Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental: um estudo de caso com professores unidocentes La Educación Física en los grados iniciales de enseñanza básica: un estudio de caso con profesores polivalentes |
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*Acadêmico da Licenciatura em Educação Física (CEFD/UFSM) **Doutor em Educação. Doutor em Ciência do Movimento Humano Professor Associado do Departamento de Metodologia do Ensino (MEN/CE/UFSM) Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/CE/UFSM) (Brasil) |
Clairton Balbueno Contreira* Hugo Norberto Krug** |
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Resumo Atualmente as aulas de Educação Física, na maioria das escolas estaduais de ensino fundamental (séries/anos iniciais) do Estado do Rio Grande do Sul, são ministradas por professores pedagogos ou “unidocentes”. Estes profissionais, por não serem especialistas na área de Educação Física encontram muitas dificuldades para desempenhar adequadamente a função e, conseqüentemente, proporcionar aos alunos um ensino de qualidade. Assim, essa investigação justificou-se pela intenção de apresentar a realidade da disciplina de Educação Física em uma escola estadual da cidade de Santa Maria (RS), sob os olhares dos personagens que consideramos serem os principais envolvidos na problemática, procurando refletir sobre alguns aspectos que envolvem a disciplina dentro deste contexto escolar. Desta forma, a presente investigação teve como objetivo analisar, através dos professores “unidocentes” de uma escola da rede estadual de ensino da cidade de Santa Maria (RS), as suas opiniões sobre o profissional que deve ministrar as aulas de Educação Física neste segmento escolar. Participaram da pesquisa seis professoras que atuam em classes “unidocentes”, sendo que duas professoras lecionam no primeiro ano, duas no segundo ano, uma professora no terceiro ano e uma no quinto ano. Todas estão atuando há mais de 15 anos na profissão. A investigação está embasada na corrente de pensamento fenomenológica; a metodologia aplicada foi do tipo estudo de caso. Para a coleta de informações foi utilizado um questionário com perguntas abertas e fechadas seguido da análise de conteúdo. Concluiu-se, através das opiniões das professoras “unidocentes”, que a Educação Física é uma disciplina importante no desenvolvimento escolar dos alunos envolvendo conteúdos que geralmente não são trabalhados em sala de aula. Enfrentam problemas de cunho estrutural (falta de material e espaço adequado) e profissional (falta de preparo). Destacam que o professor especialista é o mais indicado para trabalhar nesta fase escolar. Unitermos: Educação Física. Educação Física Escolar. Ensino fundamental. Professor Pedagogo.
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à Licenciatura em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade federal de Santa Maria (UFSM)
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introduzindo a investigação
Ao observarmos a realidade da Educação Física Escolar nas séries/anos iniciais do ensino fundamental nas escolas estaduais do Rio Grande do Sul, encontramos, freqüentemente, a utilização de professores “pedagogos” ou “polivalentes”, conhecidos no Estado como “unidocentes”, encarregados de ministrarem aulas de Educação Física para alunos que fazem parte da 1ª à 5ª série e/ou 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Convém esclarecer que os termos “unidocente” ou “unidocência” são utilizados no Estado do Rio Grande do Sul para caracterizar o professor que atua nas séries/anos inicias do ensino fundamental como sendo o responsável de ensinar os conhecimentos referentes a esta fase escolar.
Esta situação é ocasionada principalmente por dois motivos: 1º) Não existe uma especificação na LDB – Lei N. 9.394/1996 (BRASIL, 1996) indicando o profissional para atuar nesta fase escolar, dando às escolas a “liberdade” de escolherem o posicionamento sobre o assunto; e, 2º) O Estado do Rio Grande do Sul através de Leis como a N. 8.747/1988 (RIO GRANDE DO SUL, 1988) e a N. 6.672/1974 (RIO GRANDE DO SUL, 1974), garantem gratificações nos vencimentos dos professores que atuam na regência de classes “unidocentes”. Assim, essa situação acaba gerando questões que extrapolam as concepções didáticas e pedagógicas da educação.
Há algum tempo este tema vem sendo debatido entre teóricos e professores da área de Educação Física. Nestas discussões surgem alguns questionamentos que permeiam o ambiente escolar, tais como: quem deve ministrar as aulas de Educação Física para alunos de séries/anos iniciais do ensino fundamental? Deve ser o professor com Licenciatura em Pedagogia, os chamados “unidocentes” ou os professores Licenciados em Educação Física? A formação do professor “unidocente” é suficiente para desenvolver um bom trabalho na escola? Freire (2005) afirma que esta é uma discussão complexa, que envolve questões corporativas; o setor da Educação Física defende a inclusão de especialistas na área; já os professores “polivalentes” defendem a atual estrutura alegando que é melhor para a criança o contato com um único professor.
