Prevalência de lesões musculoesqueléticas em atletas amadores de triatlo federados no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil La prevalencia de lesiones musculoesqueléticas en aficionados de triatlón federados del Estado de Río Grande do Sul, Brasil Prevalence of musculoskeletal injuries in amateur triathlon athletes in Rio Grande do Sul, Brazil |
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*Centro Universitário La Salle, Canoas, RS Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS **Centro Universitário La Salle, Canoas, RS Programa Internacional de Doutorado em Ensino de Ciências Universidade de Burgos, Burgos, Espanha |
Daniela Ongaratto* Adriana Marques Toigo** (Brasil) |
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Resumo O triatlo diferencia-se de outras modalidades esportivas por ser uma modalidade múltipla, constituída por provas de natação, ciclismo e corrida, nas quais exige-se do atleta uma preparação diferenciada, tanto física como psicológica, submetendo-o a treinamentos exaustivos e extenuantes, tornando-o, assim, vulnerável a lesões. O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de lesões musculoesqueléticas em atletas amadores de triatlo federados no estado do Rio Grande do Sul. Utilizou-se um questionário do tipo Inquérito de Morbidade Referida (IMR) adaptado para a obtenção dos dados referentes às lesões desportivas. Foram entrevistados 73 atletas (59 do sexo masculino e 14 do sexo feminino). Houve uma elevada prevalência de lesões musculoesqueléticas dentre os atletas (130 ocorrências). Foram relatadas 82 lesões musculoesqueléticas decorrentes da corrida, sendo o joelho a região anatômica mais acometida (23 ocorrências). Na fase do ciclismo foram mencionadas 16 lesões musculoesqueléticas e, em relação ao local de maior freqüência de acometimento, as queixas foram referentes à região do joelho (5). Na natação houve relato de 21 lesões musculoesqueléticas, predominantemente na região do ombro (13). Houve maior prevalência de lesões na fase de treinamento (108), contra somente 22 ocorrências na fase de competições. Concluiu-se que faz-se necessário traçar estratégias para que se possa prevenir a ocorrência de lesões decorrentes das modalidades praticadas no triatlo. Unitermos: Lesões musculoesqueléticas. Atletas amadores. Triatlo. Natação. Ciclismo. Corrida.
Abstract The triathlon is different from other sports because it is a multi-modality, consisting of swimming, cycling and running, which requires a different training, both physically and psychologically, by subjecting it to extensive training and grueling, making the athlete vulnerable to injury. The aim of this study was to assess the prevalence of musculoskeletal injuries in amateur triathlon athletes in the state of Rio Grande do Sul, Brazil. Data were obtained from a questionnaire-type survey of morbidity adjusted to obtain the information on sports injuries. There were interviewed 73 athletes (59 male and 14 female). There was a high prevalence of musculoskeletal injuries among the athletes (130 occurrences). There were 82 reported injuries resulting from running, of which 28 were reported as muscle injury; the knee was the most affected anatomical region (23 occurrences). At the stage of cycling there were mentioned 16 musculoskeletal injuries, and related to the anatomical region, the most cited was also the knee (5). In swimming, there were reports of 21 musculoskeletal injuries, predominantly at the shoulder region (13). There most of the injuries occurred during the training phase (108), versus 22 occurrences during the competitions. We conclude that it is necessary to develop strategies in order to prevent injuries caused in the triathlon. Keywords: Musculoskeletal injuries. Amateur athletes. Triathlon. Swimming. Cycling. Running.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O esporte de endurance é o protótipo da resistência humana. Atualmente, há uma diversidade de provas de resistência como, por exemplo, as corridas de aventura, ultramaratonas, maratonas aquáticas e o triatlo. Isso mostra que o ser humano está sempre em busca da superação e de desafios maiores. O triatlo tem um papel importante no cenário de provas de resistência e compreende três modalidades tradicionalmente conhecidas e bastante distintas como a natação, o ciclismo e a corrida, que são realizadas continua e ininterruptamente nesta ordem e que, por si só, são muitos desgastantes. O triatlo surgiu a partir de um desafio para ver quem era mais resistente: o corredor, o nadador ou o ciclista.
