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Qualidade de vida de pacientes com doença renal crônica em hemodiálise

Calidad de vida de pacientes con enfermedad renal crónica en hemodiálisis

Quality of life in patients with chronic kidney disease on maintenance hemodialysis

 

*Fisioterapeuta

**Fisioterapeuta

Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória pela Universidade Gama Filho (UGF)

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento

da Universidade de Passo Fundo (UPF).

***Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória

pelo Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos (CBES)

Mestranda em Medicina e Ciências da Saúde

pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC RS)

Professora do curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo (UPF)

****Fisioterapeuta. Doutora em Ciências da Saúde (Cardiologia)

pela Fundação Universitária de Cardiologia (IC-FUC)

Professora do curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo (UPF)

Gisela Bosio Lutz*

Cátia Marcon*

Kátia Bilhar Scapini**

Daiana Moreira Mortari*

Carla Wouters Franco Rockenbach***

Camila Pereira Leguisamo****

katiascapini@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: A Doença Renal Crônica (DRC) consiste na perda progressiva e irreversível da função renal, sendo que no seu estágio mais avançado torna-se necessário a terapia renal substitutiva, dentre as quais se encontra a hemodiálise. A qualidade de vida dos doentes renais crônicos é afetada tanto pela patologia quanto pela hemodiálise. Objetivo: Avaliar a qualidade de vida de pacientes com doença renal crônica submetidos à hemodiálise. Método: Pesquisa quantitativa analítica do tipo transversal, composta por 44 pacientes com diagnóstico de doença renal crônica terminal submetidos à hemodiálise em Hospital da região Norte do Rio Grande do Sul. A qualidade de vida foi avaliada através do Questionário Genérico de Qualidade de Vida SF-36. Resultados: Os maiores déficits foram encontrados nos domínios: 1) limitação por aspectos físicos: 25,0 (25,0 – 25,0); 2) capacidade funcional: 30,0 (10,0 – 63,8). Foi observada correlação positiva estatisticamente significativa entre idade e estado geral de saúde (r = 0,53, p < 0,001), e entre tempo de hemodiálise e capacidade funcional (r = 0,30, p < 0,045), limitação por aspectos físicos (r = 0,45, p = 0,002) e aspectos emocionais (r = 0,39, p < 0,01). O sexo feminino apresentou menor pontuação no domínio saúde mental do que o masculino (p = 0,005). Conclusão: Pacientes com DRC submetidos à hemodiálise apresentam redução nos escores de qualidade de vida verificados através do Questionário SF-36, sendo que a idade e o tempo de hemodiálise parecem se correlacionar positivamente com alguns aspectos da qualidade de vida.

          Unitermos: Qualidade de vida. Diálise renal. Doença renal crônica terminal.

 

Abstract

          Introduction: The Chronic Kidney Disease (CKD) consists in progressive and irreversible loss of renal function, and in its advanced stage becomes necessary the renal replacement therapy, among which the hemodialysis is. The quality of life of renal disease patients is affected by its pathology such as by the hemodialysis. Objective: To evaluate the quality of life of renal disease patients on maintenance hemodialysis. Method: Qualitative, analytical and cross-sectional research compound by 44 renal disease patients on maintenance hemodialysis at a hospital of the northern Rio Grande do Sul. The quality of life was assessed by the Medical Outcome Survey-Short-Form 36 (SF-36). Results: The greater deficit was found at: 1) role limitations due to physical problems 25,0 (25,0 – 25,0); 2) physical function 30,0 (10,0 – 63,8). It was observed positive correlation statistically significant between age and general health (r = 0,53, p < 0,001), and between time of dialysis and physical functioning (r = 0,30, p < 0,045), role physical (r = 0,45, p = 0,002) and role emotional (r = 0,39, p < 0,01). The female gender presented a lower punctuation in the mental health domain compared to the male gender. Conclusion: Renal disease patients on maintenance hemodialysis presented a reduction in the quality of life scores assessed by the Medical Outcome Survey-Short-Form 36 (SF-36), and age and time of hemodialysis seem to be positively correlated to some aspects of quality of life.

          Keywords: Quality of life. Renal dialysis. End stage renal disease.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A doença crônica (DRC) é uma patologia crônica progressiva que causa incapacidades e que apresenta alta mortalidade. Em sua fase mais avançada é chamada de doença renal crônica terminal (DRCT), a qual compreende uma taxa de filtração glomerular inferior a 15 ml/min/1,72m2, expressa através da depuração de creatinina endógena. Nesta fase, o paciente encontra-se intensamente sintomático e suas opções terapêuticas são os métodos de terapia renal substitutiva (TRS) ou o transplante renal1,2.

