efdeportes.com

Avaliação dos hábitos alimentares e de atividade física em 

escolares do sexo masculino da cidade de São João del Rei, MG

Evaluación de los hábitos alimentícios y de actividad física en escolares de sexo masculino de la ciudad de Sao Joao del Rei, MG

Relationship between physical usual activity and food habits in schoolboys

 

*Licenciadas em Educação Física pela

Universidade Federal de São João del-Rei, São João del-Rei, MG

**Docente do Depto. das Ciências da Educação Física e Saúde

Universidade Federal de São João del-Rei, São João del-Rei, MG

***Instituto de Ciências da Saúde

Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG

(Brasil)

Adriele Cristina Feliciano*

Juliana Rodrigues Arantes*

Márcia Aparecida de Miranda*

Andréa Carmen Guimarães**

Gustavo Ribeiro da Mota***

Alessandro de Oliveira**

alessandro@ufsj.edu.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo avaliar os hábitos alimentares e de atividade física em escolares do sexo masculino da cidade de São João del Rei, MG. Foram avaliados 138 escolares, com idade entre 6 e 10 anos, de três escolas estaduais da cidade de São João del Rei - MG. O nível de atividade física e os hábitos alimentares foram determinados por meio de dois questionários sendo um realizado para o escolar e outro para seus pais ou responsável, tendo como base o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ). Foram mensurados o peso corporal e a estatura dos escolares para o cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC). A análise estatística foi descritiva e demonstrada por meio de percentuais. Os resultados demonstraram que os alimentos mais consumidos são massas, carnes/ovos, verduras/legumes, respectivamente. Além disso, foi observada uma maior realização de atividades físicas de alta intensidade. O IMC demonstrou que 12,32% dos escolares avaliados se encontravam em estado de baixo peso; 65,22% no peso ideal; 21,74% sobrepeso e 0,72% obesos. Após a discussão dos resultados conclui-se que apesar dos valores antropométricos encontrados estarem próximos do ideal, faz-se necessária uma maior conscientização dos pais, escolas e órgãos competentes para uma melhoria nos hábitos alimentares e de realização de exercícios físicos no intuito de evitar o aumento das doenças relacionadas aos distúrbios no peso corporal.

          Unitermos: Escolares. Atividade física. Hábitos alimentares.

 

Abstract

          The aim of this study was value the level of physical usual activity and his relation with the food habits at schoolboys. For this purpose, 138 schoolboys were valued, with age between 6 and 10 years-old, of three state schools in São João del-Rei - MG. The level of physical activity and the food habits were determined through two questionnaires (one for schoolboy and other for his parents), based on the International Physical Activity Questionnaire IPAQ. The Body Mass Index was calculated using a height and body weight measures. The statistical analysis was descriptive. Results showed like more consumed foods: masses, meats, eggs, greens and vegetables. Beside, there was observed a more practice the physical activities in high intensity. The BMI demonstrated that 12,32 % schoolboys in the underweight; 65,22 % in the normal range; 21,74 % in overweight and 0,72% obese. After these results we concluded that it’s necessary a big awareness of parents, schools and competent organs to avoid the increase of the diseases that have relation with physical weight.

          Keywords: Schoolboys. Physical activity. Food habits.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Uma dieta saudável e a prática regular de atividades físicas são hábitos essenciais na promoção e manutenção de uma boa saúde ao longo da vida (WHO, 2004). Contudo, atualmente há um aumento progressivo do sedentarismo e a adoção de hábitos alimentares inadequados, favorecendo o surgimento de várias doenças, entre elas a obesidade que atua como fator desencadeante para diversos distúrbios ligados a doenças do tipo crônico-degenerativas. (CDC, 2008; Fernandes et al., 2007; Bouchard, 2003).

    Segundo o Center for Disease Control and Prevention (CDC, 2008) a obesidade é uma doença multifatorial onde há um desequilíbrio entre o consumo e o dispêndio de energia, levando a um acúmulo excessivo de gordura corporal.

    A Organização Mundial de Saúde estima que um bilhão de adultos esteja com sobrepeso e há 300 milhões de obesos em todo mundo.

    Porém, o fato que desperta a atenção mundial é o aumento desses índices entre crianças e adolescentes, pois, calcula-se que uma em cada dez crianças esteja acima do peso (2007). No Brasil a incidência de sobrepeso e obesidade infantil cresceu de 4 para 14% nos últimos 30 anos (Saba, 2003).

