Educação Física Escolar: a prática pedagógica no ensino fundamental em escolas de Várzea Grande, MT Educación Física Escolar: la práctica pedagógica en la enseñanza básica en escuelas de Várzea Grande, MT |
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*Graduada em Educação Física pelo UNIVAG - Centro Universitário de Várzea Grande **Mestre em Educação pela UFMT Professora do curso de Licenciatura em Educação Física do UNIVAG (Brasil) |
Edinéia Ortiz dos Santos* Larissa Beraldo Kawashima** |
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Resumo O tema desta pesquisa baseou-se no estudo sobre a prática pedagógica de três professoras de Educação Física, em que duas eram da rede privada e uma da rede pública, no ensino fundamental. O objetivo foi de investigar a prática pedagógica dos professores de Educação Física em suas aulas do Ensino Fundamental. O presente estudo baseia-se em uma pesquisa qualitativa com observações não participantes e entrevistas semi-estruturadas. Os resultados obtidos foram: na escola pública a professora não segue um planejamento e, na escola particular, ao contrário da escola pública, existe um planejamento de aula padrão que é seguido pelas professoras. Verificou-se que na escola pública, a estrutura não é adequada para que as aulas de Educação Física fluam de maneira satisfatória e na escola privada há uma estrutura adequada onde conta com materiais pedagógicos suficientes para que atinjam os objetivos planejados. A partir dos referenciais teóricos utilizados nesta pesquisa e com os dados coletados, podemos concluir que as professoras precisam buscar novos conhecimentos, a fim de inovar a forma de trabalhar com todos os conteúdos da disciplina de Educação Física. Unitermos: Escola. Ensino Fundamental. Prática pedagógica.
Trabalho de conclusão de curso
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A atuação do professor de Educação Física é imprescindível, pois este pode ter um papel ativo na vida do aluno. Nas suas metodologias estão inseridos valores éticos e morais, que devem fazer parte do aprendizado interdisciplinar do aluno. A Educação Física pode lhes proporcionar momentos lúdicos, mas sua contribuição perpassa à uma variedade de conteúdos como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, que podem contribuir com o desenvolvimento integral dos alunos.
Segundo Piaget (1974, apud NEIRA, 2003) a atuação do professor é indispensável devendo ter um papel ativo na construção e estruturação no processo de conhecimento do seu aluno e na organização e maturação de suas ideias, estimulando a pesquisa e ações intencionais.
A postura do professor de Educação Física em seu ambiente de trabalho e sua influência pode ser imprescindível no desenvolvimento dos fatores cognitivos, afetivos e motores do aluno. Porém, a realidade das aulas de Educação Física são adversas, ou seja, professor preso ao comodismo e a metodologias retrógradas, além da insatisfação profissional nos quais muitos têm vivido, às vezes, tendo por consequência as aulas podem se tornar cansativas e repetitivas.
Como justificativa para esta investigação, atribui-se dentre os motivos, os estágios anteriormente realizados na área de Educação Física do Ensino Fundamental (2008/1), pois por muitas vezes os professores que deveriam estar presentes para avaliar (professor tutor) o estagiário, saía para resolver interesses particulares, sem se preocupar na responsabilidade que estava passando ao mesmo. Por certo, não se teve uma visão de como seria a aula de Educação Física de um professor na prática para que se pudesse espelhar e estagiar, deixando dúvidas acerca do seu trabalho. Desta forma, emergiu o interesse em compreender melhor a prática docente em seu referido contexto escolar,
Nesse contexto, a construção deste artigo justifica-se também em apresentar argumentos pertinentes que venham a colaborar com estudos futuros acerca do assunto. Assim, o objetivo pretendido a ser alcançado é de investigar a prática pedagógica dos professores de Educação Física em suas aulas do Ensino Fundamental.