Atualmente, a Educação Física é assegurada no ambiente escolar através de leis como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei n. 9394/1996 (BRASIL, 1996), que em seu artigo 26, § 3, destaca que a disciplina de Educação Física está integrada à proposta pedagógica da escola, sendo um componente curricular obrigatório da educação básica. Também é confirmado nos Pareceres do CNE/CEB N. 05/1997 e N. 16/2001 e ainda nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997). Ou seja, a Educação Física faz parte de toda a vida escolar do aluno. No caso do ensino fundamental, está presente desde o primeiro ao nono ano de forma obrigatória.
A nova realidade da Educação Física Escolar, ocasionada pela LDB - Lei n. 9394/1996 (BRASIL, 1996), garante uma importância maior em relação à anos anteriores, em termos legais, pois permite a sua equiparação com disciplinas ditas “tradicionais”, possibilitando a saída de um ambiente periférico, até mesmo, marginalizado dentro do contexto escolar. Sendo assim, o momento é importante para uma revisão de conceitos e valores que venham contribuir com a nova fase na escola. Com isso, torna-se necessário um olhar crítico sobre a realidade da disciplina, levando-se em consideração a qualidade do trabalho que vem sendo desenvolvido pelos professores.
Dentro do ambiente escolar, uma parcela importante dos alunos das séries/anos iniciais do ensino fundamental, das escolas estaduais do Rio Grande do Sul deve ser considerada, pois, infelizmente, não estão sendo contemplados com todas estas mudanças. Embora a LDB - Lei N. 9394/1996 (BRASIL, 1996) tenha causado transformações no que diz respeito à valorização e legitimação da disciplina de Educação Física, para esta fase escolar, não houve nenhuma alteração significativa. Neste sentido, Nélio Marco Vincenzo Bizzo, relator do Parecer do CNE/CEB N. 16/2001, apresenta importantes contribuições para elucidar alguns pontos polêmicos sobre esta questão: aborda a diferença entre um componente curricular e uma disciplina específica, pois a última, garantiria a presença de um professor especializado nas séries/anos iniciais do ensino fundamental, mas na atual conjuntura, a Educação Física como sendo um componente curricular deve ter caráter interdisciplinar estando agregada à forma tradicional de ensino.
Seguindo a falta de especificação da LDB (BRASIL, 1996), o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da Secretaria Estadual da Educação, tem por característica histórica não contratar professores Licenciados em Educação Física para atuarem nas escolas estaduais de ensino básico. Um bom exemplo disso é a rede estadual de ensino na cidade de Santa Maria (RS), que na maioria de suas escolas, não possui professores de Educação Física atuando nas séries/anos iniciais do ensino fundamental.
Buscando compreender este paradigma educacional em que se encontra o Rio Grande do Sul, mais especificamente em Santa Maria (RS) foi que surgiu a seguinte questão problemática norteadora desta investigação: quem deve ministrar aulas de Educação Física nas séries/anos iniciais do ensino fundamental, o professor pedagogo “unidocente” ou o professor Licenciado em Educação Física?
Para responder ao problema da investigação recorremos às professoras(es) pedagogas(os) que ministram aulas em classes “unidocentes”, em uma escola da rede estadual de ensino da cidade de Santa Maria (RS). Entendemos que através das vivências e experiências adquiridas por estes professores durante o cotidiano da escola, os consideramos como sendo os principais personagens envolvidos na problemática, já que atuam diretamente e diariamente com essa realidade.
Deste modo, o objetivo geral da investigação foi analisar, através dos professores “unidocentes” de uma escola da rede estadual de ensino da cidade de Santa Maria (RS), as suas opiniões sobre o profissional que deve ministrar as aulas de Educação Física neste segmento escolar.
Com a intenção de desenvolver o objetivo geral da investigação, buscou-se fazer um mapeamento de elementos que estão ao entorno e ligados diretamente com a questão, aqui denominados de objetivos específicos. São eles: 1) Conhecer a opinião dos professores “unidocentes” sobre quem deve ministrar as aulas de Educação Física nas séries/anos iniciais do ensino fundamental; 2) Conhecer a opinião dos professores “unidocentes” sobre a importância da disciplina de Educação Física nas séries/anos iniciais do ensino fundamental; 3) Conhecer os problemas dos professores “unidocentes” ao ministrarem as aulas de Educação Física nas séries/anos iniciais do ensino fundamental; e, 4) Conhecer os conteúdos abordados pelos professores “unidocentes” nas aulas de Educação Física nas séries/anos iniciais do ensino fundamental.
