Teste de flexibilidade em pessoas com necessidades especiais em Alvorada, RS, Brasil Test de flexibilidad en personas con discapacidad en Alvorada, RS, Brasil |
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Licenciatura e Bachalerado em Educação Física, ULBRA (Brasil) |
Alexandre Tristão da Silva |
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Resumo A flexibilidade é uma das habilidades motoras mais importantes para o desenvolvimento do ser humano. O presente estudo teve como objetivo verificar os efeitos de um programa de treinamento de flexibilidade em jovens e adolescentes com deficiência mental na faixa etária dos 10 aos 20 anos. A pesquisa caracterizou-se como experimental com pré e pós-testes aplicados a um único grupo. A população investigada no estudo compreendeu indivíduos com necessidades especiais dos sexos masculino e feminino, que estudam em Alvorada, RS, Brasil. A amostra foi composta por 24 indivíduos, sendo 10 do sexo masculino e 14 do feminino, escolhidos de maneira intencional, com média de idade de 16,9 anos. O treinamento de flexibilidade foi executado em seis semanas, com 3 sessões de 25 minutos por semana. A análise estatística demonstrou que a média de flexibilidade teve um aumento no pós-teste com e sem apoio do professor. Os índices no pré-teste foram de 25,93 cm sem apoio e 29,90 cm com apoio, e após 6 semanas, as médias aumentaram para 28,00 cm e 32,83 cm, respectivamente, apresentando resultados significativos estatisticamente. Os resultados obtidos sugerem que o treinamento de flexibilidade foi eficiente para promoverem-se modificações nos níveis de flexibilidade na amostra estudada. Unitermos: Flexibilidade. Deficiência mental. Necessidades especiais.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A flexibilidade é uma das habilidades motoras mais importantes para o desenvolvimento do ser humano, e muitos estudos têm sido conduzidos na investigação da amplitude dos movimentos em pessoas com necessidades especiais.
Conforme Achour Junior (1999) a flexibilidade é fundamental para facilitar os movimentos nas diversas atividades profissionais e nas tarefas diárias. A falta de exercícios de alongamento e o estilo de vida pouco ativo, geralmente não propiciam movimentos amplos vindo assim diminuir a flexibilidade. Já segundo Dantas (1998) a flexibilidade é a qualidade física responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos, sem risco de provocar lesão.
Para Diehl (2006) assim como qualquer outro tipo de comprometimento, é difícil conceituar ou encontrar uma definição objetiva do que é um aluno com deficiência mental. Muitas vezes ocorrem equívocos, como o de pensar que todos os alunos com deficiência mental são iguais e se diferenciam completamente das pessoas ditas “normais”. Essas definições podem não estar levando em conta outras formas de inteligência que estes indivíduos adquirem. Meneses (2006) conceitua necessidades especiais como necessidades relacionadas aos alunos que apresentam elevada capacidade ou dificuldades de aprendizagem. Esses alunos não são, necessariamente, portadores de deficiências, mas são aqueles que passam a serem especiais quando exigem respostas específicas adequadas.
Conforme Soler (2006) a terminologia que denomina a pessoa portadora de necessidades especiais, ao longo do tempo, vem sofrendo profundas mudanças. A primeira denominação adotada foi excepcional, depois pessoa deficiente, pessoa portadora de deficiência, pessoa portadora de necessidades especiais, hoje, pessoa portadora de necessidades educativas especiais. A flexibilidade nos deficientes mentais leves e moderados de ambos os sexos está acima dos valores máximos dos padrões de referências para a flexibilidade em pessoas normais (BARROS, 2000). O presente estudo teve como objetivo verificar os efeitos de um programa de treinamento de flexibilidade em jovens e adolescentes com deficiência mental na faixa etária dos 10 aos 20 anos.
Material e métodos
Foram estudados jovens na faixa etária entre dez a vinte anos, oriundos da Escola Especial Pequeno Príncipe, em Alvorada, RS, Brasil, também identificada como APAE, que presta assistência a pessoas com necessidades especiais e tem educação física regular em suas atividades. A amostra foi composta por vinte e quatro indivíduos, sendo 10 do sexo masculino e 14 do sexo feminino. A escolha dos mesmos foi de forma intencional, sendo assinados pelos pais termos de consentimento. O projeto foi previamente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Luterana do Brasil.
Para verificar-se o nível de flexibilidade em que jovens com deficiência mental se encontram foi aplicado o teste de sentar e alcançar, segundo Wells e Dillon (1952). Para avaliar-se a flexibilidade toracolombar e de quadril, utilizou-se o banco de Wells e uma régua para assinalar-se a posição em que o aluno encontrou seu índice máximo.
