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Comportamento da freqüência cardíaca em 

duas funções específicas no jogo de voleibol

Comportamiento de la frecuencia cardiaca en dos funciones específicas en el juego del voleibol

 

*Docente do curso de Educação Física, Univás, Pouso Alegre, MG

Doutorando em Ciências da Cultura Física e do Desporto,

Universidad de Ciencias de la Cultura Física y el Deporte

“Manuel Fajardo”, Havana, Cuba

**Doutor em Ciências da Cultura Física e do Desporto

Universidad de Ciencias de la Cultura Física y el Deporte

“Manuel Fajardo”, Havana, Cuba

***Doutora em Química de Medicamentos

Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde, SUPREMA, Juiz de Fora, MG

Maurício Borges de Oliveira*

Calixto Andux Deschapelles**

Magali Borges de Oliveira***

mauriciocambuquira@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A freqüência cardíaca (FC) é um índice fisiológico bem aceito e utilizado na avaliação, prescrição e controle de cargas de trabalho em programas de exercício de esportistas e não esportistas principalmente as de média e longa duração consideradas cíclicas. No voleibol, que é acíclico, com períodos de atividades muito curtos, intensos, intercalados com períodos de descanso, a condição aeróbia deve ser estudada, pois é um fator importante para uma melhor recuperação dos esforços anaeróbios durante e entre as sessões de treinamento auxiliando os jogadores a suportarem as ações do jogo e ter uma melhor recuperação após as partidas. O comportamento da FC em um jogo de voleibol foi o escopo desse estudo monitorando-se a FC de uma jogadora ponteira (JP) e de uma jogadora central (JC), categoria adulta, em dois jogos distintos contra o mesmo adversário. As curvas de FC sugerem uma grande participação do sistema aeróbio de produção de energia, porém são necessários outros estudos para melhor caracterizar o jogo de voleibol obtendo parâmetros mais evidentes para a avaliação, prescrição e controle dos treinamentos.

          Unitermos: Feminino. Freqüência cardíaca. Voleibol.

 

Abstract

          The cardiac frequency (CF) is a physiologic very accepted index and used in the evaluation, working loads prescription and control in sportsmen exercise programs and not sportsmen mostly the ones of average and long cyclic considered duration. In volleyball, that is acyclic, with periods of very short activities, intense, inserted with rest periods, the aerobic condition should be studied, because it is an important factor for a better recovery of the anaerobic efforts during and among training sessions assisting the players support her actions of the game and to have a better recovery after the departures. CF's behavior in a volleyball game was the scope of this study monitoring itself CF of a tip player (TP) and of a central player (CP), adult category, in two distinct games against the same opponent. CF's curves suggest a production aerobic system great participation of energy; however they are necessary other studies for better to characterize volleyball game obtaining more evident parameters for the evaluation, training prescription and control.

          Keywords: Women's. Cardiac frequency. Volleyball.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Estudos que analisam os fatores que interferem no desempenho de um esportista como os processos de produção de energia, fatores psicológicos, tipos de exercício, fatores ambientais, estado de treinamento, volume, intensidade, idade, sexo e outros, tomaram maiores proporções dirigindo suas análises às ações mais próximas da realidade de uma atividade física em seu local de realização e não somente nos laboratórios.

    Segundo Frischknecht (2003) um dos métodos de avaliação da intensidade do exercício mais utilizado é o monitoramento da Freqüência Cardíaca (FC). Este método permite quantificar o valor da carga interna do atleta, possibilitando definir com mais rigor a intensidade do treino e verificar se os objetivos do mesmo estão sendo alcançados, caso não estejam possibilita a alteração da carga de trabalho (FARIA, 2006).

