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Concentração de lactato sanguíneo durante 

uma partida de futebol feminino profissional

Concentración de lactato sanguíneo durante un partido de fútbol femenino profesional

 

Universidade Federal de Pelotas

Pelotas, RS

(Brasil)

Eliberto Medeiros Chaves

Joscelito de Oliveira Berneira

Thiago Rozales Ramis

Airton José Rombaldi

eliberto_t90@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O futebol é esporte que apresenta ações de alta intensidade, alternando com variações de baixa e média, fazendo com que a demanda energética na fase lática seja muito acionada de acordo com o envolvimento do atleta durante a partida. Nesse sentido, o estudo objetivou verificar a intensidade de uma partida de futebol feminino a partir da variação da concentração de lactato sanguíneo. A amostra foi composta por 13 atletas (20,2 ± 2,1 anos, 59,7 ± 8,1 kg, 164,2 ± 6,7 cm) da equipe feminina do Esporte Clube Pelotas. Foi utilizado analisador portátil (Accusport - Boehringer Mannheim, Alemanha) para medir o lactato. Os valores médios para todas as atletas foram de 2,1 ± 0,5mmol/L no início, 6,2 ± 2,0mmol/L no intervalo e de 4,3 ± 1,2mmol/L ao fim do jogo. Concluiu-se que a concentração do lactato verificada no intervalo do jogo foi mais elevada que no fim de mesmo. Relacionando os resultados encontrados no intervalo e no final, percebe-se possível inibição da via glicolítica láctica, talvez por fadiga/cansaço, conduzindo à diminuição da intensidade do jogo.

          Unitermos: Futebol. Mulheres. Lactato.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Com a crescente popularidade do futebol feminino e sendo este esporte praticado por milhares de pessoas em todo o país, algumas pesquisas têm dado destaque ao mesmo, Krustrup et al. (2010) pesquisou sobre os padrões de fadiga induzida num jogo de futebol feminino, um deles sendo o lactato. A medição de lactato no sangue tem sido um parâmetro metabólico frequentemente utilizado para quantificar a intensidade de esforço realizado pelo atleta, em virtude da característica anaeróbia a fonte de energia da fase lática é muito exigida. Conforme Von Duvillard (2001), o futebol por apresentar atividades de alta intensidade, conduzidas por um período curto de tempo, requer extrema demanda energética. Para Bangsbo et al.(2007), os jogadores de futebol de elite têm alto nível de exigência aeróbia ao longo de um jogo e extensa demanda anaeróbia durante períodos de uma partida, levando à importantes mudanças metabólicas que podem contribuir para o desenvolvimento de fadiga observada durante e no final de um jogo. O rendimento do atleta de futebol está relacionado com a sua capacidade de tolerar elevadas taxas de reposição de ATP em um determinado período de tempo, por isso, é importante uma quantificação objetiva do desempenho anaeróbio (Bangsbo et al. 2006). Para Pereira e Souza (2004), o lactato produzido a partir da glicólise anaeróbia é o principal componente do metabolismo intermediário, devido ao fato de o fluxo de lactato sanguíneo exceder o de glicose. O lactato, de acordo com McArdle (2003), não deve ser encarado como um produto de desgaste metabólico, e sim como uma fonte de energia que se acumula em virtude do exercício físico intenso, sendo este importante indicador de intensidade durante o jogo devido a sua variação de concentração sanguínea. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi identificar a intensidade do jogo de futebol feminino através da concentração de lactato sanguíneo na partida da Copa do Brasil realizada na cidade de Pelotas, entre Pelotas e Novo Mundo.