O quê ensinar, como e por que ensinar... são perguntas que fazem parte do cotidiano do professor. Muito embora ele tenha uma gama enorme de modelos de aperfeiçoamento do desempenho motor dos alunos, mais importante do que escolher como conteúdos as modalidades esportivas, é oferecer possibilidades de estimulação motora, permitindo que todos consigam executar de acordo com as suas capacidades, abrindo espaço para expressão e vivência deste movimento que é singular, e ao mesmo tempo coletivo, do indivíduo. Sua aula deve oportunizar a exploração dos potenciais de quem aprende (TOLEDO; VELARDI; NISTA-PICCOLO, 2009a, p. 23).
Assim, o principal papel da Educação Física é oferecer experiências aos alunos para que aprendam uma manifestação cultural construída historicamente e valorizada pela nossa sociedade há longa data, de modo que, ao aprendê-la, ganhem autonomia para praticá-la por toda a vida, nos mais diferentes ambientes em que esta se manifestar, vivendo, assim, melhor individualmente e em sociedade (SANTANA; REIS, 2001).
Metodologia
A partir da escolha do objeto de estudo – a prática pedagógica dos professores de Educação Física na escola – foi definido o processo de investigação e a abordagem de pesquisa a ser utilizada no que define como lócus de investigação uma escola da rede privada e outra da rede estadual.
O lócus da pesquisa foi escolhido por conveniência no Bairro Cristo Rei em Várzea Grande, facilitando o acesso da pesquisadora, por ser o bairro onde reside. Duas escolas, uma da Rede privada e outra da Rede Estadual. Foram selecionadas duas turmas de alunos de cada escola para análise das aulas, uma turma do 6° ano (antiga 5° série) e outra do 7° ano do ensino fundamental (antiga 6° série), sendo que a escolha dessas turmas foi indicada justamente pela coordenadoria das Escolas, por apresentarem as aulas nos dias e horários que favoreciam a pesquisadora e, por estas estarem relacionadas ao tema da Pesquisa.
O método de pesquisa utilizado para a realização deste trabalho foi a Pesquisa Qualitativa que, segundo Silva e Menezes (2001) há uma relação entre o mundo real e o sujeito, que não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas, por sua vez, o ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva e os pesquisadores analisam seus dados indubitavelmente, ou seja, o processo e seu significado são focos principais da abordagem da pesquisa.
Esta pesquisa caracteriza-se por ser um estudo de campo, segundo Gil (2002, p. 53):
Tipicamente o estudo de campo, focaliza uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer, ou voltada para qualquer outra atividade humana. Basicamente a pesquisa é desenvolvida por meio de observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas explicações do que ocorre no grupo. Esses procedimentos são geralmente conjugados com muitas outras, tais como análise de documentos, filmagens e fotografia.
Os instrumentos para coleta de dados empregados foram a entrevista semi-estruturada e observação não-participante.
As entrevistas semi-estruturadas para Silva e Menezes (2001) correspondem à obtenção de informações de um entrevistado, sobre determinado assunto ou problema, em que o roteiro é previamente estabelecido.
Para Marcone e Lakatos (2005) a observação não-participante caracteriza-se pelo fato do pesquisador se aproximar da comunidade ou realidade estudada, não se integrando a ela, permanecendo “de fora”.
Presencia o fato, mas não participa dele, não se deixa envolver pelas situações; faz mais o papel de expectador. Isso, porém, não quer dizer que a observação não seja consciente, dirigida, ordenada para um fim determinado. O procedimento tem caráter sistemático (MARCONE; LAKATOS, 2005, P. 195).
A escola pesquisada da rede privada iniciou seu funcionamento no ano de 1974, e hoje contém 795 alunos divididos em 29 turmas, que vão da Educação Infantil aos anos finais do Ensino Fundamental. A escola é composta no seu quadro de profissionais por 39 professores e 21 funcionários. Em seu espaço físico há 29 salas de aula, no total são 45 salas, incluindo laboratório de informática, biblioteca, banheiros, cantina, duas quadras poliesportivas cobertas, campo de futebol, uma pista de atletismo e um amplo pátio para as práticas de Educação Física.
