O Brasil no Campeonato Mundial de Futebol: a incidência de jogadores atuantes no futebol estrangeiro disputando a Copa do Mundo pela seleção nacional Brasil en los Campeonatos Mundiales de Fútbol: la incidencia de los jugadores que actúan en el fútbol extranjero disputando la Copa del Mundo por la selección nacional |
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*Graduado em Administração, PUC-PR; Graduando em Educação Física, UFPR. **Mestranda em Educação Física, Bolsista REUNI, Integrante do CEPELS/UFPR. ***Graduada em Educação Física, UFPR. (Brasil) |
Diogo Maoski* Ana Paula Cabral Bonin** Eliza Lins Donha*** |
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Resumo O assunto mundialmente comentado, discutido e assistido no momento, com certeza é a Copa do Mundo de Futebol, ocorrida nesse ano na África do Sul. Os olhares do mundo se voltam para o espetáculo esportivo proporcionado pelas melhores seleções participantes da décima nona edição da competição organizada pela FIFA. Tendo em vista esse cenário, do futebol brasileiro representante do país no campeonato mundial, o presente artigo tem como objetivo fazer um mapeamento sobre a incidência de jogadores atuantes no futebol estrangeiro quando convocados para integrar a seleção brasileira na disputa da Copa do Mundo desde sua primeira edição e verificar a identificação da torcida brasileira com a seleção que a representou na copa do mundo da África do Sul. Esse trabalho caracteriza-se como um artigo de revisão visto que livros, dissertações de mestrado, teses de doutorado, sites da internet e artigos acadêmicos publicados foram utilizados como fonte para obtenção dos dados aqui relatados. Após mapear a convocação e atuação dos jogadores brasileiros observamos que até a copa de 1982 ocorrida na Espanha, todos os jogadores da seleção atuavam em clubes brasileiros; a partir de então, o número de jogadores convocados para atuar na seleção brasileira e que jogavam no exterior passou a aumentar significativamente. As Copas que se sucederam contaram com um número cada vez maior de jogadores atuantes no exterior, com exceção da Copa de 2002, em que conquistamos o pentacampeonato com treze jogadores atuando no Brasil e dez no exterior. Mesmo diante de todas essas transições percebemos que a identidade do povo brasileiro pelo futebol e pela sua seleção permaneceu muito forte visto que o apoio à equipe e aos seus representantes é de extrema intensidade, pois os brasileiros continuaram a transformar suas rotinas em dias de jogos do Brasil pela Copa do Mundo. Unitermos: Futebol. Copa do Mundo. Jogadores. Brasil. Torcida. Identidade.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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O histórico das convocações
No dia 11 de maio do presente ano cerca de quinhentos jornalistas acompanharam os nomes dos 23 jogadores convocados para compor a seleção brasileira na Copa do Mundo da África do Sul1. O técnico Dunga não cedeu à pressão publica e deixou Neymar, Ganso e Ronaldinho Gaúcho fora de sua lista, sendo que os dois primeiros não se juntaram ao seu companheiro de clube Robinho e ficaram apenas na torcida por uma seleção composta por apenas 3 jogadores que atuavam no futebol brasileiro.2
O Brasil disputou a décima nona Copa do Mundo com uma seleção com 87% de jogadores que jogam fora do país. Kleberson do Flamento, Gilberto do Cruzeiro e Robinho do Santos foram às exceções desta equipe recheada de verdadeiros cidadãos do mundo. Jogadores como Lucio, Gilberto Silva, Kaká e Juan estão fora do Brasil a mais de cinco anos, sendo assim já atuavam fora do país antes mesmo da copa de 2006 na Alemanha.
