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Final do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2001, 

São Caetano x Atlético Paranaense: uma análise dos 

discursos da mídia impressa paulista e paranaense

Final del Campeonato Brasileño de Fútbol de 2001, Sao Caetano vs. Atlético Paranaense:

un análisis de los discursos de los medios impresos paulistas y paranaenses

 

*Orientadora

Universidade Federal do Paraná, UFPR

(Brasil)

Anna Wal | Carolina BotelhoEduardo Ronchi  

Gilberto SilvaLuis Kubiski | Rafael Pereira Macedo 

Natasha Santos

rafa_skysurf@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Fazendo uma comparação entre matérias de jornais de Curitiba e São Paulo e a expectativa das torcidas desses dois locais, esse artigo procura analisar as diferenças entre os discursos dos meios de comunicação e as expectativas nos dias que atencederam a final do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2001, entre o Clube Atlético Paranaense e a Associação Esportiva São Caetano. Para essa análise utilizou-se a metodologia da Análise do Discurso, desenvolvida por Eni Orlandi, e chegou-se à conclusão de que existe uma certa parcialidade na mídia esportiva.

          Unitermos: Campeonato Brasileiro de Futebol de 2001. Futebol. Mídia impressa.

 

Abstract

          Making a comparation between newspapers notes of Curitiba and Sao Paulo and the twister expectatiom of both places, this paper aims to analyse the means of comunication discourses differences and the expectation on days before the final match of 2001 Brazilian´s Soccer Championship, between Clube Atletico Paranaense and Sport Association Sao Caetano. This analysis utilized the Discourse Analysis´ methodology, developed by Eni Orlandi, and the conclusion is that there is a kind of parciality on sportive media.

          Keywords: 2001 Brazilian´s Soccer Championship. Soccer. Press media.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol é um dos esportes mais apreciados e praticados em todo o mundo. No Brasil, em especial, ele adquiriu um lugar de grande destaque no imaginário das pessoas, tornando-se um espetáculo que encanta milhões de torcedores (PRONI, 2000). Para muitos torcedores, o futebol é, inclusive, parte construtiva de um estilo de vida próprio (TOLEDO, 1996, p. 114). Quando o Campeonato Brasileiro de Futebol – o mais importante da modalidade no país – chega à sua reta final, todos os brasileiros voltam a atenção para esse evento. Por conseqüência, os meios de comunicação, buscando atender o seu público com informações do interesse geral, também ampliam o foco no futebol (PRONI, 2000). As notícias relacionadas a esse esporte, aos clubes envolvidos nas partidas decisivas e a todo o entorno da competição tornam-se mais numerosas e detalhadas. Jornais, revistas, programas de televisão, de rádio, enfim, todos os meios e veículos trabalham intensamente para noticiar o que acontece nos gramados e clubes, considerando-se que essas matérias são lucrativas já há muito tempo, como explica José Carlos Marques:

    É dessa maneira que o esporte passa a ocupar, timidamente no início, as páginas dos principais diários brasileiros - primeiramente sem especialização dos jornalistas, que atuavam de maneira totalmente amadora. Mas não tardaria para que as seções esportivas ganhassem cada vez mais espaço, a ponto de se tornarem, no final do século XX, o alvo de maiores patrocínios dentro do jornal nas épocas de Copa do Mundo. (MARQUES, 2002, p. 21)

    No ano de 2001, os dois clubes envolvidos na disputa pelo título de campeão brasileiro foram a Associação Esportiva São Caetano e o Clube Atlético Paranaense. A participação das duas equipes na grande final tornou essa uma decisão inédita, disputada por dois clubes que nunca tinham sido campeões brasileiros. Portanto, esse fato gerou um grande interesse na partida. Além disso, em 2001 foi também o primeiro campeonato disputado no século XXI.

    Definitivamente, atípica é o melhor adjetivo para definir a final do Campeonato Brasileiro de 2001. São Caetano e Atlético-PR se encontram hoje, no Estádio Anacleto Campanella, em São Caetano do Sul, para aquela que é considerada a 'partida da vida' de ambos os clubes. O título é inédito tanto para paulistas quanto para paranaenses (O ESTADO DE SÃO PAULO, 23/12/01, Caderno Esportes, p. 1).

