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Educador x dançarino: o paradigma do professor de Educação Física

Educador vs. bailarín: El paradigma del profesor de Educación Física

 

*Graduado em Educação Física pela Faculdade Social

Membro do Grupo de Pesquisa Arte do Corpo: Memória, Imagem e Imaginário

da Universidade Estadual de Feira de Santana(UEFS)

**Graduado em Educação Física pela Faculdade Social

Pós Graduando em Metodologia do Ensino e Pesquisa em

Educação Física, Esporte e Lazer escolar pela Faculdade Social

***Graduada em Licenciatura em Educação Física

pela Universidade Estadual de Feira de Santana

Professora do Curso de Licenciatura

em Educação Física da Faculdade Social

Flávio Cardoso dos Santos Junior*

flaviao@oi.com.br

Tiago Teixeira Trindade**

tiagotrindade@hotmail.com
Viviane Rocha Viana***

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Ao abordarmos tal temática procuramos basicamente identificar as dificuldades e apontar possibilidades do professor de Educação Física, que não tem uma boa relação motora com o dançar, em trabalhar com o conteúdo dança na escola, assim como pontuar as estratégias que podem ser usadas por ele em tal prática. Valemo-nos, aqui, de uma pesquisa exploratória, na qual recorremos a entrevistas semi-estruturadas destinadas a sete alunos graduandos do curso de Educação Física da Faculdade Social. Para tal buscamos pistas em publicações como o Coletivo de Autores (1992), os PCNs (2001) e em outras fontes afins. Através da análise dos dados verificamos nos acadêmicos uma vontade unanime em trabalhar com a dança no contexto escolar, assim como a possibilidade do professor que não possui habilidade como dançarino usar de artifícios que o auxiliem na condução de suas aulas.

          Unitermos: Educador. Educação Física. Paradigma. Dança.

 

Resumen

          Al abordar esta cuestión sobre todo tratar de identificar las dificultades y mostrar las posibilidades del profesor de educación física, que tiene una buena relación con el baile del motor, trabajando con el contenido de baile de la escuela, así como anotar las estrategias que pueden ser utilizados por él en dicha práctica. Hemos utilizado aquí, una investigación exploratoria, en los que recurren a entrevistas semi-estructuradas a siete estudiantes de estudiantes de pregrado de la Facultad de Educación Física de Trabajo Social. Para buscar pistas en publicaciones tales como el Colectivo de Autores (1992), el PCN (2001) y otras fuentes relacionadas. Mediante el análisis de los datos encontrados en una voluntad unánime de académicos para trabajar con la danza en la escuela, así como la posibilidad de que el maestro que no tiene la capacidad como bailarina de utilizar los dispositivos para que le ayuden en la realización de sus clases.

          Palabras clave: Educador. Educación Física. Modelo. Baile.

 

Abstract

          In addressing this issue primarily seek to identify the difficulties and show possibilities of physical education teacher, who has a good relationship with the motor dancing, working with the content of school dance, as well as scoring the strategies that can be used by him in such practice. We have used here, an exploratory research, in which resort to semi-structured interviews to seven students undergraduate students of Physical Education Faculty of Social Work. To seek clues in publications such as the Collective of Authors (1992), the PCN (2001) and other related sources. By analyzing the data found in an academic unanimous willingness to work with dance in the school, as well as the possibility of the teacher who has no ability as a dancer to use the devices to assist him in conducting their classes.