A investigação justificou-se pelas questões levantadas durante a vivência como estagiário dentro da escola pesquisada, pois chamou à atenção a necessidade que as professoras das séries/anos iniciais do ensino fundamental, demonstraram pela presença de um professor (na verdade futuro professor) Licenciado em Educação Física para ministrar as aulas. Notou-se, nesta vivência, que as professoras conhecem a importância da disciplina de Educação Física e os benefícios que proporciona aos alunos, mas pela falta de preparo e um conhecimento mais específico, sentem profunda necessidade de acompanhamento de um profissional da área. Diante destes fatos percebidos, a retomada desta discussão, mesmo que pareça superada no meio acadêmico como afirmado anteriormente, torna-se importante, já que, é inegável a relevância educacional de um profissional qualificado atuando na escola. Sendo assim, a investigação desenvolve-se em torno desta realidade, buscando compreender, a partir da opinião das professoras, através da utilização de uma série de questionamentos que envolvem a preparação e a execução das aulas, sobre o tipo de profissional que é mais adequado para atuar com a Educação Física nas séries/anos iniciais do ensino fundamental.
O procedimento metodológico da investigação
A investigação foi desenvolvida através da corrente de pensamento fenomenológica, seguindo a abordagem qualitativa e utilizando a forma de estudo de caso, com informações coletadas na bibliografia da área e por um questionário contendo perguntas abertas e fechadas, bem como utilizando para a interpretação das informações coletadas à análise de conteúdo.
A corrente de pensamento da investigação: Fenomenologia
A investigação foi embasada na corrente de pensamento fenomenológica que teve seu início no final do século XIX, com o filósofo Edmund Husserl. Na tentativa de descrever a fenomenologia Joel Martins (1990 apud BICUDO, 1994, p.15) aponta que:
fenomenologia é, neste século, um nome que se dá a um movimento cujo o objetivo precípuo é a investigação direta e a descrição de fenômenos que são experienciados conscientemente, sem teorias sobre a sua explicação causal e tão livre quanto possível, de pressupostos e de preconceitos.
Concordamos com Triviños (1987) quando menciona que a fenomenologia é um método ou modo de ver o fenômeno se apresentar puro, livre de elementos pessoais e culturais. O fenômeno é aqui entendido como aquilo que está presente como é ou está em si mesmo. Ou seja, é o estudo das essências dos problemas.
De acordo com Bicudo (1994) a fenomenologia surgiu como forma de oposição às concepções positivistas, sendo constituída de padrões e rigor por ela aceito que busca a objetividade baseada na quantificação dos elementos e, a neutralidade do investigador através da separação do pesquisador e objeto. Contudo, a fenomenologia busca fazer em seus estudos a união entre o objeto e pesquisador, levando em consideração as relações sociais que estão envolvidas com o tema da investigação, formando uma rede de informação que acaba convergindo e colaborando para o estudo do fenômeno em questão.
A abordagem da investigação: Qualitativa
Abordagem qualitativa ou pesquisa qualitativa são alguns nomes designados para identificar esta modalidade de pesquisa. A pesquisa qualitativa assume diferentes significados nas ciências sociais.
Oliveira (2007, p.37) coloca que:
Entre os mais diversos significados, conceituamos a abordagem qualitativa como sendo um processo de reflexões e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e/ou segundo a sua estruturação. Esse processo implica em estudos segundo a literatura pertinente ao tema, observações, aplicação de questionários, entrevistas e análise de dados, que deve ser apresentada de forma descritiva.
A pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica surgiu como uma forma de reação ao modelo positivista/quantitativo. Segundo Triviños (1987) está embasada nos referenciais teóricos marxista, na fenomenologia e ainda no estrutural-funcionalismo. Através destes conceitos teóricos básicos, a pesquisa qualitativa originou-se com a finalidade de fazer oposição à pesquisa quantitativa. Mas estes dois modelos não se anulam, de acordo com este autor, pois uma pesquisa pode ser qualitativa e ter elementos quantitativos ao mesmo tempo, basta que o investigador avalie e conceitue os instrumentos ao ponto de utilizar as duas metodologias para se complementarem e contribuírem para o desenvolvimento do pensamento científico.
Para Godoy (1995) a pesquisa qualitativa possui quatro características principais: 1) Ambiente natural como fonte direta de dados, e o pesquisador como instrumento fundamental; 2) Caráter descritivo; 3) Significado que as pessoas dão as coisas e à sua vida, que deve ser uma preocupação do investigador; e, 4) Enfoque indutivo.
O ambiente natural é um elemento significativo para a interpretação dos fenômenos sociais que envolvem os participantes da pesquisa, possibilita a descoberta de comportamentos e elementos que constituem o cotidiano dos investigados.
Contudo, a preocupação fundamental da pesquisa qualitativa, na concepção fenomenológica, de acordo com Triviños (1987), é com a caracterização do fenômeno, com as formas que apresenta e com as variações, já que o seu principal objetivo é a descrição.
