Caracterização do perfil antropométrico de desportistas de karatê de um clube do município de São Paulo Caracterización del perfil antropométrico de karatekas de un club del municipio de Sao Paulo |
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*Nutricionistas fornadas pelo Centro Universitário São Camilo **Nutricionista, Doutora e Mestre em Nutrição em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública (USP) docente em Nutrição esportiva do Centro Universitário São Camilo (Brasil) |
Agnes Correa Striuli* Danielle de Souza Pereira* Tamara Eugenia Stulbach** |
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Resumo Introdução: O Karatê é uma das artes marciais mais populares praticadas no mundo. É considerado exercício anaeróbio e caracterizado por curtos períodos de alta intensidade e interrupções por períodos moderados de recuperação. Estudos antropométricos relacionados aos esportes de combates são bem comuns, porém no caso do karatê há poucos estudos investigando a composição corporal dos lutadores. Objetivo: Caracterizar o perfil antropométrico de adultos e crianças praticantes de karatê de um clube do município de São Paulo. Métodos: Estudo transversal, realizado com 12 crianças e 7 adultos nos meses de outubro e dezembro de 2009. Foram tomadas medidas antropométricas de cada participante do estudo por 3 dias. Resultados: Estudou-se 57,1% de homens, 42,9% de mulheres, 9 meninos e 3 meninas com idades médias de 44,8; 31,7; 11,6; 10,3 anos, respectivamente. Verificou-se que 57% dos adultos estavam eutroficos segundo o IMC, porem a maioria apresentou percentual de gordura elevado. Mais da metade dos homens apresentou excesso de gordura abdominal, indicativa de tendência para doenças cardiovasculares. Com exceção de 1 menino que apresentou percentual de gordura baixo e baixo peso para a idade pelo índice IMC/I (<P3), mais da metade das crianças apresentou excessos ponderais segundo IMC/I (>P85), P/I (>P87) e percentual de gordura corporal. Conclusão: Tanto os adultos quanto crianças de ambos os gêneros apresentaram alta prevalência de excesso de peso e de percentuais de gordura elevados, o que viabiliza a necessidade de acompanhamento nutricional por parte de um nutricionista. Unitermos: Antropometria. Atividade física. Karatê. Percentual de gordura.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O Karatê-Dô, que significa “caminho das mãos vazias”, é uma das versões japonesas para a arte do combate desarmado e uma das artes marciais mais populares praticadas no mundo. O treino de karatê envolve três tipos de habilidades: técnicas básicas (kihon); seqüência de movimentos pré-determinados, em que se luta com oponentes imaginários (kata) e luta dois a dois (kumite). Aparenta ser anaeróbio e caracterizado por: curtos períodos de exercício de alta intensidade e interrupções por períodos moderados de recuperação (SASAKI, 1995; TESHIMA et al, 2002 Apud ROSSI; TIRAPEGUI, 2007, p. 40; IMAMURA, et al , 1999; SHAW & DEUTSCH, 1982 Apud ROSSI; SILVA; TIRAPEGUI, 1999, p. 40; IMAMURA et al, 1998 Apud DEL VECCHIO; MICHELINI; GONÇALVES, 2005, p.2).
Diversos trabalhos comprovam que a prática regular de karatê, com freqüência de 3 a 5 dias/semana, intensidade acima de 50% V02 máx, e duração contínua de 60 min, está de acordo com as recomendações do Colégio Americano de Medicina e Esporte. Deste modo, a prática de karatê traz benefícios cardiovasculares, aumento da capacidade aeróbia e perda de gordura corporal para propósito de emagrecimento (IMAMURA, et al , 1999; SHAW & DEUTSCH, 1982 Apud ROSSI; SILVA; TIRAPEGUI, 1999, p. 40).
A antropometria é um método de investigação em nutrição baseado na medição das variações físicas e na composição corporal global e permite a classificação de indivíduos e grupos segundo o seu estado nutricional. Dependendo do método utilizado, tem como vantagens ser barato, simples, de fácil aplicação e padronização, além de pouco invasivo. Também possibilita que os diagnósticos individuais sejam agrupados e analisados de modo a fornecer o diagnóstico de coletivo, permitindo conhecer o perfil nutricional de um determinado grupo. A antropometria, além de ser universalmente aceita, é apontada como sendo o melhor parâmetro para avaliar o estado nutricional de grupos populacionais (SISVAN 2004).
