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Aspectos gerais sobre paralisia cerebral 

e sua relação com a psicomotricidade

Aspectos generales sobre la parálisis cerebral y su relación con la psicomotricidad

 

*Mestranda em Aspectos Sócio-Culturais do Movimento Humano, DES/UFV, MG

**Graduanda de Educação Física, DES/UFV, MG

***Professora Doutora do Departamento de Educação Física, DES/UFV, MG

Laboratório de Estimulação Psicomotora, LEP

Departamento de Educação Física, DES

Universidade Federal de Viçosa, UFV, Viçosa, MG

(Brasil)

Dallila Tâmara Benfica*

dallilaveloso@yahoo.com.br

Thaynara Rodrigues da Silva*

thaynara.silva@ufv.br

Eveline Torres Pereira***

etorres@ufv.br

 

 

 

 

Resumo

          A Paralisia Cerebral conceituada como encefalopatia crônica não evolutiva da infância constitui um grupo heterogêneo, classificada em espástica ou piramidal (de maior ocorrência); coreoatetósica ou extrapiramidal; atáxica ou mista e de causas diversas, como pré, peri e pós – natal. A realização de um diagnóstico de Paralisia Cerebral correto e precoce é extremamente importante para a criança e para seu desenvolvimento. Quanto a isso, a Psicomotricidade - conteúdo da Educação Física - tem muito a contribuir com a estimulação adequada e necessária de acordo com as necessidades e potencialidades do indivíduo, com qualquer faixa etária. Objetiva-se com essa revisão relacionar as características da Paralisia Cerebral com as possíveis intervenções da Psicomotricidade.

          Unitermos: Paralisia Cerebral. Psicomotricidade. Educação Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Desde 1959, em Oxford, a Paralisia Cerebral passou a ser conceituada como encefalopatia crônica não evolutiva da infância que, constituindo um grupo heterogêneo, tem como elo comum o fato de apresentar predominantemente sintomatologia motora, à qual se juntam, em diferentes combinações, outros sinais e sintomas. (ROTTA, 2002 apud SILVA, 2010).

    O termo “paralisia cerebral” é uma expressão abrangente para diversos distúrbios que afetam a capacidade infantil para se mover e manter a postura e o equilíbrio (GERALIS, 2007). Esses distúrbios são provocados por lesões que ocorrem no cérebro antes, durante ou logo após o nascimento, ou seja, durante o processo de desenvolvimento (por isso é conhecida como um distúrbio do desenvolvimento). Não é uma lesão que afeta músculos e/ou nervos, mas sim a capacidade do cérebro de controlar os movimentos e funções que estas estruturas realizam. Dependendo da sua localização e gravidade, a lesão cerebral que causa os distúrbios de movimento de uma criança também pode causar outros problemas que incluem deficiência mental, convulsões, distúrbios de linguagem, transtornos de aprendizagem e problemas de visão e audição.

    Atualmente, conforme Gersh apud Geralis (2007) comprovou através de uma pesquisa realizada nos Estados Unidos a Paralisia Cerebral é um dos distúrbios do desenvolvimento mais freqüentes, havendo em cada 1000 nascidos, 2 casos.

    Ainda conforme o autor supracitado, a Paralisia Cerebral (PC) é um distúrbio que dura a vida toda, logo, mesmo que uma criança com diagnóstico leve se recupere ainda em fase escolar, ela carregará consigo marcas e limitações tênues por toda sua vida. A forma como ela afetará sua vida dependerá de muitos fatores, dentre eles a forma como a criança aceita sua deficiência, a relação dos pais, dos médicos, dos amigos com aquela criança e a estimulação que ela receberá em sua vida familiar, escolar e social.

    Para compreender o que é a Paralisia Cerebral é necessário entender o que é o “tônus muscular”, visto que ele é a base fundamental para o seu diagnóstico. O tônus muscular, conforme Gersh apud Geralis (2007, p. 16) refere-se “à quantidade de tensão ou resistência ao movimento de um músculo”. Através das alterações que realiza ele é quem nos possibilita manter nossos corpos eretos, sentados e em movimento. Para completarmos um movimento suavemente, é preciso que o tônus envolvido em todos os grupos musculares envolvidos seja equilibrado – o cérebro precisa enviar mensagens a cada grupo muscular para que eles ativem sua resistência adequada e sincronicamente. As crianças com paralisia apresentam algumas dessas regiões de controle do cérebro afetadas (lesionadas), o que acaba comprometendo o ajuste e o controle do tônus muscular. Tal fato pode gerar um baixo tônus muscular (como é o caso de crianças com hipotonia ou plasticidade muscular), um elevado tônus muscular (como ocorre nas crianças hipertônicas ou espásticas) ou gerar uma situação de alta variação de tônus muscular (como é o caso das crianças com tônus flutuante). Independente do tipo de tônus muscular, a criança terá movimentos essências para sua sobrevivência, extremamente comprometidos.