    Esse aumento alarmante é considerado por muitos pesquisadores como sendo resultado do padrão dietético atual, que é rico em alimentos industrializados, com alto teor de açúcares e gorduras e baixo valor nutritivo. Quando as crianças não encontram esse tipo de alimento em casa podem facilmente adquiri-los na cantina da escola (CDC, 2008; Silva et al., 2005).

    Barreto et al. (2007), acredita que atualmente o Brasil esteja em um período de transição nutricional onde os altos índices de desnutrição estão sendo progressivamente substituídos pelos altos índices de sobrepeso e obesidade.

    Associado a esta alimentação inadequada há o fato das crianças e adolescentes terem trocado a prática de esportes e brincadeiras mais intensas por longos períodos na frente da televisão, computador ou videogame (Fernandes et al., 2010, CDC, 2008; Giugliano, Carneiro, 2007).

    Os hábitos alimentares e de atividade física assumidos na infância e adolescência sofrem grande influência dos hábitos dos pais e tendem a se estabilizar na vida adulta. Mendes, et al., (2006) demonstra em seu estudo realizado com adolescentes e os seus respectivos pais uma forte relação entre a família e fatores como a obesidade, tabagismo e sedentarismo em adolescentes.

    Em um estudo realizado por Jesus et al., (2006) foi encontrada uma incidência de sobrepeso em torno de 17% entre crianças de 6 e 10 anos de idade na cidade de São João del-Rei-MG.

    Além do sedentarismo e má-alimentação, fatores genéticos, endócrinos, psicológicos e ambientais são considerados causadores da obesidade. Alguns pesquisadores afirmam também que a baixa escolaridade dificulta o acesso à informação sobre qualidade de vida; as limitações financeiras impedem o acesso a alimentos mais saudáveis como frutas e legumes e o ambiente em que vivem as populações mais carentes não oferece espaços para lazer e prática de atividades físicas (Janssen et al., 2006; Bouchard, 2003).

    De acordo com CDC, (2008) cerca de 1/3 dos pré-escolares e metade dos escolares obesos tornam-se adultos obesos.

    Sendo assim, torna-se essencial a realização de intervenções de caráter preventivo e educativo. A análise antropométrica é uma grande ferramenta para acompanhamento do crescimento de crianças e adolescentes (WHO,1995).

    Tendo em vista a faixa etária a ser acompanhada, a escola torna-se o campo de pesquisa mais acessível, permitindo ao profissional de Educação Física avaliar e acompanhar o crescimento de seus alunos (Barreto et al., 2007; Beck et al, 2007; Fernandes et al., 2007). Desta forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar os hábitos alimentares e de atividade física, bem como, relacionar estas variáveis com parâmetros antropométrico em escolares do sexo masculino da cidade de São João del Rei (MG).

Materiais e métodos

    Este estudo foi realizado em parceria com o Projeto de Extensão “Crescer com Saúde” da Universidade Federal de São João del-Rei-MG (UFSJ). Tal projeto realiza aferições antropométricas (peso, estatura, circunferências regionais e dobras cutâneas) em escolares pré-puberes do sexo masculino, de 5 escolas estaduais da cidade de São João del-Rei (MG), visando diagnosticar o perfil antropométrico dos alunos e encaminhar aos responsáveis, por meio de uma carta explicativa, o estado físico do seu dependente.

Cuidados éticos

    O estudo cumpriu todas as normas e diretrizes que regulamentam a pesquisa envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde em sua Resolução 196/96. Foi elaborado um termo de consentimento juntamente com os responsáveis pelo Projeto Crescer com Saúde. Esse termo foi enviado a todos os pais dos alunos integrados ao Projeto. Só participaram do presente estudo, os alunos que retornaram com o termo de consentimento assinado por seus pais ou responsáveis.

População e amostra

    Os pré-requisitos para a participação do voluntário foram: 1) realizar a análise antropométrica com a equipe do Projeto Crescer com Saúde; 2) responder o questionário elaborado para os escolares; 3) retornar com o questionário de seus pais devidamente respondido.

    A população alvo do Projeto Crescer com Saúde compreendeu um total de 354 alunos. No entanto, a amostra deste projeto foi constituída de 283 escolares do sexo masculino, com idades entre 6 e 10 anos, matriculados em 3 das 5 escolas estaduais avaliadas (A, B e C). Dos questionários distribuídos para os alunos participantes do projeto apenas 138 retornaram das respectivas escolas [A (n = 35), B (n = 42) e C (n = 61)].