A forma assumida da investigação (tipo): Estudo de caso
O estudo de caso é uma das muitas maneiras utilizadas para o desenvolvimento de pesquisa, abrangendo diversas áreas do conhecimento como as ciências sociais, Psicologia e Economia. Segundo Godoy (1995, p.35):
O estudo de caso tem se tornado na estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por que” certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de um contexto de vida real.
Também no intuito de caracterizar o estudo de caso, Yin (2005, p.20) afirma o seguinte: “o estudo de caso permite uma investigação para preservar as características holísticas e significados dos acontecimentos da vida real – tais como ciclos de vida, processos organizacionais e administrativos [...]”.
O estudo de caso, sem dúvida, é uma estratégia metodológica bastante diferenciada, assim nos aponta Martins (2006, p.2):
Quando um estudo de caso é original e revelador, isto é, apresenta um engenhoso recorte de uma situação complexa da vida real, cuja análise-síntese dos achados tem a possibilidade de surpreender assemelhados, o caso poderá ser qualificado como importante e visto em si mesmo como uma descoberta. Oferece descrições, interpretações e explicações que chamam a atenção pelo ineditismo.
Ainda Martins (2006), menciona como sendo uma das características do estudo de caso a investigação empírica, investigando fenômenos dentro do seu contexto real, de maneira que o pesquisador aprenda a totalidade de uma situação para compreender e interpretar a complexidade de um caso concreto. Permitindo um mergulho mais aprofundado no “problema” possibilitando maior penetração na realidade social.
A coleta de informações da investigação: Pesquisa bibliográfica e questionário
A pesquisa bibliográfica foi uma parte fundamental desta investigação, contribuindo para o desenvolvimento e aprofundamento das questões que permearam a mesma. Através dela, foram embasados e fundamentados os fatos que surgiram no decorrer da investigação, possibilitando a ampliação dos conhecimentos sobre o assunto.
Carvalho (1987, p.110) diz que a: “pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e consulta de fontes diversas de informações escritas, para coletar dados gerais e específicos a respeito de determinado tema”.
De acordo com Oliveira (2007) a principal finalidade da pesquisa bibliográfica é levar o pesquisador(a) a entrar em contato direto com obras, artigos e documentos que tratem do tema em questão. Além da interação do pesquisador com a produção científica produzida na área sobre o objeto a ser investigado.
Ainda nesta mesma linha de pensamento, corroboramos com Ferrari (1982), quando destaca que a pesquisa bibliográfica permitirá ao investigador uma visão geral das contribuições científicas de outros pesquisadores sobre determinado assunto, não permitindo que o rumo de uma pesquisa seja semelhante à outra.
Para a obtenção das informações com os participantes foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas. O uso de questionário é um instrumento amplamente utilizado em pesquisas qualitativas, e também em diversas áreas do conhecimento, demonstrando assim a sua significativa importância tanto no meio acadêmico quanto fora. Segundo Gil (1994), o questionário constitui hoje uma das mais importantes técnicas disponíveis para a obtenção de dados nas pesquisas sociais.
Para Oliveira (2007, p.83) o questionário pode ser assim definido:
É uma técnica para a obtenção de informações sobre sentimentos, crenças, expectativas, situações vivenciadas e sobre toda e qualquer dado que o pesquisador(a) deseja registrar para atender os objetivos de seu estudo. Em geral, os questionários têm como principal objetivo descrever as características de uma pessoa ou de determinados grupos sociais.
A interpretação das informações da investigação: Análise de conteúdo
A análise de conteúdo é um método que existe há alguns séculos. Nasceu durante as primeiras tentativas do homem de interpretar os livros sagrados. Desde então, surgiram várias teorias no intuito de sistematizá-la. O autor que configura-se entre os principais teóricos na área é o francês Lourence Bardin que em 1977 lançou a obra L’analyse de contenu, e neste trabalho demonstrou de forma detalhada os conceitos e fundamentos da análise de conteúdo. Sendo assim, nos utilizaremos desse método para analisarmos os achados da investigação.
Para Bardin (1977) a utilização da análise de conteúdo prevê três etapas principais: 1ª) A pré-análise - que trata do esquema de trabalho, envolve os primeiros contatos com os documentos de análise, a formulação de objetivos, definição dos procedimentos a serem seguidos e a preparação formal do material; 2ª) A exploração do material – que corresponde ao cumprimento das decisões anteriormente tomadas, isto é, leitura de documentos, categorização, entre outros; e, 3ª) O tratamento dos resultados – onde os dados são lapidados, tornando-os significativos, sendo que a interpretação deve ir além dos conteúdos manifestos nos documentos, buscando descobrir o que está por trás do imediatamente apreendido.
A abrangência da investigação: Participantes
Participaram da pesquisa seis professoras que atuam em classes “unidocentes”, sendo que duas professoras lecionam no primeiro ano, duas no segundo ano do ensino fundamental, uma professora no terceiro ano e uma no quinto ano. Todas estão atuando a mais de 15 anos na profissão.
