A (in)satisfação dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em relação a sua escolha profissional La (in)satisfacción de los estudiantes de la Licenciatura en Educación Física del CEFD/UFSM en relación con su elección profesional |
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Doutor em Educação Doutor em Ciência do Movimento Humano Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (UFSM) Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM) |
Hugo Norberto Krug (Brasil) |
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Resumo Essa investigação objetivou analisar a satisfação ou a insatisfação dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em relação a sua escolha profissional e sua justificativa. A metodologia caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. O instrumento utilizado para a coleta de informações foi um questionário uma pergunta aberta. A interpretação das informações foi à análise de conteúdo. Os participantes foram trinta e dois (32) acadêmicos do 7º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física (Currículo 2005) do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental), no 1º semestre letivo de 2010. Concluímos que foi possível identificar que a quase totalidade dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM ‘está satisfeita’ com a sua escolha profissional, isso é, de ser professor de Educação Física na escola. Entretanto, o que mais chamou à atenção foi que as justificativas da satisfação dos acadêmicos estudados em relação a sua escolha profissional foram todas identificando motivos altruísticos ou intrínsecos aos mesmos e, que a justificativa de insatisfação identificou um motivo extrínseco aos mesmos. Unitermos: Educação Física. Formação de professores. Formação inicial. Escolha profissional.
Artigo elaborado a partir do projeto de pesquisa denominado “A formação inicial de professores de Educação Física: um estudo de caso na Licenciatura do CEFD/UFSM”
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introduzindo a investigação
Segundo Pedro e Peixoto (2006) as investigações em torno da problemática da satisfação docente são ainda relativamente escassas e recentes, sendo que muitos estudos existentes aparecem associados à motivação, à identidade dos professores ou ao bem ou mal-estar docente.
De acordo com Seco (2000) os primeiros estudos a cerca da satisfação profissional docente remontam ao início da década de 70 do século passado, direcionando-se esse interesse, a partir dos anos 80 do mesmo século, nas relações estabelecidas entre a satisfação profissional e a qualidade de vida, a saúde mental, o meio escolar.
Conforme Pedro e Peixoto (2006) é nessa época (anos 80 do século passado), que ocorre o aumento da população escolar se fazendo acompanhar do surgimento de alguns indicadores e manifestações de mal-estar e insatisfação do corpo docente.
Soriano e Winterstein (1998) destacam que na área educacional, o estudo da satisfação no trabalho assume uma importância impar, pois ele permite conhecer os aspectos peculiares à escola, tais como, condições de trabalho, tipo de direção, características dos alunos de uma determinada região, oportunidades de crescimento profissional, etc. Além disso, ele pode contribuir para interferir direta ou indiretamente no ensino, no grande número de faltas dos professores no decorrer do período letivo ou na baixa produtividade de seu trabalho.
Para Folle et al. (2008) a satisfação profissional pode ser compreendida tanto como um conjunto de sentimentos favoráveis em relação ao contexto de atuação, quanto um sentimento positivo dos professores perante a sua profissão, originados nos fatores contextuais e/ou pessoais e exteriorizados pela dedicação, defesa e felicidade com o trabalho desenvolvido.
Nessa perspectiva, segundo Maura e Rodrigues (apud FOLLE et al., 2008), a tendência do nível de satisfação profissional dos educadores está relacionada à manifestação de vivências afetivas que o professor experimenta no desenvolvimento de sua atuação. Ele pode se expressar da seguinte forma: satisfação (quando o sujeito se sente satisfeito com o desenvolvimento de sua atividade profissional, independentemente de obstáculos que tenha que enfrentar); contradição/indecisão (quando o sujeito experimenta experiências contraditórias de agrado e desagrado); e, insatisfação (quando o sujeito expressa vivências de desagrado com sua atividade profissional).
Lengert (apud FOLLE et al., 2008) destaca que a satisfação no local de trabalho pode se desenvolver ou se perder nos primeiros contatos com o ambiente escolar.
Dessa forma, abordando em particular o professor de Educação Física e considerando que já na sua formação inicial, os então acadêmicos, futuros professores, já desenvolvem os seus primeiros contatos com o ambiente escolar e com a sua profissão professor, através, principalmente, da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado foi que deslocamos o nosso interesse investigativo do professorado em geral e suas práticas pedagógicas para, especificamente, a formação inicial de professores de Educação Física, com o intuito de estudar em particular os acadêmicos em formação.