A escola da rede Estadual está em funcionamento desde 1990 e é uma escola que ainda não têm a escritura do terreno, contendo hoje 312 alunos, divididos em 12 turmas distribuídos em anos iniciais e finais do Ensino Fundamental ao Ensino Médio. A escola é composta em um quadro total de 35 funcionários, incluindo os professores. Em seu espaço físico há sete salas de aula, laboratório de Informática, banheiros, cozinha e refeitório.
As entrevistas foram realizadas, de forma individual, com os sujeitos da pesquisa, num total de três professores de Educação Física graduados na área, sendo duas da Rede Privada e uma da Rede Pública da Cidade de Várzea Grande por ser a única professora de Educação Física nesta Escola.
Utilizando um roteiro com perguntas subjetivas, sobre sua formação, tempo de atuação na área, quantas turmas na escola atual, infra-estrutura da escola, materiais pedagógicos disponíveis para aulas, o planejamento anual e diário, os conteúdos que são trabalhados nas aulas e se são diferentes para cada ano de ensino e como são desenvolvidas são aulas. Nomearemos as professores da escola privada de P1, P2 e da rede estadual de P3. As entrevistas da Professora P1 e P2 foram realizadas em um dia que não tinham aula, no momento da “Janela” (assim denominado por alunos e professores). E a professora P3 foi entrevistada em um momento marcado em um período antes de começar a aula.
As observações das aulas de Educação Física foram realizadas no sentido de obter dados da realidade de ensino, a fim de verificar como é a prática pedagógica durante as aulas do Ensino Fundamental. As observações foram realizadas em duas aulas de cada turma antes das entrevistas, com as turmas do 6° e 7° ano no período da tarde, estando em observação por todo o tempo da aula, ou seja, por 50 minutos.
O roteiro de observação inclui a análise do conteúdo de ensino e a sua prática pedagógica durante as aulas de Educação Física. As observações foram registradas em caderno de campo com um roteiro pré-estabelecido para a coleta de dados, referentes aos planos de aula, à organização das aulas, à explicação aos alunos e aos conteúdos trabalhados durante a aula.
Resultados e discussões
Neste momento serão descritos, discutidos e analisados os dados coletados nesta pesquisa, de acordo com os procedimentos metodológicos apresentados anteriormente, tendo como fundamentação teórica os pressupostos discutidos no referencial teórico.
Os dados serão organizados em categorias de análise, sendo discutidos os dados da entrevista e em diálogo com os dados das observações das aulas dos professores pesquisados.
A formação docente e a estrutura física das escolas
As professoras pesquisadas da rede privada trabalham em uma escola com uma ótima estrutura física e com ampla disponibilidade de materiais didáticos pedagógicos, dentre estes bolas de todos os tipos que favoreçam o aprendizado de todos os esportes e jogos, rede de vôlei, bambolês, cordas, jogos de tabuleiros, entre outros.
A professora P1 tem 37 anos de idade, é formada a 13 anos na área Educação Física e Pós Graduada em Educação Física e Desporto com aprofundamento em dança pela UFMT, durante as observações percebeu-se que tem bom domínio em transmitir o conteúdo que está trabalhando e consegue repassá-los de forma que os alunos consigam compreender.
Sobre a formação profissional da P1, nota-se que a mesma se formou no final da década de 90. Sabemos que a Educação Física escolar estava passando por transformações em seu campo teórico desde o início da década de 80, quando diversos autores apontavam à crise de identidade da área e discutiam o que é Educação Física, como ela tinha sido e como deveria ser na escola, desenvolvendo uma série de questionamento e críticas em relação ao tipo de aulas que havia no esporte de alto rendimento, no treinamento esportivo e no paradigma da aptidão física, um modelo a ser seguido. Por sua vez, acredita-se que a professora em questão, ainda teve sua formação acadêmica com base num currículo esportivista, que tinha como parâmetro o esporte competitivo como o principal conteúdo a ser ensinado nas aulas de Educação Física escolar (SOUZA, 2007, p. 24).
