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Transtorno do Desenvolvimento da 

Coordenação em escolares de 4 e 5 anos de idade

Trastorno del Desarrollo de la Coordinación en escolares de 4 y 5 años de edad

Developmental Coordination Disorder in children aged 4 and 5 years old

 

*Mestre em Ciências do Movimento Humano (UDESC)

**Professora Doutora do curso de Educação Física

da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

(Brasil)

Talita Barbosa Miranda*

talitabmiranda@yahoo.com.br

Thaís Silva Beltrame**

bthais@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo verificar a incidência do Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) em crianças de 4 e 5 anos de idade de uma escola da rede privada de ensino da cidade de Florianópolis/SC. Participaram do estudo 20 crianças, sendo 10 do sexo feminino e 10 do sexo masculino. Como instrumento, foi utilizado o Movement Assessment Battery for Children (MABC). Foram verificadas tarefas motoras de destreza manual, habilidades com bola e equilíbrio. O resultado apontou 16 crianças sem dificuldades motoras, 2 crianças com risco de dificuldade e 2 apresentaram indicativo de Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação. Mais estudos com um maior número de crianças nessa faixa etária podem ser desenvolvidos, pois quanto mais cedo for identificado o TDC em crianças, mais cedo poderão ser feitas as intervenções necessárias para que as mesmas tenham um melhor desenvolvimento motor e melhor qualidade de vida.

          Unitermos: Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação. Crianças. Dificuldade motora.

 

Abstract

          This study it had as objective to verify the incidence of Developmental Coordination Disorder (DCD) in children aged 4 and 5 years old from a private school in the city of Florianopolis. Twenty children, 10 females and 10 males, participated in this study. In order to identify motor difficulties the Movement Assessment Battery for Children (MABC) was used. We found the motor tasks of manual dexterity, ball skills and balance. The result showed 16 children without motors difficulties, 2 children at risk of difficulty and 2 were indicative of the Developmental Coordination Disorder. More studies with larger numbers of children in this age group can be developed, because the sooner it is identified DCD in children, the sooner it can be made interventions to which they have a better motor development and improved quality of life.

          Keywords: Developmental Coordination Disorder. Children. Motor Difficulty.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    É no início da infância que a criança está obtendo controle de suas habilidades motoras fundamentais, possuindo um potencial de desenvolvimento que a orienta ao estágio maduro por volta da idade de seis anos. Esse período é de extrema importância para o desenvolvimento motor, mental, emocional e social do indivíduo. Até os seis anos de idade as estruturas físicas e intelectuais de crescimento e aprendizagem emergem e começam a estabelecer suas fundações para o resto da vida (BHANA; FAROOK, 2006).

    Por volta dos 4 anos de idade a criança já tem duplicado seu tamanho original, sendo por volta dessa idade que o córtex cerebral já está completamente desenvolvido. É neste período, conhecido como o período dos movimentos fundamentais, que acontece o desenvolvimento de uma variedade de movimentos. Crianças de 4 a 5 anos encontram-se na segunda subdivisão do período inicial da infância, que está relacionada ao estágio elementar, onde há maior controle e melhor coordenação rítmica dos movimentos. É nesta fase que a criança deve ser exposta a uma variedade de experiências motoras que proporcionem a aquisição de padrões motores fundamentais (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

    Para algumas crianças, porém, movimentar-se pode se constituir em um grande desafio, de maneira que determinadas tarefas típicas da infância se tornam bastante difíceis (SILVA et al, 2006). As dificuldades motoras foram reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde – OMS e pela Associação de Psiquiatria Americana – APA como Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) (APA, 2003). Dentre as características das crianças com TDC estão o desajeitamento em seus movimentos, a dificuldade com habilidades motoras grossas e finas, o atraso no desenvolvimento de algumas habilidades motoras como andar de bicicleta, receber bola, manejar faca e garfo e dificuldades na escrita (MISSIUNA, 2003). A porcentagem do TDC está entre 5% a 15% das crianças em idade escolar, sendo identificadas geralmente a partir dos quatro anos de idade (HENDERSON; SUGDEN; BARNETT, 2007).

    Neste contexto, este estudo buscou verificar a incidência do Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) em crianças de 4 e 5 anos de idade.

Métodos

    Participaram do estudo 20 crianças de 4 e 5 anos de idade matriculadas em uma escola da rede privada de ensino da cidade de Florianópolis. Foi esclarecido aos pais e/ou responsáveis pelas crianças os objetivos desta pesquisa e foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE aos mesmos a fim de que eles consentissem com a participação de seus filhos. Somente fizeram parte do estudo as crianças cujos pais autorizaram no TCLE. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.

    As crianças foram avaliadas através do kit de avaliação motora MABC - Movement Assessement Battery for Children, que consiste em tarefas de destreza manual, habilidades com bola e equilíbrio. O MABC tem se tornado o teste mais usado para operacionalizar o critério A do DSM-IV, que diz que o TDC pode manifestar-se por atrasos marcantes em alcançar marcos motores, propensão a deixar cair objetos, desajeitamento, fraco desempenho nos esportes e/ou caligrafia insatisfatória (HENDERSON; SUGDEN, 1994; HENDERSON; SUGDEN; BARNETT, 2007). A avaliação foi realizada em um local específico da escola separado para esse fim.

    O MABC é composto por oito tarefas que envolvem habilidades de destreza manual, habilidades com bola e habilidades de equilíbrio estático e dinâmico, medidos pelo tempo em segundos, número de erros e número de acertos, dependendo da tarefa. O teste categoriza as crianças de acordo com o grau de dificuldade motora. Os valores são distribuídos de forma que igual ou abaixo do 5º percentil indica uma significativa dificuldade no movimento; entre o 6º e o 15º percentil sugere que a criança tem risco de dificuldade e, acima ou igual ao 16º percentil demonstra que a criança não possui nenhuma dificuldade.