O treinamento do triatlo exige do atleta uma preparação física e psicológica submetendo-o a treinamentos exaustivos e extenuantes, tornando-o assim, vulnerável a lesões. Até o presente momento, foram encontrados poucos estudos sobre prevalência de lesões musculoesqueléticas especificamente em atletas de triatlo no Brasil. Entretanto, vários estudos foram realizados no sentido de analisar as lesões musculoesqueléticas em modalidades que compõe o triatlo isoladamente, como por exemplo, lesões em nadadores (Ejnisman, Andreoli, Carrera, Abdalla e Cohen, 2001); corredores (Pastre, Carvalho Filho, Monteiro, Netto Jr., e Padovani, 2004) e ciclistas (Silva e Oliveira, 2002). Como os triatletas não são especializados em nenhuma dessas três modalidades acredita-se, então, que devam apresentar prevalência de lesões musculoesqueléticas distintas dos nadadores, ciclistas e corredores.
O triatlo diferencia-se por ser um esporte misto e por empreender níveis de exigência biomecânica devido ao alto grau de dificuldade na adaptação tanto fisiológica como mecânica na transição de um esporte para o outro, fazendo dele uma modalidade com elevado risco de lesões. Assim, é necessário que cada atleta deva ter sua adequação individualizada em função das características anatômicas próprias, levando em consideração a vantagem biomecânica determinada pelo posicionamento correto de seus componentes, contribuindo, desta forma, para um bom desempenho e conforto nas modalidades praticadas.
Whiting e Zernicke, (2009, p. 2) definem lesão como o dano sofrido pelos tecidos do corpo em resposta a um traumatismo físico que faz parte da vida cotidiana, sendo acompanhada por custos físicos, emocionais e econômicos inevitáveis, assim como por perda de tempo e da função normal.
O triatlo vem se tornando cada vez mais popular e ganhando uma repercussão nos veículos de comunicação despertando novos adeptos oriundos de outras modalidades, tornando-se cada vez mais competitivo. De acordo com o histórico da Confederação Brasileira de Triatlo (CBTri), a relação de atletas confederados no ano de 2009 totalizou 2050 praticantes da modalidade. No Brasil, existem 19 Federações localizadas em diversas cidades brasileiras, incluindo a cidade de Porto Alegre - RS (FGTri). Em virtude deste crescimento, justifica-se a necessidade de conduzir estudos que possam instigar e dar subsídios aos profissionais envolvidos com o esporte a fim de compreender as variáveis que possam influenciar na performance do atleta, promovendo condutas preventivas em relação as lesões, ressaltando-se assim, a importância de verificar a prevalência de lesões musculoesqueléticas em atletas amadores de triatlo federados no estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
O objetivo do presente estudo foi verificar a prevalência de lesões musculoesqueléticas em atletas amadores de triatlo federados no estado do Rio Grande do Sul em cada modalidade que compõe o esporte (natação, ciclismo e corrida). Além disso, buscou-se a) verificar o local anatômico de maior freqüência de ocorrência das lesões musculoesqueléticas em atletas em cada modalidade que compõe o triatlo; b) verificar o momento de maior ocorrência das lesões, isto é, se as mesmas ocorreram durante o período de treinamento ou durante uma competição e c) verificar se houve prevalência de lesões em uma determinada modalidade do triatlo sobre as outras.
Aspectos metodológicos
Optou-se por uma pesquisa de corte epidemiológico transversal, para que se pudesse verificar quais os tipos de lesões musculoesqueléticas mais freqüentes em atletas de cada modalidade que compõe o triatlo (natação, ciclismo e corrida).