Estudos antropométricos relacionados aos esportes de combates são bem comuns, mesmo em âmbito nacional, embora o karatê não seja exemplo para tal afirmação. Cavanagh & Landa (1976) já apontavam há quase trinta anos atrás que o karatê, como esporte, tem sido negligenciado pelos estudiosos das ciências do esporte, fato esse que não se modificou ao longo dos anos. Isso é comprovado pelo fato de que há poucos estudos investigando a composição corporal dos lutadores (DEL VECCHIO; MICHELINI; GONÇALVES, 2005, p.1, ROSSI; TIRAPEGUI, 2007, p. 43).
Devido à escassez de estudos sobre antropometria em praticantes de karatê, o presente estudo teve como objetivo caracterizar o perfil antropométrico de adultos e crianças praticantes de karatê de um clube do município de São Paulo.
Causuística e métodos
Trata-se de um estudo transversal, realizado com 7 adultos de 32 a 49 anos e 12 crianças de 7 a 15 anos e em uma academia do Município de São Paulo.
As medidas antropométricas foram aferidas antes do treinamento, por 3 dias e registradas em fichas individuais.
Para verificação do peso, utilizou-se uma balança digital de marca Techline, com capacidade para 150 Kg, e para a mensuração da estatura uma fita métrica inelástica de 180 cm presa em uma parede lisa, sendo o indivíduo orientado em posição anatômica adequada (plano de Frankfurt).
A partir do peso e da estatura, obteve-se o Índice de Massa Corporal (IMC). Os
valores obtidos foram classificados segundo OMS (1998) para adultos, e para as
crianças foi avaliado índice IMC por idade (IMC/I) (WHO, 2007).
Para registro das circunferências foi utilizada fita inelástica de 180 cm nos
seguintes locais: braço (CB), abdome (CA), quadril (CQ) nos adultos, e apenas a
CB nas crianças.
Foram aferidas 4 dobras cutâneas, avaliadas do lado direito do corpo, em triplicata com um adipômetro Sanny, registrando-se o valor médio nos seguintes locais anatômicos nos adultos: tríceps (DCT), bíceps (DCB), subescapular (DCSe) e suprailíaca (DCSi). Nas crianças foram aferidas apenas a DCSE e DCT.
O percentual de gordura nos adultos foi determinado conforme a somatória das quatro dobras cutâneas proposta por Durnin & Wormesley (1974), e posterior classificação para percentual de gordura por pontos de corte propostos por Lohman et al (1992). Já nas crianças, foi calculado por meio da equação de Slaughter et al (1988) que utilizava os valores obtidos das medidas das duas sobras. A classificação desses resultados foi feita por pontos de corte Deurenberg et al (1990). Adicionalmente aos resultados do percentual de gordura corporal, foram analisados os índices antropométricos peso por idade (P/I) em crianças com até 10 anos e estatura por idade (E/I) em todas as crianças.
Para classificar o risco de ocorrência de doenças cardiovasculares nos adultos, foram utilizadas como padrão as classificações por WHO (2000) a partir da CA, e por Lohman (1988) a partir das CC e CQ relacionadas (RCQ).
A partir dos dados da circunferência do braço e da dobra cutânea triciptal, foi possível calcular a circunferência muscular do braço (CMB).
Os dados antropométricos foram avaliados segundo medidas de tendência central (média, desvio-padrão), segundo idade e gênero e por meio da distribuição percentual das variáveis entre os desportistas. A média total para os gêneros e faixas etárias foi obtida através da média dos valores encontrados de cada variável nos 3 dias de aferição.
Os resultados foram agrupados em tabelas e gráficos para melhor visualização.
Resultados e discussão
Foram avaliados 7 adultos, sendo 57,1% homens e 42,9% mulheres, com idades médias de 44,8 anos (+5dp) e 31,7 (+1,5dp), respectivamente e 12 crianças, sendo 3 meninas e 9 meninos, com idades médias de 10,3 anos (+4,2dp) e 11,6 (+2,1dp), respectivamente.
O gráfico 1 mostra a prevalência de eutrofia, sobrepeso/obesidade e baixo peso nos adultos karatecas de ambos os gêneros.