Resultados e discussão

    Participaram do estudo nove meninos e onze meninas com idade média de 4,5 (±0,71) anos. Quanto ao desempenho no teste MABC, observou-se que 10 % das crianças (n=2) apresentaram risco de dificuldade e 10% (n=2) apresentaram dificuldades no movimento (Figura 1), indicando o Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC).

Figura 1. Freqüência da classificação motora entre os indivíduos do estudo

    Esses dados coincidiram com o da literatura, que assinala uma incidência de 5% a 15% de crianças no mundo inteiro que apresentam o TDC (APA, 2003; HAY, HAWES, FAUGHT, 2004; HADDERS-ALGRA, 2000).

    Quando verificada a incidência por sexo, observou-se que 11,1% (n=1) dos meninos e 9,1% (n=1) das meninas apresentaram indicativo de TDC, equivalendo aos 10% da amostra total (Figuras 2 e 3).

Figura 2. Frequência da classificação motora entre os meninos

Figura 3. Frequência da classificação motora entre as meninas

    A literatura aponta que o sexo masculino apresenta maior número de casos de TDC do que o sexo feminino, que demonstram uma relação que varia de 3 a 4 meninos para 1 menina (4:1) a 7 meninos para 1 menina (7:1) (GIBBS; APPLETON; APPLETON, 2007; KADESJÖ; GILLBERG, 1999; WRIGHT; SUGDEN, 1996). Vale ressaltar que este estudo ficou limitado ao número de participantes, podendo ter prejudicado os resultados.

    Quanto à incidência por faixa etária, percebeu-se que os dois indivíduos que apresentaram indicativo de TDC têm 5 anos de idade (Figura 4). Esses achados não corroboraram com alguns estudos que acharam uma incidência maior de TDC em crianças mais novas (MIRANDA, 2010; FRANÇA, 2008).

Figura 4. Frequência da classificação motora entre as faixas etárias

    Crianças com DCD podem mostrar desinteresse em certas atividades, pois o fracasso repetido pode fazer com que elas evitem participar de tarefas motoras, levando-as a possuir baixa auto-estima, falta de motivação e insatisfação com seu desempenho nas atividades motoras, deixando de participar voluntariamente nessas atividades (MISSIUNA, 2003).

Conclusão

    Nesse estudo, apenas duas crianças apresentaram indicativo de Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação e duas apresentaram risco de dificuldade no movimento. É importante que essas crianças sejam observadas a fim de que adquiram melhor desempenho motor em todas as suas atividades diárias e escolares.

    Sugere-se que mais estudos envolvendo maior número de crianças nessa faixa etária sejam desenvolvidos, pois quanto mais cedo for identificado o TDC em crianças, mais cedo poderão ser feitas as intervenções necessárias para que as mesmas tenham melhor desenvolvimento motor e melhor qualidade de vida.

Referências

  1. ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA (American Psychiatric Association – APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. DSM-IV-TRTM. Tradução Cláudia Dornelles. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

  2. BHANA, D.; FAROOK, F. Young children, HIV/AIDS and gender: A summary review. Working Paper 39. The Hague, The Netherlands: Bernard van Leer Foundation, 2006.

  3. FRANÇA, C. de. Desordem coordenativa desenvolvimental em crianças de 7 e 8 anos de idade. 2008. 95 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) – Centro de Ciências da Saúde e do Esporte - Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.

  4. GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J.C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. Tradução: Maria Aparecida da Silva Pereira Araújo. São Paulo: Phorte Editora, 2005.

  5. GIBBS, J.; APPLETON, J.; APPLETON, R. Dyspraxia or developmental coordination disorder? Unravelling the enigma. Archives of Disease in Childhood, v. 92, p. 534-539, 2007.

  6. HADDERS-ALGRA, M. The neuronal group selection theory: promising principles for understanding and treating developmental motor disorders. Developmental Medicine and Child Neurology, v. 42, n. 10, p. 707-715, 2000.

  7. HAY, J.A.; HAWES, R.; FAUGHT, B.E. Evaluation of a screening instrument for developmental coordination disorder. Journal of Adolescent Health, v.34, n. 4, p. 308-313, apr., 2004.

  8. HENDERSON, S.E.; SUGDEN, D.A. The Movement Assessment Battery for Children. London: The Psychological Corporation, 1992.

  9. HENDERSON, S.; SUGDEN, D.A.; BARNETT, A. Movement assessment battery for children. 2 ed. San Antonio: Harcourt Assessment; 2007.

  10. KADESJÖ, B; GILLBERG, C. Developmental coordination disorder in Swedish 7-year-old children. Journal of the American Academy Child and Adolescent Psychiatry, v. 38, n. 7, p. 820-828. Jul, 1999.

  11. MIRANDA, T.B. Perfil motor de escolares de 7 a 10 anos de idade com indicativo de Desordem Coordenativa Desenvolvimental. 2010. 86 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) – Centro de Ciências da Saúde e do Esporte - Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis.

  12. MISSIUNA, C. Children with Developmental Coordination Disorder: At home and in the Classroom. Ontário, Canadá: CanChild; 2003. Disponível em: http://dcd.canchild.ca/en/

  13. SILVA, J.A.O. et al. Teste MABC: aplicabilidade da lista de checagem na região Sudeste do Brasil. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 6, n.3, 356–361, 2006.

  14. WRIGHT; H.C.; SUGDEN, D.A. The nature of Developmental Coordination Disorder: inter-and intra-group differences. Adapted Physical Activity Quarterly, Champaing, v. 13, p. 357-371, 1996.

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