A análise estatística foi desenvolvida através do Teste t de Student para amostras pareadas e independentes, evidenciando-se diferença significativa quando p < 0,05, conforme software SPSS 12.0.
Resultados e discussão
Figura 1
As médias do grau de flexibilidade, obtidas no pré-teste de sentar e alcançar, com apoio e sem apoio do professor, distinguindo por sexo e expresso em centímetros, são apresentadas na Figura 1.
Apesar das meninas terem alcançado médias maiores do que as dos meninos nos testes de flexibilidade com apoio e sem apoio do professor, não foi encontrada diferença significativa (p>0,05) entre os sexos. Observou-se também que a média de flexibilidade no pré-teste com o apoio do professor foi maior do que no pré-teste sem o apoio do professor, independente do sexo. Os resultados obtidos contrapõem a maioria dos autores. Weineck (1991) cita que as mulheres têm mais flexibilidade que os homens a partir dos sete anos e considera que essas diferenças são provenientes de uma maior capacidade de estiramento e elasticidade da musculatura e dos tecidos conectivos no sexo feminino. Já Azevedo (1997) é de opinião que a flexibilidade de maneira geral é considerada socialmente um atributo do sexo feminino e que as mulheres são geralmente mais flexíveis que os homens em todas as faixas etárias. Ueno (2000) interpreta a diferença entre os sexos considerando as diferenças fisiológicas e anatômicas apresentadas por eles, ou seja, os ligamentos e músculos das mulheres são mais elásticos e flexíveis que o dos homens, devido à menor densidade dos tecidos. Segundo Braga (2005) as meninas obtém melhoras lineares nos níveis de flexibilidade dos 10 aos 16 anos. Conforme dados do Ncyfs (1985) aos 12 anos há uma pequena queda nos níveis de flexibilidade, para jovens do sexo masculino, no teste de sentar-e-alcançar. Isto pode estar associado ao surto de crescimento da adolescência, no qual os ossos longos estão crescendo em uma taxa maior que os músculos e tendões. O resultado desta não linearidade de crescimento é uma regressão no desempenho do teste de sentar e alcançar, efeito que tende a passar quando o crescimento dos músculos se iguala aos dos ossos. A estabilização e o declínio da flexibilidade acontecem por volta dos 17 anos tanto para meninos quanto para meninas (GALLAHUE; OZMUN, 2001).
Figura 2
A Figura 2 apresenta as médias do grau de flexibilidade, obtidas no pós-teste de sentar e alcançar, com apoio e sem apoio do professor distinguindo por sexo e expresso em centímetros.
No pós-teste de flexibilidade as meninas continuaram com médias maiores que as dos meninos no teste com apoio e no sem apoio do professor, não sendo encontrada diferença significativa (p>0,05) no grau médio de flexibilidade entre os sexos. Observou-se também que a média de flexibilidade no pós-teste com o apoio do professor foi maior do que no pós-teste sem apoio do professor, independente de sexo. Guedes e Guedes (1997), no teste de “sentar-e-alcançar”, verificaram que as moças demonstraram tendência a apresentar valores relativamente menores a cada ano, dos 7 aos 9 anos de idade, e na seqüência, experimentaram aumento bastante importante até por volta dos 15 anos, para logo em seguida apresentarem tendência de ligeiro platô até os 17 anos. Os rapazes, contudo, mostraram declínio dos 7 até por volta dos 10 anos, e a partir de então foram constatados valores sem qualquer modificação até os 13 anos, seguido por uma ascensão até os 17 anos de idade. Os autores sugeriram diferenças anatômicas e a maior aceitabilidade de atividades onde os movimentos de flexibilidade são enfatizados como fatores determinantes da flexibilidade entre os sexos. Talvez devido a esta inconstante mudança de níveis de flexibilidade durante o período dos 10 aos 20 anos os resultados obtidos não tenham evidenciado mudanças significativas nas médias de flexibilidade entre os sexos.
Figura 3
A Figura 3 apresenta a média geral de flexibilidade dos alunos, comparando pré e pós-teste, com e sem apoio, independente de sexo, em cm.
