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Perfil antropométrico e performance de crianças praticantes

de natação no Clube Recreativo Dores, de Santa Maria, RS

Perfil antropométrico y rendimiento de los niños practicantes de natación en el Clube Recreativo Dores, Santa María, RS

 

*Professora Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde

Centro de Educação Física da Universidade Federal de Santa Maria

** Prof. Dr. em Fisiologia do Exercício da Faculdade Metodista de Santa Maria, RS

(Brasil)

Adriane Moraes Melo*

Renan Maximiliano Fernandes Sampedro**

amoraesmelo@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho se propôs a traçar o perfil antropométrico e performance de crianças de 7 a 12 anos de idade praticantes de natação no Clube Recreativo Dores de Santa Maria, RS. A amostra intencionalmente escolhida, foi composta por 15 crianças, 8 meninas e 7 meninos. Os dados antropométricos estudados foram peso corporal, estatura, envergadura, dobras cutâneas, perímetros e diâmetros. Os resultados mais relevantes mostram que, tanto as meninas como os meninos apresentaram medidas de envergadura maiores que suas respectivas estaturas, tendo relação significativa com a performance de cada um. As dobras cutâneas, perímetros e diâmetros não apresentaram diferenças relevantes. Os meninos apresentaram maior percentual de gordura e IMC que as meninas. A idade da amostra não permite grandes diferenças entre os gêneros, podendo ser classificada como homogênea.

          Unitermos: Criança. Natação. Performance.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A participação de jovens em modalidades esportivas, tem relação com proporções corporais e composição corporal específicas a estes esportes. Na natação, foi exposto (PRESTES, LEITE, LEITE, DONATTO, URTADO, BARTOLOMEU NETO e DOURADO, 2006) que jovens atletas do sexo feminino apresentam maior estatura e puberdade mais avançada do que meninas não atletas com mesma idade. De acordo com Venkataramana (2004) as características físicas e funcionais de jovens esportistas tem sido bastante estudada, porém para o mesmo público as informações sobre perfil antropométrico são escassas, sendo que estas são de grande valor tanto para os atletas como também para os técnicos, pois tendo em mãos esta informação, poderão melhor treina-las, detectando qual é o melhor desporto para futuros atletas obterem melhores resultados. É importante salientar que estas características se destacam já nas fases iniciais de desenvolvimento.

    As características antropométricas são fatores que interferem na escolha das modalidades esportivas pelos jovens (DAMSGAARD, 2000). Então é de suma importância que sejam feitos estudos científicos a respeito disto, demonstrando as características antropométricas de atletas, inseridos em diferentes esportes e categorias competitivas.

    Entre os fatores primordiais para performance da natação encontra-se maiores medidas de envergaduras, as quais segundo Grimston e Hay apud Prestes, et al. (2006) apresentam uma importância significativa na performance de nadadores permitindo desenvolver maior força propulsiva.

    Levando-se em consideração os conhecimentos expostos acima, o presente estudo teve o propósito de traçar o perfil antropométrico de crianças com idades entre 7 e 12 anos que fazem aulas de natação no clube recreativo dores de Santa Maria, analisando este perfil em comparação com a performance na natação.

Metodologia

    Este estudo avaliou dados antropométricos e performance de crianças praticantes de natação de ambos os gêneros. A amostra utilizou crianças entre 7 e 12 anos (8 do sexo feminino e 7 do sexo masculino) matriculadas nas aulas de natação do Clube Recreativo Dores de Santa Maria, localizado no Rio Grande do Sul. A amostra foi selecionada de forma intencional com as crianças cujos pais ou responsáveis concordaram com a participação do filho (a) na pesquisa, depois de tomarem conhecimento de todos os procedimentos e riscos, e terem assinado a carta de consentimento. Aceitaram participar do estudo 15 crianças.

    Para avaliação da composição corporal foi utilizada uma fita métrica, um paquímetro, um compasso de dobras cutâneas da marca Cescorf, uma balança eletrônica da marca Filizola, ficha para registro e caneta. A coleta de dados foi realizada nas instalações do complexo aquático da sede central do Clube Recreativo Dores. Todas as crianças compareceram a uma das salas do complexo aquático, para realização da avaliação da composição corporal, vestindo sunga, biquíni ou maio de duas peças. As medidas foram feitas somente no lado direito do corpo sendo coletadas em uma única seqüência. Foram realizadas as medidas de peso corporal (kg), estatura e envergadura (m), dobras cutâneas (mm), sendo que estas foram coletadas três vezes e o resultado final foi a média entre as três medidas (subescapular, triciptal, abdominal vertical, supra ilíaca obliqua e panturrilha), circunferências do braço e da panturrilha (cm), diâmetros biestilóide do punho, biepicondiliano do úmero e biepicondiliano do fêmur (cm).