    Atualmente existem mais de um milhão de pessoas em terapia renal substitutiva em todo o mundo3. No Brasil, estima-se que em 2008 havia mais de 87 mil pessoas em tratamento dialítico, sendo a hemodiálise o tipo TRS mais utilizada4.

    A hemodiálise apesar de garantir a vida dos pacientes também está associada a algumas complicações agudas à sua aplicação, como, hipotensão arterial, cãibras, prurido, arritmias cardíacas, hipoxemia, reações alérgicas, entre outras5. Além disso, o doente renal crônico submetido à hemodiálise passa, em média, 40 horas mensais na unidade de Terapia Renal Substitutiva, o que pode comprometer a sua condição física e psicológica e causar problemas pessoais, familiares e sociais. De acordo com Rudnicki6, o tratamento da DRCT inclui uma série de cuidados, além das repercussões psicológicas da realização periódica das sessões de hemodiálise. Sendo assim, a própria doença e seu tratamento ocasionam sintomas que alteram de forma radical o funcionamento global da pessoa para adaptar-se às características da doença, o que é um processo extremamente complexo, com inúmeras implicações e conseqüências de variadas ordens, inclusive sobre a qualidade de vida desses pacientes.

    O impacto da DRCT sobre a qualidade de vida (QV) decorre de vários fatores: convívio com a doença irreversível, esquema terapêutico rigoroso, mudança de hábitos de vida e das atividades sociais, utilização de vários medicamentos e dependência de uma máquina7, além de limitações na sua vida diária como perda do emprego, alterações da imagem corporal, restrições dietéticas e hídricas8.

    As pesquisas que abordam a qualidade de vida englobam tanto a morbidade clínica causada diretamente pelo estado de doença quanto às influências da doença e das terapêuticas sobre as atividades cotidianas e satisfação de viver A qualidade de vida pode ser mensurada através do questionário genérico SF-36, através do qual se avalia a percepção do indivíduo quanto à sua saúde e às repercussões da doença na vida do indivíduo9.

Objetivos

    Avaliar a qualidade de vida e verificar o perfil de pacientes com doença renal crônica terminal em hemodiálise, além de verificar associações entre qualidade de vida, idade e tempo de tratamento hemodialítico e comparar os escores de qualidade de vida de acordo com o gênero.

Métodos

Delineamento do estudo

    O presente estudo é de caráter quantitativo, analítico do tipo transversal.

Amostra

    A amostra foi composta por 44 indivíduos com diagnóstico de doença renal crônica terminal em tratamento hemodialítico em um Hospital da região Norte do Rio Grande do Sul. A coleta ocorreu durante os meses de setembro e outubro de 2008.

    Os critérios de inclusão da amostra foram: indivíduos com DRCT em tratamento hemodiálitico há pelo menos três meses e com idade superior a 18 anos. Foram excluídos do estudo indivíduos com prejuízo cognitivo, incapazes de responder ao questionário de qualidade de vida.

Protocolo de avaliação

    Primeiramente, após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, foi aplicada uma ficha de avaliação, contendo os seguintes dados: nome do participante, data de nascimento, idade, sexo, endereço, profissão, estado civil, peso, altura, tempo em hemodiálise, doença de base, presença de outras patologias, história de tabagismo, etilismo, paresia, fadiga, cãibras, edema e dor muscular, além de história de DRC, diabetes mellitus e hipertensão na família e tratamento medicamentoso em uso para a doença ou outra patologia.

    Foi utilizado como instrumento de avaliação o Questionário de Qualidade de Vida SF-36. O questionário SF-36 foi criado por Ware e Sherbourne10, originalmente na língua inglesa, podendo ser utilizado como questionário e formulário, tendo no Brasil sua tradução e validação realizada por Ciconelli et al9.

    Quanto à aplicação do questionário, todos pacientes foram abordados na segunda hora de tratamento hemodialítico por ser o momento em que se encontram hemodinamicamente mais estáveis, sendo que o questionário foi aplicado sempre pelo mesmo avaliador, o qual foi previamente treinado.

