efdeportes.com

Fatores associados à prevalência de sobrepeso e 

obesidade em escolares na cidade de Ribeirão Preto, SP

Factores asociados a la prevalencia de sobrepeso y obesidad en escolares en la ciudad de Riberao Preto, SP

 

*Graduado em Educação Física

pelo Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, SP

Mestrando pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, SP

**Graduado em Educação Física

pelo Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, SP

Mestre e Doutorando em Alimentos e Nutrição pela FCFAR, UNESP/SP

Valter Luiz de Oliveira Junior*

valterluizjr@hotmail.com

Carlos Alberto Simeão Júnior**

simeaojr@fcfar.unesp.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O excesso de peso e a obesidade na infância são fatores precursores à obesidade no adulto, consistindo a porta de entrada para o surgimento de doenças crônicas. Objetiva-se neste estudo avaliar os fatores associados à obesidade, relacionados ao índice de massa corporal (IMC). Realizou-se o estudo de corte transversal em 72 escolares (48 masculinos e 24 femininos) em uma escola da rede estadual da cidade de Ribeirão Preto-SP, entre 6 e 7 anos de idade. Por meio de questionário, aplicado aos seus responsáveis, foram investigados fatores biológicos, psicológicos, sócio-econômicos e sócio-comportamentais de riscos a esta patologia. Para a análise estatística utilizou-se o teste qui-quadrado para independência, onde se comparou a proporção dos fatores obtidos, (p ≤ 0,05). O estudo confirma o caráter epidêmico de 16% de sobrepeso e 20% obesos. Os fatores psicológicos (p = 0,003) e sócio-econômicos, com base na elevada renda familiar (p = 0,007), revelaram associação com a prevalência de sobrepeso e a obesidade infantil. O sócio-comportamental (horas despendidas ao assistir televisão e fazer uso do computador ou de jogos eletrônicos) revelou uma tendência para esta patologia (p = 0,078). As influências de fatores ambientais confirmam o caráter multicausal da obesidade, destacando os fatores psicológico e sócio-econômico, como os mais tendenciosos. Quanto mais precocemente detectados maiores são meios de intervenção do profissional de educação física, seja por meio de orientação ou acompanhamento e intervenções nas atividades físicas, com o intuito de que tais fatores não reflitam na vida adulta.

          Unitermos: Obesidade. Atividade física. Saúde.

 

Abstract

          Overweight and obesity in childhood are factors precursors to obesity in adults, consisting of a gateway to the emergence of chronic diseases. The objective of this study was to evaluate the factors associated with obesity related to body mass index (BMI). The survey is a cross-sectional study in 72 children (48 males and 24 females) in a state school in the city of Ribeirao Preto, between 6 and 7 years old in the 2nd half of 2005. A questionnaire, applied to their parents, was investigated biological, psychological, socio-economic and socio-behavioral risk for this disease. Statistical analysis used the chi-square test for independence, which compared the proportion of the factors obtained (p ≤ 0.05). The study confirms the epidemic character of 16% overweight and 20% obese. Psychological factors (p = 0.003) and socio-economic, based on higher income (p = 0.007), showed association with the prevalence of overweight and obesity. The socio-behavioral (hours spent watching television and using the computer or video game) revealed a tendency for this disease (p = 0.078). The influences of environmental factors confirm the multifactorial nature of obesity, highlighting the psychological factors and socio-economic, as the most biased. The influences of environmental factors confirm the multifactorial nature of obesity, highlighting the psychological factors and socio-economic, as the most biased. The earlier detected the greater means of action of physical education professionals, either through guidance or support and assistance in physical activities, in order that such factors do not reflect in adulthood.

          Keywords: Obesity. Physical activity. Health.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A prevalência mundial da obesidade infantil tem apresentando um rápido aumento nas últimas décadas, sendo caracterizada como epidemia mundial (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1997). Determinante de várias complicações, associadas na infância e na fase adulta, a obesidade pode iniciar em qualquer idade, ocorrendo mais freqüentemente no primeiro ano de vida, entre 5 e 6 anos e na adolescência (FISBERG, 2004).

