Introdução
Vários estudos demonstram que o sedentarismo ou a falta de atividade física,
juntamente com o fumo e a dieta inadequada, são fatores de risco para
desenvolver doenças crônico-degenerativas, como cardiopatias, câncer,
hipertensão, diabete mellito e obesidade (BARA et. al, 2000 e YOUNG et.
al, 2005).
Segundo Sharkey (2002), a atividade física é elemento fundamental para
regulação da qualidade de vida do ser humano, possibilitando-lhes maior
produtividade, bem-estar e saúde (LIMA 1999 e GUEDES et al, 2005).
A atividade física é definida como qualquer movimento corporal produzido pelos
músculos esqueléticos que resulta em gasto energético maior do que os níveis
de repouso (CASPERSEN, 1985).
Suas mensurações podem ser feitas através de diversos instrumentos. Esses
métodos podem variar desde monitores eletrônicos (como, por exemplo, os
sensores de movimentos) até levantamentos realizados através de
questionários.
Dentre os questionários, destaca-se o International Physical Activity
Questionnaire (IPAQ) que teve sua validade testada no Brasil por Matsudo et
al (2001). O IPAQ é um instrumento que permite estimar o tempo semanal
gasto na realização de atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa
e em diferentes contextos da vida (trabalho, tarefas domésticas, transporte e
lazer), com possibilidade de estimar o tempo de inatividade física (como ver
televisão, ler, e ficar na posição sentada) (BENEDITTI et al., 2004).
Através da avaliação do tempo de atividade física pelo IPAQ, é possível
avaliar o nível de atividade física e, conseqüentemente, classificar a
condição do indivíduo como sedentário, ativo ou muito ativo (PARDINI R., et
al., 1997; ARAÚJO et al., 2000; BARROS &.NAHAS, 2000; MATSUDO et
al., 2001).
Com o passar do tempo, a atividade física foi incluída nas instituições de
ensino iniciando um processo de legitimação da Educação Física perante a
sociedade (MOREIRA, 2004). Desta forma as escolas passaram a exigir a
intervenção do professor de Educação Física que estuda e atua sobre a
cultura corporal do movimento (DAOLIO, 2003).
Hoje em dia, a Educação Física, enquanto componente curricular da Educação
básica deve assumir a tarefa de introduzir e integrar o aluno na cultura
corporal de movimento, formando o cidadão que vai reproduzi- la para usufruir
do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e dança, das ginásticas e
práticas de aptidão física, em benefício da qualidade da vida (BETTI, 1992a;
BETTI 1994b).
Sabe-se que os jovens quando estimulados de maneira adequada à prática da
atividade física tendem a desenvolver conhecimentos, habilidades, atitudes e
hábitos que podem elevar a probabilidade de torná-los ativos fisicamente
quando adultos, proporcionando, assim, um aumento em sua qualidade de vida (ROSS
& GILBERT, 1985; SIMONS-MORTON, et al, 1987; SIMONS-MORTON et al,
1988; BLAIR et al 1989;RAITAKARI et al, 1994).
Com isso, para garantir altos níveis de engajamento dos estudantes nas aulas de
Educação Física escolar, é necessário elaborar um currículo voltado para a
prática da atividade física. Nesse sentido, o professor deve, segundo Lazzoli et
al (1998), inicialmente, considerar o combate ao sedentarismo, estimulando a
prática regular de exercícios no cotidiano e/ou de forma estruturada através
de modalidades esportivas, mesmo na presença de doenças, já que raramente há
contra-indicações ao exercício físico; priorizar aspectos lúdicos da
atividade física em condições ambientais adequadas e levar em conta o
processo global de educação.
Desse modo é importante o acompanhamento dos níveis de prática da atividade
física em populações jovens, pois, torna-se de fundamental interesse à área
da saúde pública, não apenas por estarem associados ao aparecimento e ao
desenvolvimento de fatores de risco que podem predispor a maior incidência de
distúrbios metabólicos e funcionais (BLAIR et al 1989; ARMSTRONG, 1990
e RAITAKARI et al, 1994), mas também, em função de sua possível
influência na participação futura do adulto em programas regulares de
exercícios físicos.
Com isso, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o nível de atividade
física dos alunos do último ano do ensino fundamental e do ensino médio.
Materiais
e métodos
A pesquisa foi realizada após autorização da escola e após a assinatura do
termo de consentimento livre e esclarecido pelos responsáveis dos alunos ou
pelos alunos maiores de 18 anos.
A população de referência para esse estudo foi composta por estudantes do
último ano do ensino Fundamental e Médio de uma escola estadual do município
de Betim. Participaram da pesquisa 39 estudantes sendo 20 alunos do ensino
fundamental e 19 do ensino médio. Foram incluídos os alunos que têm idade
igual ou superior a 14 anos e os que estão matriculados no último ano do
ensino fundamental e médio. A coleta das informações sobre nível de
atividade física foi realizada por uma única pessoa, sem nenhum tipo de
indução, em momentos distintos para cada grupo.