O fenômeno da internacionalização da seleção brasileira começa comprovadamente na Copa do Mundo de 1982 que ocorreu na Espanha. Dirceu e Falcão, que na época atuavam na Espanha e Itália respectivamente, foram selecionados para compor uma equipe aclamada por muitos, mas que sucumbiu frente à Itália nas quartas de final e voltou para casa sem o título.3
Em 1986 foram vinte jogadores atuando no Brasil e dois jogadores atuando no exterior. Junior e Edinho estavam atuando na Itália quando convocados para integrar a seleção nacional.4
Em 1990, Copa do Mundo ocorrida na Itália, podemos dizer que ocorreu uma verdadeira globalização na seleção brasileira visto que dez jogadores convocados para a Copa atuavam no exterior; um na Alemanha (Jorginho), cinco em Portugal (Ricardo Gomes, Branco, Valdo, Silas e Aldair), quatro na Itália (Dunga, Careca, Alemão e Müller), um na Holanda (Romário) e um na França (Mozer).5
Em 1994, ano em que o Brasil conquistou o quarto título mundial, a seleção era composta por dez jogadores que atuavam no Brasil, os demais no exterior sendo dois na Itália (Taffarel e Aldair), três na Alemanha (Jorginho, Dunga e Paulo Sérgio), dois no Japão (Ronaldão e Leonardo), três na Espanha (Bebeto, Mauro Silva e Romário) e dois na França (Márcio Santos e Raí)6
Em 1998, na Copa ocorrida na França em que o Brasil ficou com o vice campeonato, o Brasil era composto por nove jogadores atuantes no futebol brasileiro, seis na Itália (Aldair, André Cruz, Cafu, Edmundo, Leonardo e Ronaldo), dois no Japão (César Sampaio e Dunga), três na Espanha (Giovanni, Rivaldo e Roberto Carlos), um em Portugal (Doriva) e um na Alemanha (Emerson).7
O Pentacampeonato foi conquistado na Copa de 2002 em continente asiático com dez jogadores atuantes no futebol estrangeiro e treze no futebol nacional. Na Itália estavam Cafu, Júnior, Ronaldo e Roque Júnior, na Alemanha Lúcio, na França Edmílson e Ronaldinho Gaúcho, e na Espanha Denílson, Rivaldo e Roberto Carlos.8
Em 2006 o Brasil chegou à Alemanha como favorito ao título visto que em seu elenco estavam presentes alguns dos jogadores mais talentosos e valorizados mundialmente. Seis jogadores estavam na Itália (Adriano, Cafu, Dida, Emerson, Kaká e Júlio César), quatro na Alemanha (Gilberto, Juan, Lúcio e Zé Roberto), cinco na Espanha (Cicinho, Roberto Carlos, Robinho, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho) um em Portugal (Luisão), um na Inglaterra (Gilberto Silva) e dois na França (Fred e Juninho Pernambucano).9
Na Copa da África do Sul, em 2010, a seleção brasileira foi composta de vinte atletas atuantes no futebol estrangeiro; oito jogadores atuavam na Itália (Doni, Felipe Melo, Juan, Júlio César, Júlio Baptista, Lúcio, Maicon e Thiago Silva), quatro na Espanha (Daniel Alves, Kaká, Luis Fabiano e Nilmar), dois em Portugal (Luisão e Ramires), dois na Alemanha (Grafite e Josué), um na França (Michel Bastos), um na Inglaterra (Gomes), um na Turquia (Elano) e um na Grécia (Gilberto Silva).10
Conclusiva e resumidamente, de 1982 até 2010 todas as equipes formadas para representar o Brasil em uma Copa do Mundo foram contempladas com jogadores que atuavam fora do País. A partir de 1990, com exceção de 2002, a seleção passou a ter mais jogadores oriundos de equipes estrangeiras do que de equipes nacionais. O gráfico a seguir demonstra o numero de jogadores atuantes no futebol brasileiro e no futebol estrangeiro em todas as edições de copas do mundo.
Fonte: Dados da pesquisa
O clube brasileiro que mais cedeu jogadores para compor a seleção brasileira em Copas do Mundo foi o Botafogo de futebol e regatas. A equipe carioca já teve 46 jogadores convocados para defender o país. Em seguida estão o São Paulo Futebol Clube com 42 jogadores e o Clube de Regatas Flamengo com 33 convocações.11
O gráfico a seguir faz referência aos clubes brasileiros que já cederam jogadores à Seleção Brasileira em Copas do Mundo de Futebol.