Tratamento estatístico

    Os dados foram analisados no SPSS 15.0 para Windows. As variáveis numéricas contínuas foram expressas como média ± desvio padrão ou mediana (percentil 25 – percentil 75) conforme apresentaram distribuição normal ou não, respectivamente. As variáveis categóricas foram descritas como freqüência absoluta e freqüência relativa. A normalidade das variáveis numéricas contínuas foi avaliada através de histogramas e do teste de Kolmogorov-Smirnov. A associação entre idade, tempo de diálise e qualidade de vida foi avaliada através do teste Rho de Spearman. A diferença entre os sexos nos domínios do SF-36 foi testada através do teste U de Mann-Whitney.

Considerações éticas

    Este estudo seguiu os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki bem como a Resolução do CNS 196/96 e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo (nº 223/2008). O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado por todos os participantes.

Resultados

    A amostra do estudo compôs-se dos 44 pacientes com DRCT submetidos à hemodiálise no Hospital de Caridade de Carazinho-RS, com idade variando entre 23 a 89 anos. A glomerulonefrite (29,5%) e a nefropatia diabética (29,5%) foram as causas mais comuns de DRC na população estudada. As características demográficas e clínicas da amostra estão descritas na Tabela 1. A mediana de tempo em hemodiálise foi 24 (12-62) meses.

Tabela 1. Características da amostra

Variável

Estatística

Idade (anos)

54,6 ± 18,2

Sexo masculino

22 (50,0%)

Estado civil

 

Solteiro

7 (15,9%)

Casado

27 (61,4%)

Desquitado

3 (6,8%)

Viúvo

7 (15,9%)

Grau de instrução

 

Analfabeto

8 (18,2%)

1º grau incompleto

28 (63,2%)

2º grau completo

5 (11,4%)

3º grau incompleto

1 (2,3%)

3º grau completo

2 (4,5%)

Tabagismo

 

Tabagista

7 (15,9%)

Ex-tabagista

4 (9,1%)

Não-tabagista

33 (75,0%)

Ingesta de álcool

2 (4,5%)

Doença de base

 

Glomerulonefrite

13 (29,5%)

Nefropatia diabética

13 (29,5%)

Policistite renal

8 (18,2%)

Nefropatia hipertensiva

5 (11,4%)

Uropatia obstrutiva

1 (2,3%)

Não especificada

4 (9,1%)

Doenças associadas

 

HAS

31 (90,5%)

Diabetes melllitus

13 (29,5%)

Antecedentes familiares

 

HAS

19 (43.2%)

Diabetes mellitus

12 (27,3%)

DRC

11 (25,0%)

HAS: hipertensão arterial sistêmica; DRC: doença renal crônica

Variáveis expressas como freqüência absoluta (freqüência relativa) ou média±desvio padrão

    Em relação à co-morbidades, a maioria dos pacientes (81,8%) relatou cãibra, 23 (52,3%) paresia, 23 (52,3%) fadiga e 11 (25%) dos pacientes relataram edema (Tabela 2).

Tabela 2. Co-morbidades

Variável

Freqüência

Paresia

23 (52,3%)

Um segmento

2 (4,5%)

Dois segmentos

12 (27,3%)

Três segmentos

1 (2,3%)

Quatro segmentos

8 (18,2%)

Fadiga

23 (52,3%)

Um segmento

Dois segmentos

11 (25,0%)

Três segmentos

12 (27,3%)

Quatro segmentos

Cãibra

36 (81,8%)

Um segmento

1 (2,3%)

Dois segmentos

17 (38,6%)

Três segmentos

Quatro segmentos

18 (40,9%)

Edema

14 (31,8%)

Um segmento

11 (25,0%)

Dois segmentos

2 (4,5%)

Três segmentos

Quatro segmentos

1 (2,3%)

Variáveis expressas como freqüência absoluta (freqüência relativa)

    No que se refere à qualidade de vida, todos os pacientes responderam ao Questionário de Qualidade de Vida SF-36. O SF-36 é composto por 36 itens que avaliam 8 domínios: capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, limitação por aspectos emocionais e saúde mental. Os resultados de cada componente variam de 0 a 100, em que 0 seria o pior e 100 o melhor escore de qualidade de vida9.Os valores mais elevados foram obtidos no domínio saúde mental e os mais baixos na limitação por aspectos físicos, e na capacidade funcional. Quando comparados os resultados para cada domínio do Questionário SF-36 entre os gêneros, houve diferença estatisticamente significativa somente para saúde mental (p = 0,005), cujos homens apresentaram valores maiores do que as mulheres (Tabela 3).