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitário La Salle, Canoas, Brasil, em dezembro de 2009. Todos os sujeitos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, atendendo a todas as exigências da legislação brasileira sobre experimentos com seres humanos.
O universo desta pesquisa foi composto pelos 78 triatletas federados no estado no Rio Grande do Sul no ano de 2009. Foi realizado um cálculo de tamanho de amostra assumindo um erro de 5%. A amostra desta pesquisa foi, então, composta por 73 atletas de triatlo (14 mulheres e 59 homens) com média de 34,5 anos (± 10,7), média de altura de 1,73m (± 0,7) e média de peso de 71,36 kg (± 10,7). A média de tempo de treino na modalidade dos integrantes da amostra foi 5,8 anos (± 5,8) de treinamento na modalidade de triatlo. Adotou-se como critério de inclusão que os atletas fossem amadores na modalidade de triatlo e que fossem federados do Rio Grande do Sul. Considerou-se como critério de exclusão a prática de outras modalidades além das relacionadas ao triatlo (natação, ciclismo e corrida).
A coleta de dados ocorreu durante eventos realizados pela Federação Gaúcha de Triatlo através da aplicação de um instrumento para coleta de dados denominado Questionário de Inquérito de Morbidade Referida (IMR) sobre as lesões desportivas adaptado de Pastre, Carvalho Filho, Monteiro, Netto Jr. e Padovani (2004) (Anexo A). A altura e o peso foram informados pelos atletas.
Neste estudo, considerou-se lesão desportiva como qualquer dor ou afecção musculoesquelética resultante de treinamentos e/ou competições esportivas e que fosse suficiente para causar alterações no treinamento normal, seja na forma, duração, intensidade ou freqüência. Para obtenção das informações referentes às lesões desportivas, foram incluídas ao IMR questões sobre o tipo de lesão, local anatômico, modalidade na qual sofreu a lesão e momento de ocorrência da lesão (durante o treinamento ou durante a competição). A localização anatômica da lesão de cada modalidade foi identificada através de figura ilustrativa do corpo humano nas vistas anterior e posterior, com o intuito de facilitar a identificação por parte do atleta.
Os dados relativos à média, desvio padrão e os valores mínimo e o máximo dos dados relativos a idade, altura, peso e tempo de treinamento dos atletas foram analisados através do pacote estatístico SPSS 15.0 para Windows e os demais foram analisados através da planilha eletrônica Excel 2003 (Microsoft Office®).
Apresentação dos resultados e discussão
Os dados obtidos do IMR foram organizados em categorias que representaram os tipos de lesões musculoesqueléticas apontados pelos sujeitos de pesquisa de acordo com a modalidade (natação, ciclismo e corrida) e foram classificados como lesões articulares; lesões ósseas; lesões musculares; lesões epiteliais; lesões no tecido conjuntivo; tendinopatias e outras, apresentadas nos Gráficos 1, 3 e 5.
Codificação das lesões
Tipo de lesão |
1 – distensão muscular |
2 – contratura muscular |
3 – tendinopatia |
4 – entorse |
5 – mialgia |
6 – periostite |
7 – sinovite |
8 – fratura |
9 – bursite |
10 – dor aguda inespecífica |
11 – dor crônica inespecífica |
12 – outra (especificar) |
Observou-se que houve elevada prevalência de lesões musculoesqueléticas na população analisada. Dos 73 atletas que responderam ao IMR, somente 8 responderam que não sofreram lesões decorrentes da prática do triatlo. Por outro lado, 65 atletas relataram ocorrência de algum tipo de lesão relacionada com a modalidade, totalizando 130 relatos de lesões.
Mecanismo de lesão e localização anatômica
Marcar na figura com número referente à codificação das lesões nas regiões do corpo em que teve as lesões, em cada modalidade que compõe o triatlo.
Prevalência de lesões na natação
O Gráfico 1 apresenta a prevalência de lesões musculoesqueléticas em atletas de triatlo na etapa da natação.
