prática pedagógica da educação física na escola pesquisada; identificar a ótica dos alunos do ensino médio quanto ao trabalho pedagógico do professor de Educação Física; e verificar se a coordenação recebe o planejamento do professor de educação física e se existe uma supervisão da atividade docente.

A Prática Pedagógica

    Para compreender a prática pedagógica é necessário associar alguns conceitos, tais como: pedagogia, prática educativa, ensino e instrução. A pedagogia é um campo do conhecimento que investiga a natureza das finalidades da educação numa determinada sociedade. Ela assegura e orienta a prática educativa para finalidades sociais e políticas, criando condições metodológicas e organizativas (LIBÂNEO, 1994).

    A prática educativa, por sua vez, é um fenômeno social e universal, na qual cabem tarefas ao professor de assegurar aos alunos um sólido domínio de conhecimentos e habilidades, o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais, de pensamento independente, crítico e criativo.

    A partir desse entendimento – pedagogia e prática educativa – e adotando o posicionamento de Libâneo (1994), nota-se que o caráter pedagógico da prática educativa se verifica na ação consciente, intencional e planejada do professor no processo de formação humana. Tudo isso, através de objetivos e meios estabelecidos por critérios socialmente determinados e que indicam o tipo de homem a formar, para qual sociedade, com que propósitos.

    Outro esclarecimento que merece destaque é acerca da instrução e do ensino. Aquele se refere à formação e desenvolvimento intelectual, mediante o domínio de certo nível de conhecimentos sistematizados. Este corresponde a ações, meios e condições para realização da instrução. Corroborando com esses entendimentos, Libâneo (1994) esclarece que a instrução tem resultados formativos quando converge para o objetivo educativo, estabelecendo, pois, uma unidade entre educação e instrução. Embora sejam processos diferentes; pode-se instruir sem educar, e educar sem instruir.

    Para Cunha (1992), a prática pedagógica é o cotidiano do professor na preparação e execução do ensino. Observamos na definição do autor que a prática pedagógica delimita-se no ensino, apesar de a mesma ser muito mais abrangente, porque envolve um conjunto de interesses socialmente determinados. De maneira geral, a prática pedagógica é toda ação docente com fins educativos, cujo objetivo é atender determinada sociedade a partir da prática educativa, mediante o ensino e a instrução. A figura 01 procura ilustrar a abrangência da prática pedagógica.

Figura 01. O universo da prática pedagógica

A Educação Física no ensino médio

    Numa breve reflexão sobre a Educação Física escolar no Brasil, observa-se que a mesma já foi qualificada, de maneira equivocada, como esporte entre 1960 e 1970 (GUERIERO; ARAÚJO, 2004, KUNZ, 2006). Nesse sentido, bem coloca Piccolo (1995) ao afirmar que a educação física, ao longo do tempo era tida como mera prática de atividades esportivas desvinculada de qualquer compromisso com a filosofia da educação.

    A partir de 1980, verifica-se uma ruptura, por parte dos educadores progressistas, com as concepções de ensino da Educação Física, até então hegemônicas: fundamentadas em pressupostos biológicos e de rendimento esportivo. É a partir deste período que a Educação Física efetivamente direciona seus estudos para os aspectos pedagógicos (FURTADO, 2002). Pois, até então, o sistema educacional brasileiro delimitava a Educação Física como atividade complementar e com objetivos militares, eugênicos, nacionalistas e de preparação de atletas.

    A Educação Física escolar atual deve ser repensada, com a correspondente transformação de sua prática pedagógica. Assumindo com isso a responsabilidade de formar um cidadão crítico e consciente, adequado à sociedade em que vive (PICCOLO, 1995). Pois, o que nota-se nas escolas públicas é uma simples prática de atividades físicas (jogo pelo jogo), desvinculadas de qualquer contexto social, onde não existe nenhuma intervenção do professor no processo de reflexão e aprendizagem do conteúdo ministrado.

    No ensino médio, observa-se a adoção do esporte como único conteúdo das aulas de educação física, trabalhando-o de forma mecânica, tecnicista e com práticas excludentes, favorecendo, assim, os alunos aptos que se identificam com determinada modalidade esportiva. Outra evidencia, nesta fase da educação básica, seria o surgimento de novas preocupações por parte dos alunos: necessidade de trabalho, preparação para o vestibular, sexualidade, dentre outras. Sendo que a Educação Física no ensino médio, segundo Piccolo (1995, p. 108), “é vista pelos alunos como algo que atrapalha o seu plano de vida”, tornando-se, desta forma, uma disciplina desmotivante.