    A partir destas medidas, foram calculados: índice de massa corporal – IMC (Kg/m2), peso residual, peso gordo, peso muscular e peso ósseo (kg) e percentual de gordura (%). Estes índices foram obtidos de acordo com a técnica de fracionamento sugerida por Drinkwater, apud De Rose e De Rose (1981).

    Com o objetivo de avaliar a performance das crianças, foi utilizado um teste de velocidade no qual os sujeitos percorreram 25 metros no estilo crawl, realizando a saída de dentro da piscina sendo cronometrado para a obtenção do índice de velocidade máxima através do uso de um cronômetro da marca Kenko com precisão em centésimos de segundos.

    Os resultados foram expressos em termos de média e desvio-padrão por grupo conforme o gênero. Para analisar as relações entre as medidas de composição corporal e a performance no teste de velocidade, utilizou-se a Correlação do Produto Momento de Pearson, aceitando-se a relação quando os valores de “rxy” apresentaram uma probabilidade igual ou menor do que 0,05.

Resultados e discussão

    De acordo com o objetivo do estudo, que foi o de traçar o perfil antropométrico e compara-lo com o índice de performance na natação de crianças com idades entre 7 e 12 anos que fazem aulas de natação no Clube Recreativo Dores de Santa Maria, são apresentados a seguir os resultados referentes à descrição das crianças, nas diversas variáveis. Na Tabela 1 são apresentados os resultados obtidos para a idade, e para as variáveis antropométricas de peso, altura, envergadura e o tempo da performance no teste de 25 metros, em segundos.

Tabela 1. Características da amostra analisada em termos de relação da performance

e da composição corporal no Clube Recreativo Dores, em Santa Maria, RS, em 2007

    A amostra foi composta de crianças pré-púberes de 7 a 12 anos de idade de ambos os sexos iniciantes da pratica de natação. A análise dos dados em termos de comparação entre gêneros mostrou não existirem diferenças estatisticamente significativa entre os grupos, permitindo, desta forma, que a análise pudesse ser realizada considerando o grupo como sendo oriundo de uma única população. Resultados similares já haviam sido apresentados por Damsgaard et al. (2000).

    Com a utilização do índice de correlação do produto momento de Pearson, verificou-se que a medida que aumenta a idade maior também é o peso corporal, a estatura e a própria envergadura dos componentes da amostra.

    De acordo com Baxter, Thompson e Malina (2002), o pico no desenvolvimento físico das meninas é atingido por volta dos 14 anos, posteriormente a este período os meninos passam a demonstrar maior evolução nas variáveis antropométricas em relação às meninas. As meninas em média, iniciam seu estirão de crescimento e pico de velocidade de desenvolvimento de altura em torno de dois anos antes dos meninos. Por esta razão, a amostra do presente estudo se apresenta como sendo homogênea, sem diferenças entre os gêneros, o que é uma característica da faixa etária de 7 a 12 anos.

    Por outro lado, o estudo realizado por Prestes, Leite, Leite, Donatto, Urtado, Bartolomeu Neto, e Dourado (2006) apontam as diferenças antropométricas existentes entre os gêneros nas categorias competitivas de natação, em grupos etários maiores do que o que está sendo analisado neste trabalho.

    Os resultados apresentam ainda uma relação significativa de todas estas variáveis, idade, peso, altura e envergadura com a performance.

    Isso se deve com certeza pela maior estatura que gera maior envergadura permitindo maior tração, provocando maior propulsão do corpo na água. Tanto os meninos como as meninas apresentaram envergaduras significativamente maiores que suas estaturas apresentando relação significativa com a performance no teste de 25 metros. Grimston e Hay apud Prestes, et al. (2006) observaram que os segmentos corporais apresentam uma importância significativa na performance de nadadores, visto que maiores medidas de envergadura permitem desenvolver maior força propulsiva, sendo este um fator primordial para performance na natação.

    Ao analisar-se isoladamente algumas destas variáveis, é interessante observar-se, por exemplo, que a altura de nadadoras americanas com idade pouco acima das que participaram deste estudo (12 -13 anos), são relativamente maiores, como demonstram Richardson, Beerman, Heiss e Shultz apud Schneider (2005), medidas com uma média de 1,52.

