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Qualidade de vida percebida em diferentes áreas 

do saber: uma caracterização da visão holística

La calidad de vida percibida en diferentes áreas de saber: una caracterización desde una visión holística

 

*Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina

Professora Colaboradora da Universidade do Estado de Santa Catarina.

**Doutoranda do curso em Educação Física

da Universidade Federal de Santa Catarina

na área da atividade física relacionada à saúde

***Professor Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia

Mestrando do curso em Educação Física da

Universidade Federal de Santa Catarina

na área da atividade física relacionada à saúde

Patrícia Barbosa Martins Trichês*

Carmem Cristina Beck Dummel**

Marcius de Almeida Gomes***

patriciatriches@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi caracterizar a abordagem holística da qualidade vida (QV) em diferentes áreas do saber. Participaram deste estudo 50 estudantes de graduação de dez cursos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), representando a área das ciências da saúde, ciências humanas e das ciências exatas. Este estudo foi caracterizado como qualitativo. A análise dos dados foi descritiva qualitativa e o instrumento utilizado foi uma pergunta estruturada: “O que é qualidade de vida para você?” Observando-se os resultados por curso e por área. Verificou-se que na análise realizada de cada curso apareceram mais respostas comuns do que a análise feita por área, demonstrando a existência de especificidades não são contempladas em análise mais generalizada. Como a maioria dos instrumentos para medir qualidade de vida são mais genéricos, e, não contemplam indicadores pessoais ou culturais, faz-se necessário redimensioná-los, a fim de identificar-se o perfil da QV considerando-se diferenças regionais e individuais do grupo que está sendo avaliado. Este estudo possibilitou a contextualização da abordagem da qualidade de vida numa visão holística, evidenciando seu caráter totalitário, desconsiderando o pensamento fragmentado do mundo contemporâneo.

          Unitermos: Qualidade de vida. Visão holística.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O termo Qualidade de Vida passou a ser utilizado logo após a 2ª Guerra Mundial, e ficou popularizado em 1960, por políticos americanos que buscavam sucesso nas suas administrações.

    Conforme abordam Day & Jankey in Renwick, Brown & Nagler (1996), várias concepções acerca da qualidade de vida (QV) foram historicamente desenvolvidas, porém definidas sem totalidade e conseqüentemente com várias limitações.

    Deste modo em 1993, proposto por Day, Jankey, Alon et. al, surge o modelo holístico de QV que aborda além de questões objetivas, também questões subjetivas acerca da qualidade de vida.

    Para uma melhor compreensão do contexto atual elucidaremos alguns conceitos atuais de Qualidade de Vida: para Loch & Nahas (2005), é “a condição humana resultante de um conjunto de parâmetros individuais e sócio-ambientais, modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano”.

    No entanto, Pires et al. (1998) apud Gonçalves & Vilarta (2004) salientam que QV “...significa várias coisas. Diz respeito a como as pessoas vivem, sentem e compreendem seu cotidiano. Envolve saúde, educação, transporte, moradia, trabalho e participação nas decisões que lhes dizem respeito e determinam como vive o mundo.”

    Minayo et al. (2000), identificaram a expressão Qualidade de Vida com a figura do discurso conhecida como polissemia, isto é quando uma única palavra ou um conjunto de vocábulos implicam muitos sentidos.

    Por sua vez, Ferrans & Powers (1985) definiram como QV “a sensação de bem-estar de uma pessoa que deriva da satisfação ou insatisfação com áreas da vida que são importantes para ela.”

    A Organização Mundial da Saúde (OMS), 1998 considerou QV como a percepção do individuo acerca de sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.

    A concepção holística consiste na visão mais atual e completa de QV, pois considera diversos elementos e abrange muitos domínios. Consiste de uma abordagem que vem minimizar a idéia fragmentada de QV.

    O holismo ou visão holística que se originou do grego HOLOS, significa "inteiro”, “completo” ou "todo“. Sendo uma forma de tentar unir o homem ao universo (natureza) onde está inserido, o holismo visa à integração dos seus aspectos físicos, emocionais, mentais, etc.

    Sob este prisma, o ser humano não é somente matéria física, nem somente consciência, nem apenas emoções, logo, levar em consideração apenas alguns destes aspectos isoladamente, é perder de vista a sua "inteireza", a sua integridade.

    Buscando elucidar e contextualizar este conceito, o objetivo deste estudo foi caracterizar a abordagem holística da qualidade vida (QV) em diferentes cursos e áreas do saber na Universidade Federal de Santa Catarina.

Estudos que preconizam a visão holística

    Comparando-se diferentes centros de pesquisa do Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido, percebeu-se que há substancial acordo entre estes estudos acerca das dimensões internas e externas, para determinar qualidade de vida numa percepção holística (JONES & RISEBOROUGH, 2002).

    Deste modo, a qualidade de vida é avaliada por categorias, designadas domínios, que envolvem as dimensões externas, ambientais e internas ou psicológicas. No entanto, os indicadores para cada domínio podem variar conforme as diferenças culturais, sociais e históricas.

    No quadro um, pode-se observar os domínios considerados importantes em centros de pesquisa do Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido.