          Keywords: Educator. Physical Education. Model. Dance.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O presente estudo surgiu a partir da vivência em um dos instrumentos de avaliação na disciplina Conhecimento e Metodologia da Dança do Curso de Licenciatura em Educação Física na Faculdade Social, durante o 2º semestre do ano de 2009, na cidade de Salvador-Ba. Esta experiência foi marcada pela participação dos alunos matriculados na matéria num evento para os acadêmicos do curso e a comunidade em geral, este conhecido como Festival de Coreografias, nele os discentes teriam que em grupo apresentar uma coreografia dentro dos critérios estabelecidos pela professora regente. Além disso, a disciplina teve como avaliações: um seminário com diversos assuntos pertinentes a dança na perspectiva escolar (necessidades especiais, gênero, descobertas corporais, entre outros...) e a elaboração de um artigo abordando as temáticas anteriormente citadas. A partir da dificuldade motora de alguns alunos no tangente à execução das coreografias aliada à ausência desta manifestação da cultura corporal nas nossas vidas surgiu a necessidade de desenvolver um artigo para publicação.

    Com isso, o presente texto vem trazer um relato da nossa experiência enquanto acadêmicos do curso, pleiteando como objetivos incentivar a discussão relativa à dança na concepção da Cultura Corporal do Movimento e a possibilidade metodológica abordada na disciplina, bem como despertar nos futuros professores de Educação Física uma concepção de práxis do conteúdo dança inserido na escola.

Métodos

    O presente estudo trata-se de uma pesquisa exploratória à qual Gil (2002) nos fala que este tipo de investigação “[...] têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explicito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições”. (p.41).

    Foi realizada uma entrevista de característica semi-estruturada, a qual Lakatos e Marconi (2002) nos dizem que: “[...] o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada” (p.94). Tivemos como público alvo sete acadêmicos do curso de educação física da Faculdade Social da Bahia que já cursaram a disciplina Conhecimento e Metodologia da Dança. Como instrumento de coleta de dados utilizamos um questionário com perguntas semi-estruturadas apresentado abaixo:

a) Você pretende trabalhar com o conteúdo dança em suas futuras aulas na escola?

b) Pode o professor que não possui habilidade como dançarino usar de artifícios que o auxiliem na condução de suas aulas?

c) Para você, o que a dança pode desenvolver em seu aluno além dos aspectos motores?

d) Qual a importância de se aprender a dança no seu processo de formação acadêmica?

e) Você se sente capacitado para ministrar a dança como conteúdo?

f) Você acha que vai encontrar resistência para trabalhar com a dança, se sim, qual?

g) Qual o legado que a disciplina Conhecimento e Metodologia da Dança deixou para você?

    Os resultados encontrados foram analisados e serão apresentados no decorrer da nossa discussão.

A dança e a humanidade: um passeio na história

    Numa linguagem muda, o nosso corpo fala. Desde os primórdios o homo sapiens sapiens sentiu a necessidade de se comunicar e foi através desta comunicação que através dos tempos, foram desenvolvidas outras formas de manifestações culturais como as danças, as lutas e a escrita. Por ser um animal dotado de inteligência e de raciocínio, o homem se destacou perante os demais seres da natureza. Para entender melhor tal processo recorre-se a Engels (1979) apud Pereira (1998), que diz que “[...] os antepassados simiescos, ao abandonarem as árvores, e passarem a deslocar-se em dois apoios, por meio do trabalho manual, das atividades físicas, como manipulações diversas, desenvolveram habilidades então possibilitadas pela posição ortostática... (p.24)”, daí o fator necessidade se tornou preponderante no aperfeiçoamento de tais capacidades, nos conta novamente o autor que “[...] se mantendo ereto, com as duas mãos livres, o homem, podia lançar ou obter eficiência, diferenciando-se das outras espécies artrópodes também pelo domínio corporal e por suas habilidades manuais” (p.24).

    Assim o destaque perante os outros seres e o uso dos sentidos fez com que este interagisse com o meio, permitindo transformá-lo e se transformar também. As atividades que eram realizadas para a sobrevivência, com o tempo, foram incluídas nas horas do lazer. Entre elas podemos destacar o dançar, pois a “[...] dança faz parte da humanidade desde tempos imemoriais e, sabe-se, esteve presente em quase todas as civilizações” (SBORQUIA e GALLARDO, 2006, p.14). Historicamente foi no dançar que se comunicava, comemorava e expressava os rituais, a história da dança se confunde com a própria história da humanidade, pois ela pode ser:

    [...] entendida como uma manifestação cultural a partir das formações simbólicas de cada grupo social, numa relação dialética entre o homem, a cultura e a sociedade. Pode-se dizer que a dança acompanhou o pensamento do ser humano, em busca da razão, da ciência ou em mesmo em busca da arte. (SBORQUIA e GALLARDO, 2006, p.13).