    Na maioria dos casos 95 a 98%, a obesidade é desencadeada por fatores ambientais, como: excesso de peso no período gestacional e o desmame precoce, a introdução inadequada de alimentos, bem como distúrbios de comportamento alimentar e desestruturação na relação familiar, especialmente nos períodos de aceleração do crescimento (Escrivão et al, 2000). Além disso, também podem contribuir neste processo fatores psicológicos e a prática da atividade física reduzida, incentivada pelo avanço tecnológico por meio da utilização de computadores e jogos eletrônicos, bem como, o tempo gasto assistindo televisão, são elementos que aumentam a probabilidade de desencadear esta patologia. Há também um percentual baixo (de 2 a 5% dos casos de obesidade) que tem como causas às síndromes genéticas, tumores e distúrbios endócrinos (Escrivão et al, 2000).

    Conforme a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e Organização Mundial da Saúde (OMS) estima-se que no mundo há mais de um bilhão de adultos com excesso de peso, destes pelo menos 300 milhões são obesos, e a prevalência de obesidade infantil tem aumentado em torno de 10 a 40% na maioria dos países europeus nos últimos 10 anos, e no Brasil o índice de obesidade infanto-juvenil, subiu 240% nas últimas duas décadas (OPAS, 2003).

    Um estudo realizado em todo o território canadense mostrou que houve um aumento acentuado na prevalência do sobrepeso e da obesidade juvenil entre 1981 e 1996 (Tremblay; Willms, 2000 apud BAR-OR, 2003). A crescente foi mais significativa nas faixas etárias mais jovens. Entre meninos de 7 anos de idade houve um alarmante aumento de seis vezes na obesidade e de três vezes no sobrepeso. A taxa de aumento da obesidade juvenil é consideravelmente maior que a de adultos canadenses (Tremblay; katzmarzyk; Willms, 2002 apud BAR-OR, 2003).

    No Brasil, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico (IBGE) em conjunto com o Ministério da Saúde aponta que o país tem 38,6 milhões de pessoas com peso acima do recomendado. Deste total 10,5 milhões são obesos, apontando um crescimento acentuado de sobrepeso e obesidade em crianças de nível escolar e as conseqüências desta patologia (IBGE, 2003).

Tabela 01. Prevalência de desnutrição, sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes, conforme diversas pesquisas no Brasil, adaptado (MELLO; LUFT; MEYER , 2004).

Autor principal

Local

População estudada

Ano / n

Critério de avaliação

 

Resultados

 

Engstrom et al , 1996

Pesquisa Nacional

Menores 10 anos

1989 / 12.414 (PNSP)**

Estado nutricional materno relacionado a sobrepeso das crianças

Baixo peso: prevalência de 2,0% sobrepeso (filhos)

Adequada: prevalência de 4.8%;

Sobrepeso: prevalência de 6,2 %.

Abrantes et al, 2002

Sudeste e Nordeste

Crianças e adolescentes

7.260

IMC

Obesidade – sexo feminino: 10,3%;

sexo masculino: 9,2%.

Silva et al, 2003

Recife, PE

2 a 5 anos

2000 / 230

índice

peso/altura

e escore z*

Sobrepeso : 22,6%

Obesidade: 11.3%

Oliveira et al , 2003

Feira de Santana, BA

5 a 9 anos

2001 / 699

IMC, fatores biológicos, psicológicos, socioeconômicos e sócio-comportamentais.

Associação positiva ligada a fatores Socioeconômico e sócio comportamentais.

Leão et al, 2003

Salvador, BA

5 a 10 anos

- / 387

IMC

Obesidade – escola pública: 8%;

escola privada: 30%.