Instrumentos utilizados

Nível de atividade física e hábitos alimentares

    Para avaliar o nível de atividade física e os hábitos alimentares dos pais ou responsáveis pelos alunos que participaram do estudo, foi elaborado e sugerido para este estudo um questionário com questões objetivas e discursivas, tendo como base o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ). Este fora enviado aos pais/responsáveis juntamente com o termo de consentimento e, posteriormente, devolvido ao grupo de pesquisadores por meio das escolas participantes.

    Para avaliar o nível de atividade física e os hábitos alimentares dos alunos, foi formulado e aplicado um segundo questionário com questões objetivas e discursivas.

    No intuito de avaliar o gasto energético das atividades físicas relatadas nos questionários foi utilizada a unidade de medidas Equivalente Metabólico (MET).

Composição corporal

    Para avaliar a composição corporal dos sujeitos participantes foram utilizados os dados antropométricos coletados pela equipe do Projeto Crescer com Saúde. Utilizaram-se dados referentes à estatura e peso corporal, a partir dos quais se analisou o Índice de Massa Corporal (IMC). Para análise e comparação dos resultados encontrados no IMC utilizou-se a tabela normativa elaborada por Conde e Monteiro (2006).

Coleta de dados

    Após o recebimento dos termos de consentimento, devidamente assinados, bem como os questionários respondidos pelos pais, iniciaram-se as coletas dos dados antropométricos dos alunos. O questionário destinado aos alunos foi aplicado no mesmo dia que as avaliações antropométricas do Projeto Crescer com Saúde. Visando facilitar a compreensão das questões contidas no questionário, as pesquisadoras fizeram a leitura das mesmas para cada um dos sujeitos participantes da pesquisa.

Análise estatística

    Foi utilizado o programa Excel, componente do sistema operacional Microsoft Office, versão 2003. A análise dos dados foi realizada de forma descritiva sendo os mesmos apresentados sob a forma de percentuais em relação ao número de avaliados, média e desvio-padrão.

Resultados

    Dos 138 questionários recebidos, 73,91% foram respondidos pelas mães e 26,09% respondidos pelos pais dos escolares participantes.

    De acordo com as respostas obtidas quanto à prática de atividades físicas, o resultado demonstra uma notável realização de atividades de alta intensidade pelos sujeitos analisados, sendo que dentre as mais mencionadas estão os jogos com bola e os “piques” (Figura, 01). Além disso, 98,55% dos escolares afirmaram gostar e participar das aulas de Educação Física, principalmente por causa das brincadeiras.

    Torna-se importante observar o número elevado de respostas obtidas relativa a atividades sedentárias, especialmente na Escola C. Lembrando que nesta questão poderiam ser marcadas mais de uma resposta.

Figura 1. Atividades mais realizadas pelos escolares no período em que não estão na escola. Onde Est (Estáticas = até 1,5 METs);

 BI (Baixa Intensidade = entre 1,5 e 3,0 METs); MI (Média Intensidade = entre 3,0 e 4,0 METs) e AI (Alta Intensidade = maior que 4,0 METs)

    Foi avaliado o estímulo dos pais à prática de atividades físicas por meio de questionamento aos pais e aos filhos. O resultado pode ser verificado nas figuras 2 e 3.

    Dos 138 pais participantes apenas 62 afirmaram realizar atividades físicas. Os que não realizam exercícios têm como principais justificativas a falta de tempo e a indisposição; além de fatores ligados ao desgaste pela jornada de trabalho, tendo em vista que 63 pais afirmaram trabalhar mais de 8 horas/dia e outros 60 trabalham entre 4 e 8 horas/dia. A jornada de trabalho também é justificativa para a diminuição no tempo passado com os filhos (Figura 4).

Figura 4. Período de tempo, por dia, que os pais ficam com seu filho

    Foi questionado aos pais quais os alimentos preferidos por seus filhos. O resultado pode ser visto na Tabela 1:

Tabela 1. Alimentos que o filho mais gosta

    Sob o ponto de vista dos pais, é significativamente baixa a preferência das crianças por doces, refrigerantes, salgados, salgadinhos e frituras. No entanto, ao serem questionados sobre o tipo de alimento que mais consomem fora do horário de almoço e jantar, os escolares, contradizendo seus pais, demonstraram preferência por pães/biscoitos, laticínios (especialmente os achocolatados), salgadinhos e doces.