    De acordo com Betti e Zuliani (2002), no ensino médio, a Educação Física deve apresentar características próprias e inovadoras, que considerem a nova fase cognitiva e afetivo-social atingida pelos adolescentes. Piccolo (1995) propõe algumas propostas inovadoras, tais como: discutir o compromisso do esporte com a nossa sociedade e qual a melhor forma de exercitar-se, passando conhecimentos de utilização dos aparelhos de exercícios instalados em parques de lazer.

    Assim, a prática pedagógica da Educação Física que deve vigorar nas turmas do ensino médio é aquela voltada para a reflexão crítica dos conteúdos, relacionando de forma coerente e coesiva os objetivos e as metodologias de ensino. Fazendo com que diversos tipos de saberes como fisiologia, anatomia, exercícios físicos, uso de anabolizantes, doping, nutrição, obesidade, sedentarismo, mídia e esporte, saúde e qualidade de vida, doenças crônicas degenerativas, sejam passados para os alunos, de forma que estes possam ter plena consciência de seus atos. Tudo isso pode ser assimilado através de uma variedade de métodos: leitura de textos, dinâmicas de discussão em grupo, matérias de jornais e de revistas, uso de vídeo/TV, mural de notícias, trabalhos escritos, pesquisas de campo etc.

Metodologia

    Para o desenvolvimento deste estudo, foi realizado um estudo de caso de natureza qualitativa em uma escola pública do Estado do Amapá, num período de sete meses, tendo como amostra um professor de Educação Física, 150 alunos e um coordenador pedagógico. Efetivou-se pesquisa de campo e de revisão bibliográfica.

    Foram aplicados dois questionários, com perguntas fechadas e abertas, um aplicado para o professor de Educação Física do ensino médio, e outro aos alunos que freqüentavam as aulas de Educação Física. O questionário do professor constou com 25 perguntas relativas à prática pedagógica e o do aluno com 5 perguntas concernente a prática do professor de educação física. Além disso, foi entrevistada a coordenação pedagógica da escola utilizando-se de um gravador de voz.

    As observações realizadas durante as aulas de Educação Física ocorreram numa freqüência de duas vezes por semana.

    O desenvolvimento da técnica de coleta de dados deu-se com os seguintes procedimentos: ida à escola e a devida autorização da mesma para a realização da pesquisa de campo; realização de entrevistas com a coordenação, com o professor e com os alunos que freqüentam as aulas de Educação Física no ensino médio; e observação das aulas de Educação física. Os instrumentos de pesquisas utilizados foram: o contato direto com o professor, alunos, e coordenação; aplicação dos questionários; e um MP4 SONY com gravador de voz.

    O estudo de caso é uma pesquisa que objetiva observar um ou poucos indivíduos, para traçar um perfil das suas principais características, podendo ser designado como um relato ou apresentação de casos, para difundir os resultados do estudo. O método qualitativo, como bem pondera Seabra (2001), abrange amplos significados, motivos, crenças, valores e atitudes, correspondendo a um espaço mais profundo dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

    De acordo com o posicionamento de Marconi e Lakatos (2001), os métodos de pesquisa são empreendidos de técnicas, nos quais correspondem a parte prática da coleta de dados, sendo consideradas, assim, como um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência.

Resultados e discussão da pesquisa

    O professor entrevistado garantiu que sua prática obedece a um plano de ensino, que por sua vez é elaborado por todos os professores de educação física, sendo que é feito uma reavaliação constante do mesmo. Além do mais, ele acredita que o planejamento é fundamental, desde que seja discutido entre os professores e alunos, objetivando conhecimento prático e teórico. A coordenação da escola recebe o plano de ensino do professor regularmente, mas não efetiva o trabalho de supervisão do trabalho pedagógico do professor de educação física, ficando restrito a reuniões entre professores, para verificar o processo de ensino que está sendo desenvolvido.

    Este resultado tem uma ligação direta com o posicionamento de Libâneo (1994), que define o planejamento como um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, apresentando ordem seqüencial, objetividade, coerência e flexibilidade, servindo assim como um guia de orientação. Ainda o referido autor define que, o plano de ensino é a previsão dos objetivos e tarefas do trabalho docente para um ano ou semestre (LIBÂNEO, 1994). Nos estudos de Conceição et al. (2009) observa-se que a grande maioria dos professores de educação física desenvolve seu planejamento.