    Percebemos aqui a importância de tal movimento adquirido culturalmente pela humanidade, o mesmo serviu de fonte inspiradora em diversos segmentos da sociedade.

    De acordo com Weil e Tompakow (1996), o corpo possui uma linguagem própria e inerente a ele mesmo, a qual “ele fala sem palavras” (e não mente) e através dessa linguagem as pessoas dizem, inconscientemente, muitas coisas uns aos outros, como os seus sentimentos, vontades e necessidades. Aprender a ler tais símbolos, segundo os autores possibilita às pessoas interpretarem o mundo em que vivem.

    Nanni (2008) revela que através da dança os aspectos de padrões sociais e econômicos influenciam nas necessidades humanas de expressar seus sentimentos, desejos e interesses mais diversos. Aponta também que sua manifestação pode levar a um mundo mágico da imaginação, no qual seus movimentos possam dar um fenômeno mítico, lúdico e religioso.

    Percebemos então que a dança hoje tem por necessidade retratar o homem como fonte de encarar a sua existência em uma forma positiva e real, uma vez que o movimento corporal nunca se repete, pois uma situação nunca é a mesma, como também é o homem, isto é atribuir novos significados e de agir criando o novo em si próprio, parece ser a essência da criatividade. Esta que tem a sua raiz no próprio ser humano.

    Assim esse corpo humano não é só um conjunto de ossos e músculos andantes, ele é carregado de instintos, sentimentos, idiossincrasias, e devires. Ao conviver em sociedade ele estabelece relações a partir de tais aspectos, os quais o torna um ser dinâmico, que no decorrer de sua própria evolução submeteu este seu corpo a diversos processos como o de civilização (na antiguidade) e reificação (na modernidade). Estabelecendo assim significados e identidades. Concordamos com Fenstenrseifer 2005: [...] a dança não é apenas um conjunto de “passos” “anátomo-fisio-psico-sócio-cinesiologicamente” analisáveis, mas sim um objeto passível de apreciação estética e artística de caráter racional e objetivo. (p. 124 e 125). E por isso a mesma pode ter como fim o seu caráter plástico, bem como os seus movimentos podem ser um caminho de construção humana aonde as pessoas podem encerrar algo mais significativo para a sociedade.

Cultura corporal e o contexto da dança

    As ações das atividades físicas estão no cotidiano do homem. Ou melhor, o andar, correr, saltar, caminhar e outras ações estão todas caracterizadas através do tempo, interagindo com outros processos de evolução e ensinamentos.

    Durante muito tempo os centros de ensino, tratavam a Educação Física como forma de educar o corpo a um padrão biológico militar. Ou melhor, voltado para as estruturas físicas e motoras do indivíduo contribuindo com o exercício de atividades profissionais na sociedade.

    Para Nunes e Couto (2006), a teoria e prática realizada pelos professores de Educação Física nas escolas tem um trabalho de aperfeiçoar os movimentos das suas ações motoras e musculares assim como as intervenções das técnicas pedagógicas para a meta do desenvolvimento do educando.

    Em 1980, o termo “cultura” marcou inúmeros estudos teóricos sobre o corpo do homem e a sua forma intelectual. A partir disso a Educação Física traça a sua caminhada, sua conduta pela sociedade. A cultura Corporal chegou às escolas com intuito de desfazer esta visão biológica e militarista. (TRINDADE, 2010).