Diante desse cenário, voltamos nossos olhares para um curso de Licenciatura em específico, que foi o do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) que, de acordo com o seu PPP (CEFD, 2005), visa formar profissionais para atuar na educação básica no sentido de desenvolver ações teórico-práticas, em que os conhecimentos e saberes acadêmicos contribuam na formação do ser humano em sua totalidade. Além de possibilitar uma formação político-social, dentro de uma abordagem histórico-crítica, em diferentes manifestações da cultura corporal, compromissada com a educação emancipatória, possibilitando uma formação técnico-profissional visando o aperfeiçoamento de habilidades, capacidades e competências necessárias ao exercício profissional/docente. O profissional egresso desse curso estará habilitado para atuar na educação básica (instituições públicas e privadas de ensino infantil, fundamental, médio e superior; instituições, entidades ou órgãos que atuam com populações especiais); secretarias municipais, estaduais e nacionais voltadas à área da Educação Física.
Portanto, a partir dessas premissas originou-se a seguinte questão problemática norteadora dessa investigação: Os acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM estão satisfeitos ou insatisfeitos com a sua escolha profissional, isto é, ser professor de Educação Física na escola e porquê?
Dessa forma, essa investigação teve como objetivo geral analisar a satisfação ou a insatisfação dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em relação a sua escolha profissional e sua justificativa.
Em decorrência desse objetivo geral, buscamos vislumbrar os seguintes objetivos específicos: 1) Analisar a satisfação ou a insatisfação dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em relação a sua escolha profissional; e, 2) Analisar a justificativa da satisfação ou insatisfação dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em relação a sua escolha profissional.
Justificou-se essa investigação acreditando-se que a mesma possa servir de embasamento para oferecer subsídios para auxiliar na melhoria da qualidade da formação de professores de Educação Física.
A metodologia da investigação
A metodologia empregada nessa investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa.
Conforme Triviños (1987, p.125) “a pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica surge como forte reação contrária ao enfoque positivista, privilegiando a consciência do sujeito e entendendo a relatividade social como uma construção humana”. O autor explica que na concepção fenomenológica da pesquisa qualitativa, a preocupação fundamental é com a caracterização do fenômeno, com as formas que se apresenta e com as variações, já que o seu principal objetivo é a descrição.
Para Joel Martins (apud FAZENDA, 1989, p.58) “a descrição não se fundamenta em idealizações, imaginações, desejos e nem num trabalho que se realiza na subestrutura dos objetos descritos; é, sim, um trabalho descritivo de situações, pessoas ou acontecimentos em que todos os aspectos da realidade são considerados importantes”.
Já segundo Lüdke e André (1986, p.18) o estudo de caso enfatiza “interpretação em contexto”. Godoy (1995, p.35) coloca que:
O estudo de caso tem se tornado na estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por que” certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de um contexto de vida real.
De acordo com Goode e Hatt (1968, p.17): “o caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema mais amplo”. O interesse incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente fiquem evidentes estas semelhanças com outros casos ou situações.
O instrumento utilizado para coletar as informações foi um questionário com três perguntas abertas, que foi respondido por trinta e dois (32) acadêmicos do 7º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física (Currículo 2005) do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental), no 1º semestre letivo de 2010. Optamos pelo ECS III por esse ser o último estágio dos acadêmicos e, portanto, significando a última experiência com a escola na grade curricular do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM. A escolha dos participantes aconteceu de forma espontânea, em que a disponibilidade dos mesmos foi o fator determinante. A fim de preservar as identidades dos participantes, esses receberam uma numeração (1 a 32).
A cerca do questionário Triviños (1987, p.137) afirma que “sem dúvida alguma, o questionário (...), de emprego usual no trabalho positivista, também o podemos utilizar na pesquisa qualitativa”. Já Cervo e Bervian (1996) relatam que o questionário representa a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita buscar de forma mais objetiva o que realmente se deseja atingir. Consideram ainda o questionário um meio de obter respostas por uma fórmula que o próprio informante preenche.
Pergunta aberta “destina-se a obter uma resposta livre” (CERVO; BERVIAN, 1996, p.138).
A questão norteadora que compôs o questionário estava relacionada com o objetivo geral dessa investigação e foi a seguinte: 1) Você está satisfeito ou insatisfeito com a sua escolha profissional, isto é, de ser professor de Educação Física na escola e porquê?
A interpretação das informações coletadas pelo questionário foi realizada através da análise de conteúdo, que é definida por Bardin (1977, p.42) como um:
Conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
Godoy (1995, p.23) diz que a pesquisa que opta pela análise de conteúdo tem como meta “entender o sentido da comunicação, como se fosse um receptor normal e, principalmente, desviar o olhar, buscando outra significação, outra mensagem, passível de se enxergar por meio ou ao lado da primeira”.