Tabela 3. Qualidade de vida global e por sexo

Domínio

SF-36

Global

(n=44)

Masculino

(n=22)

Feminino

(n=22)

p

CF

30,0 (10,0 – 63,8)

35,0 (10,0 – 65,0)

25,0 (10,0 – 55,0)

0,804

LAF

25,0 (25,0 – 25,0)

25,0 (25,0 – 25,0)

25,0 (25,0 – 25,0)

0,237

Dor

60,5 (22,8 – 83,5)

61,5 (35,0 – 100,0)

52,0 (20,0 – 61,0)

0,261

EGS

32,0 (31,3 – 47,0)

32,0 (31,0 – 47,0)

36,0 (32,0 – 47,0)

0,475

VIT

55,0 (30,0 – 83,8)

65,0 (45,0 – 85,0)

40,0 (25,0 – 65,0)

0,226

AS

50,0 (50,0 – 75,0)

50,0 (50,0 – 50,0)

50,0 (50,0 – 50,0)

0,254

AE

33,3 (33,3 – 33,3)

33,3 (33,3 – 33,3)

33,3 (33,3 – 33,3)

0,802

SM

80,0 (40,5 – 98,0)

86,0 (64,0 – 96,0)

48,0 (36,0 – 84,0)

0,005

Variáveis expressas como mediana (percentil 25 – percentil 75); teste U de Mann-Whitney; nível de significância p<0,05

    Na análise das associações entre idade, tempo de hemodiálise e os domínios do SF-36 observou-se correlação positiva e estatisticamente significativa entre idade e estado geral de saúde (r = 0,53, p < 0,001), tempo de hemodiálise e capacidade funcional (r = 0,30, p < 0,045), tempo de hemodiálise e limitação por aspectos físicos (r = 0,45, p = 0,002) e entre tempo de hemodiálise e aspectos emocionais (r = 0,39, p < 0,01), conforme descrito na Tabela 4. Não foram verificadas correlações significativas para as demais associações.

Tabela 4. Associação entre idade, tempo de hemodiálise e qualidade de vida

  

CF

r

p*

LAF

r

p*

Dor

r

p*

EGS

r

p*

VIT

r

p*

AS

r

p*

AE

r

p*

SM

r

p*

Idade

-0,160

0,299

-0,049

0,750

-0,231

0,131

0.526

<0,001

0,063

0,687

-0,231

0,137

-0,029

0,853

-0,194

0,207

Tempo Hemo

0,303

0,045

0,448

0,002

-0,038

0,808

0,123

0,425

0,263

0,084

0,042

0,789

0,387

0,010

0,062

0,691

CF: capacidade funcional; LAF: limitações por aspectos físicos; EGS: estado geral de saúde; VIT: vitalidade; AS: aspectos sociais; AE: aspectos emocionais; SM: saúde mental

r: coeficiente de correlação; p: valor de probabilidade;* Teste Rho de Spearman; nível de significância p<0,05

Discussão

    Além dos índices de mortalidade, morbidade e outros tipos de variáveis clínicas, a qualidade de vida tem sido relatada como um importante indicador da efetividade dos tratamentos oferecidos aos pacientes. A qualidade de vida em indivíduos com DRC pode ser influenciada tanto pela doença como pelo próprio tratamento11. Pacientes portadores de DRC que realizam diálise renal possuem menor qualidade de vida quando comparados à população geral12-14.

    Estudos têm demonstrado que pacientes doentes renais crônicos em tratamento hemodialítico apresentam diminuição da qualidade de vida quando avaliados por meio do questionário genérico de qualidade de vida SF-368,15-18, o que vai de encontro com os resultados do presente estudo, onde todos os domínios do SF-36 mostraram-se alterados e os menores escores foram obtidos na capacidade funcional e na limitação por aspectos físicos. Em concordância com nossos achados Castro et al17 também encontraram menores valores no domínio limitação por aspectos físicos, porém o outro domínio mais afetado foi a vitalidade. No entanto, diferentemente de nossos resultados, Santos19 verificou as menores pontuações nos domínios estado geral de saúde e aspectos emocionais.