Procedimentos metodológicos  

    Este estudo se caracterizou por ser do tipo transversal observacional. Participaram da pesquisa 13 atletas (20,2 ± 2,1 anos, 59,7 ± 8,1 kg, 164,2 ± 6,7 cm) da equipe feminina do Esporte Clube Pelotas que estavam em período de competição. As atletas foram informadas sobre os riscos e benefícios do presente estudo, tendo assinado o Termo de Consentimento Livre Esclarecido para participarem da pesquisa. A coleta ocorreu antes, durante e após a partida válida pela Copa do Brasil, realizada no dia 1º de outubro de 2009 na cidade de Pelotas-RS, no estádio da Boca do Lobo às 20:30h, entre Esporte Clube Pelotas e Novo Mundo do estado do Paraná. Uma hora antes do jogo, as atletas escaladas pelo Pelotas para começarem a partida participaram do procedimento de coleta de lactato sanguíneo. Após o final do primeiro tempo de jogo (intervalo) foi feita uma segunda coleta, e imediatamente após o final do jogo, foi tomada a terceira coleta de lactato sanguíneo das atletas. Para tal medida, utilizou-se um lactímetro portátil (Accusport, Boehringer Mannheim - Alemanha), tiras reagentes para medir lactato, luvas cirúrgicas, estiletes descartáveis, algodão e álcool 70%, a amostra de sangue foi coletada de um dos dedos da mão não dominante. Adicionalmente, no início do mês de setembro, foram coletadas as variáveis consumo máximo de oxigênio – VO2max (Léger & Lambert, 1982), percentual de gordura - %G (Guedes, 1994, para três dobras cutâneas – plicômetro Cescorf com precisão para 0,1 cm), e peso corporal (balança Welmy, com precisão para 0,1Kg). A análise estatística foi descritiva (média ± desvio padrão - dp) e correlacional (correlação de Spearman). O nível de significância aceito foi de 5%.

Resultados

    No que compete à aptidão física, as atletas exibiram %G médio de 23,7±3,2% e VO2max de 41,3±3,5 mL/Kg.min. A tabela apresenta os resultados da concentração de lactato sanguíneo antes do aquecimento (início), no final do primeiro e segundo tempo do jogo. Em função de atrasos na chegada ao vestiário por parte das atletas no intervalo do jogo, foram coletadas apenas oito amostras das atletas que terminaram a primeira etapa da partida, sendo possível avaliar uma atleta zagueira e uma atleta atacante, dentre todas avaliadas no intervalo.

Tabela 1. Valores de lactato (mmol/L) médio e desvio padrão de todas as atletas (n=13) 

e separadas por posição, antes do aquecimento (início), no intervalo e no final do jogo

 

Início

Intervalo

Fim

Todas (n=13)

2,1 ± 0,5

6,2 ± 2,0

4,3 ± 1,2

Zagueiras (n=3)

2,4 ± 0,2

6,9*

3,8 ± 1,7

Laterais (n=3)

1,9 ± 0,7

6,2 ± 2,2

5,0 ± 0,8

Meias (n=4)

2,3 ± 0,6

7,2 ± 2,1

4,8 ± 1,3

Atacantes (n=3)

2,0 ± 0,6

3,3*

3,9 ± 0,6

n = número de atletas total e separadas por posição.* no intervalo do jogo foi coletado lactato sanguíneo de uma zagueira e uma atacante somente.

    O presente estudo apresentou uma média de lactato de 2,1 ± 0,5 mmol/L antes do início do jogo, de 6,2 ± 2,0 mmol/L no intervalo e de 4,3 ± 1,2 mmol/L no fim do jogo. A concentração média de lactato sanguíneo aumentou do início para o intervalo do jogo, e diminuiu do meio-tempo para o final da partida. Os valores mais elevados de lactato ao final desta foram observados nas laterais (5,0 ± 0,8 mmol/L). Ao proceder-se a análise correlacional das variáveis VO2max, %G e concentração de lactato média do jogo para cada jogadora, obteve-se: na associação das variáveis VO2max e %G, r=-0,7 (p=0,004); na associação das variáveis VO2max e concentração de lactato médio, r=0,2 (p=0,5); e na associação das variáveis %G e concentração de lactato médio, r=-0,07 (p=0,7). 