Por motivos de preservação das identidades das professoras, foi adotada a sistemática de numerá-las à medida que vão sendo citadas na pesquisa.
Os achados da investigação
Os achados desta investigação foram explicitados orientados pelos objetivos específicos.
O tipo de profissional para atuar nas séries/anos iniciais do ensino fundamental
As seis professoras estão em comum acordo em relação ao professor Licenciado em Educação Física ser o profissional a trabalhar com os alunos nas séries/anos iniciais do ensino fundamental. Esta constatação vai ao encontro do estudo realizado com professores “polivalentes” na cidade de Campinas (SP) que avaliou as dificuldades enfrentadas por estes profissionais ao ministrarem aulas de Educação Física, verificando o seguinte: a presença do professor especialista parece fundamental para essa prática pedagógica, conforme afirma 94% do público alvo da amostra da pesquisa (CARVALHO, s.d).
A justificativa utilizada por todas as professoras direcionou-se à falta de preparação para atuarem com a disciplina. Relataram que foi deficiente a sua formação inicial nesta área. Declararam que apenas uma disciplina durante todo o curso foi insuficiente para adquirir os conhecimentos necessários para o desenvolvimento de um bom trabalho com a Educação Física. Esta mesma situação foi encontrada por (SILVA; KRUG, 2008) que analisou o Projeto Político Pedagógico (PPP) do curso de Licenciatura em Pedagogia com Habilitação Magistério para as Séries Iniciais (Currículo 1983) da Universidade Federal de Santa Maria. Encontrou apenas uma disciplina obrigatória em toda a graduação. Em seus achados, aponta que o curso de Licenciatura em Pedagogia deveria proporcionar aos seus acadêmicos melhores instrumentações sobre a Educação Física nas séries/anos iniciais do ensino fundamental, pois a carga horária de 60 horas torna-se insuficiente. Portanto, os professores “pedagogos” apesar de estarem amparados legalmente não estão preparados para atuarem no ensino da disciplina de Educação Física.
Em relação à formação inicial, Nascimento (1998 apud KRUG, 2004, p.49) afirma que: “[...] é a denominação freqüentemente atribuída àquela etapa de preparação voltada ao exercício ou qualificação inicial do professor”. É um momento importante que influencia diretamente o desenvolvimento profissional de toda a carreira docente. Segundo Farias; Shigunov e Nascimento (2001), o percurso profissional de qualquer professor é marcado por vários acontecimentos durante a carreira. Tais acontecimentos, positivos ou negativos, marcam a passagem de uma etapa para a outra ocasionando o desenvolvimento de estágios ou ciclos.
Em estudo realizado por Bernardi et al. (2009) onde investigaram os ciclos da carreira dos professores de Educação Física. Observaram que na fase de entrada na carreira, os profissionais que estavam despreparados para atuarem na escola se depararam com o que foi denominado de “choque com o real”, momento caracterizado por grandes dificuldades, sendo um dos principais problemas gerados pela formação inicial deficiente, que em casos mais extremos ocorre o abandono da profissão. Em contrapartida, é importante frisar que na formação inicial não é possível elencar todos os fenômenos da profissão, pois, segundo Garrido (2001 apud KRUG, 2004, p.125-126), “a formação inicial não pode dar conta da variedade e da complexidade de situações com as quais o futuro professor se defrontará. Nem ele estaria maduro para assimilar todos os desafios que a prática pedagógica coloca”.
De acordo com Gonçalves (1995), o percurso profissional do professor é resultado da ação conjunta de três processos de desenvolvimento que são: a) O processo de crescimento pessoal; b) O processo de aquisição de competências e eficácia no ensino; e, c) O processo de socialização profissional. Assim, fica claro, que no decorrer da carreira profissional as professoras “pedagogas” não conseguiram desenvolver de uma forma significativa o processo de aquisição das competências e eficácia no ensino da Educação Física, causando-lhes grandes dificuldades, tanto no processo de ensino quanto na aprendizagem dos alunos. Para Paquay e Wagner (2001) as competências compreendem as aquisições de todas as ordens (saberes, saber-fazer, saber ser e saber tornar-se) necessárias à realização de uma tarefa e a resolução de problemas.
Sendo assim, as informações aqui apresentadas nos fornecem alguns indícios da importância de levantar discussões sobre este tema. Observou-se na conjuntura das informações uma série de problemas que interferem profundamente, tanto no ensino quanto na aprendizagem dos conteúdos da Educação Física, fazendo-se necessário concentrar esforços para uma possível superação desta situação. Segundo Kunz (2004, p.31):
o aluno enquanto sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para a participação na vida social, cultural e esportiva, o que significa não somente a aquisição de uma capacidade de ação funcional, mas a capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e significados nesta vida, através da reflexão crítica.