Para Bardin (1977) a utilização da análise de conteúdo prevê três etapas principais: 1ª) A pré-análise – que trata do esquema de trabalho, envolve os primeiros contatos com os documentos de análise, a formulação de objetivos, a definição dos procedimentos a serem seguidos e a preparação formal do material; 2ª) A exploração do material – que corresponde ao cumprimento das decisões anteriormente tomadas, isto é, a leitura de documentos, a caracterização, entre outros; e, 3ª) O tratamento dos resultados – onde os dados são lapidados, tornando-os significativos, sendo que a interpretação deve ir além dos conteúdos manifestos nos documentos, buscando descobrir o que está por trás do imediatamente aprendido.
Os resultados da investigação
Os resultados dessa investigação foram explicitados orientados pelos objetivos específicos.
A satisfação ou a insatisfação dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em relação a sua escolha profissional
Praticamente a quase totalidade (vinte e sete) acadêmicos (1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 9; 10; 11; 12; 13; 14; 15; 16; 17; 18; 19; 20; 21; 22; 23; 24; 25; 26; 27; 28; 29; 30; 31 e 32) da Licenciatura em Educação Física (Currículo 2005) do CEFD/UFSM declararam ‘satisfação em relação a sua escolha profissional’, isso é, estão satisfeitos com a decisão de ser professor de Educação Física... na escola. Para Luft (2000) satisfação é a ação ou efeito de satisfazer. É um contentamento, uma alegria.
Esse resultado está no direcionamento do que afirmam Ilha; Krug e Krug (2009a) de que a aceitação da escola como futuro campo de atuação profissional é uma das contribuições do estágio para a formação profissional dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM. Já Pimenta e Lima (2004) dizem que o estágio docente é importante para que os candidatos a essa profissão digam, para si, que querem ser professor.
Entretanto, um único acadêmico (8) declarou ‘insatisfação em relação a sua escolha profissional’, isso é, está insatisfeito e não pretendendo ser professor de Educação Física... na escola. Segundo Luft (2000) insatisfação é um descontentamento, um desagrado.
Esse resultado está em concordância com o que afirmam Ilha; Krug e Krug (2009b) de que ocorre a existência de acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM, que após a situação de estágio, declaram não possuir motivação para seguir na carreira docente.
Assim, esses resultados de satisfação ou insatisfação dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em relação a sua escolha profissional estão no direcionamento do destacado por Ilha (2010) de que depois da realização dos Estágios Curriculares Supervisionados I, II e III os mesmos podem olhar retrospectivamente os seus percursos ou trajetórias formativas e revelarem se a opção pela carreira docente, feita a mais ou menos cinco anos atrás, se confirma ou não.
As justificativas da satisfação ou insatisfação dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em relação a sua escolha profissional
Os acadêmicos elencaram as seguintes justificativas da ‘satisfação em relação a sua escolha profissional’:
Dez acadêmicos (1; 3; 11; 18; 19; 20; 22; 24; 26 e 32) manifestaram que ‘sempre desejaram ser professor’. Essa justificativa de satisfação em relação a sua escolha profissional pode ser sustentada em Valle (2006) que destaca que a escolha pela docência resulta, principalmente, de uma decisão tomada em razão da atração que esta carreira exerce sobre o futuro profissional;1. Sempre desejou ser professor –
2. Contribuir com a formação do aluno – Oito acadêmicos (4; 5; 6; 14; 15; 23; 28 e 29) disseram que ‘contribuir com a formação do aluno’ foi a justificativa da sua satisfação em relação a sua escolha profissional. Essa justificativa pode ser fundamentada em Bolzan (2002) que diz que a tomada de consciência do papel do professor, entendida aqui, como elemento dinamizador do processo de escolarização, e, portanto, organizador da intervenção pedagógica a ser implementada, é fundamental, considerando a importância da redimensão das práticas escolares vigentes. Já Batista e Codo (1999) destacam que o papel do professor mais recentemente, não é o de apenas informar ou transmitir o saber, mas também formar e educar. Contreira et al. (2009) salientam que assumir responsabilidades na formação do aluno é uma das implicações da decisão de ser professor de Educação Física para a vida pessoal e profissional na percepção dos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM. Conceição e Krug (2008) chamam à atenção de que ser professor não é apenas ensinar conteúdos, mas sim ser coadjuvante na formação do cidadão;
3. Gostar de ensinar – Oito acadêmicos (2; 7; 9; 12; 21; 25; 27 e 30) depuseram que ‘gostar de ensinar’ foi a justificativa da sua satisfação em relação a sua escolha profissional. Sobre essa justificativa nos reportamos a Joyce e Clift (apud GARCIA, 1999, p.81) que dizem que “a capacidade para aprender e o desejo de exercer este conhecimento é o produto mais importante da formação de professores”, ou seja, os cursos de formação de professores devem despertar nos seus acadêmicos a motivação para a aprendizagem da docência e a vontade de ensinar; e,
4. Identificação com a área – Cinco acadêmicos (10; 13; 16; 17 e 31) declararam que a ‘identificação com a área profissional’ foi a justificativa da sua satisfação em relação a sua escolha profissional. Relativamente a essa justificativa nos referimos a Teixeira e Silva (2009) que salientam que escolher uma profissão é esboçar um projeto de vida e acrescentam que mesmo quando há identificação com a profissão, pode haver ajustes ou mudanças de rumo. Isso porque a cada ano aprende-se coisas novas. Uma mudança não significa fracasso nem frustração, mas aceitar novas propostas.
