Estudo comparativo entre praticantes de corrida de rua freqüentadores da Lagoa Rodrigo de Freitas Estudio comparativo entre practicantes de carreras de calle que frecuentan la Lagoa Rodrigo de Freitas |
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*Professor/a de Educação Física **Doutora em Educação Física, UGF Professora de Atletismo Centro Universitário Metodista Bennett (Brasil) |
Mauro Tilio Junior* Jorge William Lima de Menezes* Flávia Mendonça Garcia* Geovana Alves Coiceiro** |
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Resumo Objetivo: Comparar e descrever o perfil dos praticantes de corrida de rua freqüentadores da Lagoa Rodrigo de Freitas – RJ quanto ao acompanhamento ou não de um profissional de Educação Física. Metodologia: Pesquisa descritiva do tipo levantamento. Amostra composta por 70 indivíduos do sexo masculino que responderam um questionário com 18 perguntas abertas e fechadas. Resultado: 83% da amostra possuem idade inferior a 45 anos de idade, desses 53% são orientados por profissional. Em relação à classe-econômica dos que são orientados por profissional cerca de 59% pertencem a classe média e média alta. Quanto ao o objetivo do treinamento 75% dos que são orientados por profissionais praticam a corrida por orientação médica e 66,7% o fazem para melhorar o condicionamento físico. 54% da amostra com orientação declararam ter alcançado seus objetivos com a corrida. Em relação a lesões os que são orientados relataram menor incidência de lesões (67,4%). Conclusão: Os corredores orientados apresentaram maior motivação para a prática da corrida, tanto para treinar quanto para competir. Em relação a competições, tanto dentro quanto fora do estado, os orientados relataram já terem participado de ambas. Os praticantes que procuram orientação profissional têm objetivos bem estabelecidos, menores incidências de lesões o que representar a importância desse profissional na orientação e programação nas atividades de corrida. Unitermos: Corrida. Qualidade de vida. Orientação. Atividade física.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A corrida de rua surgiu na Inglaterra por volta do século XVIII. O esporte tornou-se muito popular expandindo-se para o resto da Europa e os Estados Unidos, principalmente após o sucesso da primeira maratona olímpica (RUNNER WORLD, 1999). Pode-se dizer que o Médico Kenneth Cooper foi um dos responsáveis pelo crescimento da modalidade após difundir o “Teste de Cooper” no final dos anos 60; popularizando a participação nas corridas, seja pela preocupação com a forma física, pela busca da qualidade de vida ou simplesmente para acompanhar amigos corredores. Hoje as corridas de rua são populares em todo o mundo, sendo praticadas, na maioria, por atletas amadores (WEBRUN, 2002).
No Brasil, as corridas de rua já é um fenômeno. São mais de 600 provas realizadas em todo o país e 100.000 associados em clubes e grupos de corrida. Estimou-se que em 2009 uma multidão de 4 milhões de corredores praticaram regularmente esse esporte, fazendo dessa atividade a segunda mais popular do país (REVISTA ISTO É DINHEIRO, 2009). Com a grande demanda por competições diversas agências se especializaram em marketing para esses eventos. Um exemplo é a Iguana Sports que começou em 2006 organizando o Circuito das Estações Adidas com 4 corridas por ano. Hoje, são mais de 50 provas em todo o Brasil (CORPORE, 2010).
Com todo esse movimento, algumas perguntas surgem: Por que a corrida de rua fascina tantos praticantes? O que essa praticantes buscam? Quais os locais de treinos favoritos? Por que participar de uma equipe de corrida ou mesmo correr sozinho?
Acredita-se que um dos pontos motivadores são os benefícios alcançados com a prática de corrida regular. Dentre os benefícios atingidos por um indivíduo treinado destacam-se: maior eficiência cardiovascular através de uma frequência cardíaca de repouso mais baixo e um maior volume de ejeção sistólica, melhora dos processos homeostáticos do organismo, a pressão arterial tende a entrar rapidamente em um processo de estabilização saudável e o tecido adiposo diminuí (POWERS, 2006). O organismo melhor oxigenado permite uma vascularização do cérebro mais eficiente. O exercício fortalece os ossos prevenindo a osteoporose e torna o sono mais agradável diminuindo a ansiedade (NIEMAN, 1999). A corrida desenvolve componentes cardiorrespiratórios estimulando grandes massas musculares.
