Síndrome metabólica em crianças e adolescentes Síndrome metabólico en niños y adolescentes |
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*Faculdade de Educação Física de Santos, FEFIS **Centro de pesquisa em Exercício e Esporte, CEPEE Universidade Federal do Paraná, UFPR (Brasil) |
Filipe Eugênio França da Silva* Tácito Pessoa de Souza Junior* ** |
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Resumo Os maus hábitos alimentares e a inatividade física contribuem para a prevalência do sobrepeso e obesidade, que tem relação com varias alterações metabólicas. Alterações essas que em seu conjunto é denominada de Síndrome Metabólica. A obesidade é um problema que vem crescendo na população mais jovem e com isso o surgimento das alterações metabólicas deve ser investigado. O objetivo do presente estudo é descrever os problemas provenientes do sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes bem como diagnosticar a Síndrome Metabólica. Unitermos: Síndrome metabólica. Obesidade. Criança. Adolescente.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A predisposição genética, a alimentação inadequada e a inatividade física estão entre os principais fatores que contribuem para o surgimento da Síndrome Metabólica (SM)14.
Os maus hábitos alimentares a progressiva redução da atividade física do cotidiano em razão da modernização e do avanço tecnológico, tornam possível prognosticar o aumento da prevalência da obesidade e do sobrepeso4. O excesso de gordura e de peso corporal é acompanhado por maior suscetibilidade de uma variedade de disfunções crônico-degenerativas que elevam extraordinariamente os índices de morbidade e mortalidade5.
Um ponto relevante sobre a prevalência da gordura corporal excessiva na infância refere-se à precocidade com que podem surgir efeitos danosos à saúde, além das relações existentes entre obesidade infantil e sua persistência até a vida adulta9.
Vários estudos realizados pelo Brasil constataram prevalência de Sobrepeso e Obesidade em crianças e adolescentes20, 21, 22, 23, assim como a Síndrome Metabólica2,19,18.
Fatores de risco para DCV já estão presentes em crianças e adolescentes obesos24.
Descrever os problemas provenientes do sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes como diagnosticar a Síndrome Metabólica é o objetivo do presente estudo.
Obesidade e sobrepeso
O sobrepeso é tido como aumento excessivo do peso corporal total, o que pode ocorrer em consequência de modificações em apenas um de seus constituintes (gordura, músculos, osso, água) ou em seu conjunto e a obesidade como o aumento generalizado ou localizado de gordura em relação ao peso corporal4. A obesidade é o excesso de tecido adiposo, e não necessariamente o maior peso corporal 3, 5, 7.
Para Bouchard1 o sobrepeso é sob vários aspectos muito diferente da obesidade, ele define que a diferença básica entre obesidade e sobrepeso reside na maior porcentagem de massa corporal (gordura) no obeso. Uma segunda diferença entre os dois estados é o fato de que em geral, o balanço energético positivo deve ser certamente mais pronunciado e sustentado por um período mais longo de tempo no obeso. E a terceira diferença, relacionada ao gasto energético, pois sendo o obeso mais pesado em relação à sua estatura, do que o individuo com sobrepeso eles gastam em média mais energia.
O aumento crescente da prevalência da obesidade nas ultimas décadas vem alcançando proporções epidêmicas10.
Nos países desenvolvidos, vem aumentando a prevalência do sobrepeso e da obesidade não só na população adulta como também em crianças e adolescentes. A realidade atual tem demonstrado também um aumento considerável na prevalência da obesidade nos países em desenvolvimento. Nestes, o excesso de peso é ainda mais predominante nas classes econômicas altas, demonstrando como o fator socioeconômico interfere em seu aparecimento9.
Nas nações em desenvolvimento, a obesidade coexiste com a desnutrição, provavelmente pelas modificações dos hábitos e do estilo de vida, aproximando-se do padrão norte-americano11.
Existem varias co-morbidades ligadas à obesidade, como diabetes tipo 2, hipertensão, doença coronária, dislipidemia, colelitías, acidente vascular cerebral, apneia do sono e problemas respiratórios, osteoartrose do joelho e vários tipos de câncer, como endometrial, de mama e de próstata10.
Causas da obesidade
A obesidade é doença crônica, complexa, de etiologia multifatorial e resulta de balanço energético positivo. Seu desenvolvimento ocorre, na grande maioria dos casos, pela associação de fatores genéticos, ambientais, comportamentais9, fisiológicos e psicológicos8.
Foram sugeridos três períodos críticos para o desenvolvimento da obesidade: Período pré-natal, Rebote de adiposidade (cinco a seis anos de idade) e a adolescência6, 11.
Obesidade na infância e adolescência
A obesidade na infância tem-se apresentado como epidemia global e está associada a conseqüências negativas para a saúde da criança e do adolescente, incluindo dislipidemias, inflamações crônicas, aumento da tendência à coagulação sanguínea, disfunção endotelial, resistência à insulina, diabetes tipo 2, hipertensão, complicações ortopédicas, alguns tipos de câncer, apneia do sono e esteato-hepatite não alcoólica. Também está associado à obesidade infantil quadro psicológico conturbado com diminuição da auto-estima, depressão e distúrbio da auto-imagem11.
Importante ressaltar que mesmo que não haja obesidade grave podem estar presentes várias co-morbidades, pois outros fatores, como os genéticos, o padrão de alimentação e a atividade física, colaboram de forma importante para o desenvolvimento de complicações9.