    Assim, essa final de campeonato foi muito noticiada e comentada. No entanto, será que houve diferenças de posicionamento entre os meios paulistas e os meios paranaenses? Eles foram imparciais ou há nuances de "bairrismo"? Esse artigo tem como objetivo analisar a mídia impressa, especificamente as notícias que saíram na semana que antecedeu o jogo decisivo, realizado no dia 23 de dezembro de 2001, no Estádio Anacleto Campanella, em São Caetano – SP. Os jornais escolhidos para a comparação são “O Estado de São Paulo” (paulista, de circulação nacional e restrito, direcionado a um público mais esclarecido), “Gazeta do Povo” (regional e também restrito) e “Tribuna do Paraná” (regional e com caráter sensacionalista). Os preceitos esboçados no livro “Análise do Discurso”, de Eni Orlandi, foram utilizados como base para a comparação das matérias de jornais paulistas e paranaenses, auxiliando, assim, na conclusão. A mídia impressa às vésperas da partida final do Campeonato Brasileiro de 2001 No dia 23 de dezembro de 2001 o Atlético Paranaense teve a maior conquista de sua história, vencendo o São Caetano e sagrando-se o campeão brasileiro de futebol de 2001 (O ESTADO DE SÃO PAULO, 24/12/2001). Essa partida final, como era de se esperar, gerou um grande número de notícias da mídia nacional. A final daquele ano foi disputada em dois jogos, sendo que, no primeiro, disputado em Curitiba, o Atlético saiu vitorioso por 4 x 2 (TRIBUNA DO PARANÁ, 21/12/01; GAZETA DO POVO, 20/12/01). Para a segunda partida e, portanto, a decisiva, o Atlético tinha a vantagem de perder por um gol de diferença e ainda assim ser o campeão (TRIBUNA DO PARANÁ, 21/12/01; GAZETA DO POVO, 20/12/01). Entretanto, a disputa deu-se em São Caetano, fora da "casa" atleticana, o estádio Joaquim Américo, um ícone de identidade histórica do torcedor com o clube e um palco que trás bons resultados para a equipe. André Mendes Capraro, ao tratar da relação entre as identidades histórica do estádio e clubística do torcedor atleticano, recorre a Vinícius Coelho ("coxa-branca") e Carneiro Neto (atleticano), que justificam:

    o centro nervoso rubro-negro continua sendo a Baixada, onde nasceu o Internacional em 1912, e onde se realizou o primeiro jogo oficial do Campeonato Paranaense, entre América e Internacional, em 1915. O estádio Joaquim Américo é a fonte de energia atleticana (CARNEIRO & COELHO In Capraro, 2004, p. 27).

    O jogo decisivo situou-se em um contexto singular, pois nenhum dos clubes possuía tal título e o campeonato de 2001 foi o primeiro do novo milênio (O ESTADO DE SÃO PAULO, 23/12/01). Principalmente o fato de ser um título inédito e de grande importância (maior título do futebol nacional) para as duas equipes gerou muitos comentários nos jornais da época.Em Curitiba, prevalecia a expectativa em torno do time paranaense, cuja participação na final desse campeonato era então inédita: "É hoje. A partir das 16 horas, em São Caetano, o Atlético estará a 90 minutos da concretização de seu maior sonho, a conquista do título de campeão brasileiro. Pode até perder por um gol de diferença" (GAZETA DO POVO, 23/12/01). Essa matéria foi publicada pela Gazeta do Povo – um dos mais importantes jornais paranaenses – no dia do último jogo, com a manchete "Curitiba é rubro-negra". Com o trecho citado, é possível perceber a tendência do jornal pelo time local. Isso nos traz a hipótese de que as mídias tendem a ter suas matérias voltadas de forma a agradar seu público leitor, isto é, a cidade se tornaria rubro-negra pelo fato de ser esta a cor da única equipe que representava Curitiba, e por extensão o Paraná, no campeonato mais importante a nível nacional. Essa hipótese é ainda reforçada por Eni Orlandi ao afirmar que: "Dessa maneira, esse mecanismo dirige o processo de argumentação visando seus efeitos sobre o interlocutor" (ORLANDI, 2005, p. 39) Esse mecanismo é, segundo a autora, a “atencipação”, que diz que todo sujeito tem a capacidade de experimentar e colocar-se no lugar de seu interlocutor, para, assim, poder argumentar de forma a produzir determinado efeito desejável nele. Utilizando-se de conceitos do escritor e semiólogo italiano Umberto Eco (1984), é possível também classificar o discurso da mídia esportiva como alienante e, portanto, sem uma grande preocupação com a imparcialidade.A fala de Eco contra a mídia esportiva é forte. Para ele:

    Em vez de se julgarem os atos do ministro das Finanças (para o que é preciso entender de aconomia e de outras coisas), discutem-se os atos do treinador; em vez de se criticarem as posições do deputado, critica-se a posição do atleta; em vez de se perguntar (pergunta difícil e obscura) se o ministro fulano assinou ou não pactos ainda mais obscuros com o poder sicrano, pergunta-se se a partida final ou decisiva terá sido fruto do acaso, da forma atlética, ou de alquimias diplomáticas. O discurso futebolístico requer uma competência não vaga, decerto, mas de uma forma geral, restrita, bem concentrada; permite assumir posições, expressar opiniões, propor soluções sem que ninguém seja detido ou fique por isso exposto (ECO, 1984, p. 231).

    Dessa maneira, as mídias impressas publicariam notícias pensando em agradar os seus leitores (interlocutores). No entanto, antes de tornar essa afirmativa verdadeira, é necessário comparar a notícia paranaense com uma paulista.Sob o título de "São Caetano X Atlético Paranaense: Final é pouco, é a 'partida da vida'", “O Estado de São Paulo” descreve na capa de seu caderno esportivo uma matéria equilibrada, falando dos dois times.

    A grande final é marcada também pela justiça, tanto no aspecto positivo como no negativo. De um lado, o time do ABC destaca-se com a defesa menos vazada (sofreu 30 gols). Do outro, o Rubro-Negro tem o melhor ataque (67 gols marcados) (O ESTADO DE SÃO PAULO, 23/12/01, Caderno Esportes, p. 1).

    Esse texto mostra que, para o jornal paulista, o melhor era noticiar o jogo e suas perspectivas e não a empolgação da torcida com o time local. Em uma análise primária, o trecho descarta a existência de uma tendência paulista para o clube da sua região, o que poderia ser justificado pelo alcance de circulação do veículo, que extrapola os limites da região paulista, atingindo leitores de outros estados. Além disso, a equipe paulista não possuía um grande contingente de torcedores, o que não gerou uma pressão para o jornal da região criar empatia com o leitor noticiando a favor desse time. No entanto, outras fontes veiculadas ao longo da semana prévia à decisão serão também utilizadas para se chegar a uma afirmação final. Durante a semana em questão, a “Gazeta do Povo” publicou muitas matérias a respeito dos dois times (com maior ênfase na equipe curitibana), mostrando os jogadores que participariam da decisão, a expectativa da torcida, dos treinadores e dirigentes dos clubes e a condição do estádio Anacleto Campanella: "Kleberson e Alex em busca do ouro: Destaques do Atlético disputam título de melhor jogador do Campeonato Brasileiro" (GAZETA DO POVO, 20/12/01, Caderno Esportes, p. 3); "Os donos do Azulão: Nairo Ferreira e Luís Tortello são os homens fortes do time paulista" (Ibidem, p. 4); "Com irreverência, torcida da bengala desafia atleticanos: idosos comandam a organizada mais irreverente e fiel do ABC paulista" (Ibidem); "Concentração com descontração: na fase final do campeonato, elenco atleticano foge do sacrifício com muito bom humor" (Ibidem, 21/12/01, Caderno Esportes, p. 2); " Fé no título: religiosidade ajuda jogadores e técnico do Atlético na preparação para a final" (Ibidem, 22/12/01, Caderno Esportes, p. 1); "São Caetano protege o time e a cidade: crença move o Azulão e faz o santo italiano ganhar estátua no centro da cidade" (Ibidem); ou, ainda: "Mais problemas com ingressos: Atlético recebe 1800 entradas e seus torcedores podem dividir espaço com torcida do Azulão" (Ibidem, p. 2). Outro jornal paranaense, a “Tribuna do Paraná”, também noticiou as duas equipes, mas também focou mais o Atlético... "Picerni dá folga para aliviar elenco" (TRIBUNA DO PARANÁ, 21/12/01, p. 9); "Desespero é coisa para o Azulão" (Ibidem, p. 8); "Cota aumenta mas ingresso se esgota" (Ibidem). E mais:

    A palavra tranquilidade nunca foi tão utilizada para definir o que os alteticanos esperam levar para dentro de campo no domingo. Como a vantagem de um gol é rubro-negra, o time de Geninho espera que o desespero do Azulão em marcar logo de início, seja uma das principais armas do Atlético (Ibidem).