A professora P2, tem 28 anos graduada na área de Educação Física há dois anos, trabalha na atual escola há um ano. De acordo com as observações, percebeu-se que durante suas aulas a professora não tinha um domínio completo de sua turma, ficando muitos alunos dispersos e sem a compreensão do conteúdo que estava explicando, pois por várias vezes a professora voltava a repetir a explicação a pedido da maioria dos alunos.
A professora P3, tem 37 anos graduada em Educação Fisica há 10 anos pelo UNIVAG e Pós Graduada em Educação Física Escolar, seu tempo de atuação na escola atual é de oito anos. Diante das observações e entrevista realizada, a professora mantêm um relacionamento amigável e cordial com os alunos embora sejam muito “difíceis de lidar” (P3). Devido ao seu bom tempo de atuação na área “parece” possuir um domínio dos conteúdos, embora não consiga passar aos alunos a diversidade e variações dos conteúdos, devido à resistência dos alunos e pela má estrutura física da escola.
A estrutura da escola não lhe proporciona um ambiente adequado para todas as atividades de Educação Física, pois a escola não possui quadra coberta, limitando a quantidade de alunos que não querem fazer aula na quadra expostos ao sol.
Numa escola alguns itens são essenciais para o bom funcionamento e desenvolvimento da instituição como um todo, sendo assim, planejar e organizar espacialmente de maneira correta a infra-estrutura de uma escola pode contribuir para um processo de aprendizagem com qualidade.
Segundo a LDB, lei 9.394 de 1996, de diretrizes e bases da educação brasileira. O Estado tem o dever de garantir “padrões mínimos de qualidade de ensino definido como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem”. (MATOS, 2005, apud MEDEIROS, 2009, p. 5).
Portanto, como a Educação Física está compreendida no processo educacional oferecido pela escola, ela deve ter seu espaço próprio. Quando se refere ao espaço destinado às aulas de Educação Física, compreendem-se como quadras de esporte (futsal, handebol, basquete, vôlei), salas pátios, áreas verdes, entre outros, na compreensão de que o espaço físico da escola deve ser um meio facilitador na busca do senso crítico e da autonomia corporal, sendo capaz de possibilitar ao educando formas de expressão da sua cultura e de suas vivências sociais, afetivas e motoras. (MEDEIROS, 2009, p. 5)
Ginásios e campos de jogos mal estruturados, temperaturas extremas, iluminação deficiente, vestuário inadequado ou impróprio, provavelmente prejudicam a situação de aprendizagem, mas isso não quer dizer que todas as condições precisem ser perfeitas a fim de que ocorra a aprendizagem, mas, em geral, quanto melhor o ambiente, maiores poderão ser as possibilidades de aprendizagem.
O planejamento anual e planos de aula
Nessa questão buscou-se investigar se há um planejamento anual e a existência ou não do plano de aula, quais são os conteúdos abordados em cada série e se esses conteúdos atendem as três dimensões (conceitual, procedimental e atitudinal).
Com base nos trabalhos de Coll e colaboradores (2000), o ensino da Educação Física na escola deve possibilitar a aprendizagem de diferentes conhecimentos sobre o movimento, contemplando as três dimensões: procedimental (saber fazer), conceitual (saber sobre) e atitudinal (saber ser).
É importante frisar que, no decorrer da prática pedagógica, não se separa os conteúdos na dimensão conceitual, atitudinal e procedimental, embora possa haver ênfases em determinadas dimensões (DARIDO; RANGEL, 2005). Isso significa que em uma aula ou num planejamento as três dimensões estarão presentes, e que poderá enfatizar determinada dimensão como, por exemplo, enquanto os alunos realizam uma atividade o professor pode ir conceituando o porque de executar tal atividade.
