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Professor universitário de Educação Física como 

intelectual público no combate a cultura empresarial

El profesor universitario de Educación Física como intelectual público en la lucha contra la cultura corporativa

 

Licenciado em Educação Física pela FEFISO

Especialista em Docência no Ensino Superior pela Universidade Gama Filho

Mestrando em Educação pela Faculdade de Educação

da Universidade de Sã Paulo (FEUSP)

Membro do Grupo de Pesquisa em Educação Física da FEUSP

Rubens Antonio Gurgel Vieira

rubensgurgel@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Qual a função social do professor de educação física que atua na formação de futuros professores? Trabalhar com as competências necessárias para uma inserção e adequação ao mercado de trabalho? Proporcionar conhecimentos que ampliem suas referências sociais e forneçam uma base crítica que facilite o protagonismo social? Para fugirmos de dicotomias reducionistas, buscamos neste trabalho discutir as possibilidades de uma atuação do professor de educação física no ensino superior trabalhando a centralidade da cultura (HALL, 1997), como forma de contraponto a uma lógica de organização das práticas de significação que privilegie o individualismo, a meritocracia e a busca por resultados.

          Unitermos: Função social. Professor de Educação Física. Intelectual.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Quais as possibilidades de superação da dicotomia entre uma formação técnica, centrada nas competências necessárias para competir no mercado de trabalho e nas exigências do mundo contemporâneo, e uma formação crítica, que forneça ferramentas analíticas para atuação nas contradições sociais e no processo crescente das desigualdades entre os diversos grupos culturais?

    Acreditamos que não se trata de escolher entre uma formação mercadológica ou uma formação crítica, mas proporcionar uma alfabetização cultural crítica através de uma metodologia que considera a cultura como uma dimensão constitutiva das relações sociais e materiais mais amplas, sem, no entanto desconsiderar aspectos técnicos ou específicos à contextualidade da profissão.

    Para Hall (1997), a cultura adquiriu uma centralidade substantiva e acadêmica na contemporaneidade. Sendo o ser humano um ser interpretativo e instituidor de sentidos, o conjunto de símbolos e práticas de significação constitui as diversas culturas existentes. Este aspecto simbólico de toda e qualquer constituição humana coloca a cultura em posição central, tanto na materialidade de nossas relações e vida cotidiana, quanto sua presença e importância crescente nas análises das ciências sociais e humanidades – a denominada “virada cultural”.

    Nesta concepção, as lutas por significados são lutas intermináveis por recursos materiais e posições privilegiadas na teia social, caracterizando a cultura como um espaço de disputa entre grupos sociais distintos, ótica desenvolvida pelos Estudos Culturais (SILVA, 2007).

A cultura empresarial

    Sendo a cultura um campo de disputa em torno de valores que norteiam as práticas sociais e as relações de poder, o objetivo é dispor de reflexões que descentrem a cultura empresarial da sua posição hegemônica presente no ensino superior. Cultura empresarial é compreendida como definida por Giroux (2003), “um conjunto de forças ideológicas e institucionais que funcionam politicamente e pedagogicamente para governar a vida organizacional por meio do controle gerencial superior e para produzir trabalhadores submissos, consumidores despolitizados e cidadãos passivos”.

    A cultura empresarial paulatinamente causa o desaparecimento da política democrática necessária para que a arena cultural garanta a diversidade. Para tal objetivo, a cultura adquire centralidade ao demonstrar como as identidades são moldadas, a democracia definida e as relações de poder na política cultural expostas.

    Através da compreensão da política cultural, é possível articular ações que promovam protagonismo social crítico para os alunos, o que envolve relações de acesso, participação, movimentação e modificação em locais específicos e envolvidos em atividades de poder. Desta forma, acreditamos que o docente do ensino superior na área de educação física deve atuar como um intelectual público, em defesa dos valores democráticos e dos espaços de transformação possibilitados pelo ensino superior contra a supremacia dos valores da cultura empresarial.

    Ao transformar a pedagogia em uma prática política, surge a oportunidade de demonstrar aos alunos como o poder governa através da cultura, construindo identidades, mobilizando desejos e moldando valores morais, abrindo espaço para uma compreensão crítica da política cultural.

    Como fica evidente, não há dicotomia entre aspectos relacionados aos requisitos técnicos necessários a inserção no mercado de trabalho e uma formação crítica para a cidadania e a democracia. Independente do componente curricular do curso do ensino superior, esta concepção de cultura considera todos os conteúdos trabalhados como prática de significação associada com determinada concepção de sociedade (NEIRA & NUNES, 2009).

Considerações finais

    Defendemos então que a função do professor universitário, muito além da transmissão de técnicas e metodologias, é proporcionar a reflexão sobre como tais práticas de significação e veiculação de representações atuam na sociedade, expandindo as possibilidades de uma vida pública democrática através de uma alfabetização cultural crítica.

    Se considerarmos a expansão do ensino superior e sua característica de relacionamento mais estreito com os avanços tecnológicos, tal alfabetização desenvolve um senso de protagonismo nos alunos, possibilitando uma atuação alinhada com as obrigações da cidadania e vida pública democrática. Obrigações que incluem, de forma intrínseca, conhecimentos técnicos e alfabetização cultural crítica.

    Como nos alerta Giroux (2003), esta forma de atuação docente não garante avanço democrático algum, no entanto se coloca como condição primordial para qualquer possibilidade de mudança no cenário dominado pela cultura empresarial. Conclui-se que se faz necessário uma redefinição do papel acadêmico, destacando a função de propiciar aos alunos profunda reflexão sobre as instituições, as práticas de significação da profissão e o impacto da atuação profissional na sociedade, em busca de valores democráticos que superem a imposições da cultura empresarial.

Referências bibliográficas

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