Classificação

    Além do tipo de alteração muscular, a classificação da Paralisia Cerebral também depende da localização da lesão no cérebro e da parte do corpo diretamente afetada pela lesão.

    Quanto à localização da lesão no cérebro, a PC pode ser:

Área do cérebro atingida

Característica dos movimentos

Tipo de paralisia cerebral

Córtex cerebral motor (área que controla os movimentos voluntários)

Trato piramidal (vias que associam o córtex central motor nervos espinais)

Movimentos rígidos e desajeitados, pois os músculos são demasiadamente “tensos” e o seu tônus não é equilibrado.

Piramidal (Espástica)

Tônus muscular aumentado (músculos são tensos e os reflexos tendinosos são exacerbados)

Trato extrapiramidal (áreas que modificam ou regulam o movimento)

Lesão no cerebelo ou nos núcleos da base (coordenação e manutenção tônus muscular e controle da postura)

Presença e associação de movimentos involuntários sem finalidade e fora de controle; (face, braços e tronco = alteração da fala, alimentação, agarrar e habilidades que exigem coordenação)

Extrapiramidal (Coreo-atetóide) ou Distônica Hipotônica

(Tônus muscular diminuído)

Atetósicos: uniformes e lentos Coreicos:rápidos, arrítmicos e de início súbito

Lesões nas áreas piramidal e extrapiramidal

Inicialmente movimentos espásticos. Os movimentos involuntários vão aumentando entre os 9 meses e os 3 anos de idade

Misto

    De forma didática e ilustrativa, abaixo segue à parte do corpo diretamente afetada pela lesão e sua classificação de acordo com Miller (2002), Geralis (2007) e Souza (1994). A denominação paresia presente em todas as seguintes nomenclaturas referem-se à limitação ou fraqueza motora, expressa por relaxação ou debilidade funcional, redução de força muscular, limitação de amplitude de movimento, movimentos sem precisão, baixa resistência muscular localizada e motilidade abaixo do normal, apenas limitada. Sua causa é uma lesão funcional ou orgânica incompleta (parcial) em qualquer ponto da via motora.

Monoparesia

Afeta somente um membro (braço ou perna) em um dos lados do corpo da criança;

Prejuízo leve;

Pode desaparece com o tempo;

Ocorrência rara.

 

Diparesia

Afeta principalmente as pernas;

Tendem a ficar em pé, apoiados nos dedos dos pés, com as pernas cruzadas;

Pode apresentar problemas leves na parte superior do corpo, mas controlam braços, cabeça e tronco para a maioria das atividades cotidianas.

Hemiparesia

Afeta um dos lados do corpo;

Os braços normalmente são mais afetados que as pernas.

Tetraparesia

Afeta o corpo todo – face, tronco, braços e pernas. Maior dificuldade para AVD’s;

Pernas e pés mais prejudicados.

Hemiparesia Dupla

Assim como na tetraplegia, afeta todo o corpo da criança;

Porém, os braços são mais prejudicados;

Maior prejuízo na alimentação e na fala.

Causas

    No que se refere às causas da paralisia cerebral sabe-se que ainda nem todas são conhecidas e que, mesmo as mais comumente faladas ainda apresentam questões inacabadas. As malformações do desenvolvimento e o dano neurológico ao cérebro em desenvolvimento são as duas principais causas de PC, conforme nos aponta Gersh apud Geralis (2007). A primeira inclui distúrbios genéticos, anormalidades cromossômicas com excesso ou falta de material genético, ou escasso suprimento sanguíneo para o cérebro, enquanto a segunda inclui problemas associados com nascimentos prematuros, partos difíceis, complicações clínicas neonatais ou trauma cerebral, além de fatores de risco envolvidos nos períodos pré, peri ou pós-natal.