    Em relação ao professor, observou-se que sua prática não obedece a nenhum planejamento que apresente um caráter mais específico (plano de aula). Portanto, não existe uma atividade consciente de previsão das suas ações fundamentadas em opções didáticas concretas no decorrer de cada aula.

    Jeremias Júnior e Sene (2008) escrevem que a inexistência de um planejamento, promove a prática de aulas sem objetivos definidos, o que proporciona uma prática docente destituída de valor e, conseqüentemente, sem o interesse de intervenção pedagógica. Assim, as aulas do professor ficam caracterizadas por uma ausência de plano de aula, o que situa a sua prática pedagógica em uma posição desqualificada e contrária aos princípios de qualidade no ensino.

    Apesar da conscientização do professor acerca da relevância da participação dos alunos na formulação do planejamento, não se identificou a integração destes para a elaboração de tal plano. Junior e Sene (2008) argumentam: “a proposta de um planejamento participativo auxilia na construção da cidadania dos alunos assim como a autonomia de todos os mesmo”. Desta forma, a ação de planejar se reduz a perspectiva dos professores, deixando de fora as expectativas dos discentes, que por sua vez são sujeitos ativos das relações sociais, o que compromete a articulação com o contexto social.

    O professor argumenta que o método de ensino utilizado nas aulas de Educação Física é o tradicional e o progressista, sendo que as aulas práticas são predominantes em relação às aulas teóricas – 96% dos alunos entrevistados confirmaram que as aulas práticas predominam nas atividades desenvolvidas (Figura 02).

Figura 02. Predominância das aulas de Educação Física

    Estes dados mostram que a Educação Física é vista tanto pelos alunos como pelo professor como uma disciplina essencialmente prática, dissociando a teoria da prática e vice-versa. Ao analisar o discurso do professor, verifica-se que são utilizados métodos tradicionais e progressistas de ensino. Segundo Jeremias Júnior e Sene (2008), a Educação Física centra-se em três métodos de ensino de seus conteúdos, o método global, o parcial e o misto.

    Entretanto, não se identificou nenhuma ação seqüenciada que se caracterizasse como método progressista, mas sim uma total predominância de uma prática sem variedade de métodos, ou seja, um mesmo método para todas as aulas. O professor fazia a chamada escolar e distribuía algumas bolas: umas para as mulheres jogarem vôlei e queimada, e outra para os alunos praticarem futsal.

    Ao descrever como é a aula de Educação Física os alunos dizem: “primeiramente ele faz a chamada e depois escolhemos o queremos praticar”; “o professor forma times para nós jogarmos bola”; “o professor separa a quadra para as meninas que gostam de vôlei e para as que gostam de queimada”; “as aulas de Educação Física é muito ruim, o professor só chega a dar a bola para a galera e fica sentado nos olhando, não dá uma dica se quer do esporte que estamos praticando”; “o professor divide a quadra, de um lado futebol e de outro voleibol, observação: joga quem quer”.

    Na realidade pode-se considerar que não se evidenciou nenhum método de ensino do conteúdo ministrado pelo professor, pois as aulas eram caracterizadas por uma ausência de ações seqüenciadas para dirigir e estimular o processo de ensino, não havendo interesse do professor em qualquer tipo de intervenção no momento da prática da atividade. Um dado preocupante é que 81% dos alunos entrevistados responderam que gostam de como o professor ensina, contra 19% que não, e que o mesmo não sistematiza nenhuma forma de ensino (Figura 03):

Figura 03. Opinião dos alunos acerca da metodologia de ensino

    Este resultado mostra que a maioria dos alunos acomoda-se com a ausência de um método de ensino e acabam adaptando-se a este fato e que apenas uma pequena minoria tem consciência, de que o professor não adota nenhum meio de ensino sistematizado.

    As aulas eram separadas entre meninas e meninos em dias diferentes. Darido e Rangel (2005), afirmam que sempre houve certa dificuldade nas propostas de co-educação (aulas em que meninos realizam atividades com meninas), aulas em que o respeito pelas diferenças é discutido e vivenciado. Observou-se que o professor adota aulas separadas com o propósito de homogeneizar os grupos, tornando o trabalho mais fácil, devido às diferenças serem evidentes.

    No desenvolvimento da aula o professor diz que procura relacionar a Educação Física com outras disciplinas (matemática, português, história), através da análise de fatos históricos durante os eventos ocorridos, como por exemplo, a Copa do Mundo de 1970, época da ditadura militar no Brasil. Porém, através das observações das aulas não se notou uma relação, entre os saberes da educação física, com as demais disciplinas, o que ficou caracterizado apenas no argumento do professor, e que na prática não foi visualizado.