    A cultura como norteadora das ações na sociedade, através da Educação Física, promove a tentativa de agir ajudando os alunos a entenderem o seu tempo e as ações sociais e políticas que as envolviam. Assim a dança “aqui tratada” leva os alunos a desenvolverem uma cultura universal que une seus valores históricos e sócio-culturais.

Escola, Educação Física e Cultura

    Ao assistirmos o filme Vem Dançar, o qual trata da história real de Pierre Dulaine e narra a saga de um professor de dança de salão que atua como voluntário para um grupo de alunos carentes do ensino médio do centro de Nova York, nos deparamos com a situação em que a dança destacou-se por mudar a realidade de jovens carentes que viviam em situação de risco social. No filme os alunos são levados a uma competição de dança, não é essa a nossa expectativa, e nem tampouco queremos que a dança se torne redentora das mazelas sociais, como tentam fazer com o esporte. Queremos apontar como a mesma pode ser fonte inspiradora de libertação e emancipação humana.

    Contudo, vale ressaltar que as Escolas básicas não são escolas de dança, nem tampouco a escola regular é um celeiro de talentos. Mas, durante muito tempo se buscou no espaço escolar uma formação técnica e mecanicista, e as aulas de Educação Física eram reprodutoras de tais práticas. Ao tentar responder o que era Educação Física o Professor Vitor Marinho (1983) nos aponta que:

    [...] os exercício físicos não sejam o fruto de pura imitação mecânica; só assim a Educação Física passará a estimular a inteligência, não embrutecendo o indivíduo. É importante que as pessoas se movimentem tendo consciência de todos os seus gestos. Precisam estar pensando o sentido que realizam. É necessário que tenham a “sensação de si mesmos”, proporcionada pelo nosso sentido sinestésico (propriocepção), normalmente desprezado. Caso contrário, estaremos diante da “deseducação física”. (p.96)

    Faz-se necessário lembrar, que foi preciso a área de Educação Física entrar em crise na década de 1980 para se buscar novas perspectivas em seus objetivos.

    Superar o aspecto técnico e formar um sujeito autônomo e crítico é o desafio do educador, que deve ir além de ser um técnico desportivo. Intelectual e provocador é o perfil do professor que se propõem a trabalhar numa formação crítica.

    Ao se referir à dança o Coletivo de Autores diz que “[...] há que se considerar que o seu aspecto expressivo se confronta, necessariamente, com a formalidade da técnica para sua execução, o que pode vir a esvaziar o aspecto verdadeiramente expressivo” (1993, p.58). Para isso não queremos dizer há de se negar a técnica, a mesma é uma construção humana, o que se preza aqui é entender que a arte, assim como a vida, não deve ser mecanizada e sim algo que deva “[...] encontrar os seus fundamentos na própria vida, concretizando-se numa expressão dela e não numa produção acrobática” (COLETIVO DE AUTORES, 1993, p. 58).

    Os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) dizem que um de seus objetivos é “[...] utilizar as diferentes linguagens – verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal.” (2001, p.8), bem como a Educação Física tem sua importância social, pois a mesma “[...] tem seus fundamentos nas concepções de corpo e movimento.” (2001, p.25) e que:

    Num país em que pulsam o samba, o bumba-meu-boi, o maracatu, o frevo, o afoxé, a catira, o baião, o xote, o xaxado entre muitas outras manifestações, é surpreendente o fato de a Educação Física ter promovido apenas a prática de técnicas de ginástica e (eventualmente) danças européias e americanas. A diversidade cultural que caracteriza o país tem na dança uma de suas expressões mais significativas, constituindo um amplo leque de possibilidades de aprendizagem. (2001, p. 51).

    As citações acima nos permitem dizer que a Educação Física, apesar de sua importância e de seu imenso campo de atuação cultural, durante muito tempo ficou presa às práticas hegemônicas de movimento.