Segundos dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar- PENSE 200912, onde foram avaliados 58971 escolares que estavam fequentando o 9º ano do ensino fundamental das escolas públicas e privadas das capitais brasileira e no Distrito Federal, o déficit de peso foi observado em 2,9%, enquanto que o sobrepeso e obesidade atingiram 16,0% e 7,2 %, respectivamente. Os resultados mostram que o principal problema é o excesso de peso.
Síndrome metabólica
A Síndrome Metabólica (SM) ou síndrome de resistência à insulina foi descrita por Reaven, em 1988, como síndrome X13, um transtorno complexo representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina14.
Embora o reconhecido efeito da obesidade na SM, a localização da gordura no abdome parece ser muito mais importante do que a adiposidade total, sendo a obesidade abdominal considerada um achado característico da SM15.
A distribuição do tecido adiposo influencia na morbi-mortalidade causada pela obesidade. A distribuição central de gordura se refere à obesidade do tipo andróide (também chamada de abdominal ou visceral), que se associa fortemente a complicações participantes da SM. São elas: intolerância à glicose, diabetes, hipertensão, baixos níveis de HDL, altos níveis de LDL e de triglicérides, e a resistência insulínica que parece ser o mecanismo primário da síndrome10, esteatose hepática não alcoólica, sobrecarga hepática de ferro, alterações da coagulação, inflamação e disfunção endotelial16.
Mesmo aqueles sem excesso de peso podem ter resistência à insulina e SM, sendo algumas vezes até mais resistentes à insulina que os obesos16.
Definição da Síndrome Metabólica
O estudo da SM tem sido dificultado pela ausência de consenso na sua definição e nos pontos de corte dos seus componentes, com repercussões na prática clínica e nas políticas de saúde14.
Duas principais definições da SM foram propostas uma pela Organização Mundial de Saude (OMS), e outra pelo National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III)14,16. Ainda uma terceira foi sugerida pela American Association of Clinical Endocrinologist (AACE), mas esta ainda não foi validada em estudos clínicos16.
O critério utilizado pelo NCEP-ATP III inclui o encontro de pelo menos três dos seguintes dados13, 14:
Triglicerídeos > 150 mg/dL;
HDL – colesterol < 40 mg/dL para homens e < 50 mg/dL para mulheres;
Pressão arterial > 130/85 mmHg;
Glicemia de jejum > 110 mg/dL;
Circunferência de cintura .102 cm para homens e > 88 para mulheres.
A OMS em 1999 introduziu uma definição que inclui varias medidas, tais como13:
Intolerância à glicose ou diabetes;
Resistência à insulina;
Hipertensão arterial > 140/90 mmHg;
Triglicerídeos elevados > 150 mg/dL e/ou HDL – colesterol reduzidos < 35 mg/dL para homens e < 40 mg/dL para mulheres;
Obesidade central: relação cintura/quadril > 0,90 para homem e > 0,85 para mulheres e/ou índice de massa corporal (IMC) > 30 Kg/m2
Microalbuminuria > 20 µg/min.
Como o critério da OMS é de difícil execução na parte clínica, pois é necessária a aferição da resistência à insulina, o método diagnostico mais empregado é o preconizado pelo NCEP-ATP III13 e pela sua simplicidade e praticidade é a definição recomendada pela I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica14.
Síndrome Metabólica na infância e adolescência
A obesidade infantil está fortemente associada a alterações metabólicas que podem aparecer ainda na infância. E o risco de SM na vida adulta é maior nos indivíduos que apresentam obesidade na infância17.
Em estudo realizado por Buff et al.2 em 59 crianças com sobrepeso e obesidade, foi observado que a SM esteve presente em 42,4% das crianças.
Em outro estudo18 com uma amostra de 52 crianças obesas, a SM esteve presente em 17,3% das crianças.
As crianças obesas apresentam correlação positiva para gordura abdominal e alterações metabólicas (hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, hiperglicemia e hiperinsulinemia)17.
Definição da Síndrome Metabólica para crianças e adolescentes
O Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria adota o consenso proposto pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) que define SM, em adolescentes entre 10 e abaixo de 16 anos, como aumento da circunferência abdominal (> p90, segundo sexo e idade) associado a pelo menos duas das quatro anormalidades relacionadas9:
Hipertrigliceridemia > 150 mg/dL;
Baixo HDL- colesterol < 40 mg/dL
Hipertensão arterial sistólica > 130 mmHg e diastólica > 85 mmHg
Intolerância à glicose – glicemia de jejum > 100 mg/dL (recomendado o teste de tolerância oral a glicose) ou presença de diabetes mellitus tipo 2.
Prevenção
A prevenção da obesidade infantil deve ser a primeira estratégia de saúde publica para se evitar as complicações decorrentes do excesso de peso. Os profissionais de saúde devem estar aptos para detectar crianças em risco, diagnosticar a obesidade e investigar a ocorrência de comorbidades17.
Por ser uma consequencia da obesidade, o principal foco do tratamento da síndrome metabólica é a manutenção de um peso adequado17. Coma adoção de hábitos de vida saudáveis, como atividade física regular e dieta adequada14,19.
O tratamento convencional para a perda de peso baseia-se na redução da ingestão calórica, aumento do gasto energético, modificação comportamental e envolvimento familiar no processo de mudança17.
Considerações finais
Pode-se concluir que o sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes é um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças, com a presença de varias complicações metabólicas.
Portanto medidas intervencionistas e combate a esse distúrbio tornam-se necessárias, com o incentivo e adoção de hábitos de vida saudáveis para que os mesmos perdurem na fase adulta.
Referências
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