Para as professoras P1 e P2, seus planos anuais são feitos de acordo com as exigências correspondentes ao nível da turma, ou seja, um plano Padrão para todas as turmas. Seus planejamentos são bimestrais, sendo oferecidos os mesmos conteúdos para todas as turmas do 6° ao 9º ano, mudando apenas os objetivos para cada ano de ensino,
“(...) por exemplo, com o 6° ano vai ser trabalhado o futsal, mas de forma que privilegie apenas alguns dos fundamentos mais básicos do futsal, posteriormente no 7° ano, vai ser trabalhado novamente o futsal, mas enfatizando outros fundamentos técnicos e táticos”. (P1) Informação Verbal.
A professora P1 tem 15 turmas, do 4° ao 9° ano e a professora P2 tem duas turmas 6° e 8° ano. As turmas observadas foram uma do 6° ano e outra do 7° ano. Neste bimestre as professoras estavam trabalhando com o conteúdo de esporte, sendo P1 Basquetebol para o 7° ano e P2 Futsal para o 6° ano. Durante as observações, as professoras trabalharam com atividades que privilegiaram esses conteúdos apenas na dimensão procedimental. Porém, não disponibilizaram seus planos de aula e anual para a pesquisadora, pois alegaram que nem sempre levavam para a escola.
A professora P3 tem 8 turmas do ensino fundamental ao Ensino Médio, sendo que foram observadas as turmas do mesmo ano de ensino da outra escola, do 6° e 7° ano. Segundo a professora P3, seu planejamento anual:
É elaborado dependendo da faixa etária, se ele é para o ensino de (5 a 8), ele vai trabalhar muito com recreação pras qualidades físicas, que ainda precisa ser desenvolvida e para o ensino médio ele é voltado mais pras modalidades esportivas, ainda com recreação, jogos, mas todos voltados pras modalidades esportivas. (P3) IV.
Por não ter disponibilizado seu plano anual e de aula, não foi possível verificar a veracidade do relato da professora P3. Durante as observações, a prática pedagógica da professora demonstrou não ter coerência com o que verbalizou sobre seu planejamento, não sendo possível entender qual era o conteúdo que estava trabalhando naquele bimestre. Observou-se que em uma aula ficou em sala com a turma passando uma redação, e em outra aula foi para a quadra e apitou um jogo de futsal, ficando alguns alunos de lado. A professora também prioriza o “saber fazer”, ou seja, dimensão procedimental do conteúdo.
Molina Neto (1996, p. 310-311 apud FAGGION, 2000, p. 50 ) em sua tese de doutorado, destaca que:
a maioria dos professores de Educação Física não gosta de fazer planos. [...] quando há necessidade de escrever o planejamento, reservam essa tarefa as mulheres do grupo. Os mais experientes destacam que os anos de prática fazem com o que prescindam de escrever, porque as coisas se repetem, [...] as situações de aula mudam muito, [...] as enormes diferenças entre os grupos; o material de que dispõem no momento da aula; a não existência de um currículo mínimo (...).
O fato é que, embora tudo isso possa ser realidade, entende-se que o professor deve fazer um planejamento de sua aula, para que não aconteça de seu trabalho tornar-se um fazer pelo fazer ou uma prática pela prática. O plano de aula é uma das maneiras de melhorar o ensino e sair da rotina das aulas dia após dia, por consequência, por meio do planejamento os alunos também serão beneficiados com aulas mais atrativas e prazerosas.
Os conteúdos de ensino e sua sistematização
Segundo Soares e colaboradores (1992, p. 87):
[...] os conteúdos selecionados, organizados e sistematizados devem promover uma concepção científica do mundo, a formação de interesses e a manifestação de possibilidades e aptidão para conhecer a natureza e a sociedade.
Para as professoras P1 e P2, os conteúdos de ensino (jogo, esportes, lutas, ginásticas e dança) “elencados por elas” são trabalhados com todas as turmas, mas com objetivos diferentes para cada ano de ensino.