Fonte: Dados da pesquisa
Após obter conhecimento dos clubes nacionais que mais cederam jogadores à seleção, procuramos dentre os clubes estrangeiros e encontramos o Roma da Itália, o Barcelona da Espanha e o Bayer Leverkusen da Alemanha, como aqueles nos quais com maior incidência atuavam os jogadores brasileiros quando convocados para s seleção brasileira.12
Na tabela a seguir podem ser verificados os clubes estrangeiros e o respectivo número de jogadores brasileiros atuantes nos mesmos quando convocados para a seleção brasileira de futebol.
Fonte: Dados da pesquisa
Destacamos nesse momento os jogadores que mais representaram o Brasil em Copas do Mundo de futebol. A lista é encabeçada por Pelé, Nilton Santos, Castilho, Ronaldo e Cafu. Cada um deles participou de quatro copas. Pelé esteve presente nas copas de 1958,1962,1966 e 1970. Nilton Santos jogou as copas de 1950, 1954, 1958 e 1962, assim como Carlos José Castilho, goleiro titular em 1954. Ronaldo e Cafu estiveram presentes em 1994,1998,2002 e 2006, sendo o primeiro o maior artilheiro em copas e o segundo recordista em finais dentro de campo.13
Ao tentarmos entender o que chamamos de globalização da seleção brasileira encontramos alguns estudos, dentre eles o de Leoncini (2003) que considera o futebol mundial como um grande negócio. De acordo com o relatório final do Plano de Modernização do Futebol Brasileiro, realizado pela Fundação Getulio Vargas, o futebol mundial movimenta mais de 250 bilhões de dólares anuais.
O futebol é o esporte mais praticado em todo o mundo e que encontrou no Brasil um terreno fértil para a produção de inúmeros craques, bem como um mercado abrangente e promissor. Segundo estudo da empresa de consultoria Casual auditores, a movimentação financeira do futebol brasileiro pode crescer mais de 1 bilhão entre os anos de 2007 e 2012, sendo R$ 360 milhões em receitas de marketing, R$ 280 milhões em recursos de mídia e R$ 320 milhões em receitas com os estádios.14
Entretanto, mesmo sendo um mercado prodígio, o futebol brasileiro ainda sofre com sua administração ineficiente. Segundo Leoncini (2003), o Brasil está longe de aproveitar todo o seu potencial. De todo o montante financeiro movimentado pelo mercado do futebol o país contribui com míseros 1% do valor anual.
Os clubes brasileiros engatinham na profissionalização de sua gestão enquanto os clubes europeus estão cada vez mais eficazes na exploração das fontes de receitas oriundas do esporte. Influenciados pela reformulação adotada no futebol inglês, vários clubes desenvolveram novas fontes de renda, entendendo o futebol como um espetáculo lucrativo.
A fragilidade da organização do futebol brasileiro e a consequente crise financeira nos clubes nacionais, bem como o incrível poder de barganha dos grandes clubes europeus, começava a gerar no inicio dos anos 80 um contexto que culminaria na transferência de jogadores brasileiros para o exterior. Entretanto, a legislação vigente até o começo da década de 90 dificultava muito a saída dos jogadores, que estavam sob a tutela dos clubes.
No ano de 1993, foi elaborada a lei Zico, que começava a retirar dos clubes o domínio frente aos jogadores. Segundo Damo (1995), “embora a transação de atletas com contraprestação econômica remonte aos anos 30 (...) No Brasil, a sanção da Lei Zico (1992) e da Lei Pelé (2001) diminuíram gradativamente o poder dos clubes sobre os atletas, impulsionando a livre negociação da força de trabalho”.
Agora, sem os empecilhos da legislação e com todas as facilidades que uma transferência pode gerar para os jogadores e empresários, os clubes brasileiros passaram a conviver com a perda de seus principais atletas para o mercado europeu.
A seleção brasileira convocada para a Copa de 2010 representa esse novo contexto, onde vários jogadores deixam o país ainda muito jovens e atuam durante grande parte da carreira bem longe dos campos e da torcida brasileira.