    Conforme já foi citado, além das debilidades que a Paralisia Cerebral acarreta diretamente à criança, outras condições podem ou não estar associadas ao diagnóstico de PC, sendo alguns deles a Deficiência Intelectual, o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), convulsões, Distúrbios de Aprendizagem, Distúrbios de visão, de fala, de alimentação e Deficiências sensoriais. (GERALIS, 2007).

Diagnóstico

    A realização de um diagnóstico de Paralisia Cerebral correto e precoce é extremamente importante para a criança e para seu desenvolvimento satisfatório. Quanto antes for feito o diagnóstico e conseqüentemente iniciado o trabalho de estimulação adequada, maiores e mais positivos poderão ser os resultados encontrados. Portanto, como partes fundamentais deste processo estão os exames gestacionais, o histórico apurado do parto e dos primeiros anos de vida da criança, a realização dos testes obrigatórios e recomendados, a observação dos marcos importantes dos reflexos e, acima de tudo, a observação constante e minuciosa do dia-a-dia da criança. (MILLER; CLARK, 2002)

    Assim que diagnosticado, preocupar-se-á com a aceitação, adaptação e otimização da condição de Paralisia Cerebral. Sabe-se que este é um ponto bastante delicado e complexo tanto para a criança quanto para seus familiares. Por isso, é fundamental que o tratamento seja multidisciplinar envolvendo profissionais sensibilizados, experientes e altamente capacitados. Nesta equipe devem participar, pelo menos, neurologista, ortopedista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional e educador físico. (REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2010).

A Psicomotricidade enquanto conteúdo da Educação Física

    No que tange este estudo, o educador físico exerce papel fundamental no processo de reabilitação de um indivíduo com Paralisia Cerebral, seja ele uma criança, um adolescente ou um adulto. Independente da idade, a atividade física e o lúdico muito podem auxiliar um paralisado cerebral na execução de suas atividades de vida diária, nas suas atividades de lazer, de trabalho e, principalmente de socialização. (BENFICA, 2009).

    Dessa maneira e de acordo com o desenvolvimento psicomotor do indivíduo a atividade física pode respaldar-se numas das ciências da Educação Física, a Psicomotricidade, a fim de abranger o desenvolvimento funcional de todo o corpo e suas partes. Essa ciência foi gerada a partir da concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.(S.B.P, 1999)

    Geralmente este desenvolvimento está dividido em vários fatores psicomotores. Segundo Fonseca (2009), apresenta sete fatores, os quais são a tonicidade, o equilíbrio, a lateralidade, a noção corporal, a estruturação espácio-temporal e praxias fina e global.

    Alves (2009) delimita algumas áreas de atuação psicomotoras: educação, reeducação e terapia psicomotora.

Educação Psicomotora

    É uma atividade que através da prática psicomotora propicia-se o desenvolvimento das capacidades básicas, sensoriais, perceptivas e motoras, favorece uma organização mais adequada ao desenvolvimento da aprendizagem. Essa intervenção acontece principalmente no âmbito escolar, na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental. Deve, portanto, segundo Barreto (1998), ser ministrada concomitantemente com todas as outras disciplinas e não somente nas “horas para passar o tempo”, como é comum acontecer.

Reeducação Psicomotora

    Essa área de atuação da Psicomotricidade privilegia a princípio, três situações: o alívio do problema, a redução do sintoma e a adaptação ao problema, através da ludicidade e exercícios que trabalhem os fundamentos psicomotores, como por exemplo: expressão verbal, habilidade manual, controle postural, equilíbrio estático e dinâmico, coordenação, lateralidade, estruturação temporal e espacial, conhecimento e integração corporal, grafismo e tônus. Visa resgatar a expressividade, a capacidade de comunicação do sujeito consigo mesmo, com os objetos, com os outros e com o mundo.

Terapia Psicomotora

    É uma terapia a nível corporal que tende a modificar uma organização psicopatológica. Neste âmbito, a intervenção tem como objetivo a utilização do corpo, com seus movimentos e sua expressividade, através de uma linguagem pré-verbal, que mostram os conflitos e dificuldades na relação entre o indivíduo, o outro e o objeto, a serem resolvidos ou minimizados.