O conteúdo é o mesmo, como assim: eu trabalho modalidades de quadra, é um conteúdo meu, basquete, handebol, futsal, vôlei, jogos recreativos e pré-desportivos, alongamento e aquecimento, toda essa importância, todos eles vão ter isso, só que de forma diferenciada, objetivos diferentes metodologias diferentes, porque eu respeito cada nível de desenvolvimento motor do aluno e aí é exigido o que cada um te oferece, porque cada um já tem o seu acervo motor, cada um trás sua experiência motora ou intelectual e eu utilizo isso. Que é aquela fase de desenvolvimento de cada criança cada um tem o seu nível de conhecimento e a gente trabalha nessa linha (P1) IV.
O discurso da professora revela que não existe uma sistematização de conteúdos elaborada por ela, pois ressalta que os conteúdos são os mesmos para todos os anos, mudando apenas a metodologia de ensino e os objetivos para cada ano de ensino. Durante as aulas, observou-se que as professoras enfatizavam os esportes coletivos, por se tratar do conteúdo a ser trabalhado durante o bimestre (planejamento), mostrando a importância do aprendizado dos fundamentos dos esportes (saber fazer), o que confirma as informações contidas em sua fala.
Para a professora P2 é retratado em sua fala seguinte:
Os conteúdos são os mesmos (jogo, esporte, dança, etc), mas com metodologias diferente. Do 6° ao 7° ano não tem muita diferença, porque assim, do 6° eles, vem não, não pra gente, mas de uma forma que tem que trabalhar bem, começa bem da iniciação mesmo até eles se adaptarem com o professor, porque assim é uma aula na semana só, por série. Então assim, nem sempre a gente alcança o resultado que agente se espera, mas tanto é que seja alcançado pelo menos uns 50% né, só pelo fato de ser uma vez na semana [...] (P2) IV.
Em sua fala, nota-se que a professora não tem uma sistematização dos conteúdos elaborados por ela, pois também como a professora P1, dizem que os conteúdos são os mesmos, mudando apenas a metodologia.
E, para a professora P3, os conteúdos do ensino para o ensino fundamental (jogo, esporte, dança) são os mesmos para as turmas, mudando apenas a forma de ensinar e os objetivos pretendidos a alcançar com aquela turma e idade, “se for uma dança, por exemplo, irei buscar a forma lúdica com as séries iniciais, e com as séries finais do ensino fundamental, trabalho de forma mais técnica” (P3) IV.
Diante das observações, os conteúdos utilizados pela professora P3 foram basicamente esportes com a turma do 7° ano e jogos com a turma do 6° ano.
Apesar da professora discorrer sobre temas de relevância social, percebeu-se que suas aulas para o ensino fundamental são essencialmente práticas, não oferecendo estes temas que poderiam ser descritos como a parte conceitual dos conteúdos.
Percebe-se que as falas das professoras são coerentes com sua prática pedagógica, não sistematizando os conteúdos e modificando apenas a forma de oferecê-los/ ensiná-los para cada ano de ensino.
O desenvolvimento das aulas de Educação Física
Diante da entrevista realizada, as professoras P1 e P2 seguem a mesma sequência em suas aulas, ou seja, iniciam pela parte preparatória com alongamento e aquecimento recreativo, em seguida a parte principal da aula que é o conteúdo proposto pelas mesmas e, no final, exercício de volta à calma, roda de conversa sobre o que entenderam ou sobre o que tiveram dificuldades.
Eu tenho uma linha de trabalho que é conduzida da mesma forma com todos, a gente trabalha com a parte preparatória do aluno com atividades, com alongamento, aquecimento, que normalmente o alongamento ele é recreativo ao mesmo tempo já educativo pro conteúdo... depois eu venho pra parte principal, eu poderia falar assim: que é o conteúdo do dia, como esse bimestre eu to (síc) trabalhando o basquete e ontem no caso, era arremesso a parte principal é arremesso dessa aula do basquete. Então eu venho com exercícios para o arremesso, explico algumas coisas necessárias o porquê às vezes do exercício, implanto ali regras e depois passamos para um joguinho pré-desportivo e no final uma atividade de volta à calma ou uma roda de conversa sobre o que aprenderam ou dificuldades daquela aula (P1) IV.