    Quanto aos alimentos mais consumidos no almoço e jantar, os escolares mencionaram um consumo significativo de massas, feijão, carnes, legumes e verduras sendo tal consumo confirmado pelos pais.

    Foi avaliado o nível de escolaridade dos pais nas três escolas que participaram do presente estudo. Na escola A 58,52% das mães e 50,0% dos pais possuem apenas o Ensino Fundamental Incompleto; na escola B esses valores caem para 27,5% (mães) e 34,2% (pais); na escola C 25,76% das mães e 22,06% dos pais. No lado oposto, a escolaridade de nível técnico ou superior foi declarada por 2,94% das mães e 7,14% dos pais na escola A; 25,0% das mães e 23,69% dos pais na escola B; 24,23% das mães e 27,95% dos pais na escola C.,

    Quanto à renda familiar (Figura 5), a escola C se destacou como a de renda mais elevada e a escola A, a de renda mais baixa.

Figura 5. Renda familiar mensal

    As três escolas analisadas neste estudo possuem cantinas que oferecem doces, balas, salgadinhos e salgados em geral, refrigerante, dentre outros. No presente estudo, pôde-se observar uma prevalência maior de crianças que afirmam consumir alimentos comprados na cantina da escola sendo que salgados, refrigerantes e doces foram os produtos mais citados. Os escolares poderiam responder mais de um alimento, bem como selecionar mais de uma das opções abaixo (figura 6).

Figura 6. Alimentos que os escolares afirmam consumir com maior freqüência na escola

    Um número significativo de escolares (n = 128) também afirmou trazer merenda de casa. Os principais alimentos mencionados foram os pães/biscoitos, laticínios (iogurte ou achocolatado) e os sucos. Ao contrário dos tipos de alimentos já citados, as frutas foram mencionadas por apenas 8 dos 138 escolares avaliados.

    Do número total de participantes, 81 também afirmaram consumir a merenda oferecida pela escola. Apenas a Escola C possui uma nutricionista que prepara o cardápio; esse é variado e sempre oferece verduras e legumes, seja em sopas ou saladas.

    Na Escola B o cardápio possui uma grande quantidade de frios como salsicha, lingüiça, presunto, mussarela e hambúrguer. Esses alimentos, geralmente, são oferecidos juntamente com uma massa.

    Na Escola A o cardápio é composto basicamente de massas, servidas com legumes ou verduras. Nas escolas A e B o cardápio é elaborado pelas funcionárias responsáveis pelo preparo da merenda.

    O presente estudo avaliou a imagem que os pais passam aos filhos quanto ao seu corpo; o resultado pode ser visto na Figura 7.

Figura 7. O que seus pais dizem sobre o seu corpo?

    O assunto também foi questionado aos pais e o resultado pode ser visto na figura 8.

Figura 8. Como os pais acham que está o corpo de seu filho

    Visando verificar até que ponto a opinião dos pais interfere na visão que os filhos têm de seu próprio corpo, foi solicitada a opinião pessoal dos escolares. O resultado pode ser observado na Figura 9.

Figura 9. Visão que o escolar tem de seu corpo

    Com o objetivo de verificar a compatibilidade entre as respostas, tanto dos pais quanto dos filhos, e a massa corporal real dos escolares analisados, foi calculado o Índice Massa Corporal (IMC), com base nos dados obtidos pelas análises antropométricas do Projeto Crescer com Saúde. Os resultados podem ser observados na Figura 10:

Figura 10. Valores de IMC obtidos pelos escolares nas três escolas avaliadas, classificados de acordo com Conde, Monteiro (2006).

Discussão

    O presente estudo teve como objetivo avaliar os hábitos alimentares e de atividade física em escolares do sexo masculino da cidade de São João del Rei - MG.

    O resultado obtido em relação à prática de atividades físicas correspondeu à realidade encontrada na grande maioria dos estudos já realizados. No presente estudo ficou constatado que meninos têm maior disposição para atividades físicas intensas como os piques e corridas. Pierine et al. (2006) já afirmavam que a literatura aponta para esta tendência. Tendência esta reafirmada por Giugliano, Carneiro (2004) ao concluírem que 63,8% dos meninos praticavam esportes e apenas 43,5% das meninas tinha a mesma atitude. No entanto, os autores descobriram também que as horas de sono e a permanência sentado ocupavam 75% da rotina diária dos escolares.