Contudo, a partir desta citação foi possível compreender a importância do papel de um profissional preparado para lidar com estas questões que são de extrema relevância para o desenvolvimento integral do aluno.
A importância da Educação Física nas séries/anos iniciais do ensino fundamental
Todas as professoras, quando questionadas sobre a importância da Educação Física nas séries/anos inicias do ensino fundamental, foram enfáticas no posicionamento a favor da disciplina. Observou-se este pensamento nas seguintes frases: “importante”, “muito importante” e “fundamental para os alunos”.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física (BRASIL, 1997, p.15):
O trabalho de Educação Física nas séries iniciais do ensino fundamental é importante, pois possibilita aos alunos terem, desde cedo, oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de atividades culturais como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções.
Para Piccolo (1995) significa desenvolver o aluno globalmente, objetivando formá-lo como um indivíduo participante integrando-o como ser independente, criativo e capaz, crítico, adequado a sociedade em que vive; mas este objetivo deve ser atingido através de um trabalho consciente do professor.
O processo de escolarização dos corpos, além de envolver todas as áreas do conhecimento, abrange uma série de práticas pouco visíveis nos projetos pedagógicos, mas muito marcantes na vida dos alunos. Por exemplo, a forma como são organizados os espaços e tempos escolares, as formas de se movimentar na sala de aula e no pátio, os regulamentos, os conteúdos e as metodologias de ensino, os livros didáticos e os eventos comemorativos, as filas, as formas de sentar entre tantas outras maneiras de educar os corpos (RIO GRANDE DO SUL, 2009).
Nas falas as professoras demonstram estarem cientes sobre os benefícios que a Educação Física possibilita, e isso foi constatado à medida que reconhecemos as contribuições nas seguintes falas: “quanto mais profissionais especializados no tema (disciplina) trabalhando, melhor para todos e os educandos menores vivenciarão experiências mais significativas” (Professora 6); “a escola tem muito a ganhar com a presença deste profissional, pois trabalha as relações sociais com uma perspectiva diferenciada” (Professora 1); “é muito importante nas contribuições metodológicas” (Professora 2); e, “o professor de Educação Física tem muito a contribuir com toda a comunidade escolar devido aos seus conhecimentos sobre questões como o lúdico e lazer” (Professora 4).
Verificou-se que o professor que atua com a Educação Física neste segmento escolar deve estar ciente das diferentes atribuições que lhe é reservado. Tardif (2002) coloca que o professor profissional é, antes de tudo, um profissional da articulação do processo de ensino-aprendizagem em uma determinada situação, um profissional da interação das significações partilhadas.
Cabe lembrar que além da articulação pedagógica, situacional e metodológica este profissional deve estar munido de algumas competências.
Entendemos por competências profissionais, o conjunto formado por conhecimentos, savoir-faire e posturas, mas também as ações e atitudes necessárias ao exercício da profissão de professor (...) no ensino, estas competências abrangem os saberes plurais trazidos pelo planejamento, pela organização, pela preparação cognitiva da aula e pela experiência prática advinda das interações em sala de aula (ALTET, 2001, p.27).
Segundo Tardif (2002) chamamos de saberes da educação o conjunto dos processos de formação e de aprendizagem elaborados socialmente e destinados a instruir os membros da sociedade com base nesses saberes.
As professoras acreditam que é o momento em que podem trabalhar conhecimentos que normalmente não conseguem dentro da sala de aula, tais como: conhecimento corporal, coordenação motora ampla e fina, atenção e socialização. Para o Coletivo de Autores (1992), os conhecimentos da Educação Física organizados na forma de conteúdos que constituem os currículos escolares são construções históricas da humanidade, sendo denominadas como: cultura corporal de movimento e, apresenta-se através de elementos inerentes do ser humano englobando os mais variados tipos de saberes.
Os problemas encontrados no planejamento e na execução das aulas de Educação Física
As respostas são direcionadas a dois problemas que se relacionam diretamente dentro da esfera pedagógica. A falta de espaço físico e material adequado para a realização das aulas são apontados pelas professoras como pontos críticos nas realizações das atividades. Segundo Krug (2008) essas duas deficiências de infra-estrutura das escolas (falta de local e material) fazem com que os professores de Educação Física enfrentem enormes dificuldades para o desenvolvimento de uma prática pedagógica de maior qualidade.
Ainda Krug (2008) destaca que os professores de Educação Física da rede pública de ensino de Santa Maria (RS) manifestam insatisfação com as condições de trabalho, tendo como principal motivo a falta de espaço físico e de materiais adequados à prática de Educação Física.
Sendo assim, a ausência de material e espaço físico é uma realidade encontrada na maioria das escolas de Santa Maria (RS), afetando significativamente o trabalho dos professores nas mais diversas áreas do conhecimento, prejudicando o processo de ensino e aprendizagem do aluno.