Durante as observações das aulas, a professora P1 realizou todos os procedimentos como havia programado e verbalizado à pesquisadora, utilizando na parte inicial um alongamento em círculo com demonstração dos alongamentos por ela; em seguida iniciou uma brincadeira recreativa que continha alguns movimentos relacionados ao conteúdo a ser trabalhado, onde ela passou a observar o acervo motor de cada aluno. Depois aplicou a parte técnica e as regras dos fundamentos que estaria trabalhando, no final ofereceu um jogo e uma atividade de volta a calma, finalizando com uma problematização da aula. Em relação à dimensão atitudinal, a professora sempre falava aos alunos “vamos, você consegue também... isso ajude o seu colega também...” (P1) IV, demonstrando uma preocupação com os valores e atitudes dos alunos. Porém, esses conteúdos não aprecem em sua fala (entrevista), o que subentende-se que fazem parte de um currículo oculto, ou seja, trabalhado pelos professores, mas não incluídos em seus planejamentos.
Assim, como trata Darido e Rangel (2005), não se separa os conteúdos na dimensão conceitual, atitudinal e procedimental, embora possa haver ênfases em determinadas dimensões.
Para a professora P2 os procedimentos de ensino:
[...] sempre tem o alongamento, o aquecimento e a aula em si. Não são todas as aulas que eu dou jogo, pra tirar mesmo deles “a Educação Física é só um jogo de bola”, uma semana eu dou jogos outra eu não dou, ou então é conforme o comportamento deles (P2) IV.
Durante as observações, a professora fez basicamente o que ela relata em sua fala, inicialmente ela faz um alongamento com todos parados em círculo, depois passa uma atividade recreativa por pouco tempo, e em seguida trabalha com a parte técnica de um fundamento do futsal, mas não corrigia individualmente. Nas aulas observadas a professora não se “atentou” a parte final, deixando de fazer uma discussão da aula ou uma atividade de volta à calma.
E, para a professora P3, disse que “[...] o desenvolvimento das minhas aulas é deficiente, devido às condições do estabelecimento, pela falta de interesse dos alunos, mas na medida do possível é cobrado a frequência e participação”.
[...] o começo da aula nós temos, que é o que eu transmito qual que é o objetivo da aula, o que vamos ta (sic) trabalhando, que modalidade, que exercício pré-desportivo, mas no fim, geralmente sempre acaba com um “apito”, porque fica aquele tumulto pra voltar pra sala de aula outros não querem voltar, mas no mais é assim eu passo a atividade eles realizam e como o tempo é de 45 minutos vai embora (P3) IV.
Diante das falas da Professora P3, podemos observar que há certa falta de interesse em querer mudar a situação, mesmo não tendo condições físicas ou o tempo sendo curto. Assim, quando alega que na “medida do possível é cobrado a frequência”, demonstra sua dificuldade em conduzir a aula.
Nas aulas observadas, os alunos já aguardavam a professora em quadra, e apenas com a turma do 6° ano a professora P3 conseguiu reuni-los para fazer a verificação da lista de frequência dos alunos “chamada”. Já a turma do 7° ano era reunida em um círculo na quadra, explicava qual seria a atividade, em seguida jogavam futsal, sendo que a professora ficava de fora apitando por algum tempo. Logo após, o jogo seguia sem a orientação da professora, e o final da aula terminava com o ‘sinal’ da Escola tocando, não havendo problematização da aula.