Identidade do brasileiro com o futebol
Um time formado por jogadores de “fora” poderia ser um fator de distanciamento entre o povo e a seleção brasileira. Entretanto, a cada Copa observamos inúmeras demonstrações de apoio e esperança para grupo que tem a responsabilidade de representar mais de 190 milhões de brasileiros. O presente artigo tem o intuito de demonstrar que apesar das inúmeras transformações ocorridas no futebol, o brasileiro mantém um apoio incondicional a seleção.
O futebol encontrou no Brasil um terreno fértil. Como afirma Mazzoni (1950), “a semente da popularidade futebolística brotou logo prodigiosamente”15. O futebol invadiu definitivamente a vida de milhares de brasileiros das mais diferentes classes sociais, tornando-se um dos fatores mais importantes para o senso de unidade e identidade do país (LEVER 1983). De acordo com Bellos (2003), o futebol é o maior símbolo da identidade nacional brasileira.
Segundo Pecenin (2007), A valorização do futebol na sociedade brasileira é tamanha que suas expressões invadem o campo da linguagem cotidiana, em que são investidos de novos sentidos, criando metáforas caracterizadoras da nossa cultura “futebolingüística”. Quando erra, o brasileiro admite que “pisou na bola”. Ao decidir sobre sua aposentadoria, declara que irá pendurar as chuteiras.
A relação entre o brasileiro e o futebol é maximizada com a seleção brasileira. Para Damo (2005) a ligação entre o time de futebol organizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a própria nação brasileira é algo que já está naturalizado. Como afirma Nelson Rodrigues apud Damo (2005), se uma equipe entra em campo com o nome do Brasil e tendo como fundo musical o hino pátrio, é como se fosse a pátria em calções e chuteiras a dar botinadas e a receber botinadas.
Damo (2005) lembra que no futebol somos admirados, invejados, temidos. Enfim o futebol nos permite que os outros nos reconheçam como melhores em alguma coisa. Além de possibilitar à nação que ela seja reconhecida positivamente em algo, sobretudo quando há tantos motivos para que ela seja lembrada na perspectiva inversa, o futebol torna o Brasil do tamanho idealizado; é o “gigante desperto” por oposição ao “gigante adormecido”
Segundo Marques (2006), mesmo após o fim do Período Colonial, o Brasil permaneceu refém das influências estrangeiras por força das imigrações do século XX e da constante dependência de mercados externos. Considerada uma nação “periférica” no que diz respeito ao desenvolvimento social e econômico, o Brasil, entretanto, parece reafirmar sua auto-estima por meio do futebol.
Para Rodrigues (2003), o complexo de “vira-latas”, inferioridade em que o brasileiro sempre se coloca voluntariamente diante do resto do mundo, é superada pelas vitórias no futebol. A copa é o momento que desabrocha o ufanismo nacional.
Conforme Fernández (1974), a Copa do Mundo é mais importante para os brasileiros do que para as outras nações, já que é nela que o Brasil se reconhece como potência capaz de derrotar as superpotências políticas que subjugam o país no campo econômico. Segundo Pecenin (2007), é nesse momento que se apagam as mazelas socioeconômicas do país e as desventuras particulares de cada cidadão. É como se o Brasil inteiro estivesse reunido em torno de uma única causa. Também via futebol, nossos heróis não são navegadores, generais ou soldados, mas sim os jogadores, heróis das batalhas que são as partidas da Copa do Mundo.
A saga clássica do herói fala de um ser que parte do mundo cotidiano e se aventura a enfrentar obstáculos considerados intransponíveis, os vence e retorna a casa, trazendo benefícios aos seus semelhantes (CAMPBELL, 1995). A Copa do Mundo é a saga dos heróis brasileiros.