    O professor não aborda o sintoma diretamente, ele revive situações passadas através de jogos regressivos, no corpo a corpo através da ludicidade e dos jogos simbólicos, ele trabalha em cima do contexto relacional e afetivo – verbal, corporal, corporal-verbal, vivenciado e estabelecido.

    Sendo assim, atividades físicas bem orientadas promovem o alongamento e o fortalecimento muscular, favorecem melhor desempenho motor e interferem de maneira positiva com relação ao desenvolvimento emocional e social. Ainda auxilia no desenvolvimento das capacidades e habilidades básicas perceptivas, movimentos básicos fundamentais, expressão corporal, comunicação não-verbal, conceitos concretos e abstratos, objetivando melhorar a percepção, o domínio do corpo, a noção corporal e espacial, capacidade de abstração, bem como contribuição ao seu processo de reabilitação.

    Conforme estudos da Rede SARAH (2010), a natação, a dança, a ginástica, o futebol, a equitação ou outras atividades esportivas são, indiscutivelmente, muito mais benéficas para determinado grupo de crianças do que tratamentos fisioterápicos realizados dentro de um hospital ou centro de reabilitação.

    Ao iniciar um programa de estimulação, de educação ou de treinamento desportivo, o primeiro passo é conhecer seu aluno. É conhecer aquele indivíduo a fundo, quem ele é, de onde ele vem, do que ele gosta, do que ele não gosta, com quem ele convive, o que ele faz, o que ele não faz e gostaria de fazer, quais suas potencialidades e quais suas limitações. Conhecer o indivíduo e o contexto no qual ele está cotidianamente inserido é o primeiro ponto. O segundo passo é conhecer a deficiência do aluno. Quais são suas características, seu diagnóstico, suas peculiaridades e os cuidados que devem ser tomados ao lidar com aquele indivíduo. Concomitante e talvez previamente a essas dois passos é essencial e primário que o educador físico estude, saiba e compreenda como se procede todo o processo de maturação e desenvolvimento do ser humano. Desde o nascimento, até a fase final de desenvolvimento. Para que assim, ele saiba identificar, no indivíduo, marcos importantes e pontos a serem estimulados no momento certo. O terceiro passo e não menos importante, é ter coragem para arriscar e experimentar ações e percepções, e paciência para esperar a reposta peculiar do outro, mesmo que ela não seja imediata nem a esperada para determinado estímulo.

    Após esses passos já estarem consolidados, toda tentativa cuidadosa e consciente é válida. O educador físico deve evitar padrões e permitir a descoberta de novas técnicas e possibilidades de movimentos. O brincar e o jogar devem ser eternos aliados na busca de novas vivências motoras, cognitivas e afetivas dos indivíduos com Paralisa Cerebral e, neste aspecto, a Educação Física certamente tem muito a contribuir.

Referências bibliográficas

  • ALVES, R.C.S. Psicomotricidade I. Rio de Janeiro: Editora Wak, 2009.

  • FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Artmed, 2008.

  • GERALIS, E. Crianças com Paralisia Cerebral. Guia para pais e educadores. 2 edição. Porto Alegre: Artmed. 2007.

  • GALLAHUE, O. Compreendendo o desenvolvimento motor de bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Photer, 2005.

  • GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1987.

  • MILLER, G.; CLARK, G. D. Paralisias Cerebrais. Causas, conseqüências e conduta. 1 edição. Barueri – SP: Manole. 2002.

  • BENFICA, D. T. Estudo de caso: análise da contribuição da prática psicomotora nas atividades cotidianas de um paralisado cerebral. In: VII Simpósio de Extensão Universitária, 2009, Viçosa, MG.

  • Redes SARAH de Hospital e Reabilitação. Paralisia Cerebral, Brasília. Disponível em: http://www.sarah.br/ Acesso em: 04 de Outubro de 2010. 17:04hs.

  • SILVA, T. R.; ALVES, F. S.; GOMES, D. P.; DIAS, P. H. P.; PEREIRA, E. T. Estimulação psicomotora e desenvolvimento da imagem corporal de uma paralisada cerebral. Anais do I Simpósio Internacional de Imagem Corporal & I Congresso Brasileiro de Imagem Corporal, Campinas: São Paulo, 2010.

  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE. Disponível em http://www.psicomotricidade.com.br/ acesso em 10/03/09.

  • SOUZA, P.A. O Esporte na Paraplegia e Tetraplegia. Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1994.

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