    Os objetivos que predominam no planejamento, segundo o professor, são os sociais, seguido pelos afetivos, cognitivos e motores. E as principais referências que o professor utiliza para a formulação dos objetivos são: manual do professor de Educação Física na Paraíba; regras das modalidades esportivas; e planos de ensino 5° e 6°/ 7° e 8°/ Ensino médio, sendo que não foi possível o acesso a esse material.

    Além disso, o professor coloca que, quem define os objetivos gerais da Educação Física na escola é o professor. Os objetivos são o ponto de partida, as premissas gerais do processo pedagógico. Segundo Libâneo (1994), a prática educacional se orienta, necessariamente, para alcançar determinados objetivos, por meio de uma ação intencional e sistemática. Ainda o referido autor diz que, existem dois níveis de abrangência dos objetivos educacionais: os gerais e os específicos. Os objetivos gerais são explicitados em três níveis, do mais amplo para o mais específico: pelo sistema escolar (que expressa às finalidades educativas de acordo com ideais e valores dominantes na sociedade), pela escola (que estabelece princípios e diretrizes de orientação do trabalho escolar com base num plano pedagógico-didático que, represente o consenso do corpo docente em relação à filosofia da educação e à prática escolar), pelo professor (que concretiza no ensino da matéria a sua própria visão de educação e de sociedade) (LIBÂNEO, 1994).

    Os objetivos específicos de ensino determinam exigências e resultados esperados da atividade dos alunos, referentes a conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções, cuja aquisição e desenvolvimento ocorrem no processo de transmissão e assimilação ativa das matérias de estudo.

    Num estudo feito por Marques e Krug (2008), observa-se que promover a saúde e a socialização são os objetivos mais importantes evidenciados na educação física escolar, tanto pelos professores e diretor, como para alunos e pais. A tabela abaixo, demonstra os resultados relativos aos objetivos mais relevantes para a Educação Física escolar, com uma amostra de 1 diretor, 20 professores e 26 alunos:

Tabela 01:  DP (diretor e professores); A (alunos); P (pais)

Indicadores

DP (%)

A (%)

P (%)

Promover a saúde

30,8

25,0

34,1

Socialização

30,8

18,2

27,3

Criatividade

10,2

14,8

9,1

Autonomia

7,8

13,6

0,0

Performance

5,1

9,1

9,1

Criticidade

5,1

6,8

4,5

Esporte

5,1

6,8

13,6

Formar Atletas

5,1

5,7

2,3

Fonte: Marques; Krug (2008)

    Os objetivos da prática pedagógica da educação física na escola pesquisada são restritos a visão do professor, deixando de fora o sistema escolar e a própria escola na formulação das finalidades do ensino. Além do mais, a literatura utilizada pelo professor não esta orientada para atingir objetivos sociais, que, segundo o mesmo, é o de maior relevância para a sua prática. O que se observa é uma preocupação em ensinar regras do esporte na escola, pois segundo os alunos: “a principal função é estimular o aluno à prática de esportes”.

    O objetivo de maior relevância observado nos argumentos do professor, em relação a sua prática de ensino é fazer com que os alunos desenvolvam o interesse pela atividade física, diminuindo com isso a ociosidade. Pois, segundo ele: “procuro que os alunos desenvolvam o interesse pela prática de uma atividade física regular, pelo menos duas vezes por semana, e que direcione o seu tempo ocioso para uma atividade física”.

    O fato é que muitos alunos são excluídos das aulas, pois o esporte que é vivenciado na escola é o não inclusivo e que seleciona os mais aptos e os alunos mais condicionados para a prática do mesmo. Sendo que, o professor não realiza nenhuma atividade pedagógica inclusiva, fazendo com que a ociosidade, seja uma manifestação permanente para grande parte dos alunos, que apesar de freqüentar as aulas, não participam da mesma, ficando observando os demais colegas realizarem uma atividade física desorientada, pois o professor reproduz um esporte desorganizado na instituição escolar, e sem qualquer intervenção pedagógica.

    Os conteúdos ministrados nas aulas do ensino médio são os esportes coletivos, como: voleibol, futsal, basquete e handebol. O professor é quem organiza os conteúdos de ensino, ficando a seu critério escolher a modalidade esportiva que deseja trabalhar. Conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida.