    Muitos estudos têm analisado o estilo de vida das crianças e adolescentes. Alguns trabalhos como os citados anteriormente, além de Silva et al. (2006) encontraram taxas significativas de sedentarismo entre as crianças e adolescentes avaliados.

    Outro fator que tem recebido atenção nas pesquisas sobre atividade física é o tempo gasto assistindo televisão. No presente estudo onde foi detectada uma prevalência significativa de atividades físicas estáticas; assistir televisão, jogar videogame e usar o computador respondem por 73,34% das mesmas. Pimenta, Palma (2001) encontraram taxa elevada de obesidade e uma associação importante com o tempo dedicado à televisão. Entre os meninos, a média de tempo semanal dedicada à televisão foi de 1014,4 minutos, enquanto as atividades físicas estavam presentes em apenas 588,5 minutos semanais. As conclusões do estudo mostraram que quanto maior o tempo assistindo televisão, maior o percentual de gordura corporal e menor o tempo dedicado à prática de atividades físicas.

    Os pais têm papel fundamental no estímulo dos filhos à prática de exercícios físicos. Ao serem questionados sobre o assunto, 77,54% dos escolares que compõem a amostra afirmaram que seus pais estimulam a realização de exercícios físicos. Estudos como o realizado por Golan e Crow (2004) mostram que só estimular a prática não é suficiente, os pais devem dar o exemplo para que os filhos tenham motivação e persistência para a realização de atividades físicas regulares.

    Devido a jornada de trabalho dos pais, muitas vezes as crianças ficam em casa sozinhas geralmente assistindo televisão. Grande parte das propagandas divulgam alimentos não nutritivos e ricos em calorias (Mello, Luft, Meyer, 2004). Para Golan e Crow (2004), as crianças são vulneráveis à mídia; ver esses anúncios frequentemente as leva a pedir para que os pais comprem aqueles alimentos. Para tentar compensar a ausência na vida dos filhos os pais acabam comprando o que foi pedido. Além disso, enquanto assistem televisão as crianças tendem a comer principalmente lanches e guloseimas. No estudo realizado por Pelegrini e Silva (2007), com escolares entre 10 e 15 anos de idade, concluiu que 85,71% deles ingeriam algum tipo de alimento enquanto assistiam televisão, jogavam videogame ou usavam o computador.

    Os pais são peças-chave no processo de educação alimentar de seus filhos. Eles têm a oportunidade de oferecer desde cedo uma alimentação variada e nutritiva às crianças, pois, são responsáveis pelo cardápio e preparo dos alimentos. Além disso, Golan, Crow (2004) afirmam haver uma forte associação entre os hábitos alimentares das crianças e o de seus pais. Pois, as crianças tendem a gostar mais dos alimentos que são consumidos com maior freqüência por sua família. Essa afirmação é comprovada pelos dados do presente estudo, tendo em vista que as respostas dos pais e dos filhos quanto aos alimentos mais consumidos nas principais refeições foram semelhantes.

    Outros fatores relevantes na educação alimentar das crianças são o nível de escolaridade dos pais e a renda mensal da família. A última Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período de 2002-2003 encontrou uma estreita relação entre o estado nutricional de crianças e adolescentes e a renda familiar. Pesquisas do Banco Mundial (2005) revelam que:

    Nos países em desenvolvimento, a prevalência de obesidade, geralmente, aumenta com a renda. Nos estudos de Fernandes et al,(2007) e Brasil, Fisberg, Maranhão(2007) foi encontrada uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes de escolas privadas e/ou escolares que possuem maior poder aquisitivo. Contudo, a obesidade também tem aumentado entre as classes menos favorecidas, visto que os alimentos de preços mais acessíveis na maioria das vezes têm baixo valor nutritivo e favorecem a obesidade (Anjos, Muller, 2006; Banco Mundial, 2005; Silva et al., 2005).