    O “Estado de São Paulo”, na coletânea geral, por sua vez, teve matérias referentes aos dois times, mas se mostrou também um pouco mais favorável ao São Caetano... "Jair Picerni mostra talento explosivo dentro e fora de campo: técnico do São Caetano mostra melhor momento da carreira, mas também é irritadiço" (O ESTADO DE SÃO PAULO, 23/12/01, Caderno Esportes, p.1); "Geninho pegou o time em crise e agora está bem perto do título: desvalorizado no início do campeonato, treinador já é sondado por grandes clubes de São Paulo" (Ibidem); "Técnicos paulistas crêem na força do Azulão" (Ibidem, 22/12/01, Caderno Esportes, p. 2); "Para capitão do Tri, time do ABC se supera: Carlos Alberto Torres acredita no São Caetano, time que considera o melhor do Brasil" (Ibidem); "Para atleticanos, título em cima de Jair Picerni terá gosto especial" ( Ibidem, p. 3); "São Caetano costuma consagrar atacantes: esquema ofensivo fez Túlio se recuperar em 2000, Adhemar aparecer e Magrão voltar à cena" (Ibidem, p. 3). Considerando-se essas notícias e que "o discurso é o lugar em que se pode observar essa relação entre língua e ideologia, compreendendo-se como a língua produz sentidos por/para os sujeitos" (ORLANDI, 2005, p. 17), é possível afirmar que cada jornal visa, mesmo com certa imparcialidade do meio, atender a seu público local e às ideologias vigentes. No caso das notícias de véspera, uma hipótese que explica a falta de empolgação da mídia paulista com o São Caetano é que o estado já tem muitos times de grande expressão (Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos) e com títulos de proporções até maiores (Libertadores da América e Mundial de Clubes). Além disso, o São Caetano é clube do ABC paulista e não da grande São Paulo, o que também pode ter influenciado negativamente. Portanto, os torcedores paulistanos (principal público desse jornal), não deram tanta importância ao time do ABC. Já para os paranaenses, a conquista atleticana realmente era uma façanha, sendo que algo semelhante tinha acontecido no estado somente 16 anos atrás, em 1985.Considerações finaisO discurso depende do meio em que está inserido, das ideologias, do social, do histórico e do interlocutor (ORLANDI, 2005). Portanto, como cada jornal é determinado para um público específico, diferente em cultura e ideologias, cada jornal tem um discurso diferenciado. O chamado "bairrismo" nos meios de comunicação realmente ocorre, mas amparado no sentido de que cada interlocutor tem uma diferente interpretação e uma diferente forma de gerar sentido nos discursos (Ibidem).

    De certa maneira, as matérias publicadas nos jornais paulistas e paranaenses foram semelhantes, passando informações sobre o jogo, os jogadores e técnicos envolvidos, o estádio, os ingressos, as torcidas. De um local para o outro variaram apenas a quantidade de material com discursos positivos em relação a um dos times, sendo que em São Paulo o maior número era sobre o São Caetano e no Paraná sobre o Atlético.

    Levando-se em consideração os conceitos de Orlandi, é natural a existência de notícias tendenciosas, principalmente no meio esportivo, e os exemplos dados comprovam isso. No entanto, há, inclusive pela ética da profissão, um bom senso para que esse tipo de notícia não seja exageradamente parcial.

Bibliografia

  • CAPRARO, André Mendes. O Estádio Joaquim Américo - a "Arena da Baixada" - e a identidade clubística do torcedor do Clube Atlético Paranaense. Curitiba: Revista Campos, 2004. 

  • ECO, Umberto. Viagem na Irrealidade Cotidiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

  • MARQUES, José Carlos. A Falação Esportiva: O discurso da imprensa esportiva e o aspecto mítico do futebol. Salvador: XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2002.

  • ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos. São Paulo: Editora Pontes, 2005.

  • PRONI, M. W. A Metamorfose do Futebol. Campinas: Unicamp/IE, 2000.

  • TOLEDO, Luiz Henrique de. Torcidas Organizadas de Futebol. Campinas: Editora Autores Associados, 1996.

Fontes

  • GAZETA DO POVO. Capa e Caderno de Esportes. Curitiba: 20/1201 a 23/12/01.

  • O ESTADO DE SÃO PAULO. Caderno de Esportes. São Paulo: 22/12/ 01 a 23/12/01.

  • TRIBUNA DO PARANÁ. Caderno de Esportes. Curitiba: 21/12/01 a 23/12/01.

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