Quadro 1. Comparando domínios em pesquisas de QV

York University

(Canadá)

New Zealand - NIP

(Nova Zelândia)

Canterbury Indicate

(Nova Zelândia)

CURS Tool-Book

(Reino Unido)

Satisfação individual com sua própria QV

Comunidade coesa

 

 

Qualidade do bairro

Ambiente urbano

Poluição

Ambiente ampliado

Qualidade de moradia

Moradia

Resíduos e reciclagem

Ambiente construído

Qualidade de educação

Educação

Energia

 

Qualidade de serviços

Demografia

 

 

Qualidade de atividades de lazer

Segurança

Segurança no trânsito e

Segurança pessoal

 

Qualidade na política

Democracia

“Equity”

  

Qualidade nos cuidados de saúde

Saúde

Saúde

Saúde Social

Qualidade no trabalho

Trabalho e economia

Trabalho

Economia

Comparing Quality of Life Research – International Lessons (2002)

    Ao observar-se o quadro 1, percebe-se que os diferentes domínios designados para qualidade de vida por estudos nestes centros de pesquisas, ilustram bem as peculiaridades e necessidades regionais. Observa-se, inclusive, que dois institutos de pesquisa da Nova Zelândia apresentam domínios diferenciados, o que comprova a necessidade de caracterizar a qualidade de vida sob um enfoque mais holístico, respeitando as diferenças existentes tanto no plano individual quanto social. Outro aspecto que chama atenção é que o Canadá relata como domínio, a satisfação pessoal com a própria QV, reforçando o caráter intrínseco da mesma.

Métodos

    A seleção da amostra foi por conveniência e constituiu-se de 50 universitários, representando 10 cursos da UFSC: 03 cursos das ciências da saúde (educação física, medicina e odontologia), 04 cursos das ciências humanas (filosofia, direito, pedagogia e psicologia) e 03 cursos das ciências exatas (matemática, engenharia e arquitetura), com uma participação de cinco alunos por curso.

    Este estudo foi caracterizado como qualitativo. A análise dos dados foi descritiva qualitativa e o instrumento utilizado foi uma pergunta estruturada: “O que é qualidade de vida para você?

Resultados e discussão

    A análise qualitativa dos dados, considerando-se os cursos, proporcionou resultados com as seguintes características ou domínios em comum:

  1. Arquitetura: tempo de lazer, boa moradia, bom relacionamento-harmonia consigo e com pessoas próximas, estrutura urbana com áreas verdes.

  2. Engenharia: Saúde, família, felicidade, bem-estar (aspecto biológico presente), prazer no dia-a-dia, lazer (importante) x trabalho.

  3. Licenciatura em Matemática: família, equilíbrio dos valores (emocional, físico e financeiro), moradia, segurança.

  4. Pedagogia: Lazer, brincar, liberdade, acesso à educação.

  5. Psicologia: Relação corpo/mente, relacionamentos, segurança.

  6. Filosofia: liberdade, justiça, diferenças (social, gênero) discriminação, renda justa.

  7. Direito: colocações abrangentes, aspectos físicos, psicológicos, não se concentraram no materialismo exacerbado (sobrevivência digna), felicidade (busca), administrar sua própria vida.

  8. Odontologia: família, equilíbrio dos valores (emocional, físico e financeiro), moradia, segurança.

  9. Educação Física: bem-estar físico, emocional, espiritual, saúde, social e familiar.

  10. Medicina: saúde mental/geral, sono, acesso ao saneamento básico, segurança.

    No entanto, ao analisarem-se os resultados evidenciando-se as áreas do conhecimento pôde-se observar que a área da saúde apresenta como domínios comuns o equilíbrio emocional, físico e social, explicitando o conceito de saúde. Na área das ciências humanas ficou subentendida a predominância de domínios relacionados à justiça social os quais possibilitam o acesso às necessidades essenciais do ser humano. A área das ciências exatas apresenta questões de relacionamentos, como domínio comum.

    Observando-se os resultados por curso e por área, percebeu-se que a análise realizado por curso evidenciou um maior número de respostas comuns do que a feita por área, demonstrando que existem especificidades não contempladas quando a análise é mais generalizada.

Conclusão

    Confirmando a hipótese de que existe uma relação entre o conceito de QV e o contexto social e pessoal, a referida pesquisa verificou que cada curso apresentou características próprias. Evidenciando os múltiplos domínios e significados da abordagem holística de qualidade de vida.

    Como a maioria dos instrumentos para medir qualidade de vida são mais genéricos, e, não contemplam indicadores pessoais ou culturais, faz-se necessário redimensioná-los, a fim de identificar-se o perfil da QV considerando-se diferenças regionais e individuais do grupo que está sendo avaliado.

    Este estudo possibilitou a contextualização da abordagem da qualidade de vida numa visão holística, evidenciando seu caráter totalitário, desconsiderando o pensamento fragmentado do mundo contemporâneo.

Referências bibliográficas

  • GONÇALVES, Aguinaldo & VILARDA, Roberto. Qualidade de Vida e Atividade Física, Barueri, SP: Manole, 2004.

  • JONES, Adrian & RISEBOROUGH, Moyra. A Guide to Doing Quality of Life Studies. CURS – School Of Public Policy Univerty Of Birmingham, 2002. Disponível em: http://www.curs.bham.ac.uk/pdfs/QUALITY%20OF%20LIOFE.pdf, Acesso em: 17 de dezembro,2005.

  • LIMA, Carlos Bezerra. Curso Programa Saúde da Família-PSF, Revista Enfermagem Atual, Jan/Fev, 2005.

  • LOCH, Mathias Roberto & NAHAS, Markus V. Qualidade de Vida segundo a Percepção de diferentes grupos da comunidade universitária da UFSC. Revista Acta do Movimento Humano, Florianópolis, v.1, n.1, p. 11-16, 2005.

  • MEDEIROS, Karina Karlla. O quê chamamos de holismo: suas Implicações na Realidade Acesso em 17 de dezembro, 2005: http://psicopatologia.tripod.com.br/holismo.htm

  • RENWICK, Rebecca, BROWN, Ivan & NAGLER, Mark. Quality of Life in Health Promotion and Rehabilitation – Conceptual Approaches, Issues, and Applications, 1996.

  • WHO - World Health Organization, Health Promotion Glossary, Geneva, 1998.

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