    Entendemos que, historicamente falando, a participação ativa nas aulas de Educação Física se limita(va) aos alunos mais “talentosos”, ou seja, se nega(va) aos menos “habilidosos” o acesso e a experimentação aos movimentos trabalhados, restando apenas o papel de “ajudantes” ou mero expectadores aqueles que não se enquadram nos moldes acima citados. É preciso, enquanto educadores, diuturnamente quebrarmos tais tabus, pois o marginalizado não é “[...] o ignorante, mas o rejeitado. Alguém está integrado não quando é ilustrado, mas quando se sente aceito pelo grupo e, por meio dele, pela sociedade em seu conjunto” (SAVIANI, 2006, p.7). Um dos objetivos da Educação Física, segundo Darido (2008) seria a democratização ao acesso às aulas.

Caminhos a serem traçados na formação e algumas estratégias

    A mediação entre a arte ensinada e a arte criada, é um aspecto que deve ser observado na condução das aulas de Educação Física que têm a dança como norte. Para tal, não é obrigação o professor ser um exímio dançarino, o mesmo deve ser o mediador de um processo de construção do conhecimento. Não queremos dizer com isso que ele não deva buscar esforços em se qualificar e a partir daí sistematizar a informação.

    O professor deve dar autonomia aos seus alunos, pois aprender “[...] é um processo que pode deflagrar no aprendiz uma curiosidade crescente, que pode torná-lo mais e mais criador” (FREIRE, 1996, p.24), assim a oportunização da experimentação dos movimentos pode ser uma forma de familiarização não só para os alunos como para o professor que tem dificuldade em dançar, daí o ensinar e o criar pode ser um processo mutuo onde docentes e discentes realizam uma “troca” e daí crescem juntos, o mesmo Freire (1996, p.23) nos dizia que “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Ou seja, existe um processo recíproco, onde a “[...] educação é essencialmente auto-educação, ou seja, não é tanto obra de arte do educador, mas do educando. Além disso, a obra de arte do educador não será jamais fabricar o educando, o discípulo, o assecla, pode motivar magicamente as capacidades do educando, para que ele também seja educador” (DEMO, 2005, p.16). É nesse “jogo” de vai e vem que se constrói uma educação libertadora e crítica.

    Reiteramos aqui, que a escola não é espaço de formação de atletas, nem de dançarinos, ou bailarinos. A mesma é local de se experimentar, em se tratando de Educação Física, os movimentos culturalmente adquiridos pela humanidade.

Os alunos de Educação Física da Faculdade Social: ensaio, apresentação pública e platéia prestigiando 

o evento da disciplina Conhecimento e Metodologia da Dança (SANTOS JUNIOR, 2009)

    A dança como ferramenta de ensino pode ser uma fantástica aliada para desmistificar alguns tabus ainda presentes em nossa sociedade, ou na realidade social do espaço em que se encontra inserido o professor, como as questões de gênero e sexualidade. Em contrapartida, se faz necessário alguns cuidados ao introduzi-la, antes de qualquer coisa é preciso contextualizar com os alunos a respeito do tema e procurar estabelecer valores e condutas de respeito entre os membros do grupo, pois “[...] no âmbito escolar podem estar presentes todas as manifestações da dança. Torna-se necessário, no entanto, refletir sobre o sentido atribuído à dança utilizada, principalmente quando se refere à conotação erótica e pornográfica.” (SBORQUIA e GALLARDO, 2006, p.32).

    Assim se faz necessário o uso de alguns cuidados antes de introduzir o conteúdo nas aulas. É preciso se repensar o espaço educacional, pois muitas vezes o mesmo não está preparado para sediar tais possibilidades. Por conta de um processo histórico as escolas, geralmente, não possuem espaços pensados para a dança, cabe aí o professor junto com seus alunos e até com a comunidade refletirem em alternativas para tal prática.

    Sendo a dança um dos elementos da Cultura Corporal Humana e por isso um dos conteúdos da Educação Física, seria um equivoco negar tal possibilidade aos alunos, pois um dos objetivos da Educação Física Escolar é formar um sujeito autônomo e crítico (DARIDO, 2008).