Discussão  

    Em seu trabalho com uma equipe de futebol feminino Krustrup et al. (2010), encontraram resultados de 5,1 ± 0,5mmol/L no intervalo e 2,7 ± 0,4mmol/L no fim do jogo. Os resultados destes estudos mostram-se semelhantes aos encontrados nesta pesquisa, contendo um valor no intervalo maior do que no fim do jogo. Em determinados períodos da partida, a produção de lactato é muito rápida, porém, sua liberação do músculo é lenta (Gladden, 2000), com isso, a concentração de lactato produzido nos músculos a partir do piruvato na cadeia anaeróbia se eleva. Em virtude disso, ambas as concentrações no intervalo do jogo são maiores do que ao final do mesmo. Os presentes resultados não parecem muito diferentes daqueles apresentados por Silva et al. (2000), com um grupo de jogadores profissionais do sexo masculino, em que valores médios de 7,1 ± 0,6 mmol/L e 5,7 ± 1,3 mmol/L ao final do primeiro e segundo tempos de jogo, respectivamente, foram apresentados. Por outro lado, nossos achados são substancialmente diferentes dos resultados de Olegini et al. (2008), os quais mostraram valores médios de lactato de 4,6 ± 0,9mmol/L após o primeiro tempo de jogo e 3,8 ± 0,6mmol/L após o término do jogo, sugerindo diferenças individuais nas exigências físicas de jogadores durante um jogo relacionado à capacidade física e papel tático na equipe, (Bangsbo et al. 2006). Independentemente dos fatores que resultam na sua elevação, as concentrações de lactato têm sido amplamente utilizadas para se estimar a contribuição do metabolismo glicolítico durante o exercício físico (Bertuzzi et al., 2009). Com o desgaste físico produzido durante o primeiro tempo, a fadiga no final do jogo pode ser causada por baixas concentrações de glicogênio muscular (Mohr et al., 2005), podendo-se observar redução no nível de lactato sanguíneo. Nesse sentido, a queda de rendimento das atletas observada durante o segundo tempo do jogo, bem como a depleção de alguns nutrientes durante a partida, podem explicar a diminuição na concentração média de lactato sanguíneo do primeiro para o segundo tempo (6,2 ± 2,0mmol/L para 4,3 ± 1,2mmol/L). A associação correlacional negativa estatisticamente significante (r=-0,7; p=0,004) observada entre as variáveis VO2max e %G sugere que o nível de aptidão física das atletas era, em média, incompatível com a prática de futebol no alto nível. A associação inversa determina que à medida que aumenta o percentual de gordura, diminui o escore de VO2max. As atletas apresentaram valor médio de VO2max de 41,3 ± 3,5 mL/Kg.min e média de %G igual a 23,7 ± 3,2%, escores consideravelmente diferentes de valores observados em atletas profissionais de futebol feminino (Krustrup et al., 2005), podendo explicar o baixo rendimento observado no segundo tempo do jogo. Nesse estudo, as atletas foram analisadas somente uma vez. Seria importante a avaliação repetida de todas jogadoras, pois só assim seria possível verificar a variabilidade individual de empenho das atletas durante as partidas. A associação estatisticamente significante das variáveis VO2max e %G sugere aptidão física média incompatível com a prática de futebol de alto nível. A análise metabólica de um único jogo pode implicar em viés, no entanto, os escores de VO2max e %G reforçam a impressão de inadequado preparo físico para exercer a condição de atleta de futebol.

Conclusão

    Conclui-se neste estudo que a concentração do lactato verificado no intervalo do jogo é maior que ao final do mesmo. Relacionando os resultados encontrados no intervalo e no final, percebe-se uma possível inibição da via glicolítica láctica, talvez por fadiga/cansaço, conduzindo à diminuição da intensidade de jogo.

Referências

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