O ideal é a prática de quatro dias semanais de exercício (ACSM, 2009). Essa regularidade reduz substancialmente os riscos cardiovasculares, câncer de colón, diabetes e diminuí os sintomas de ansiedade e depressão (NOAKES, 2003).
Atualmente o critério da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) define as corridas de rua como provas de pedestrianismo, podem ser disputadas em circuitos de rua (ruas, avenidas, estradas) com distâncias oficiais variando de 5 km a 100km. Segundo a Associação Internacional de Maratonas e Corridas de Rua (AIMS), sediada em Londres, as Maratonas, assim como as Corridas de Rua, vem crescendo mais como um comportamento participativo do que como esporte competitivo (IAAF, 2010).
Diante do cenário apresentado, o surgimento de grupos que prestam orientação profissional em corridas e empresas de assessorias de corrida é cada vez maior. Milhares de corredores de rua todo fim de semana, têm tomado conta das ruas do Rio de Janeiro.
O presente estudo pretende comparar e descrever o perfil dos corredores que seguem orientação profissional e os que praticam sem orientação profissional e sem regularidade.
Material e método
O estudo tem a natureza de pesquisa descritiva do tipo levantamento (THOMAS E NELSON, 2002).
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos do Centro Universitário Metodista Bennett, e atende as normas estabelecidas pela Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996.
A amostra foi constituída de 70 indivíduos do sexo masculino. Todos os participantes do estudo concordaram em assinar o Termo de Participação Consentida. Foi utilizado como instrumento de coleta de dados, um questionário base (MESQUITA, VINICIUS, BITTENCOURT, 2008), acrescentando outras perguntas, fazem um total de 18 devidamente validado por professores do Centro Universitário Metodista Bennett. As perguntas que foram elaboradas estão relacionadas ao problema proposto, de maneira clara, concreta e precisa, devendo possibilitar uma única interpretação. Os participantes da amostra foram entrevistados em seus locais de treino, na lagoa Rodrigo de Freitas.
Para a análise dos dados, foi utilizado o teste qui-quadrado com uma significância de 5%, utilizando o programa estatístico SPSS for Windows versão 16.0.
Resultados e discussão
Tabela 1. Relação da faixa etária e orientação profissional
De acordo com a tabela 1 pode-se observar que não houve diferença na distribuição das faixas etárias de acordo com a orientação ou não por profissionais de Educação Física (p=0,190). Dicotomizando as suas faixas etárias foi encontrada associação (p=0,05). Em estudos recentes pode-se observar uma predominância da faixa etária com menos de 45 anos. Esse dado é importante, pois mostra que a corrida está sendo procurada por uma faixa etária mais jovem. Segundo dados levantados diretamente da Maratona Internacional do Rio de Janeiro, do público que participa dessa competição, cerca de 63.15% dos corredores tem até 44 anos (MARATONA DO RIO, 2009).
Isso pode justificar a maior procura por orientação profissional pelos indivíduos com menos de 45 anos de idade observado na tabela 1.
Tabela 2. Relação do nível sócio-econômico e orientação profissional
A análise dos dados da tabela 2 mostra associação (p<0,05) entre o nível sócio econômico e o acompanhamento por profissional de Educação Física. Esse fato observado tendenciou o resultado devido à localização da coleta dos dados e o nível sócio econômico dos corredores. Segundo Coiceiro (2010), nesse segundo boom que o Brasil está vivendo nas corridas de rua, há uma crescente participação da classe média e alta, fato gerado pela busca da qualidade de vida.