    Por outro lado, quando se compara os sujeitos deste estudo, mesmo considerando que ainda não possam ser classificados como atletas, com aqueles que não participam atividades físicas regulares (SCHNEIDER, RODRIGUES e MEYER, 2002), verifica-se uma maior estatura por parte dos iniciantes de natação. Outro estudo tem demonstrado que especificamente nadadores, tanto meninos quanto meninas, tendem a ser mais altos do que não atletas do respectivo gênero. (THEINTZ, HOWALD, WEISS, e SIZONENCO, 1993). A diferença na estatura de nadadores com relação a não atletas pode refletir um crescimento e desenvolvimento e uma maturação precoce em função de uma maior ativação dos hormônios, principalmente o de crescimento, como afirmam Damsgaard et al. (2000).

    Outro fator importante para a performance da natação está relacionado a uma maior envergadura. Análises de nadadores de sucesso em diferentes faixas etárias estão sempre associadas a maiores medidas de envergadura, as quais segundo Grimston e Hay apud Prestes, et al. (2006) representam uma importância significativa na performance por permitir o desenvolvimento de maior força propulsiva.

    A amostra deste estudo, embora não seja composta por atletas mostra também que as maiores envergaduras estão associadas aos melhores resultados no teste de performance em 25 metros.

    As dobras cutâneas foram coletadas com o objetivo de permitir o acesso ao percentual de gordura dos sujeitos do estudo, bem como o estudo do fracionamento da composição corporal. A Tabela 2 apresenta os resultados médios e o desvio padrão de todas as dobras cutâneas coletadas neste experimento (subescapular, tríceps, abdominal vertical, supra ilíaca e panturrilha).

    Embora os resultados destas medidas tenham surpreendido pelo fato de terem sido encontrados valores relativamente maiores nos meninos do que nas meninas, a análise estatística mostrou não existir diferença significativa entre meninos e meninas. O trabalho de Prestes et al (2006) relata meninas com valores de dobras cutâneas mais altas do que as dos meninos. Da mesma forma, Schneider e Meyer (2005), também relatam resultados maiores de dobras cutâneas em favor das meninas.

Tabela 2. Dobras cutâneas de iniciantes em natação do Clube Recreativo Dores, em Santa Maria, RS, em 2007

    A análise das dobras cutâneas, como sendo um fator que pudesse interferir na performance, foi realizado através da correlação, a qual não apresentou valores estatisticamente significativos. Tanto nas meninas como nos meninos os maiores valores de dobras cutâneas foram encontrados na região abdominal.

    Os diâmetros ósseos são apresentados na Tabela 3, sendo possível observar-se que mais uma vez, não foram encontradas diferenças significativas entre meninos e meninas. De acordo com a expectativa dos pesquisadores, as medidas de diâmetros ósseos também não apresentaram relação com os resultados da performance no teste de 25 metros, com exceção à medida do úmero, quando o grupo de nadadores foi analisado como sendo uma única população. Entretanto, não foram encontradas justificativas para esta relação.

Tabela 3. Diâmetros de iniciantes em natação do Clube Recreativo Dores, em Santa Maria, RS, em 2007

    Contrariando os resultados deste estudo, Fortes e Castro (2002) encontraram medidas médias de úmero maior em um grupo de meninos quando comparado com as meninas da mesma faixa etária.

    Os resultados obtidos com as medidas de perímetros são apresentados na Tabela 4, mostrando mais uma vez, não existir diferença estatística entre as médias dos meninos e das meninas.

Tabela 4. Perímetros de iniciantes em natação do Clube Recreativo Dores, em Santa Maria, RS, em 2007

    Mais uma vez, os valores obtidos para os perímetros ósseos não apresentam relação com a performance. O grupo de meninos apresenta uma pequena tendência a valores mais elevados do que o das meninas nas duas medidas. Em idades mais avançadas, são esperadas diferenças mais significativas, nos perímetros, principalmente se forem comparados meninos e meninas púberes com pré-púberes em função do maior aumento da massa muscular neste estágio maturacional, principalmente nos meninos. (HANSEN, BANGSBO, TWISK e KLAUSEN, 1999).

    A análise da composição corporal foi feita com base na técnica do Fracionamento sugerida por Drinkwater apud De Rose e De Rose (1981), que divide o estudo em peso residual, peso ósseo, peso gordo e peso muscular. A esta composição, ainda foi adicionado pelos pesquisadores, o percentual de gordura através da equação de Faulkner apud De Rose e De Rose (1981) e o índice de massa corporal, os quais são apresentados na Tabela 5.