O futebol e a seleção brasileira estão presentes na vida da imensa maioria dos brasileiros. O anúncio institucional do “Clube dos Treze” veiculado na revista Istoé de 22 de julho de 1998 demonstra essa relação quase inabalável entre o povo brasileiro e sua seleção:
"Brasileiro vive futebol 24 horas por dia. Aqui, discussão é bate-bola. Se a garota passa e se insinua, deu bola. Se o garoto chega pra conferir e ela sai fora, ele diz que deu na trave. Mas, se nem vai conferir, é bola murcha. Se alguém não fala coisa com coisa, não bate bem da bola. Se a menina tem irmão ninguém chega, tem beque na área. Se alguém é bom de papo, é craque. Quando se dá bem, tá com a bola toda, agora, se é chato, é o empata. Se alguém quer saber se alguma coisa vai dar certo, pergunta: vai dar jogo? Se a coisa não anda, fica no zero a zero. Mas, se tudo dá certo, é um golaço! Entendeu porque o Brasil é, e sempre será, o país do futebol? Bola pra frente, Brasil. Homenagem à seleção campeã do século." (Isto É, 1998, p.59:60 in GASTALDO,2001)
A Copa do Mundo e a torcida brasileira
Apesar de a seleção possuir poucos jogadores que fizeram história atuando pelos clubes brasileiros, o grupo que foi à África do Sul recebeu inúmeras demonstrações de apoio. O país viveu durante a Copa dias de intensa festa e muita torcida.
Antes mesmo do início do torneio, já havia muita movimentação em diversos setores. O comércio se preparava para o aumento nas vendas, “Faltando 30 dias para o início da Copa do Mundo na África do Sul, o mercado de venda de produtos personalizados usando o tema da seleção ficou aquecido. As lojas esportivas esperam lucrar 25% a mais do que no mesmo período do ano passado, nos outros ramos, o aumento deve chegar a 5%” 16.
Diversas casas, indústrias e estabelecimentos comerciais foram enfeitados especialmente para o torneio. A decoração de casas e ruas é algo típico das Copas do Mundo e em Teresina, no Piauí, os jurados do concurso cidade verde-amarela visitaram várias ruas durante a competição. Em reportagem do portal do concurso, fotos de famílias inteiras se preparando para torcer com muita tinta e fantasias. Em entrevista uma das organizadoras da torcida na cidade afirma, “Quem se diz brasileiro nato e não pinta a cara, e não bota peruca no tempo da Copa, não é brasileiro”.
Parte da preparação da equipe do técnico Dunga foi realizada em solo brasileiro, o que propiciou diversas aglomerações de torcedores em frente ao centro de treinamento Alfredo Gottardi, mais conhecido como CT do Caju, local onde a seleção brasileira esteve hospedada antes de se encaminhar para a África do Sul. Depois de muitos protestos e pressão da torcida, a CBF abriu as portas do centro de treinamento e possibilitou o acompanhamento de uma parte das atividades da seleção. “De maneira surpreendente a Confederação Brasileira de Futebol decidiu abrir os portões do CT do Caju para cerca de 300 torcedores que faziam vigília em frente o local”.17
Em Curitiba, a torcida esteve sempre ao lado da seleção brasileira e em sua despedida não foi diferente, como informou o portal Terra, “Presentes em todos os dias de treinamento da Seleção Brasileira em Curitiba, os torcedores se despediram dos jogadores nesta quarta-feira”. “Uma verdadeira multidão (cerca de duas mil pessoas) estava no saguão de embarque do aeroporto desde as primeiras horas da manhã”.18
Já em solo Africano, a seleção continuou a levar multidões por onde passava. Em noticia do portal UOL a manchete “Brasil leva cinco mil pessoas para ver 1º treino aberto na África” demonstrava a vontade do torcedor em ver a seleção brasileira. “O treino ocorreu no Donbsonville Stadium de Soweto e contou com quase 5.000 pessoas da região, que em clima de festa expressaram de forma barulhenta e colorida sua simpatia pelo Brasil” 19.
Enquanto a seleção jogava a copa na África do Sul, no Brasil várias cidades construíram grandes estruturas para a transmissão dos jogos da seleção brasileira. As organizações privadas, em parceria com as prefeituras realizaram verdadeiros mega-eventos a cada jogo.