A falta de preparação profissional para planejar as aulas também faz parte das adversidades enfrentadas pelas professoras, sendo um dos principais problemas geradores de preocupações entre elas, sendo citado pelas professoras (2; 3; 4 e 5). Segundo a professora 2 o problema é: “estar bem preparada para dar aula”. Para a professora 4: “a escolha das atividades e a disciplina”. Já para a professora 5: “a falta de embasamento teórico”.
Após constar todos estes fatos, a reflexão sobre os problemas é uma das estratégias para superar as adversidades. Perrenoud (2002) destaca que o desenvolvimento profissional depende da capacidade de reflexão sobre a ação em função das experiências e dos saberes, buscando estabelecer a autonomia do indivíduo.
Visando chegar a uma verdadeira prática reflexiva, esta postura deve se tornar quase permanente, inserir-se em uma relação analítica com a ação, a qual se torna relativamente independente dos obstáculos encontrados ou das decepções (PERRENOUD, 2002, p.13).
Ainda nesta mesma linha de pensamento, Krug (2008) complementa ao afirmar que o desenvolvimento profissional ocorre quando o professor coloca-se a refletir sobre a sua prática, passando por um processo de auto-avaliação na busca de um melhor conhecimento da sua atuação e de si próprio.
Os conteúdos desenvolvidos nas aulas de Educação Física
O quadro a seguir apresenta os conteúdos que as professoras costumam trabalhar nas aulas de Educação Física. Devido a motivos particulares a professora 3 não respondeu a questão.
Conteúdos |
Professoras |
Atenção |
1, 2, 5 e 6 |
Lateralidade |
2, 4, 5, e 6 |
Recreação |
1, 2 e 5 |
Equilíbrio |
2 e 6 |
Socialização |
5 |
Solidariedade |
6 |
Alongamento |
6 |
Postura |
6 |
Quadro 1. Conteúdos ministrados nas aulas de Educação Física
Para Libâneo (1990, p.92), os conteúdos de ensino compreendem as matérias nas quais são sistematizados os conhecimentos, formando a base para a concretização de objetivos, englobando uma série de fatores:
Conteúdos de ensino são os conjuntos de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos, valores e atitudes de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida. Englobam, portanto: conceitos, idéias, fatos, processos, princípios leis científicas, regras, habilidades cognitivas, modo de atividade, métodos de compreensão e aplicação, hábitos de estudos, de trabalho e de convivência social; valores, convicções, atitudes. São expressos nos programas oficiais, nos livros didáticos, nos planos de ensino e de aula, nas aulas nas atitudes e convicções do professor, nos exercícios, nos métodos e formas de organização do ensino (LIBÂNEO, 1990, p.128).
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física (BRASIL, 1997) os conteúdos estão divididos em três blocos articulados envolvendo conteúdos semelhantes, mas que guardam algumas características próprias. 1) O bloco do conhecimento sobre o corpo - fornece atributos que possibilitam aos alunos gerenciar de forma autônoma as suas capacidades corporais; 2) O bloco do esporte jogos, lutas e ginástica - visa proporcionar diversos conhecimentos relativos a este universo, abrangendo não somente questões técnicas, mas todos os elementos que envolvem cada conteúdo; e, 3) O bloco atividades rítmicas expressivas - desenvolvem a expressão e comunicação mediante à estímulos sonoros como refêrencia da cultura corporal.
No plano especificamente motor, os conteúdos devem abordar a maior diversidade possível de possibilidades, ou seja: correr, saltar, arremessar, receber, equilibrar objetos, equilibrar-se, desequilibrar-se, pendurar-se, arrastar, rolar, escalar, quicar bolas, bater e re-bater com diversas partes do corpo. É característica marcante desse ciclo a diferenciação das experiências e competências de movimento de meninos e meninas. Os conteúdos devem contemplar, portanto, atividades que evidenciem essas competências de forma a promover uma troca entre os dois grupos nas mais diferentes situações.
Entrando na dimensão dos conhecimentos que englobam os chamados saberes, Tardif (2002, p.33) apresenta a seguinte definição: “o saber docente se compõe, na verdade, de vários saberes provenientes de diferentes fontes. Esses saberes são os saberes disciplinares, curriculares e profissionais [...]”. Dentro do saber profisssional encontram-se os saberes curriculares:
Estes saberes correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como modelos da cultura erudita e de formação para a cultura erudita. Apresentam-se concretamente sob a forma de programas escolares (objetivos, conteúdos e métodos) que os professores devem aprender e aplicar” (TARDIF, 2002, p.38).
Os conteúdos fazem parte desse universo de conhecimento compondo a prática pedagógica do professor. Organizá-los e sistematizá-los é uma parte importante do processo de ensino. Segundo Libâneo (1985, p.39) “o trato com o conhecimento reflete a sua direção epistemológica e informa os requisitos para selecionar, organizar e sistematizar os conteúdos de ensino”.