Tabela 3. Relação entre escolaridade e orientação profissional
Na tabela 3 não houve associação entre a escolaridade e a orientação por profissionais de Educação Física (p=0,357) , assim como em relação à escolaridade(p=0,654). Mas pode-se observar que os resultados, assim como no nível sócio econômico, tendenciosos a escolaridade para superior completo, 61% do total da amostra. Esses dados ao encontro aos observados por Montes (2010), que descreveu 85% da amostra com nível superior completo. Esses dados refletem a condição financeira dos praticantes de corrida de rua da amostra do presente estudo, conforme a tabela 2.
Tabela 4. Orientação por profissional de Educação Física e outros profissionais da Saúde
Os corredores orientados por profissionais de Educação Física buscaram mais orientação (p=0,048) em relação a outros profissionais de saúde quando comparados aos que não eram orientados por estes (Tabela 4). As assessorias esportivas são uma das grandes responsáveis pelo crescimento do número de corridas de rua, elas contribuem com o processo de amadurecimento e profissionalização desse mercado. Além de planejar e orientar os treinos elas buscam que seus clientes tenham acompanhamento de nutricionistas, psicólogos, massagistas, médicos e fisioterapeutas. Este número vem crescendo de forma rápida, sendo inúmeros os clubes de corridas que organizam provas e mantém parcerias (NAVARRO, 2007).
Tabela 5. Relação entre orientação profissional e objetivo
Não houve associação entre os objetivos dos alunos e a busca ou não por profissionais de Educação Física para a orientação do treinamento, provavelmente devido a diversidade de respostas encontradas. Vale a pena ressaltar que dos que praticam a corrida por recomendação médica, 75% praticam com a orientação de um profissional de Educação Física.
Tabela 6. Objetivo alcançado e relação com orientação profissional
Os corredores orientados por profissionais de Educação Física mostraram diferença estatística (p=0,048) em relação à consecução dos objetivos propostos, com a corrida, de maneira mais freqüente do que os não orientados (Tabela 6). Pode-se observar que os orientados por profissionais de Educação Física relataram terem alcançado seus objetivos com o auxílio profissional.
Tabela 7. Busca por informações sobre corridas
Houve diferença significativa (p=0,005) em relação a busca por informações sobre as corridas de rua entre os orientados por profissionais de Educação Física e os demais, bem como em relação a realização de atividades complementares (p<0,001). No questionário foi observado que a maior fonte de informações vem de revistas especializadas em corrida e sites da Internet.
Tabela 8. Relação entre orientação profissional e lesão
Os corredores de rua orientados por profissionais de Educação Física apresentaram menos lesões (p=0,025) em relação aos não orientados (Tabela 8). Com relação às lesões que mais acometem o praticante de corrida de rua, destacam-se a tendinite (tendão patelar e do calcâneo), a fascite plantar, o esporão de calcâneo e a sensibilidade do tibial anterior. Segundo Hino (2009), as regiões mais afetadas são os joelhos e os tornozelos.
Uma das principais causas para essas lesões é a falta de orientação no uso de materiais apropriados, como tênis e roupas e a programação do treinamento. O profissional de Educação Física saberá orientar o treinamento, tomando os devidos cuidados, principalmente com o iniciante recomendando a iniciação até a aquisição de um bom condicionamento físico (GONÇALVES, 2007).
Tabela 9. Relação entre orientação profissional e motivação
A orientação por profissionais de Educação Física mostrou estar diretamente associada a motivação para treinar (p=0,017) e para competir (p=0,018). Esses dados vão ao encontro com os dados da tabela 6 que ressalta a importância da orientação desse profissional. O estímulo esportivo é tanto uma arte como uma ciência, ele será fornecido pelo treinador a fim de motivar o praticante o que acaba envolvendo muito mais do que uma conversa antes do evento. A motivação deve começar no início da vida de um corredor e continuar ao longo da sua carreira esportiva (NEWSHOLME, 2006).