    A prática pedagógica desenvolvida na escola pesquisada mostra como conteúdo único e exclusivo, para todas as séries do ensino médio, os esportes coletivos, sendo que estes são apenas um conteúdo que a educação física apresenta. É como se durante todo o ciclo do ensino médio os alunos estudam-se geometria plana na disciplina matemática, ou apenas revolução francesa na disciplina de história. Tornando, desta forma, um conhecimento extremamente limitado para o aluno do ensino médio.

    O professor garante que o nível de relação com os alunos é ótimo. Na entrevista com os alunos, 45% afirmaram que a relação professor-aluno é ótima, 23% disseram que é ruim e 32% disseram que é boa:

Figura 04.  Nível de relação professor-aluno

    Libâneo (1994) argumenta que as relações entre professores e alunos, as formas de comunicação, os aspectos afetivos e emocionais, a dinâmica das manifestações na aula, fazem parte das condições organizativas do trabalho docente. O professor, não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar respostas (LIBÂNEO, 1994).

    De acordo com Jeremias Júnior e Sene (2008) “o processo de ensino-aprendizagem em uma ambiente escolar acontece sempre com a presença de dois agentes onde em momentos de interação e interatividade promovem trocas de conhecimentos”. Visto isso, é de fundamental importância uma ótima relação entre o docente e o discente, que juntos podem construir um eficaz e sólido conhecimento.

    O professor pesquisado argumentou que a avaliação é feita pelo interesse dos mesmos e os instrumentos utilizados são provas práticas, a participação e a freqüência. Visto que a avaliação tem como objetivo repensar a prática da educação física escolar, 20% dos alunos entrevistados, disseram que são avaliados pela freqüência e 80% por prova prática (Figura 05):

Figura 05. Formas de avaliação dos alunos

    Observou-se que o professor utiliza como avaliação um circuito no qual o aluno tem que executar um teste físico no menor tempo possível, através da correta execução de movimentos, tais como: corrida, abdominal, salto e pular corda. Não há qualquer relação com os objetivos, com os conteúdos e meios de ensino apresentados, não possibilitando revisão do planejamento ou a auto-percepção da prática pedagógica do professor. Pois, o professor joga a bola de futsal para os alunos, que por sua vez formam times entre si e jogam o jogo pelo jogo.

Considerações finais

    Através da análise dos dados obtidos, constatou-se que a maioria dos alunos do ensino médio gosta das aulas de Educação Física e existe uma ótima relação entre professores e alunos. Sendo que o processo de ensino configura-se na ação conjunta do professor e dos alunos, em que o professor estimula e dirige atividades em função da aprendizagem dos alunos. Atrelado a estrutura formativa do processo de ensino escolar encontramos os métodos de ensino, os objetivos educacionais, o planejamento, os conteúdos programáticos, a avaliação e a relação professor-aluno.

    Todavia, a prática pedagógica do professor de Educação Física entrevistado não atende às exigências de uma educação de qualidade e de compromisso social, pois o professor não consegue sistematizar uma unidade lógica e coerente entre planejamento, conteúdo, metodologia, avaliação e objetivo. Vale ainda lembrar que a prática docente no ensino médio se restringe em fazer com que o aluno pratique o esporte na escola, sem haver procedimentos metodológicos de ensino e planejamento das aulas para atingir objetivos gerais e específicos.

    O perfil traçado do professor é aquele cuja função é exclusivamente dar a bola, formar e organizar os times e observar os jogos. As aulas são eminentemente práticas e desvinculadas do dia-a-dia do aluno, ou seja, não existe uma relação do conteúdo com o contexto social. A avaliação é feita por provas práticas de exercícios, tais como correr, saltar e pular.

    A prática pedagógica por si só é considerada como uma ação social e universal, necessária para o funcionamento e existência de todas as sociedades. E é através deste entendimento que o professor de educação física deve superar as problemáticas de sua prática, para, com isso, garantir a construção de saberes no que se diz respeito à educação. Pois, um trabalho que é realizado com precariedade dentro do universo escolar apresenta repercussões diretas na sociedade, em vez de superar e atender as problemáticas sociais, o professor contribui para a manutenção ou para o agravamento destas.

    Assim, o que se pretendeu foi contribuir para uma reflexão da prática docente no ensino médio, devendo-se repensar as aulas ministradas pelos professores de Educação Física, resultando em mudanças significativas, tanto na forma de como vem sendo ministradas as aulas, como nas finalidades educacionais, visto que a educação em nosso país, sobretudo no ensino público, apresenta um quadro precário e problemático.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 151 | Buenos Aires, Diciembre de 2010
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