Quanto à ocorrência de lesões na etapa da natação no triatlo, verificou-se uma maior prevalência de tendinopatias (15), identificadas a partir do relato de bursites (10), tendinites (4) e epicondilite (1). Os achados são corroborados pelos obtidos no estudo de Mello, Silva e José (2007) que descrevem essas lesões como típicas da modalidade. Em seguida, verificou-se prevalência de lesões articulares (4) identificadas pelo relato de sinovite (1), artrose (1) e dor aguda inespecífica (2); seguidas de lesões musculares (2), as quais foram identificadas pelos atletas como contraturas musculares (1) e dor aguda inespecífica (1). Chamou à atenção a ocorrência de uma lesão não-musculoesquelética, classificada como lesão epitelial (corte). Muitas vezes, o atleta encara circunstâncias advindas do esporte e no caso específico do triatlo, quando praticado ou disputado no estado do Rio Grande do Sul, às vezes, a prova ou treino de natação realiza-se em águas abertas nas quais os atletas podem deparar-se com pedras ou outros obstáculos, expondo-os a riscos.
Gráfico 1. Prevalência de lesões na etapa da natação no triatlo
Em um estudo feito sobre as lesões musculoesqueléticas em 63 atletas da natação, Mello, Silva e José (2007) descreveram a prevalência de 83 lesões, sendo as mais comuns a bursite e a tendinite (75,9%), seguidas da dorsalgia (9,6%) e da lombalgia (6%). A região anatômica mais comumente lesada foi a dos membros superiores (61,4%), com predominância do ombro (49,4%) e do cotovelo (12%).
Regiões anatômicas mais freqüentemente lesadas na natação
Considera-se que a modalidade da natação representa 20% do total da prova no triatlo e é reportada como sendo de baixa prevalência de lesões musculoesqueléticas (Korkia, Tunstall-Pedoe e Maffulli, 1994).
O Gráfico 2 mostra que a região anatômica de maior acometimento das lesões na etapa da natação foi o membro superior, principalmente na região do ombro (13), seguida do cotovelo (3). As demais regiões apontadas foram o tornozelo (2); pescoço (1); costas (1); pé (1) e cabeça (1). Os achados são compatíveis com a literatura com relação à região anatômica da lesão. Segundo Mello, Silva e José (2007), a região mais comumente lesada na natação foi o membro superior, com maior prevalência do ombro e do cotovelo. Em um estudo com nadadores brasileiros de elite, também foi verificada a incidência de dor na prática da natação relacionada com o ombro (Cohen, Abdalla, Ejnisman, Schubert, Lopes e Mano, 1998).
Freitas, Araújo e Pereira (2008) verificaram que os triatletas são normalmente oriundos da natação, então pode-se pensar em uma relação dessas lesões com o histórico do atleta.
Gráfico 2. Regiões anatômicas mais freqüentemente lesadas na etapa da natação no triatlo
Prevalência de lesões no ciclismo
Com relação à prevalência de lesões na fase do ciclismo no triatlo, como ilustra o Gráfico 3, encontrou-se maior ocorrência de lesões epiteliais (10) entendidas como lesões não-musculoesqueléticas que incluem as escoriações (9) e os cortes (1). Pode-se relacionar esses dados com os estudos de Cipriani, Swartz e Hodgson (1998) e de Burns, Keenan e Redmond (2003) os quais sugerem que os atletas do ciclismo que treinam em vias públicas no meio de carros acabam ficando mais expostos a acidentes e quedas, entre outros. No treinamento, o ciclista se vê obrigado trafegar no meio dos carros, pois atingem uma velocidade alta (de 30-40 km/h), o que os impede de utilizar calçadas. Aventurar-se nas vias públicas com os carros é um fator de grande risco, expondo-os a acidentes. Além disso, esses autores destacam que as lesões relacionadas ao ciclismo são relativamente raras; muitas são de origem traumática ou de origem secundária, isto é, lesões que ocorrem por uso excessivo (lesões por overuse). Bacchieri, Gigante e Assunção (2005) recomendam, para evitar a ocorrência de lesões graves como fraturas, batidas fortes e lesões associadas, como escoriações e arranhões, redobrar a atenção e reforçar a utilização de equipamentos adequados para a segurança.