Tabela 10. Freqüência semanal de treinamento, competição e orientação profissional
Em relação à freqüência semanal de treinamento (Tabela 10) pode-se observar que não houve diferença significativa entre os dois grupos. Em média os praticantes de corrida treinam de 2 a 3 vezes por semana independente de ter orientação ou não. Esses dados não conferem com a proposta do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM) que sugere quatro sessões semanais de treino para obter-se a manutenção e a melhora do condicionamento aeróbico (ACSM, 2009)
Nos dados referentes às provas praticadas observa-se que quem é orientado corre mais provas do que os não orientados. Esses dados podem ser relacionados com os dados da tabela 7 que indicam que o grupo que tem a orientação profissional buscam mais informações sobre a modalidade, uma vez que as provas de corridas são amplamente divulgadas em revistas e sites de corrida (ATIVO.COM, 2010).
Conclusão
As corridas de rua no Estado do Rio de Janeiro está aumentando de maneira muita rápida, conseqüentemente os praticantes estão procurando cada vez mais orientações com profissionais de Educação Física. De acordo com os resultados obtidos no presente estudo sobre o perfil de corredores de rua da lagoa Rodrigo de Freitas observou-se uma maior porcentagem de corredores jovens com faixa etária menor que 45 anos, nível socioeconômico de classe média e alta e nível de escolaridade de ensino superior completo.
De acordo com o estudo esses praticantes procuram a modalidade objetivando melhora no condicionamento físico e por recomendação médica. Eles treinam em média três vezes por semana e buscam informações complementares principalmente em revistas e sites especializados em corrida de rua.
O grupo com orientação profissional mostrou-se motivado e satisfeito com os resultados alcançados, assim como foram observados poucos casos de lesões. Esses indivíduos participam mais de eventos de corrida de rua na cidade do Rio de Janeiro e poucos participam fora desse município, os que participam desses eventos regularmente contam com a orientação do profissional de Educação Física.
Dentre as limitações do estudo podem-se destacar a restrição da amostra a um único local e grupo.
Recomenda-se que novos estudos sejam realizados com uma amostra maior e em outras regiões do Rio de Janeiro.
Referências
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A corrida dos Lucros. Revista: Isto é Dinheiho. n. 629, 28/10/2009.
COICEIRO, G.A. Curso de corrida de rua. Palestra CREF/CEFAN. Realizada em 2010.
COOPER, K. Exercícios aeróbicos: a chave para conseguir o equilíbrio mental e físico. Programa aeróbico para o bem estar total. Nórdica, 1982. p. 129.
CORPORE. Corredores Paulistas Reunidos. Disponível em: http://www.corpore.org.br/cor_estatisticas.asp. Acesso em: 27 Abr. 2010
DENADAI, B. S. Índices fisiológicos da avaliação aeróbica: conceitos e aplicações. Ribeirão Preto: B.S.D.,1999.
GONÇALVES, A. Saúde em debate na Educação Física. Cad. Saúde Pública. 2007: vol.23 n.6.
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MESQUITA, P. G.; VINICIUS, M.; BITTENCOURT, R. Analise do perfil dos corredores de Rua do Município do Rio de Janeiro. (Trabalho de Conclusão de Curso). Rio de Janeiro. Universidade Estácio de Sá. 2008.
MONTES, C. G. M.; OLIVEIRA, J. F. S. Perfil do corredor de rua da Zona Sul e Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro. (Trabalho de Conclusão de Curso em Educação Fisica). Rio de Janeiro. Universidade Estácio de Sá. 2010.
NAVARRO, M. S.; BARONE, P. S.; MATSUMOTO, F.; FUJIKI, E. N.; MILANI, C.; NEVES, R. J. Perfil do atendimento multidisciplinar durante uma prova de maratona. Arq Med ABC. Vol.: 32 (Supl. 2): p. 35-37.
NEWSHOLME, E.; LEECH, T.; DUESTER, G. Corrida - Ciência do Treinamento e Desempenho. 1. ed. São Paulo: Phorte, 2005. p. 205.
NIEMAN, D. C. Exercise testing and prescription. A health related approach. 5. ed. McGraw-Hill, 2003.
NOAKES, T. D. Lore of running. 4.ed. Champaing: Human Kinetics, 2003.
PLATONOV, V. N. Tratado Geral de Treinamento Desportivo. São Paulo: Phorte, 2008.
POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 5. ed. São Paulo: Manole, 2006. REVISTA O2, Rio de Janeiro v.11, 2009.
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