Anjos et al, 2003

Rio de Janeiro, RJ

Menores 10 anos

- / 3.387

IOTF

Obesidade : 5%

Balaban et al , 2003

Recife, PE

Crianças e adolescentes

- / 762

IMC

Sobrepeso - renda alta: 34,3%;

renda baixa: 8,7%.

Obesidade – renda alta: 15,1%;

renda baixa: 4,4%

Giuliano et al, 2004

Brasília, DF

6 a 10 anos

2000 / 452

IMC, dobras cutâneas (triciptal e subescapular).

Desnutrição: 3,1%;

Sobrepeso: 16,8%;

Obeso: 5,3%.

Balaban et al, 2004

Recife, PE

2 a 6 anos

2002 / 409

Aleitamento materno exclusivo até aos 4 meses, IMC.

Aleitamento materno

Menores 4 meses: prevalência de 22,5% sobrepeso

Maiores 4 meses:prevalência de 13,5% sobrepeso

Silva et al, 2005

Recife, PE

2 a 19 anos

- / 1616

IMC

Sobrepeso: 14,5%;

Obeso: 8,3 %.

**PNSN: Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição.

*Foram utilizadas como padrão de referencia as curvas do National Center for Health Statistics (NCHS), 1978.

- Dados ausentes.

IMC : Índice de massa corporal .

IOTF: International Obesity Task Force.

    Caracterizada como problema de saúde pública, a obesidade requer diagnóstico precoce, na tentativa de reduzir o risco destas crianças tornarem-se adultos obesos. A mudança nos hábitos alimentares e o incentivo a prática de exercícios são os primeiros passos para que esta patologia não seja a porta de entrada a fatores de risco relevantes para o surgimento de doenças crônicas.

    Quanto mais precocemente o quadro de sobrepeso e obesidade for detectado, mais efetivas são as medidas tomadas para o seu controle (Escrivão, et al 2000).

A atividade física e a obesidade

    A atividade física é definida como qualquer movimento corporal, desde que, ocorra um gasto energético. Já o exercício físico é considerado uma categoria de atividade física planejada, estruturada e repetitiva. A aptidão física, por sua vez, é uma característica do indivíduo que engloba potência aeróbica, força e flexibilidade, relacionada com a realização das tarefas diárias. O estudo desses componentes pode auxiliar na identificação de crianças e adolescentes em risco de obesidade. As crianças e os adolescentes tendem a ficarem obesos quando sedentários, e a própria obesidade poderá fazê-los ainda mais sedentários. A atividade física, mesmo que espontânea, é importante na composição corporal, por aumentar a massa óssea e prevenir a osteoporose e a obesidade (MAtzudo; Paschoal; Amâncio; 2003).

    Maus hábitos como: assistir televisão, jogar vídeo-game, o uso do computador e a permanência prolongada nas casas de jogos em rede conhecidas como Lan House, também contribuem para uma diminuição do gasto metabólico de atividades diárias, influenciando na ocorrência de obesidade. O aumento da atividade física é sugerido como meta a ser seguida, acompanhada da diminuição da ingestão alimentar.

    Com a atividade física o indivíduo tende a escolher alimentos menos calóricos, além de aumentar o seu metabolismo. Estudos relacionam o tempo gasto assistindo televisão e a prevalência de obesidade. A taxa de obesidade em crianças que assistem menos de 1 hora diária é de 10%, enquanto que o hábito de persistir por 3, 4, 5 ou mais horas por dia vendo televisão está associado a uma prevalência de cerca de 25%, 27% e 35%, respectivamente (FAITH et al, 2001 apud MELLO; LUFT; MEYER, 2004). A televisão ocupa horas vagas em que a criança poderia estar realizando outras atividades. Por outro lado, a criança, freqüentemente, come enquanto assiste televisão e também é estimulada (pela influencia das propagandas comerciais) a comer alimentos não-nutritivos e ricos em calorias. Cerca de 53% das propagandas veiculadas pela televisão são de lanches e refrigerantes (GRAZINI; AMANCIO, 1998). Os benefícios da atividade física vão desde a redução da massa corporal, porcentagem de gordura corporal e visceral, diminuição da pressão arterial, da lipoproteína de baixa densidade – LDL e do colesterol total, até o aumento da massa corporal e a sensibilidade à insulina, aumento da lipoproteína de alta intensidade – HDL e a melhora do condicionamento físico (GUTIN; HUMPHRIES, 1998 apud BAR-OR, 2003).