Pode-se ainda observar no Gráfico 3 que foram relatadas lesões musculares (6) na forma de distensão muscular (2), contratura muscular (2) e mialgia (2), seguidas por lesões ósseas (4), descritas como fraturas (3) e periostite (1) e, ainda, tendinopatias (3). Observou-se que não houve um relato expressivo de lesões articulares (2) relacionadas ao ciclismo. Esses achados não foram compatíveis com os resultados encontrados por Clements, Yates e Curran (1999) que sugeriram que as lesões no ciclismo estão predominantemente associadas a lesões articulares.
Ainda foram relatadas dor aguda inespecífica (1) e dor crônica inespecífica (1).
Gráfico 3. Prevalência de lesões na etapa do ciclismo no triatlo
Regiões anatômicas mais freqüentemente lesadas no ciclismo
Esperava-se que as lesões em atletas devessem, pela lógica, estar relacionadas às modalidades praticadas. Coerentemente, os membros inferiores apresentaram maior prevalência de lesões (13) na modalidade do ciclismo e a região mais lesada foi o joelho (5) seguido do quadril (3), como pode ser observado no Gráfico 4. Para Zatsiorsky (2004) essas são regiões mais suscetíveis a lesões por serem responsáveis pela força e cadência imposta pela pedalada.
Gráfico 4. Regiões anatômicas mais freqüentemente lesadas na etapa do ciclismo no triatlo
Observa-se, a partir dos achados deste estudo, que houve lesões atípicas nesta modalidade, como por exemplo, na região da cabeça (4). Esses dados são compatíveis com os resultados de Cipriani, Swartz e Hodgson (1998) e de Burns, Keenan e Redmond (2003), os quais encontraram que as lesões nessa modalidade ocorrem por acidentes e quedas resultando, segundo Whiting e Zernicke (2009), tipicamente de um traumatismo direto. Portanto, os atletas do ciclismo e da corrida, por treinarem em vias públicas, acabam sendo expostos às circunstâncias ambientais (acidentes e quedas, entre outros).
Para Zatsiorsky (2004 p.62), “a potência e o trabalho produzidos pelos movimentos do tornozelo, joelho e quadril durante o ciclismo aumentam com a potência da resistência e freqüência do pedalar”. Portanto, essas articulações mencionadas anteriormente são bastante suscetíveis a lesões nessa fase.
Prevalência de lesões na corrida
O Gráfico 5 apresenta a prevalência de lesões musculoesqueléticas em atletas de triatlo na etapa da corrida, tendo sido referidas 28 lesões musculares na forma de distensão muscular (13); contratura muscular (9); dor aguda inespecífica (3); mialgia (1); estresse muscular (1) e dor crônica inespecífica (1). As lesões articulares (18) consistiram de dor aguda inespecífica (9), entorse (4), dor crônica inespecífica (3) e condromalácia patelar (2). Também foram relatadas 17 ocorrências de tendinopatias.
Gráfico 5. Prevalência de lesões na etapa da corrida no triatlo
Salienta-se que alguns atletas não sabiam ao certo classificar o tipo de lesão, então a identificaram como dor aguda inespecífica, que para Withing e Zernicke (2009) “resulta de um único ou de poucos episódios de aplicação de uma carga” e como dor crônica inespecífica, entendida como “lesão por uso excessivo, exemplificada através de uma extensa classe de condições causadas pela aplicação repetitiva de uma força”.
Houve, também, relato de lesões no tecido conjuntivo (11) identificadas como fascite plantar (6); ruptura do tendão (3) e inflamação do tendão (2). Alloza apud Petrossi (2004) sustenta que um dos problemas mais comuns que acomete os pés dos corredores é a fascite plantar.