    A freqüência cardíaca (FC) é um índice fisiológico bem aceito e utilizado na avaliação da condição aeróbia de esportistas e não esportistas (DENADAI, 2000) em atividades de média e longa duração consideradas cíclicas (corrida, natação e ciclismo). No voleibol, que é acíclico, com períodos de atividades muito curtos, intensos, intercalados com períodos de descanso (VITASSALO et al.,1987; STANGANELLI, 1995) é importante avaliar a condição aeróbia considerada um fator necessário para uma melhor recuperação dos esforços anaeróbios durante e entre as sessões de treinamento, suportar as ações do jogo em sua longa duração e ter uma melhor recuperação após as partidas (PLATONOV, 1993; TUBINO, MOREIRA, 2003; OLIVEIRA et al. 2003; SCHNEIDER, BENETTI, MEYER, 2004; BOMPA, 2005; OLIVEIRA, 2007; PLATONOV, 2008).

    A literatura mostra que esforços realizados com uma FC até 140 batimentos por minuto (bpm) são considerados aeróbios, de 140 a 160 bpm são considerados no limiar aeróbio, de 160 a 180 bpm são de caráter mixto e acima de 180 bpm são anaeróbios (ZAKHAROV; GOMES, 1992).

    Segundo Santos (2006), atividades com duração até 15 – 20 segundos (s) são consideradas anaeróbias aláticas, entre 20 – 120s anaeróbias láticas e acima de 120s aeróbias. Considerando que os jogos de voleibol são realizados em melhor de cinco sets (CBV, 2010), ou seja, para vencer um jogo uma das equipes tem que ganhar três sets, que os sets duram entre 20 e 22 minutos (OLIVEIRA et al., 2008) salvo algumas exceções, e que os jogos podem durar mais de uma hora, então a contribuição do sistema aeróbio pode ser grande (BOMPA, 2005; OLIVEIRA et al., 2008).

Objetivo

    O objetivo do presente estudo foi analisar o comportamento da FC em duas posições de jogo (ponta e meio de rede) em dois jogos distintos de cinco sets na categoria feminina adulta observando-se assim o comportamento dessa variável para se avaliar, prescrever e controlar as cargas de treinamento.

Material e métodos

    Participaram do estudo duas jogadoras, uma ponteira (JP – 22 anos; 1,74 m; 72 kg) e uma central (JC – 18 anos; 1,88 m; 68 kg) que jogavam na categoria adulta. Monitorou-se a FC utilizando-se um monitor de freqüência cardíaca da marca Polar®, modelo Vantage NV de fabricação finlandesa. Os valores de FC foram coletados em dois jogos distintos de cinco sets (placares de 3 x 1 nos dois jogos), sendo monitorada uma jogadora por jogo e não houve a utilização da jogadora líbero.

    As coletas foram feitas com uma semana de intervalo entre uma partida e outra, contra o mesmo adversário sendo feitas da seguinte forma: antes do aquecimento; após o aquecimento (sem bola e com bola); antes do início do primeiro set; durante os tempos técnicos (8° e 16° pontos) de cada set; nos tempos de descanso (tempos pedidos pelos técnicos) em cada set; no final dos sets; nos intervalos entre os sets após três minutos; no final do ultimo set e três, seis e nove minutos após a ultima tomada (final do ultimo set).

    Para montagem do gráfico do comportamento da FC foi utilizada a planilha de cálculos Excel da Microsoft versão 2003.

Resultados

    As figuras 1 e 2 ilustram o comportamento da FC da JP e da JC.

Figura 1. Dinâmica da FC da JP e zonas de trabalho dos sistemas de produção de energia.

 

Figura 2. Dinâmica da FC da JC e zonas de trabalho dos sistemas de produção de energia.

    Pode-se observar que o comportamento da FC, na maior parte das tomadas, permaneceu na zona considerada aeróbia e na zona de limiar aeróbio (ZAKHAROV;GOMES, 1992) tanto para a JP como para a JC.