Quanto à justificativa da ‘insatisfação em relação a sua escolha profissional’ pelo acadêmico 8, essa foi a seguinte:
Essa justificativa pode ser fundamentada em diversos estudos tais como, Alves (1997), Farias; Shigunov e Nascimento (2001), Silva e Krug (2005; 2007) e Krug (2008) que apontam que o salário é um dos aspectos causadores da insatisfação docente. Já Ramos e Spgolon (2005) fazem o seguinte questionamento: Como o professor com um salário baixo irá proporcionar ao seu aluno um ensino atualizado, diversificado e de qualidade, se com o salário que ganha, mal consegue sobreviver? Salientam que alguns têm vontade de fazer cursos de especialização, de pós-graduação, enfim, progredir profissionalmente, mas não possuem condições financeiras para tal. Isso, de certa forma, faz com que o professor se sinta minimizado em relação às demais profissões. Para Feil (1995) a manifestação de descontentamento salarial do professor provoca um sentimento de mal-estar profissional determinando um fechamento à mudança e às possibilidades de inovações, gerando a alienação e frustração, o que logicamente interfere na qualidade do ensino. Já Teixeira e Silva (2009) destacam que não há profissão que dê dinheiro, mas existem profissionais que ganham bem em todas as profissões. Não há garantia de que alguém vai se dar bem. A possibilidade de dar certo na carreira aumenta quando há clareza da escolha, identificação com o curso e conhecimento das diversas possibilidades de ingressar na profissão.1. A baixa remuneração da profissão –
Conclusão: uma possível síntese sobre a investigação
Pela análise das informações obtidas concluímos que foi possível identificar que a quase totalidade (trinta e um) dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM ‘está satisfeita’ com a sua escolha profissional, isso é, de ser professor de Educação Física na escola.
O que mais chamou à nossa atenção foi que as quatro justificativas da satisfação dos acadêmicos estudados em relação a sua escolha profissional ‘foram todas identificando motivos altruísticos ou intrínsecos aos mesmos’. Esse fato pode ser sustentado pelo estudo de Folle et al. (2008) que destacam que os motivos evidenciados para a entrada na carreira docente têm demonstrado que a maioria das pessoas opta pelo ensino por razões altruísticas e/ou intrínsecas e poucas escolhem por razões extrínsecas.
Já o resultado solitário do acadêmico 8 de insatisfação indicou uma justificativa em relação a sua não confirmação da escolha profissional ‘um motivo extrínseco à sua pessoa’. Esse fato também pode ser embasado nos estudos de Silva e Krug (2007) e de Folle et al. (2008) que salientam que os motivos evidenciados para a insatisfação no trabalho experimentado pelos profissionais de Educação Física tem origens em fatores considerados externos a essa profissão, entre alguns é citado a situação econômica da classe docente.
Assim, ao considerarmos os resultados dessa investigação podemos inferir que a satisfação ou insatisfação dos acadêmicos estudados em relação a sua escolha profissional, isso é, ser professor, está ligada aos motivos ligados ao próprio acadêmico (satisfação), bem como aos motivos externos ao mesmo (insatisfação).
Entretanto, apesar desses fortes indicadores influenciadores da satisfação ou insatisfação da escolha de ser professor pelos acadêmicos estudados, destacamos que não devemos cair no reducionismo de considerá-los como únicos influenciadores de forma direta, exclusiva e mecânica dessa referida decisão. Afirmamos isso, fundamentados em Gonçalves (1992) que diz que fatores de ordem pessoal e profissional concorrem para a escolha do ensino como profissão, pois ambos os aspectos estão presentes na escolha da carreira, sendo a predominância de uns sobre os outros, fruto de condições individuais e circunstanciais. A partir disso, podemos inferir que realmente fatores pessoais e profissionais concorrem para a escolha definitiva ou não pela carreira docente pelos acadêmicos após situação de estágio e o sentimento de satisfação e ou insatisfação é somente um dos aspectos da serem considerados.
Para finalizar, recomendamos a realização de investigações mais aprofundadas sobre a formação inicial de professores de Educação Física e em particular sobre a escolha profissional, pois essa decisão, segundo Santini e Molina Neto (apud KRUG; KRUG, 2008), geralmente não é fácil, pois a tomada de decisão é sempre cercada de dúvidas, emoções e influências de diversos aspectos.
Referências
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