É interessante destacar que a professora P3 declara e demonstra em suas aulas as dificuldades encontradas devido o espaço físico inadequado, porém insiste em trabalhar apenas com esporte, sendo que poderia incluir outros conteúdos da Educação Física que poderiam ser desenvolvidos em outros espaços ou sala de aula.
Considerações finais
Educação é muito mais do que o aprendizado das matérias dadas em sala de aula. Ela engloba o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo. E, resumidamente, pode-se dizer que nas aulas de Educação Física todos os três domínios estão em constante relação.
O objetivo central desta pesquisa foi de investigar a prática pedagógica dos professores de Educação Física em suas aulas do Ensino Fundamental.
Sobre os planejamentos de aulas, embora não ter tido a oportunidade de vê-los, percebi que as professoras P1 e P2 seguem um planejamento juntamente com a direção da escola, com conteúdos que privilegiam os esportes coletivos e, por trabalharem juntas na mesma escola acabam seguindo o mesmo planejamento. Sobre a professora P3, não consegui verificar um planejamento diário de aula, pois a mesma não pareceu ter um roteiro estabelecido, devido às metodologias que foram usadas durante as aulas observadas.
Embora a estrutura física da escola privilegie as professoras P1 e P2, a professora P3 utiliza a má estrutura de sua escola como um meio de “desculpa” pelas aulas não saírem de uma forma mais organizada, dinâmica e prazerosa e com a participação de todos os alunos.
Convém ressaltar que não estamos tentando justificar a prática das professoras, e sim, buscando suscitar a importância de se refletir sobre todos os aspectos apresentados e não simplesmente apontar pontos negativos subestimando suas causas.
Em relação aos conteúdos trabalhados nas aulas, há uma predominância do conteúdo esporte nas respostas das professoras, com predominância da dimensão procedimental. Esses conteúdos são organizados da mesma maneira para todos os anos finais do ensino fundamental (6° ao 9° ano) aplicam o mesmo conteúdo, mas segundo as professoras de forma diferenciada (métodos de ensino diferentes).
Em relação aos procedimentos de ensino, todas têm uma forma de iniciar, aplicar a parte principal da aula e finalizar, mas fica evidente que a professora P1 foi a que mais pareceu ter um procedimento adequado de uma aula contendo um início, meio e fim.
E, ao desenvolver estes esportes coletivos, elas deveriam trabalhar de uma forma diferenciada, que privilegiasse a participação de todos pois os alunos são diferentes uns dos outros e pode acabar tendo a exclusão dos alunos menos habilidosos. Desta forma, conclui-se pelas entrevistas e observações que as professoras P1, P2 e P3 têm utilizado apenas o conteúdo esporte em suas aulas, abrindo mão de um leque de possibilidades a serem trabalhados dentro dos conteúdos da Educação Física Escolar, independente das condições físicas da instituição onde trabalham.
Embora a pesquisa tenha sido feita em dois ambientes diferentes, é possível fazer uma relação das três professoras, pois ambas escolheram seguir a mesma profissão, é claro que em locais diferentes e com práticas pedagógicas individuais diferentes. Mas, crê-se que dentro do ambiente escolar, independente da área ou local onde se está atuando, o foco é a formação dos alunos, dessa forma, ter ou não ter dificuldades pode ser relativo, pois o profissional que atua na área tem que estar sempre se adequando as necessidades da profissão.
A partir dos referenciais teóricos utilizados nesta pesquisa e com os dados coletados, podemos concluir que as professoras precisam buscar novos conhecimentos, a fim de inovar o trabalho com todos os conteúdos da disciplina de Educação Física.
Referências
COLL, C. e colaboradores. Os Conteúdos na Reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. Porto Alegre: Artmed, 2000.
DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
FAGGION, C. A. A prática docente dos Professores de Educação Física do Ensino Médio das Escolas Públicas de Caxias do Sul. 216 folhas. Dissertação (Mestrado) – UFRGS, Caxias do Sul, 2000. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/3306/000290909.pdf?sequence=1, Acesso em: 20 maio 2010.
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