Discussão

    Os resultados médios do presente estudo (144,62±18,88 bpm para a JP e de 159±16,26 bpm para a JC) são semelhantes aos apresentados por Stanganelli et al.(1998) que mostraram a análise da média da FC, independente da posição de jogo que eram de 155,59±0,92 bpm para o levantador, 144,87±0,71 bpm para o JC e de 135,25±1,43 bpm para o JP e outra que mostrou a FC de acordo com a função e posição dos jogadores não havendo diferença significante entre as ações na rede ou na defesa, mas que o JP teve sua média de FC maior que os outros, revelando assim que o voleibol possui uma significante diferença na intensidade através da FC por posições de jogo e que o metabolismo aeróbio e anaeróbio alático predominam durante uma partida, devido à relação esforço e pausa. Apesar do estudo de Stanganelli et al.(1998) ter investigado a FC em jogadores infanto-juvenis do sexo masculino os resultados sugerem que os valores de FC parecem ter um comportamento semelhante com o sexo feminino sem contudo afirmar se essa semelhança tem uma conotação estatística ou não.

    Em estudo realizado por Dyba (1982) foram encontrados valores médios de FC de 150 bpm para os levantadores, 143 bpm para os atacantes centrais e 141 bpm para atacantes de ponta/oposto. Assim os valores encontrados no presente estudos parecem corroborar com os encontrados pelo autor supra citado.

    Harbour (1991) apresentou um estudo que analisou a FC de atletas femininas universitárias de voleibol durante uma partida nas posições de levantadora, JC e JP e que a FC média foi de 157,78±18,01; 146,17±17,09 e 148,66±18,09 bpm respectivamente cujos resultados são semelhantes aos encontrados no presente estudo.

    Alves et al. (2008) analisando atletas de voleibol na faixa etária de 13 a 15 anos encontrou valores de FC da ordem de 141±32 bpm independente da posição de jogo e de 146±21 bpm para a JP e de 146±27 bpm para a JC o que parece ser semelhante aos resultados encontrados no presente estudo, apesar da faixa etária e categorias serem diferentes.

    Stanganelli (2003) comenta que a monitoração do treinamento deveria ser feita respeitando-se os seguintes fatores: ser realizada com o objetivo de aumentar a efetividade do treinamento; basear-se no controle das alterações observadas nos atletas durante os vários estágios do treinamento ou sob a influência dos elementos principais da atividade esportiva (estrutura e sessões de treino, competição, microciclos, etc.); ser altamente específico, de acordo com a modalidade esportiva, nível de desempenho do atleta e das diferenças de faixa etária e gênero.

    Para a avaliação, prescrição e controle de treinamentos deve-se levar em consideração não somente variáveis isoladas e sim um conjunto delas como sugere Dourado (2007) que realizou um estudo monitorando as adaptações antropométricas e motoras modelando também o desempenho esportivo de atletas de voleibol durante um período de preparação.

Considerações finais

    Com o comportamento da variável analisada é importante direcionar as cargas de treinamento em atividades que enfatizam a utilização dessas fontes de energia, porém sem esquecer que os sistemas de produção de energia funcionam integradamente.

    Outro sim é extremamente importante avaliar e trabalhar a condição aeróbia de voleibolistas a qual não é determinante, mas condicionante, para que se tenha uma melhor recuperação dos esforços anaeróbios durante e entre as sessões de treinamento, permitindo assim que os jogadores possam suportar as ações intensas do jogo com elevado volume e ter uma melhor recuperação após as partidas.

    Os valores de FC encontrados correspondem às exigências durante uma partida de acordo com as funções analisadas, pois a JC é uma jogadora que, sempre que está na zona ofensiva realiza saltos de bloqueio em qualquer ponto da rede e realiza ataques muitas das vezes em bolas mais velozes que outros jogadores e que a JP que sempre deve estar pronta para intervir na partida, com ações ligeiramente inferiores que a JC levando-se em consideração as ações explosivas.

    Propõe-se a realização de outros estudos com o monitoramento dessas e de outras variáveis como o consumo máximo de oxigênio conforme sugerido por Oliveira; Deschapelles (2008, 2009), não somente em treinamentos e amistosos, mas também durante as competições oficiais com o intuito de caracterizar melhor a modalidade de voleibol tendo assim outros parâmetros para a determinação de cargas e seu direcionamento no momento da prescrição e controle do treinamento.

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