    O fato de mudar de atividade, mesmo que ela não exija um esforço físico muito grande, já ocasiona aumento de gasto energético. Programas devem estimular a atividade física espontânea, além de avaliar se, no final de um programa de prática desportiva intensa foi incorporada uma mudança no estilo de vida da criança. A criança deve ser motivada a manter-se ativa. Essa prática deve ser incorporada, preferencialmente, por toda a família (BAR-OR, 2003).

Definição e avaliação da obesidade

    A aparência do corpo é o grande elemento a ser utilizado, portanto definir obesidade se torna simples quando não se prende a formalidades científicas ou metodológicas. A palavra obesidade vem do latim obesus, ob = muito e edere = comer, caracterizada pelo aumento da quantidade de gordura corporal, constituindo-se numa doença, de caráter epidêmico e problema de saúde pública (HALPERN; MANCINI, 1996).

    Há vários métodos diagnósticos para classificar o indivíduo em obeso e sobrepeso. O índice de massa corporal (IMC) se destaca pela simplicidade para realização de suas medidas. A medida da dobra cutânea do tríceps (DCT) também é bastante utilizada em estudos clínicos e epidemiológicos.

    O diagnóstico da obesidade pode ser feito por métodos antropométricos, que são de fácil manuseio, inócuos, não-invasivos, relativamente de baixo custo e ideais para a prática diária. Normalmente, são utilizados o peso e a altura. As pregas cutâneas e algumas circunferências também podem ser usadas. Com os valores do peso e estatura, calcula-se o (IMC) através do peso corporal total dividido pela estatura ao quadrado, que é a relação entre o peso encontrado e o peso ideal para a idade e altura.

    O padrão de referência de grande valia encontrado na literatura, é o uso da curva de IMC proposto por Cole e colaboradores (2000), em função da idade, que foi desenvolvida a partir de dados populacionais de várias regiões do mundo. Participaram desta pesquisa o Brasil, Estados Unidos, Holanda, Hong Kong, Reino Unido e Cingapura, para indicar, a cada idade, qual o valor do IMC que representaria uma situação de risco ou não para o diagnóstico de sobrepeso ou obesidade, conforme evidências da sua aplicação em estudos populacionais em adultos e crianças.

Tabela 02. Valores limites do índice de massa corporal, por idade, para diagnóstico de baixo peso, sobrepeso e obesidade em crianças de 6 a 10 anos adaptado (Cole et al, 2000)

    Os métodos laboratoriais são mais precisos para a avaliação da composição corporal, porém são dispendiosos, os aparelhos são sofisticados e acabam sendo utilizados mais em centros especializados. Entre eles destacam-se a impedância bioelétrica, o infra-vermelho, que é um método bastante fidedigno para a avaliação da composição corporal, pouco invasivo, que consiste na dupla emissão de raio X com dose baixa de radiação, e fornece a porcentagem de massa magra e massa gorda e a sua distribuição corporal. Quanto mais precocemente o quadro de sobrepeso e obesidade for detectado, mais efetivas são as medidas tomadas para o seu controle (Escrivão et al, 2000).

    O profissional de Educação Física pode contribuir, por meio de ações educativas conscientizando da importância dos hábitos e comportamentos saudáveis, interferindo no comportamento sedentário de obesos, estimulando o nível de atividade física e prevenindo o ganho excessivo de peso, para que a obesidade não atinja a vida adulta.