O Coletivo de Autores (1992) esclarece que o processo de seleção dos conteúdos deve levar em consideração a sua relevância social. Ou seja, de acordo com Velozo (2004, p.7), “não basta entender os conteúdos de ensino de uma forma simplista, pois são necessárias inter-relações com a perspectiva de ser humano, de mundo, de sociedade a que se propõe, portanto, os conteúdos devem ser entendidos de forma não neutra, mas envolvidos por valores ideológicos e interessantes [...]”.
Com isso, é necessário um olhar rigoroso das professoras na escolha e na sistematização dos conteúdos, visando um direcionamento mais específico dos objetivos com a prática pedagógica, buscando relacionar de uma forma mais organizada e coerente os saberes que serão transmitidos aos alunos.
Concluindo a investigação
A partir da apresentação de todo este contexto educacional envolvendo os professores “unidocentes” e a Educação Física Escolar, temos a oportunidade de visualizar a real situação que se encontra a disciplina nesta determinada escola. As informações obtidas nos permitem fazer uma comparação às demais instituições de ensino estaduais da cidade de Santa Maria (RS), realidades que se assemelham em grande parte com as demais escolas do Estado do Rio Grande do Sul e do Brasil. Contudo, chegamos as seguintes considerações:
Unanimamente as professoras consideraram o Licenciado em Educação Física o profissional mais adequado para trabalhar com a disciplina de Educação Física nas séries/anos iniciais do ensino fundamental, devido à falta de preparação e aprofundamento teórico na formação inicial das mesmas;
Na opinião das professoras, a Educação Física é uma disciplina importante na formação dos alunos, contribui no desenvolvimento de conhecimentos que normalmente não são trabalhados em classe, envolvendo aspectos sociais, motores e culturais;
Os principais problemas apontados pelas professoras foram de ordem estrutural (falta de espaço físico e material adequado), e profissional (dificuldade no planejamento das aulas); e,
Os conteúdos utilizados normalmente pelas professoras nas aulas de Educação Física estão de acordo com o referencial teórico da área, mas a pouca variedade desfavorece o processo de ensino e aprendizagem dos alunos.
Assim, constatamos que a escolha pelo licenciado em Educação Física como sendo o profissional para atuar nas séries/anos iniciais do ensino fundamental, está pautada principalmente na falta de aprofundamento teórico e prático das professoras durante a formação inicial, e, devido a isso, se consideram despreparadas para atuarem na docência desta disciplina e conseqüentemente de contribuir de uma forma mais qualificada durante as intervenções pedagógicas.
Também observamos que as professoras reconhecem o importante papel que a disciplina de Educação Física desempenha para a formação integral do aluno. Infelizmente pela falta de preparação profissional não conseguem avançar nas aprendizagens dos alunos.
Compreendemos que os problemas enfrentados pelas professoras “unidocentes” são apontados em diferentes estudos da área da Educação Física (KRUG, 2008; KRUG, 2004; FARIAS; SHIGUNOV; NASCIMENTO, 2001). Eles indicam inúmeros fatores que afetam negativamente a prática pedagógica, entre elas: a falta de espaço físico para a prática das atividades, materiais inadequados sem condições de uso, a falta de conhecimento dos professores, salário baixo e, a indisciplina dos alunos. Estas realidades acabam gerando insatisfações e frustrações no desempenho da profissão. Deste modo, as professoras “pedagogas” passam pelas mesmas dificuldades, consecutivamente, sofrem com semelhantes questionamentos e preocupações.
Observamos nas respostas apresentadas pelas professoras que os conteúdos programáticos citados por elas fazem parte do universo de aprendizagens comuns a diversas teorias da Educação Física, mas o que mais chamou à atenção foi a pouca variedade e a falta de sistematização do conhecimento. Isto acarreta em repetições acentuadas de atividades, limitando o progresso dos alunos nos mais diversos campos dos saberes.
Por fim, após a descrição de todas as informações que envolvem a Educação Física Escolar nas séries/anos iniciais do ensino fundamental, a presente investigação revelou a importância de abrir espaços para discussões sobre este tema, já que, a disciplina faz parte do contexto escolar e, como tal, devem ser realizadas profundas reflexões em busca de encontrar soluções para superar seus problemas. Não nos cabe afirmar que tipo de professor é o mais indicado para atuar neste segmento escolar, pois deficiências nas formações profissionais ocorrem em ambas às áreas, Pedagogia e Educação Física. Entretanto, esta investigação aponta para a indicação de que o licenciado em Educação Física pela sua formação específica é o profissional mais adequado para trabalhar com a disciplina de Educação Física nas séries/anos iniciais do ensino fundamental.
Referências
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