    Como geralmente as mães são as responsáveis pela alimentação da família, seu nível de escolaridade interfere diretamente nas escolhas nutricionais. Para Golan, Crow (2004), o conhecimento nutricional das mães, bem como a preocupação em prevenir doenças foi associado positivamente com o consumo de frutas e vegetais pelas crianças, e negativamente associado com a ingestão total de gorduras. Estudos sugerem que a baixa escolaridade das mães está associada com um maior risco de sobrepeso e obesidade em seus filhos (Giugliano, Carneiro, 2004). Contradizendo essas afirmações, nos resultados do presente estudo, a escola A que apresentou o maior número de pais e mães com baixo nível de escolaridade foi também a que apresentou maior índice de baixo peso (49%)

    Muitas vezes o problema da má-alimentação não está só em casa. A maior autonomia associada ao acesso cada vez mais precoce da criança ao dinheiro tem arruinado os esforços de muitos pais para oferecer aos filhos uma dieta saudável (Golan, Crow, 2004). As cantinas escolares são catalisadores importantes nesse processo, pois, em sua maioria têm finalidade comercial e mostram certa resistência em adquirir produtos que, apesar de serem mais saudáveis, não são muito consumidos pelos alunos. Entre esses alimentos estariam as frutas, sanduíches e sucos naturais. Assim, as crianças encontram na escola um ambiente propício para o consumo desenfreado de alimentos pouco nutritivos e altamente calóricos, o que pode auxiliar no desenvolvimento da obesidade (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2006).

    Há necessidade de conscientização dos pais quanto à importância de uma alimentação nutritiva no processo de crescimento e desenvolvimento de seus filhos. Também é de suma importância preparar merendas nutritivas para que as crianças levem para a escola, evitando dar dinheiro para que eles comprem alimentos pouco nutritivos nas cantinas. E é essencial que toda a família participe do processo de reeducação alimentar.

    Na adoção de hábitos alimentares saudáveis é fundamental ter o acompanhamento de um nutricionista, pois, dietas mal elaboradas podem exercer um efeito negativo.

    A participação do nutricionista também é essencial nas escolas, auxiliando na organização do cardápio e preparo da merenda. Porém, como pôde ser verificado neste estudo, apenas uma das escolas possuía acompanhamento de uma nutricionista. Esse é um dos pontos-chave no processo de prevenção da obesidade infantil, e merece ser tratado com mais atenção pelas autoridades do setor de Educação e Saúde (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2006).

    Segundo a WHO (2007), é preciso que toda a população se empenhe para mudar seus hábitos alimentares, valorizando o consumo de frutas, vegetais, legumes e grãos integrais e reduzindo o consumo de alimentos ricos em gorduras e açúcares.

    Barreto et al., (2007), Costa, Cintra e Fisberg (2006) e Silva et al. (2002) consideram que a educação alimentar e o incentivo à prática de atividades físicas nas escolas, desde as idades mais precoces, são essenciais no combate e prevenção do sobrepeso e obesidade. Mello, Luft e Meyer (2004) complementam a idéia dos autores acima afirmando que, além das medidas educacionais são necessárias medidas legislativas que controlem a divulgação de propagandas estimulando o consumo de alimentos não-nutritivos (voltadas principalmente ao público infantil). E medidas tributárias que favoreçam a comercialização de produtos saudáveis a preços mais acessíveis.

    Sobrepeso e obesidade tornam-se patologias a serem tratadas o mais rápido possível, devido aos prejuízos físicos, psicológicos e sociais causados. Todos esses distúrbios são agravados pelas cobranças da sociedade e os padrões de beleza impostos pela mídia. Golan, Crow (2004) ressaltam que a televisão expõe as crianças a padrões de beleza que valorizam a magreza e contraditoriamente estimula também um maior consumo de fast foods. Essa contradição pode confundir ainda mais as crianças fazendo com que busquem alcançar o padrão imposto pela mídia, entrando em processos de anorexia nervosa ou bulimia (Bouchard, 2003). Podem ainda, devido à ansiedade, aumentar a ingestão de alimentos, entrando num quadro de sobrepeso ou obesidade e agravando seu estado de saúde.

    Os distúrbios psicológicos relacionados ao peso corporal trazem consigo uma visão distorcida do próprio corpo. Por isso, os pais são peças-chaves na formação da personalidade de seus filhos, podendo afetar e/ou influenciar de maneira benéfica, ou não, a visão que os mesmos têm de seu corpo (Golan, Crow, 2004; Bouchard, 2003). No presente estudo foi possível verificar que a opinião dos pais influencia na visão que o filho tem de seu corpo. Pois, 54,35% dos escolares afirmaram que, de acordo com a visão dos pais, estavam gordos ou magros. Quando foi solicitada a opinião pessoal dos escolares, 52,9% deles afirmaram que se sentiam gordos ou magros. Entretanto, quando observamos as respostas dos pais, 53,62% classificaram os filhos como estando no peso normal e 46,38% declararam que seus filhos estavam gordos ou magros. Houve uma contradição entre as respostas dos pais e dos filhos, contudo, uma explicação mais completa sobre o porquê deste ocorrido, exigiria um estudo mais aprofundado do relacionamento familiar dos participantes deste estudo, bem como o grau de interferência da mídia nos resultados acima.