Observou-se que os indivíduos pesquisados apresentaram um grau médio de flexibilidade superior no pós-teste quando comparado com os resultados do pré-teste de flexibilidade, encontrando-se diferenças significativas (p<0,05). Os resultados obtidos com o apoio do professor foram sempre melhores do que sem o apoio, tanto no pré-teste quanto no pós-teste. Silva et al., (2004) numa investigação com 28 atletas, chegaram a conclusões que se aproximam deste estudo, onde existe uma correlação entre o tempo de prática e a flexibilidade mensurada no banco de Wells, e que o tempo de prática influencia beneficamente a aquisição da flexibilidade toracolombar e quadril. Segundo Araújo (2000) a flexibilidade é uma qualidade física treinável independente da idade e do sexo, e talvez por este motivo as médias relacionadas ao treinamento de flexibilidade deste estudo tenham sido maiores no pós-teste do que no pré-teste. O autor também comparou a flexibilidade ativa e passiva, denominada neste estudo de com apoio e sem apoio, encontrando médias de 30,08 cm na ativa e 34,43 cm na passiva no pré-teste e 35,15 cm na ativa e 39,55 cm na passiva, no pós-teste, demonstrando no pós-teste e no flexionamento passivo as médias foram maiores.
Figura 4
Na Figura 4 são comparados os graus médios de flexibilidade encontrados nos alunos do sexo masculino e do sexo feminino, no pré e no pós-teste, com apoio do professor, expresso em centímetros.
As meninas obtiveram médias maiores que as dos meninos em ambos os testes, mas essa diferença não foi significativa (p>0,05) entre os sexos. Comparando a flexibilidade com o apoio do professor (passiva) e sem apoio do professor (ativa), Weineck (1991) diz que a flexibilidade passiva é sempre maior que a ativa. Para Barbanti (1996) os exercícios ativos são aqueles que alcançam a maior amplitude articular possível pela atividade muscular, sem auxílio externo, já os exercícios passivos atingem uma grande amplitude articular com auxílio externo, seja de um companheiro, um aparelho, ou ainda, o próprio peso corporal. Weineck (2000) preconiza que na infância e início da puberdade, devem-se evitar os exercícios de alongamento de forma passiva realizados com parceiros, a sobrecarga empregada pode lesionar as crianças e jovens. No presente trabalho, a flexibilidade passiva foi treinada com auxilio do professor, evitando ângulos que pudessem lesionar os alunos. A flexibilidade passiva é a base para o desenvolvimento da flexibilidade ativa, no entanto o aumento desta última requer um trabalho com um objetivo específico. Para que os testes aplicados fossem fidedignos, os métodos ativo e passivo foram exercitados nos treinamentos.
Figura 5
Na Figura 5 mostra a comparação do grau médio de flexibilidade encontrado nos alunos do sexo masculino e do sexo feminino, no pré e no pós-teste, em função do teste realizado sem apoio do professor, expresso em cm.
Houve melhora significativa na média de flexibilidade de meninos e de meninas. Nos testes aplicados sem o apoio do professor as meninas também conseguiram médias melhores que a dos meninos em ambos os testes, mas essa diferença não foi significativa (p>0,05) entre os sexos. Para Estrela (2006) flexibilidade ativa é a maior amplitude de movimento possível que o indivíduo pode realizar devido à contração da musculatura agonista, sendo a reserva de flexibilidade a diferença entre a flexibilidade passiva e a ativa, havendo a possibilidade de melhora da flexibilidade ativa através do fortalecimento da musculatura agonista e pela maior capacidade de alongamento dos antagonistas. Percebe-se, pelos resultados obtidos, que apesar do teste sem apoio do professor (ativa) ter obtido médias menores que nos testes com apoio do professor (passiva), essa qualidade física também pode ter suas médias significativamente aumentadas com um treinamento de flexibilidade. No pós-teste com e sem apoio do professor, em ambos os sexos, obteve-se médias de flexibilidade maiores que no pré-teste.
Conclusão e recomendações
A análise dos resultados mostrou que houve um aumento estatisticamente significativo nos níveis de flexibilidade. Não foi encontrada diferença significativa de flexibilidade entre os sexos, apesar dos níveis de flexibilidade das meninas serem um pouco maiores. Esse resultado talvez possa ser relacionado à faixa etária, pois alguns estão em transição da infância para a adolescência e esse fator pode interferir nos níveis de flexibilidade de meninos e meninas, deixando-os homogêneos. Os resultados ainda mostraram que os níveis de flexibilidade dos alunos foram sempre maiores no teste com apoio do professor do que no sem apoio do professor. Com esses dados conclui-se que sempre que uma força externa foi aplicada para realização de um teste, este apresentou médias maiores do que os que não tiveram forças externas aplicadas. Também se demonstrou que pessoas com necessidades especiais têm capacidade de desenvolver sua flexibilidade, quando submetidas a exercícios que ultrapassem os ângulos comuns das articulações. Foram obtidos dados que poderão auxiliar pesquisas que envolvam este publico alvo, com a finalidade de criar um treinamento específico para indivíduos com necessidades especiais, como exercícios de mais fácil realização e resultados mais satisfatórios.
Referências
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