    O domínio capacidade funcional do SF-36 avalia o desempenho do indivíduo nas atividades diárias, como se vestir, tomar banho, subir escadas, andar, entre outros. O domínio limitação por aspectos físicos analisa o impacto da saúde física no desempenho das atividades diárias e/ou profissionais9. Os baixos escores apresentados nesses domínios podem ser explicados pela baixa capacidade aeróbica e força muscular que apresentam os pacientes que sofrem de DRC submetidos à hemodiálise, o que acarreta uma baixa tolerância ao exercício, sendo provável que eles tenham problemas para realização de atividades ocupacionais e até mesmo AVDs20-22.

    O domínio saúde mental foi o que obteve valores mais altos em nosso trabalho. O mesmo ocorreu em estudo realizado por Cattai et al23 utilizando o mesmo instrumento para avaliação da qualidade de vida. Estudos têm demonstrado que a diálise renal influencia negativamente de forma mais intensa os aspectos físicos do que mentais de qualidade de vida24-26. Entretanto, Vidal et al15 diferentemente dos nossos achados, observaram uma menor pontuação para a saúde mental seguido do domínio vitalidade, em 305 pacientes em tratamento hemodialítico no Chile.

    No presente estudo quando comparados os domínios do SF-36 entre os sexos, verificamos que as mulheres apresentam valores mais baixos relacionados à saúde mental do que os homens (p=0,005). Lopes et al27 observaram que mulheres tratadas cronicamente por hemodiálise apresentaram escores menores do que os homens em todas as escalas genéricas do Kidney Disease Quality of Life Short Form (KDQOL-SF) que são escalas originárias do SF-36. Em contrapartida, Santos19 e Kalantar-Zadeh et al28 não verificaram diferença significativa entre as pontuações do questionário de qualidade de vida SF-36 de acordo com o gênero.

    Em nosso estudo, a idade se correlacionou positivamente com o estado geral de saúde (r = 0,53, p < 0,001) e não obteve correlação significativa com os demais domínios do SF-36. Rebollo et al29 verificaram que pacientes doentes renais crônicos idosos que realizam hemodiálise apresentam escores maiores de qualidade de vida do que pacientes jovens, sendo que as diferenças foram estatisticamente significativas nos 4 domínios que definem o componente físico do questionário SF-36. Ainda de acordo com Valderrábano et al11, os indivíduos idosos geralmente se mostram mais satisfeitos em relação às suas vidas na diálise e aceitam melhor suas limitações quando comparados a pacientes mais jovens.

    Todavia, diferentemente de nossos resultados, estudos realizados por Merkus et al14 na Holanda e por Castro et al17 no Brasil verificaram a existência de correlação negativa entre idade e capacidade funcional, aspectos físicos, dor e vitalidade.

    Em relação ao tempo total de tratamento hemodialítico, verificamos correlação positiva com capacidade funcional (r = 0,30, p< 0,045), limitação por aspectos físicos (r = 0,45, p = 0,002) e aspectos emocionais (r =0,39, p < 0,010). Santos e Pontes25 indo de encontro aos nossos achados, observaram que maior tempo em diálise se associou à melhora de aspectos mentais de qualidade de vida em portadores de DRC e sugerem que a adaptação psicológica, como ocorre em outras doenças crônicas, poderia ser a explicação para esse fato. Ainda, segundo Wu et al30, há uma aumento geral na funcionalidade e percepção de bem-estar após 1 ano de diálise, tanto por diálise peritoneal ou hemodiálise.

    Entretanto, alguns estudos verificaram a ocorrência de correlação negativa entre tempo de hemodiálise e o componente físico do questionário SF-368 e entre tempo de hemodiálise e aspectos emocionais17.

Conclusão

    Verificamos através do presente estudo que pacientes com DRC submetidos à hemodiálise apresentam redução nos escores de qualidade de vida, observados através do Questionário SF-36, principalmente nos domínios limitação por aspectos físicos e capacidade funcional. O domínio saúde mental se mostrou significativamente menor no sexo feminino quando comparado os gêneros. Ainda observamos que a idade se correlacionou positivamente com o domínio estado geral de saúde e que o tempo total de tratamento hemodialítico se correlacionou positivamente com capacidade funcional, limitação por aspectos físicos e aspectos emocionais. Contudo, mais estudos abordando a qualidade de vida nessa população são necessários, visto que ocorreram algumas limitações do nosso estudo, como a heterogeneidade e o reduzido número da amostra.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 150 | Buenos Aires, Noviembre de 2010
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