Gráfico 1. Prevalência (%) de eutrofia e sobrepeso/obesidade nos adultos karatecas de ambos
os gêneros, baseado na média dos valores do IMC de cada individuo foi de 43%. São Paulo, 2009
Ao avaliar o estado nutricional dos indivíduos, segundo a média do Índice de Massa Corporal (IMC), os praticantes de karatê foram considerados eutróficos (57%). Porém, ao verificar a média da porcentagem de gordura corporal, foi possível constatar que 100% dos atletas apresentavam valores acima do preconizado por Lohman (1992).
O gráfico abaixo mostra a prevalência de risco para complicações metabólicas segundo a CA e a RCQ nos adultos participantes do estudo.
Gráfico 2. Prevalência (%) de risco para complicações metabólicas segundo a CA e RCQ em adultos, segundo gênero. São Paulo, 2009
Ao avaliar a prevalência de risco para complicações metabólicas, 75% dos homens apresentaram risco segundo a CA e 25% segundo a RCQ. Já as mulheres, 33,3% apresentaram risco segundo a CA e RCQ.
O principal problema da avaliação nutricional conduzida em praticantes ou atletas de artes marciais, especificamente no Karatê, é a escassez de informações de referência para avaliar seu desenvolvimento físico, atlético e seu rendimento. Além da escassez de registros antropométricos, outra problemática envolvendo esta área é o emprego das metodologias para avaliação antropométrica. Dessa forma, não se pode descartar a hipótese da variabilidade de aplicação dos métodos de avaliação antropométrica (ROSSI; TIRAPEGUI, 2007, p. 43).
Estudos indicam que homens e mulheres com gordura corporal relativa acima dos valores aceitáveis de referência, apresentam maiores riscos para doenças crônicas não-transmissíveis como cardiopatias, acidentes vasculares cerebrais, hipertensão, dislipidemias, diabetes, aterosclerose, cálculo biliar, neoplasias, entre outras. Porem, outros estudos ressaltam que a gravidade dos fatores de risco relacionados à obesidade está diretamente ligada à distribuição da gordura corporal. Um modelo de distribuição andróide (forma de maçã), com excesso de gordura na região central do corpo, particularmente no abdome, tem sido associado com o aumento da incidência de acometimentos cardiovasculares (níveis elevados de triglicérides e reduzidos de HDL, apresentando maior impacto sobre a elevação da pressão arterial), principalmente ao ser comparado com o modelo ginóide (forma de pêra), que é caracterizado pelo aumento de gordura na região inferior do corpo, particularmente quadris e coxas (LIMA; GLANER, 2006 p.97; PITANGA; LESSA, 2005, p.27; REZENDE et al, 2006, p.133).
Intervenções relacionadas à promoção da saúde e a prevenção e controle da obesidade e das doenças cardiovasculares, como incentivo ao abandono do tabagismo, a educação nutricional da população e prática de atividade física (ressaltando nesse trabalho o karatê), têm recebido grande importância por resultarem em alterações desejáveis (REZENDE et al, 2006, p.729).
Pôde-se verificar que 91,7% das crianças apresentaram valores de percentual do gordura acima dos preconizados (n=11). Porem, vale ressaltar que, apesar desse resultado geral, apenas 1 menino (8,3%) apresentou percentual de gordura abaixo de 10%.
Esses resultados são bastante preocupantes, uma vez que valores de gordura corporal relativa superiores a 25% e 30%, em meninos e meninas, respectivamente, estão associados a um alto risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, hipertensão, hipercolesterolemia e hiperlipidemia. Desse modo, o sobrepeso/obesidade durante a infância e adolescência favorece o aumento da prevalência de síndrome metabólica na idade adulta e possui estreita relação com o desenvolvimento prematuro da aterosclerose, contribuindo para o aumento das taxas de mortalidade cardiovascular (RONQUE et al, 2007, p.366).
No Gráfico 2 pode-se verificar os percentis em que as crianças estão enquadradas, segundo o indicador E/I.
Gráfico 3. Distribuição dos meninos e meninas de acordo com índice antropométrico E/I por percentis. São Paulo, 2009
Pode-se notar que todas as crianças se encontravam acima do P3 para o índice E/I, o que mostra estatura adequada para a idade.
