O aleitamento materno e a síndrome do respirador oral La lactancia materna y el síndrome de respiración bucal Breastfeeding and mouth breathing |
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Fisioterapeuta, Especialista em Neurofuncional pela Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Mestranda em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo |
Juliana Barbosa Goulardins (Brasil) |
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Resumo O aleitamento materno promove o correto desenvolvimento motor-oral e apresenta benefícios imunológicos, nutricionais e emocionais capazes de prevenir alergias e infecções respiratórias, que estão diretamente relacionadas à respiração oral. O objetivo deste trabalho foi descrever a relação do aleitamento materno e a síndrome do respirador oral, através de revisão da literatura de 1999 a 2009. A sucção da mama favorece o desenvolvimento global e das funções de mastigação, deglutição e respiração, favorecendo o equilíbrio entre as estruturas. Há evidências de que o aleitamento materno é um fator preventivo da síndrome do respirador oral. A amamentação traz benefícios nutricionais, imunológicos, emocionais, além de ser fundamental para o estabelecimento do padrão respiratório adequado na criança. Unitermos: Aleitamento materno. Síndrome do respirador oral.
Abstract Breastfeeding promotes proper oral motor development and provides immunological, nutritional and emotional benefits that can prevent allergies and respiratory infections, which are directly related to mouth breathing. The objective of this study was to describe the relationship between breastfeeding and oral breathing syndrome, trough review of literature from 1999 to 2009. The suction breast promotes global development and the functions of chewing, swallowing and breathing, promoting a balance between the structures. There is evidence that breastfeeding is a preventative factor of chronic mouth breathing. Breastfeeding has nutritional benefits, immunological, emotional, and is fundamental to the establishment of appropriate breathing pattern in children. Keywords: Breastfeeding. Mouth breathing.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A síndrome do respirador oral é caracterizada por distúrbios dos órgãos da fala e articulações faciais devidos ao padrão de respiração predominantemente oral. Geralmente está associada com deformidades da face, posicionamento dos dentes e alterações posturais corporais, podendo evoluir para doença cardiorrespiratória e endocrinológica, distúrbios do sono, do humor e do desempenho escolar. Pode estar relacionada com fatores genéticos, hábitos orais inadequados e obstrução nasal de gravidade e duração variáveis1,2.
A presença de hábitos orais deletérios pode comprometer o equilíbrio da musculatura orofacial, o crescimento craniofacial e propiciar alterações oclusais dependendo do período, da intensidade e da freqüência do hábito3,4.
O aleitamento materno tem papel importante, pois promove o correto desenvolvimento da musculatura facial e das demais estruturas do sistema estomatognático1,3. Além disso, há os benefícios imunológicos, nutricionais e emocionais capazes de prevenir alergias e infecções respiratórias, que estão diretamente relacionadas à respiração oral.
Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi descrever a relação do aleitamento materno e a SRO, enfocando as manifestações clínicas da respiração oral que podem ser influenciadas pela amamentação.
Para isso, foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados Pubmed, Scielo e Lilacs, consultando os artigos publicados entre 1999 e 2009.
Desenvolvimento motor-oral
A sucção da mama durante o aleitamento materno tem papel fundamental no desenvolvimento motor-oral adequado, pois estimula os movimentos e funções dos órgãos fono-articulatórios (OFAs): lábios, língua, mandíbula, maxila, bochechas, palato mole, palato duro, soalho da boca, musculatura oral e arcadas dentárias5. Desssa forma, promove o correto desenvolvimento da musculatura facial e das demais estruturas do sistema estomatognático1,3.
Na fase inicial do desenvolvimento, a alimentação do recém-nascido é garantida pelos reflexos orais de busca (reflexo dos pontos cardeais dos lábios), sucção e deglutição; além dos reflexos protetores da deglutição (mordida, vômito e tosse)6.
Além disso, o recém-nascido apresenta características que facilitam a amamentação: depósito de tecido gorduroso nas bochechas (sucking pads), espaço intra-oral pequeno, retração de mandíbula, ausência de dissociação dos movimentos de língua e mandíbula, proximidade de palato e epiglote e respiração nasal5.
A habilidade de sucção aprimora-se ao longo do tempo; ao longo do aumento da idade gestacional há um incremento do volume de leite ingerido em função da maior eficiência e adequação do ritmo de sucção7,8,9. Por volta do quarto ou quinto mês, o crescimento das estruturas orais, a maturação nervosa e as possibilidades de exploração oral adequadas da criança levam à substituição da condição reflexa pela movimentação oral voluntária6.
Assim, a amamentação contribui não só para o desenvolvimento global, crescimento, nutrição e saúde, mas também, através da sucção, para o desenvolvimento dos OFAs e das funções de mastigação, deglutição e respiração, favorecendo o equilíbrio entre as estruturas10.
O principal estímulo ao crescimento orofacial é a amamentação, pois através dela, a toda a musculatura da metade inferior da face é estimulada, proporcionando o crescimento da estrutura óssea mandibular. Nas crianças amamentadas ao seio, a tonicidade da musculatura facial aumenta (exceto de bucinadores), o que contribui para evitar a síndrome do respirador oral.