Em Fortaleza, foi estruturada a Arena Agita Brasil. O evento que teve entrada franca transmitiu os jogos da seleção e ainda vários shows de artistas locais. Segundo o portal de noticias do Ceará, em alguns jogos o publico superou a marca de trinta mil espectadores.
Em São Paulo o principal ponto de encontro para assistir aos jogos do Brasil foi o telão montado no vale do Anhangabaú, no centro da Cidade. A prefeitura em parceria com empresas privadas estruturou um telão de 76m². O local chegou a ser ocupado por 50 mil torcedores nos jogos do Brasil. As companhias de metro trabalharam em contingente máximo durante os jogos para atender a demanda dos torcedores paulistanos.20
No Rio de Janeiro, a Arena do “Fifa Fun Fest” foi o principal ponto de encontro dos torcedores. “Uma arena de trinta e um mil metros quadrados, com capacidade para receber até vinte mil pessoas, foi erguida na praia de Copacabana, sobre a faixa de areia que vai da Avenida Princesa Isabel à Rua Duvivier”.21 Nas oitavas de final, em partida contra o Chile, a Arena recebeu cerca de dezenove mil pessoas, além de sessenta mil torcedores que não conseguiram entrar e assistiram ao jogo em um telão montado nos fundos do palco principal.22
Em Belo Horizonte, a Praça da Estação e o Parque JK foram transformados em pontos oficiais de encontro da torcida. Nos dois pontos turísticos da cidade foram montadas duas arenas de comemorações, fruto de uma parceria entre a prefeitura e uma empresa privada. A Arena da Praça da Estação teve capacidade para quinze mil pessoas, enquanto a Arena do Parque JK supria um número de oito mil torcedores.23 Além das Arenas, outros locais foram estruturados para a torcida mineira. No jogo valido pelas oitavas de final, cerca de três mil e quinhentas pessoas acompanharam a vitória da seleção brasileira na praça de eventos da Zona Norte da cidade.24
Em Porto Alegre, no Largo Glênio Peres foi montada uma estrutura com dois telões responsáveis por transmitir os jogos da seleção. Milhares de torcedores passaram pelo centro histórico da cidade para acompanhar a equipe brasileira. Segundo o portal do Correio do Povo, cerca de sete mil pessoas estavam presentes na derrota do Brasil frente à seleção holandesa valida pelas nas quartas de final do torneio.
Em Curitiba, o principal ponto de encontro dos torcedores foi a Boca Maldita. Um telão foi colocado em frente a Praça Osório para a transmissão dos jogos do Brasil. Milhares de pessoas foram até o centro da cidade torcer pela seleção. No ultimo jogo da primeira fase, entre a seleção brasileira e a seleção portuguesa, cerca de dez mil torcedores estavam presentes durante o jogo.25
Em Recife, “A Arena Torcida Recife, munida com três diferentes pólos de animação, foi montada na praia do Pina, Zona Sul da cidade, para o encontro da torcida brasileira durante os jogos da seleção” 26. Durante a Copa, milhares de pessoas assistiram aos jogos da seleção na Arena de Recife. Segundo o portal Terra, na estréia do Brasil contra a Coréia do Norte, cerca de quinze mil pessoas estiveram no local para torcer pela seleção.
Durante a Copa, muitos torcedores preferem os grandes locais de encontro para os jogos, como por exemplo, as pessoas que estiveram na estréia da seleção em Barra Mansa, Rio de Janeiro. “Quando as pessoas se juntam assim, é melhor. Se estivéssemos em casa não teria esse calor, essa animação. Resolvemos então vir para um local mais animado. Assim é mais legal, todos se uniram por um ideal, que é ver o Brasil ganhar" 27. Em Curitiba, vários torcedores demonstraram a animação de estar presentes em meio à multidão, “Nem posso ficar o jogo todo, mas não tem como não querer torcer com mais gente por perto”; “A gente vem para torcer junto, conhecer gente”; “É gostoso ver o povo na rua. Comemorar junto é muito melhor” foram os comentários de alguns torcedores.28
Há também aqueles torcedores que preferem assistir aos jogos em casa, ao lado da família e amigos. “O pessoal lá de casa vai fazer um churrasco e estou torcendo para chegar meu ônibus logo, não quero perder nada” 29. “Gosto bastante de ter os amigos aqui em casa e essa energia positiva acho que ajuda o Brasil quem sabe a ganhar dessa vez” 30.“Não há nada mais agradável do que reunir a família, chamar os amigos e vizinhos em casa, enfeitar com bandeirinhas, fazer um churrasco e assistir a seleção” 31.