As lesões ósseas (8) foram evidenciadas pelos atletas como canelite (7) e fratura por estresse (1). A freqüência de acometimentos de canelite, caracterizada como dor na canela, possivelmente decorre, segundo Withing e Zernicke (2009) “em função do uso excessivo ou ao estresse dos músculos dentro dos grupos extensores ou flexores”. A fratura por estresse pode ser ocasionada também em decorrência de excesso de treinamento.
Levando em conta que a sobrecarga da prova de ciclismo antecede a prova da corrida no triatlo, alguns autores têm apontado a influência do ciclismo no desempenho da corrida. Para Bernard, Vercruyssen, Grego, Hausswirth, Vallier e Brisswalter (2003), o desempenho na corrida quando analisada isoladamente é melhor do que na corrida realizada após o ciclismo e os fatores que contribuem para essa queda de desempenho, de acordo com Costa e Kokubun (1995) devem-se a elevada lactacidemia que pode induzir a fadiga durante o exercício.
Regiões anatômicas mais freqüentemente lesadas na corrida
Os resultados do presente estudo demonstraram que a maioria das lesões na corrida ocorreu nos membros inferiores. Estes dados, por sua vez, estão intimamente ligados à modalidade praticada. As contusões na corrida ocorrem freqüentemente nos pés, pois é a primeira parte do corpo a absorver a força de reação do solo recebida pelas passadas.
O Gráfico 6 mostra que o joelho foi a região anatômica mais acometida na modalidade da corrida no triatlo (23), seguido da panturrilha (16); coxa (9); perna (9); pé (7); calcanhar (6); tornozelo (6); quadril (2); glúteo (2); região torácica (1) e região cervical (1).
Gráfico 6. Regiões anatômicas mais freqüentemente lesadas na etapa da corrida no triatlo
Momento de ocorrência das lesões musculoesqueléticas no triatlo
Em relação ao momento da ocorrência das lesões musculoesqueléticas nota-se, conforme demonstrado no Gráfico 7, maior freqüência na fase do treinamento (108), o que representa 83% das ocorrências.
Gráfico 7. Momento da ocorrência das lesões no triatlo
No estudo de Bezem e Bezem (2009), 59,2% das lesões aconteceram durante o treino. Em relação às competições, 10,5% dos atletas se lesionaram em provas curtas; 6,6% em provas longas e 5,3% na prova do Ironman. Os mesmos autores recomendam que as pessoas envolvidas com o esporte tenham a preocupação, independente da especificidade do treinamento, com a adequação do local de treinamento com vistas à segurança, de modo à prevenir ou amenizar as lesões na fase de treinamento. Egermann, Brocai, Lill e Schmitt (2003) também verificaram maior ocorrência de lesões foi no período de treinamento (81,3%) sendo que o restante dos atletas (18,7%) foi lesado durante as competições. Com relação ao tipo de lesão, nesse mesmo estudo, 51,1% dos atletas sofreram contusão; 33,1% sofreram lesão nos tendões; 29% nos ligamentos e 11,9% nos ossos.
Prevalência de lesões musculoesqueléticas nas diferentes modalidades do triatlo
O Gráfico 8 apresenta a prevalência de lesões nas modalidades que compõe o triatlo (natação, ciclismo e corrida).
Os dados referentes à ocorrência de lesões nas modalidades que compõem o triatlo demonstraram que a corrida teve maior prevalência de lesões (82), seguida do ciclismo (26) e da natação (22), a qual representa o mais baixo índice de lesões relacionadas ao esporte. Os resultados obtidos foram compatíveis com os achados de Korkia, Tunstall-Pedoe e Maffulli (1994) e Burns, Keenan e Redmond (2003). Por outro lado, Egermann, Brocai, Lill e Schmitt (2003) encontraram resultados distintos. Dos 656 triatletas por eles investigados, 54,8% sofreram lesões relacionadas ao ciclismo; 33, 7% relacionadas à corrida e 5,8% relacionadas à natação.