    Frente a este quadro, objetiva-se por meio de pesquisa de campo, avaliar os fatores associados à prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças de uma escola da rede estadual, abordando fatores biológicos, psicológicos, sócio-econômicos e sócio-comportamentais, retratando a realidade local no momento deste estudo.

Material e método

    Trata-se de um estudo de corte transversal, onde foram avaliadas as influências de fatores biológicos, psicológicos, sócio-econômicos, e sócio-comportamentais no desenvolvimento de sobrepeso e obesidade em crianças. O estudo foi desenvolvido em uma escola da rede estadual de ensino, na cidade de Ribeirão Preto – SP. Durante uma reunião mensal da escola com os pais, foi respondido pelos pais ou responsáveis, um questionário, com questões sobre o seu filho ou a quem representava. Previamente consultou-se a direção da escola, que autorizou a distribuição do questionário mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido a cada participante da pesquisa. A amostragem foi, portanto aleatória, sendo que a seleção aconteceu em salas da primeira série do ensino fundamental, envolvendo no total 72 escolares (48 meninos e 24 meninas) com faixa etária de 6 e 7 anos de idade.

    O conteúdo do questionário abordou fatores antropométricos como: peso corporal total e estatura. Os fatores biológicos analisados foram: sexo (masculino/feminino), grupo étnico (branco, mulato e negro) e faixa etária (categorizada em anos completos, 6 ou 7 anos). O psicológico: referente à mudança de escola e/ou cidade. Utilizou-se como fatores sócio-econômicos, o nível de escolaridade dos genitores e a renda familiar, além do perfil da residência da criança (presença de TV, computador, telefone e vídeo game). Como fatores sócio-comportamentais: hábitos alimentares (ganho de peso no período gestacional, histórico de aleitamento materno exclusivo, freqüência do consumo de frutas, verduras, bem como doces, refrigerantes e frituras); hábitos físicos (freqüência da prática de exercícios físicos sistemáticos e análise da brincadeira predileta) e hábitos domésticos (assistir TV, jogar vídeo game, usar computador).

    Para identificarmos a situação em que as crianças se encontravam, utilizou-se do índice de massa corporal (IMC), por sexo e idade, obtido pela massa corporal total dividida pela estatura ao quadrado [IMC= Massa corporal (Kg) / ESTATURA 2] e classificada como abaixo do peso, peso ideal, sobrepeso e obeso(COLE et al, 2000).

    Para análise estatística foi utilizado o teste qui-quadrado para independência, onde foi comparada a proporção dos fatores obtidos, em relação à associabilidade com o sobrepeso e a obesidade. O teste foi realizado com 5 % de significância estatística (p ≤ 0,05), obtendo o índice de confiança de 95%, sendo em determinados casos classificados como positivo (associação com sobrepeso e obesidade) e ausente (aparentemente não há associação com esta patologia).

Resultados

    Para validação dos instrumentos propostos, utilizou-se o questionário na tentativa de associarmos o sobrepeso e a obesidade a fatores psicológicos, sócio-econômicos, sócios comportamentais. As características das crianças analisadas estão descritas na tabela 02, sendo observados sua origem, sexo, grupo étnico e idade.

Tabela 03. Características da amostra em estudo

* observada a não aceitação da etnia quando pesquisado.

    Participaram do estudo 72 crianças de uma escola da rede estadual de ensino, sendo 48 (66,6%) meninos e 24 (33,4%) meninas. Observou-se sobrepeso em 16% das crianças e obesidade em 20% da população estudada.

Gráfico 01. Prevalência de sobrepeso, obesidade, baixo peso e peso ideal de escolares em função de fatores multicausais

    Os resultados obtidos demonstraram que 20% da população estudada apresentavam o quadro patológico da obesidade já instalado e 16% estavam em situação de risco para a patologia.