Considerações finais
O presente artigo buscou demonstrar a evolução na incidência de jogadores que atuam no futebol estrangeiro convocados para compor a seleção brasileira em Copas do Mundo. Procuramos também analisar as relações de identificação da torcida com o grupo que disputou a Copa do Mundo da África em 2010.
As transformações ocorridas no futebol e a conseqüente exportação de diversos jogadores para os grandes mercados europeus culminaram na presença dos principais craques brasileiros fora dos clubes nacionais. Em 1982, essa mudança provocou a convocação de jogadores atuantes no futebol estrangeiro para a seleção brasileira. E a partir de 1990, com exceção de 2002, a maioria dos jogadores convocados para a Copa do Mundo é oriunda de clubes de fora do Brasil.
Na Copa da África, a seleção brasileira foi composta por 87% de jogadores não atuantes no futebol brasileiro. Entretanto, isso não foi um motivo de interferência na identidade da torcida pela seleção brasileira. Apesar das críticas, a seleção do técnico Dunga recebeu muito apoio ainda em solo brasileiro. Durante a copa, multidões se reuniram em diversas capitais e grandes cidades para assistir aos jogos da seleção.
A relação entre o torcedor e a seleção brasileira é um tema que oferece inúmeras possibilidades de pesquisa. Estudos posteriores devem contemplar uma análise histórica apresentando as manifestações da torcida durante outras copas do mundo para verificar as reais interferências dos jogadores atuantes no futebol estrangeiro na identidade do povo brasileiro com a seleção nacional de futebol.
Notas
Dados retirados do site www.g1.globo.com; Acessado em 15 de maio de 2010.
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Dados retirados do site www.cbf.com.br; Acessado em 20 de maio de 2010.
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Manisfestações da torcida brasileira na copa do Mundo da África do Sul. Disponível em: http://www.diariodovale.com.br/noticias/0,23131.html
Seleção recebe adeus da torcida no aeroporto de Curitiba. Disponível em: http://www.espbr.com/noticias/selecao-recebe-adeus-torcida-no-aeroporto-curitiba
Seleção já tem lista para a Copa. Disponível em http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2010/05/selecao-ja-tem-lista-para-copa.html
Seleção Brasileira em todas as Copas do Mundo. Disponível em: http://mesquita.blog.br/copa-do-mundo-jogadores-da-selecao-brasileira-em-todas-as-copas
Seleção Brasileira nas Copas do Mundo. Disponível em: http://www.cbf.com.br/php/home.php?e=1
Seleção Brasileira. Disponível em:
Torcida pelo Brasil na Copa do Mundo. Disponível em: http://www.online.unisanta.br/2010/06-03/esportes-13.htm
Torcedores pernambucanos acompanham jogos do Brasil em pólos de diversão. Disponível em: http://deolhoem2014.terra.com.br/blog/recife/torcedores-pernambucanos-acompanham-jogos-do-brasil-em-polos-de-diversao-23
Torcida pela seleção tem ate festa de aniversario em São Paulo. Disponível em: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2010/06/torcida-pela-selecao-tem-ate-festa-de-aniversario-em-sao-paulo.html
Torcida brasileira reunida em Balneário Camboriu. Disponível em: http://www.clicrbs.com.br/esportes/sc/noticias/futebol-copa-do-mundo-2010,2949956,Torcida-brasileira-ja-esta-reunida-em-Balneario-Camboriu.html
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EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 15 · N° 150 | Buenos Aires,
Noviembre de 2010 |