Hábitos orais e respiração oral
Os hábitos orais são padrões de contração muscular aprendidos da motricidade oral, que se relacionam ao sistema fonoarticulatório e conseqüentemente às funções de articulação de fonemas, sucção, mastigação e deglutição. Hábitos orais deletérios tornam-se fatores etiológicos de maloclusões de caráter muscular, esquelética e dentária11.
A falta da sucção fisiológica, pelo desmame precoce, pode interferir no desenvolvimento motor-oral, tornando possível a instalação de maloclusões, respiração oral e alteração motora-oral5.
O trabalho de Trawitzki3 e colaboradores verificou que crianças consideradas respiradoras nasais, sem problemas respiratórios, foram amamentadas preferencialmente pelo seio materno nos seis primeiros meses de vida. Por outro lado, as crianças que não foram amamentadas ou foram, por um período restrito de até três meses de idade, desenvolveram problemas respiratórios, tornando-se respiradoras orais.
Os hábitos orais viciosos mais comuns são: sucção de lábio, dedo, bochecha ou objetos, chupeta e mamadeira, que podem provocar alterações na arcada dentária e na mordida, hipotonia de OFAs, respiração bucal e assim, gerarem conseqüências na morfologia do palato duro, alterações de posicionamentos dentais, movimentação de língua, com risco aumentado para o aparecimento de mordida aberta e alterações da motricidade oral11.
No estudo de Cavassani11 e colaboradores foram verificadas as alterações fonoaudiológicas, odontológicas e otorrinolaringológicas de crianças de baixa renda portadoras de hábitos orais de sucção e, a maioria da amostra apresentou respiração predominantemente oral, com aprofundamento de palato, rosto alongado e estreito, olhos caídos, lábios entreabertos, hipotônicos e ressecados, sulco nasolabial profundo e alterações da postura corporal.
Leite e colaboradores observaram que crianças, de dois a onze anos de idade, que receberam mamadeira apresentaram 40% a mais de respiração oral5,12.
Trawitzki et al3 demonstraram com uma amostra de 62 indivíduos, com idade entre três anos e três meses a seis anos e 11 meses, que as crianças respiradoras orais apresentaram um menor período de aleitamento materno e um histórico de hábitos orais presentes comparadas às crianças respiradoras nasais.
Fatores de proteção a doenças respiratórias do aleitamento
Além dos estímulos ao sistema estomatognático, a amamentação tem os benefícios, já conhecidos, nutricionais, imunológicos e emocionais. Desse modo, a ausência do aleitamento materno está associada à intolerância ao leite de vaca e a riscos de contrair doenças como infecções respiratórias e diarréicas 3,13,14.
Doenças respiratórias como rinites alérgicas (mais freqüente) e não-alérgicas, hiperplasia adenoamigdaliana e hipertrofia de cornetos inferiores são etiologias freqüentes na respiração oral15,16. O estudo de Abreu1 e colaboradores investigou a etiologia da respiração oral em crianças de três a nove anos e verificou que as principais causas foram: rinite alérgica (81,4%), hipertrofia de adenóides (79,2%), hipertrofia de amígdalas (12,6%) e desvio obstrutivo do septo nasal (1,0%).
O leite materno pode fornecer proteção contra infecções e alergias respiratórias pelos seus componentes e agentes como linfócitos T, macrófagos, imunoglobulina A (IgA) e anticorpos IgA (específicos contra agentes patogênicos e toxinas bacterianas), além de apresentar baixo teor de alérgenos e propriedades antiinflamatórias e imuno-moduladoras17,18.
A obstrução nasal é um sintoma freqüente em doenças alérgicas de vias aéreas e resulta em respiração oral, podendo interferir no desenvolvimento infantil por alterações no crescimento craniano e orofacial, na fala, na alimentação, na postura corporal, no sono e no desempenho escolar19.
Muitos estudos associam o aleitamento materno e a hospitalização por doenças respiratórias, indicando a amamentação como um fator de proteção ao desenvolvimento dessas doenças. Quigley20 e colaboradores investigaram o efeito do aleitamento na hospitalização por doenças respiratórias de crianças até os oito meses de vida, verificou-se que o aleitamento materno exclusivo protege contra a hospitalização por doenças respiratórias, inferindo que 27% das internações nessa população poderiam ser evitadas pelo aleitamento materno exclusivo e 25% pelo aleitamento parcial.
Dessa forma, a obstrução nasal por doenças respiratórias pode levar a síndrome do respirador oral e suas decorrentes alterações orofaciais, o que torna necessário o diagnóstico e atuação precoce para impedir as conseqüências não só no desenvolvimento motor oral, como na postura corporal e nos aspectos da qualidade de vida do portador.
Conclusão
Há evidências de que o aleitamento materno é um fator preventivo da síndrome do respirador oral. A amamentação traz benefícios nutricionais, imunológicos, emocionais, além de ser fundamental para o estabelecimento do padrão respiratório adequado na criança.
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