    A análise estatística, por meio do teste qui-quadrado, revelou associação positiva entre fator psicológico (mudança de cidade e ou escola) e fator sócio-econômico (elevada renda familiar) analisados com o sobrepeso e obesidade.

    O fator socioeconômico que corresponde à elevada renda familiar (p = 0,007) demonstrou associação com o sobrepeso e a obesidade, bem como o fator psicológico (p = 0,003).

Tabela 04. Associação de fatores psicológicos, sócio-econômicos, sócio-comportamentais nutricionais, e sócios comportamentais físicos com o sobrepeso e a obesidade.

    O fator sócio-comportamental de atividade física ligado com maior horas diárias frente a televisão e outros meios eletrônicos não apresentou significância estatisticamente comprovada, embora houvesse tendência para tal resultado (p = 0,078).

Discussões / conclusão

    No presente estudo foi encontrado a prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares, o que corrobora com os resultados de outros estudos desenvolvidos no país (ENgstrom; Anjos, 1996; ABRANTE et al, 2002; SILVA et al, 2003; OLIVEIRA et al, 2003; LEAO, et al, 2003; ANJOS, et al, 2003; BALABAN; SILVA, 2003; GIULIANO; CARNEIRO, 2004; BALABAN et al, 2004; SILVA et al, 2005)., evidenciando a gravidade do problema e a necessidade da inclusão do sobrepeso e obesidade na infância como um grave problema de saúde pública, onde 36 % das crianças deste estudo se apresentam em risco para esta patologia (16%) ou com o quadro de obesidade estabelecido (20%).

    Os dados referentes ao grupo étnico (tabela 3), apresentam maior distribuição da amostra no grupo branco, fato este que pode ser entendido como reflexo da não aceitação de sua própria etnia, observado durante a aplicação do questionário devido maior parte dos participantes pertencia ao grupo de mulatos e negros.

    As crianças com antecedentes de mudança de escola e ou cidade apresentaram associação positiva com a prevalência de sobrepeso e obesidade (p = 0,033), o que pode ser explicado devido os distúrbios da dinâmica familiar, especialmente alterações do comportamento como: sensações de angustia, de ansiedade, de depressão e de desprazer com modificações no cotidiano e alterações no ambiente de convivência social, podendo gerar o ganho de peso.

    A escassez de estudos nacionais de caráter epidemiológico que analisem prevalência de sobrepeso e obesidade infantil nas diferentes situações de ordem psicológica dificulta a discussão dos resultados aqui obtidos. No entanto, mudanças no micro-ambiente familiar são conhecidas por gerar distúrbio alimentar, sendo co-responsáveis pelo incremento da prevalência de obesidade na população infantil e adulta (FONSECA, 2001).

    A população infantil é, do ponto de vista psicológico, sócio-econômico e cultural, dependente do ambiente onde vive, que na maioria das vezes é constituído pela família, sendo que suas atitudes são, freqüentemente, reflexo deste ambiente.

    Quando desfavorável, o ambiente poderá propiciar condições que levem ao desenvolvimento de distúrbios alimentares e uma vez instalados poderão permanecer, caso não aconteçam mudanças neste contexto. Portanto, o conhecimento das influências fornece substrato ao desenvolvimento de programas que visem a minimização, controle e erradicação do problema.

    Quanto a fatores sócio-econômicos relacionados à elevada escolaridade dos pais, demonstrou não ter significância estatística, discordando de um estudo, onde observaram que, entre crianças suecas, os filhos de pais com menor nível de escolaridade apresentavam maiores percentuais de gordura corporal (SILVA et al, 2005).

    Com relação à renda familiar, sobrepeso e obesidade mostraram-se mais prevalentes no grupo de indivíduos de melhor condição socioeconômica (p = 0,007), o que sugere a literatura. Na América Latina, a obesidade infantil é mais prevalente em famílias com nível socioeconômico e de escolaridade materna mais elevados (SILVA et al, 2005).