O índice E/I mede o crescimento linear e seu déficit relaciona-se a alterações cumulativas de longo prazo na situação nutricional e de saúde em geral. Estando associado a processos de longa duração e a um acumulado retardo de crescimento, reflete formas crônicas de desnutrição energético-protéica. O crescimento e a estatura final de um indivíduo dependem da interação entre seu potencial genético e a influência de vários fatores ambientais como condições precárias de habitação e saneamento, baixos níveis de renda e baixa escolaridade dos pais (SANTOS et al, 2009, p. 188).
No Gráfico 3 pode-se verificar os percentis em que as crianças até 10 anos estão enquadradas segundo o indicador P/I.
Gráfico 4. Distribuição dos meninos e meninas até 10 anos, de acordo com índice antropométrico P/I por percentis. São Paulo, 2009
O que se observa é que todas as crianças até 10 anos, tanto meninos como meninas, se encontravam acima do P97, indicando peso elevado para a idade.
O índice P/I é empregado para refletir deficiências. Ele está relacionado tanto com o passado nutricional da criança como com problemas atuais que resultem em perda de peso e ganho insuficiente de peso. Porem, este não é o índice antropométrico mais recomendado para a avaliação do excesso de peso entre crianças. Deve-se avaliar esta situação pela interpretação do IMC para idade (MS 2002).
O Gráfico 4 mostra a distribuição das crianças conforme a classificação índice IMC/I por percentis.
Gráfico 5. Distribuição dos meninos e meninas de acordo com o índice antropométrico IMC/I por percentis. São Paulo, 2009
O que se observa é que de 3 meninas, 2 encontram-se acima do P85, o que indica que mais da metade dessa população apresenta excesso de peso. Quanto aos meninos, 6 encontram-se acima do P85 e apenas 1 se encontra abaixo do P3, o que indica baixo peso.
O IMC é usado como um instrumento para identificar possíveis problemas de peso em crianças e adolescentes. O Centers for Disease Control (CDC) e Prevention e American Academy of Pediatrics (AAP) recomendam o uso do IMC para o sobrepeso em crianças começando aos 2 anos de idade. Para crianças e adolescentes o IMC é usado para averiguar o sobrepeso, risco de sobrepeso ou peso abaixo do saudável. Porém, o IMC não é uma ferramenta de diagnóstico isolada. Ele pode indicar se a criança está com sobrepeso, porém para determinar se o excesso de gordura corporal é fator de risco para o desenvolvimento de doenças, é necessário outros métodos de avaliação, que podem incluir medição de dobras cutâneas, avaliação da dieta, nível atividade física, histórico familiar, etc. (GIUGLIANO; MELO, 2004, p. 130-34).
Consideraçoes finais
De acordo com as características da população adulta estudada, pode-se observar IMC elevado, media alta de porcentagem de gordura corporal e circunferência abdominal e relação entre cintura quadril, indicativos de risco para complicações metabólicas, em ambos os gêneros.
Em relação às crianças, com exceção de 1 menino que apresentou percentual de gordura baixo e baixo peso para a idade pelo índice IMC/I (<P3), mais da metade das crianças de ambos os gêneros apresentou excessos ponderais segundo IMC/I (>P85), P/I (>P87) e percentual de gordura corporal.
Esses resultados viabilizam a necessidade de acompanhamento nutricional destes karatecas por parte de um nutricionista, uma vez que há tendência de desenvolvimento de complicações metabólicas nos adultos e desenvolvimento de sobrepeso/obesidade nas crianças, em sua vida adulta.
Referências bibliográficas
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GIUGLIANO, Rodolfo; MELO, Ana L. P. Diagnóstico de sobrepeso e obesidade em escolares: utilização do índice de massa corporal segundo padrão internacional. J. Pediatr, v. 80, n. 2, p. 129-34, abr, 2004.
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PITANGA,
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REZENDE, F.A.C. et al. Índice de Massa Corporal e Circunferência
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ROSSI, L; SILVA, RC; TIRAPEGUI, J. Avaliação Nutricional de Atletas de Karatê. Revista APEF, Londrina, ed. 14, p. 40-49, 1999.
ROSSI, L; TIRAPEGUI, J. Avaliação Antropométrica de Atletas de Karatê. Revista Brasileira Ciência e Movimento, São Paulo, v. 15, n. 3, p. 39-46, fev. 2007.
SANTOS, C.D.L et al. Influência do déficit de estatura nos desvios nutricionais em adolescentes e pré-adolescentes. Rev. Nutr, n.2, v. 22, p. 187-194, mar/abr, 2009.
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