Gráfico 8. Prevalência de lesões musculoesqueléticas nas diferentes modalidades do triatlo
Apesar das modalidades que compõem o esporte serem cíclicas, elas apresentam características biomecânicas distintas. Dessa forma, acredita-se que o triatleta precisa manter um ritmo uniforme nas três modalidades em um tempo prolongado para que possa obter êxito no resultado. O triatlo, nos últimos anos, tem sido bastante competitivo e os atletas se submetem a cargas repetitivas acima de certo limiar, experimentando fadiga. Conforme Whiting e Zernicke (2009), os atletas, em situação de fadiga, “exibem uma menor capacidade de suportar as forças aplicadas. As cargas continuamente aplicadas a um material fatigado resultam em eventual falha do mesmo”.
Analisando a corrida isoladamente, segundo Petrossi (2004) “a cada passada do corredor, a pressão sofrida pode ser de até três vezes o peso do corpo”. É um esporte de impacto e, por si só, bastante desgastante, por isso, tem sido extensivamente associado com a elevada prevalência de lesões musculoesqueléticas. Presume-se que o impacto e a biomecânica incorreta podem ocasionar as lesões. Por outro lado, Cipriani, Swartz e Hodgson (1998) reportam que as lesões também podem ser ocasionadas pelos efeitos cumulativos das modalidades antecessoras. A fase da corrida é referida como finalização da prova de triatlo, sendo que o triatleta já foi submetido a um desgaste físico e psicológico nas etapas que a antecederam. As queixas de lesões mais relatadas se referem a esta modalidade e, conforme Burns, Keenan e Redmond (2003), a corrida representou 71% da ocorrência de lesão em uma pré-temporada de 6 meses sendo que 75% dessas lesões acometeram os membros inferiores neste mesmo período.
Segundo Korkia, Tunstall-Pedoe e Maffulli (1994), em um estudo realizado com 155 triatletas britânicos que competiam no triatlo, tanto em distâncias curtas com em distâncias longas,a maioria das lesões ocorreram durante a corrida (65%), seguidas do ciclismo (16%) e da natação (11%). 37% dos participantes relataram ocorrência de lesão. Os locais mais acometidos foram o tornozelo, o pé, a coxa, as pernas e as costas e a região menos acometida foi a região do ombro. De acordo com este mesmo estudo, 41% das lesões dos triatletas foram associadas ao uso excessivo.
Considerações finais
Os resultados deste estudo demonstraram que houve elevada prevalência de lesões musculoesqueléticas em atletas amadores de triatlo federados do Rio Grande do Sul. Dos 73 atletas analisados, somente 8 relataram não terem sofrido lesões associadas à prática do triatlo. Os demais relataram a ocorrência de 130 lesões associadas à prática desse esporte.
Entre as modalidades que compõe o treinamento do triatlo, a corrida foi a de maior prevalência de lesões (82) nos triatletas, logo, faz-se necessário traçar estratégias para que se possa prevenir ou amenizar as lesões ocasionadas durante sua prática.
Considerando o momento da ocorrência das lesões, a fase do treinamento foi o período de maior prevalência (108), sendo relacionado, algumas vezes, a acidentes e quedas no ciclismo, resultando em lesões graves e/ou múltiplas. Portanto, o atleta deve ser orientado não só quanto aos riscos do treinamento do triatlo, mas também, quanto a necessidade de buscar um planejamento individualizado, adequando as suas capacidades e dificuldades na modalidade.
Salienta-se, então, que a prevenção pode (e deve) ser o primeiro passo para minimizar a prevalência de lesões musculoesqueléticas no triatlo.
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Digital · Año 15 · N° 150 | Buenos Aires,
Noviembre de 2010 |