    Pesquisadores como Monteiro; Mondini; Souza; Popkin, (1995), estudando crianças brasileiras menores de cinco anos, encontraram maior prevalência de obesidade nas classes socioeconômicas elevadas (10,6%) do que nas classes baixas (2,5%). O nível socioeconômico interfere na prevalência de sobrepeso e obesidade na medida em que determina a disponibilidade de alimentos e o acesso à informação.

    Mesmo sabendo que a obesidade é um distúrbio nutricional trazido por um aumento de tecido adiposo, resultante do balanço positivo de energia na relação ingestão-gasto calórico, que freqüentemente levará prejuízos à saúde (TADDEI, 2003). Os fatores sócio-comportamentais ligados a hábitos alimentares e hábitos físicos, na presente pesquisa não demonstraram valores estatísticos significantes, porém sabe-se que a obesidade pode iniciar-se em qualquer idade, desencadeada por fatores como desmame precoce, a introdução inadequada de alimentos, distúrbios de comportamento alimentar e da relação familiar (FISBERG, 1995).

    As comodidades que o mundo moderno oferece como possibilidade do uso de TV, telefones, videogames, computadores, entre outros, acessíveis a determinadas classes sócio-econômicas, conduzem também a um estilo de vida sedentário. Não foi detectada associação significante entre horas despendidas com hábito de assistir televisão, fazer uso do computador ou de jogos eletrônicos e aumento das prevalências de sobrepeso e obesidade. Entretanto, foi observada uma tendência a tal associação (p = 0,078) possivelmente, em função da natureza sedentária da atividade, acrescida da relação que existe entre a mesma, o consumo de lanches e, também, ao efeito cumulativo da exposição a propagandas de alimentos hipercalóricos (ALMEIDA et al, 2002)

    Pesquisas anteriores já sugeriram o ciclo vicioso: obesidade – diminuição da atividade – assistir TV – comer sem ter fome, mas pelo hábito – obesidade, que se não rompido reduzirá as taxas de sucesso terapêutico.

    A associação do sobrepeso e da obesidade com variáveis biológicas, psicológicas, sociais e econômicas têm sido consistentemente investigada, sendo os dados de literatura em relação à ação estes fatores ainda conflitantes. A diversidade dos dados decorre, muito provavelmente, da etiologia multifatorial do sobrepeso e obesidade, de difícil entendimento, o que torna a comparação entre os dados de literatura sujeita a erros de interpretação.

    É visto que especialistas acreditam que a razão pela quais tantas crianças pesam mais do que deveriam é devido a três fatores: influência genética e dos pais, dietas ricas em calorias e gorduras, e gasto energético insuficiente (WILMORE; COSTILL, 2001).

    Nos estágios realizados em escolas públicas, durante a graduação, foi notado que as atividades físicas de crianças obesas eram geralmente menores do que as de não-obesas e pouco hábeis no esporte. Portanto, idéias simples para aumentar a atividade física, como iniciadas no ambiente escolar e estendida a brincadeiras infantis nas cercanias residenciais, além de ajudar nas lidas domésticas se fazem necessárias na tentativa de reversão a este quadro.

Considerações finais

    Propõe-se um maior incentivo e investimento na Educação Física desde a educação infantil, como forma de prevenção ao crescimento da obesidade infantil. Tal proposta é centrada no fato de que no ambiente escolar, há uma excelente oportunidade de se realizar a prevenção e o controle do excesso de peso corporal, na medida em que os jovens dedicam significativa quantidade de tempo, nas duas primeiras décadas de vida, as atividades escolares. Toda via é importante que o professor de Educação Física tenha acesso a instrumentos de fácil manuseio para a avaliação dos alunos, integrado à colaboração de outros profissionais da área de saúde, por se tratar da obesidade ser uma doença multifatorial, necessitando também uma intervenção multidisciplinar de vários profissionais.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 150 | Buenos Aires, Noviembre de 2010
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