Tabela 5. Composição Corporal de iniciantes em natação do Clube Recreativo Dores, em Santa Maria, RS, em 2007

    Mais uma vez se observa nos resultados da análise da composição corporal que não foram encontradas diferenças estatisticamente significativa entre meninos e meninas. Obviamente, como os resultados das dobras cutâneas já apontavam para uma ligeira tendência em valores maiores em favor dos meninos, o mesmo era esperado para o percentual de gordura, o qual foi calculado à partir daquelas medidas. Mesmo assim, o comportamento estatístico foi exatamente o mesmo, não existindo diferenças entre os gêneros, ao contrário do que foi encontrado por Schneider e Meyer (2005).

    Schneider e Meyer (2005) mostraram em seu estudo valores menores de IMC (17,2 ± 3,1 para meninas pré-púberes e 18,3 ± 2,5 para meninos pré-púberes). Isso pode ter acorrido porque a amostra se compõe de atletas de natação e em treinamento esportivo competitivo, se diferenciando da amostra do presente estudo que se compõe de crianças que fazem aulas de natação, mas não são atletas. Comparando a amostra do presente estudo com a amostra do estudo de Schneider, Rodrigues e Meyer (2002) composta por crianças também não atletas, praticantes somente de aulas de Educação Física uma vez por semana, observa-se valores maiores do percentual de gordura, mostrando que a prática de uma atividade esportiva, mesmo que apenas com o objetivo de iniciação, pode ser responsável por uma diminuição do percentual de gordura, beneficiando os praticantes em termos de saúde e de estética, embora isto seja ainda muito precoce para esta faixa etária.

Conclusões

    Com base nos resultados do perfil antropométrico e das relações destas variáveis com o desempenho em teste de velocidade em 25 metros de nado crawl, foi possível delinear as seguintes conclusões:

  • Não existem diferenças em todas as medidas antropométricas entre os meninos e as meninas que tomaram parte deste grupo de estudo;

  • a maioria das medidas antropométricas do grupo analisado apresenta resultados maiores do que sujeitos de mesma faixa etária, mas que não praticam atividades esportivas;

  • a maioria das medidas antropométricas do grupo analisado apresenta resultados menores do que sujeitos de mesma faixa etária praticantes de natação competitiva;

  • A idade, o peso corporal, a estatura e a envergadura são as únicas variáveis antropométricas que apresentam relação com a performance.

    Estes dados poderão servir como referência para outros grupos de nadadores e para comparações com estudos semelhantes de outras modalidades esportivas. Como sugestão, seria interessante um estudo que comparasse ao longo de um ano ou mais um grupo de atletas de natação com um grupo de não atletas para identificar o perfil de ambos os grupos e quais as principais diferenças antropométricas causadas pelo ano de treinamento e suas relações com o desempenho na natação.

Referências bibliográficas

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  • BAXTER, J. A. D. G.; THOMPSON, A. M. e MALINA, R. M. Growth and maturation in elite young female athletes. Sports Medicine and Anthropometry. 10(1):42-49, 2002.

  • DAMSGAARD, R.; BENCKE, J.; MATTHIESEN, G.; PETERSEN, J. H. e MULLER, J. Is prepubertal growth adversely affected by sport? Medicine and Science in Sports Exercise. 32(10):1698-1703, 2000.

  • DE ROSE, E. H. e DE ROSE, R. Cineantropometria. Prêmio Liselott Diem de Literatura Desportiva. MEC, 1981.

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  • HANSEN, L.; BANGSBO, J.; TWISK, J. e KLAUSEN, K. Development of muscle strength in relation to training level and testosterone in young male soccer players. Journal of Applied Physiology. 87(3): 1141 – 1147, 1999.

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  • SCHNEIDER, P.; MEYER, F. Avaliação antropométrica e da força muscular em nadadores pré-púberes e púberes. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 11(4):209-213, 2005.

  • SCHNEIDER, P.; RODRIGUES, L. e MEYER, F. Dinamometria computadorizada como metodologia de avaliação de força muscular de meninos e meninas em diferentes estágios de maturidade. Revista Paulista de Educação Física. 16:35- 42, 2002.

  • VENKATARAMANA, Y.; SURYAKUMARI, M. V. L.; SUDHAKAR RAO, S.; BALAKRISHNA, N. Effect of changes in body composition profile on VO2max and maximal work performance in athletes. Journal of Exercise Phisiology – online. 7(1):34-39, 2004.

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