    O único estudo antropométrico com escolares existente até então na cidade de São João del Rei – MG tinha sido realizado nas escolas públicas da cidade pela equipe do projeto Crescer com Saúde. Neste, Jesus, Adão e Oliveira (2006) encontraram 17% das crianças entre 6 e 10 anos de idade com índices de massa corpórea superiores a 25,0 kg/m2. No presente estudo pode-se verificar que este valor subiu para 21,74%. Esse resultado supera o encontrado por Costa, Cintra, Fisberg (2006), que realizaram um estudo com crianças de 7 a 10 anos de escolas públicas e particulares, e diagnosticaram 14,8% de sobrepeso para o sexo masculino. Supera também o trabalho realizado por Giugliano, Carneiro (2004), com alunos de 6 a 10 anos da cidade de Taguatinga-DF, que levando em consideração o IMC/idade, encontrou uma prevalência de sobrepeso de 16,7% no sexo masculino.

    No entanto muitos estudos também encontraram valores superiores como o de Brasil et al. (2007) onde os meninos de 6 a 11 anos apresentaram 35,4% de excesso de peso e 31,8% de sobrepeso; utilizando a classificação recomendada pelo CDC em 2000. Silva et al., (2005) encontraram já na idade pré-escolar 22,2% de sobrepeso e 13,8% de obesidade; nos escolares foi encontrado 12,9% de sobrepeso e 8,25 de obesidade em estudo realizado com meninos e meninas de diferentes condições socioeconômicas.

    Porém, o resultado mais surpreendente, e preocupante, foi o alto índice de baixo peso na Escola A (49%). Considerando a amostra total do presente estudo, a prevalência de baixo peso foi de 12,32%. Um valor superior (21%) foi encontrados por Salomons, Rech, Loch (2007), em meninos de 6 a 10 anos, da cidade de Arapoti-PR. No estudo de Costa, Cintra e Fisberg (2006), que considerou o percentil 5 como limiar para classificação de baixo peso, verificou-se que 4,2% dos meninos encontravam-se abaixo deste patamar; e o percentual de baixo peso foi maior nas escolas públicas (4,5%) do que nas particulares (3,2%), da cidade de Santos-SP.

    É possível verificar através dos dados obtidos pelo IBGE (2002-2003) que no Brasil obesidade e desnutrição coexistem. Dessa forma, o resultado encontrado no presente estudo pode ser tanto um reflexo do padrão alimentar regional, quanto da coexistência de obesidade e desnutrição no país. Torna-se relevante a realização de novos estudos abordando o tema.

Conclusão

    Após a análise e discussão dos dados obtidos, pode-se concluir que os escolares de 6 a 10 anos do presente estudo realizam em sua maioria atividades físicas de alta intensidade. No entanto, é prudente observar que o número de crianças nesta faixa etária em estado sedentário também é relevante.

    Torna-se necessário a conscientização dos pais e responsáveis para o fato que incentivar a prática de atividades físicas sem dar o exemplo pode não surtir o efeito desejado.

    Além disso, é fundamental intervir no sentido de planejar e orientar sob o aspecto nutricional não somente os pais ou responsáveis, mas também a escola, tendo em vista que essa não possui profissional na área de Nutrição para a realização do planejamento adequado das refeições a serem oferecidas, bem como para orientar sobre a disponibilização de alimentos saudáveis nas cantinas.

    Faz-se necessária também uma análise mais aprofundada do papel da mídia e da opinião dos pais sobre a visão que o escolar tem de seu próprio corpo.

    Apesar dos dados antropométricos apontarem uma maior prevalência de indivíduos com peso normal, os índices de sobrepeso foram significativos e por isso é fundamental o acompanhamento destes parâmetros ao longo dos anos por um profissional de Educação Física. Essa é uma importante ferramenta para prevenir a obesidade infantil em todo o país.

Referências bibliográficas

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 150 | Buenos Aires, Noviembre de 2010
© 1997-2010 Derechos reservados