Considerações finais

    Pudemos perceber nos relatos dos entrevistados unanimidade na vontade de se trabalhar com a dança nas suas futuras aulas, assim como a importância de se aprender a dança no seu processo de formação acadêmica. Segundo uma aluna entrevistada por nós: “Durante os anos de escolarização este conteúdo (dança), nos é negado. Assim, historicamente, se cria um circulo repetitivo, pois teimamos em ensinar o que conhecemos bem. Aquilo que não vivemos não buscamos conhecer e nem usar em nossas aulas...”. No entanto um aluno entrevistado ressalta que “[...] seria muita prepotência do professor e uma ilusão do aluno achar que aprende “a dança” em um semestre” , para ele a disciplina foi capaz de “apresentar novos olhares da dança nos diversos espaços que os futuros professores podem experimentar (escola, academia, hotel, clube, etc.)...”.

    Desta maneira, além do anseio de trabalhar com a dança, existe uma vontade em se diversificar os conteúdos nas aulas de Educação Física, o que atende à expectativa dos autores citados no texto, onde através de uma educação na perspectiva emergente pode ampliar o repertório cultural do aluno, possibilitando a este uma valorização dos saberes que o mesmo adquiriu fora dos espaços formais (escola) de formação.

    Tanto nas entrevistas, como em nossa experiência pessoal, a disciplina Conhecimento e Metodologia da Dança foi um aporte seguro para a valorização e conhecimento mais profundo do conteúdo em tela. Cabe aos futuros docentes, afinados, ou não, com a dança traçarem estratégias para poder desenvolver um bom trabalho em seus espaços de atuação profissional, tendo em vista a importância da mesma para a Educação Física e a humanidade. O que não se pode é negar a possibilidade dos alunos experimentarem os diversos elementos da Cultura, gerando uma ciranda de negação cultural.

Referências

  • BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física: Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEE, 2001.

  • Coletivo de Autores. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo, Cortez 1993.

  • DARIDO, Suraya Cristina; Rangel, Irene Conceição Andrade. Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara, 2008.

  • DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa: Polêmicas do nosso Tempo. 6. ed. Campinas, Sp: Autores Associados, 1999.

  • GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

  • FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo. Dicionário Crítico de Educação Física. Injuí: Unijí, 2005.

  • FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra 1996.

  • LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de pesquisa: Planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

  • NANNI, Dionísia. Dança – Educação: Da Pré-escola à Universidade, Rio de Janeiro: 5. ed: Sprint, 2008.

  • NUNES, Tatiana Cortez; COUTO, Yara Aparecida. Educação física escolar e cultura corporal de movimento no processo educacional. In: I Seminário de Estudos em Educação Física Escolar, 2006, São Carlos. Anais... São Carlos: CEEFE/UFSCar, 2006.

  • OLIVEIRA, Vitor Marinho. O que é Educação Física? São Paulo – SP: Editora Brasiliense, 2006.

  • PEREIRA, Flávio Medeiros. Dialética da Cultura física. São Paulo: Ícone, 1988.

  • TOMPAKOW, Roland e WEIL, Pierre. O Corpo Fala. Rio de Janeiro, Vozes, 2008.

  • SAVIANI, Dermeval, Escola e democracia. São Paulo. Ed Cortez, 1985.

  • SBORQUIA, S.P. e GALLARDO, J.S.P. A dança no contexto da Educação Física. Ijuí: Ed. Unijuí, 2006.

  • Vem Dançar (Take the Lead). EUA. 118 min. Direção: Liz Friedlander. Distribuição: Play Arte.

  • TRINDADE, Tiago Teixeira. A Inserção da Dança como metodologia de ensino-aprendizagem para crianças com faixa etária entre 02 a 06 anos de idade. Monografia de Conclusão de Curso – Faculdade Social – 2010.

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