Nesta investigação para a avaliação do nível de atividade física foi
utilizado, como instrumento, o questionário (IPAQ versão longa). Segundo o
IPAQ, o indivíduo será classificado como sedentário quando realizar atividade
física por até 10 minutos contínuos por semana; como ativo quando realizar
atividade física vigorosa por ≥ 3 dias / semana e ≥ 20 minutos por
sessão ou moderada, ou caminhada por ≥ 5 dias / semana e por ≥ 30
minutos por sessão, ou na ou soma de qualquer das atividades resultando em
≥ 5 dias / semana e ≥ 150 minutos / semana (caminhada + moderada +
vigorosa); como muito ativo quando realizar atividadequando realizar atividade
vigorosa por ≥ 5 dias / semana e ≥ 30 minutos por sessão, ou
atividade vigorosa por ≥ 3 dias / semana e ≥ 20 minutos por sessão
+ atividade moderada e ou caminhada por
≥ 5 dias/semana e ≥ 30 minutos por sessão.
Após
a tabulação dos dados em planilha do Software Excelâ, os dados foram
apresentados na forma de análise descritivas.
Resultados
Os resultados da presente investigação foram descritos de acordo com os
objetivos propostos.
A seguir são apresentadas as análises descritivas para cada uma das variáveis
do estudo. Se a variável for categórica, será construída a tabela de
freqüência que indica os percentuais de ocorrência de cada categoria. Se a
variável for contínua, apresentaremos algumas medidas descritivas tais como
média, desvio padrão, mínimo e máximo.
Caracterização
dos alunos
Com relação à caracterização do gênero da amostra, observamos que, dos 39
(100%) alunos que participaram do estudo, 21 (53,85%) eram do sexo feminino e 18
(46,15%) eram do sexo masculino, como demonstrado na tabela 1.
Tabela
1. Gênero do aluno
Segundo a faixa etária, do total de participantes do estudo, obteve-se idade
máxima de 22 anos e mínima de 14 anos. A média de idade foi de 16,31 anos,
com desvio padrão de 1,81 anos , como demonstrado na tabela 2.
Tabela
2. Faixa etária
Após aplicação e análise do instrumento IPAQ, verificamos que 16 (41,03%)
dos indivíduos foram classificados como sedentários, 19 (48,72%) como ativos e
4 (10,25%) como muito ativos conforme a tabela 3.
Tabela
3. Condição do aluno
Ao correlacionarmos a condição do aluno e o gênero, observou-se que
dentre os indivíduos sedentários da amostra, 7 (33,33%) são do sexo
feminino e 9 (50,0%) do sexo masculino, enquanto que dentre os classificados
como ativos, 13 (61,90%) são do sexo feminino e 6 (33,0%) do sexo masculino e
classificados como muito ativos, 1 (4,77%) do sexo feminino e 3 (17,00%) do sexo
masculino.
Tabela
4. Condição do aluno e gênero
Em relação ao nível de escolaridade dos alunos e sua condição, constatou-se
que dos classificados como sedentários, 10 (50%) são do ensino fundamental e 6
(31,60%) são do ensino médio, enquanto que, dos classicados como ativos, 10
(50%) são do ensino fundamental e 9 (47,35%) são do ensino médio e dos
classificados como muito ativos, 4 (21,05%) são do ensino médio. Não houve
nenhum aluno do ensino fundamental classificado como muito ativo.
Tabela
5. Condição do aluno e nível de escolaridade
Ao relacionarmos o tempo em que o aluno fica em inatividade física (tempo
sentado) e o nível de escolaridade constatou-se que, no ensino fundamental os
alunos apresentaram um mínimo de 30 h/sem e o máximo de 74 h/sem, com uma
média de 44,8 h/sem e desvio padrão de 15,17. Já os alunos do ensino médio
apresentaram mínimo de 20 h/sem e o máximo de 66 h/sem , com uma média de
35,26 h/sem e desvio padrão de 12,30.
Tabela
6. Tempo (h/sem) de inatividade física
Discussões
Níveis de prática de atividade física habitual em segmentos da população
jovem têm-se tornado importante tema de interesse e preocupação constante
entre especialistas da área, em razão de sua estreita associação com
aspectos relacionados à saúde. Apesar da disponibilidade de vários
indicadores voltados à monitoração da prática de atividade física,
calorimetria, água duplamente marcada, sensores de movimentos, freqüência
cardíaca, observação direta e registros de auto-recordação. A opção pela
utilização de um deles deverá estar relacionada às vantagens e às
limitações de cada método diante do delineamento do estudo (MONTOYE et. al,
1996).
Por conta do baixo custo e da possibilidade de analisar maior número de
sujeitos em curto espaço de tempo, instrumentos de auto-recordação têm sido
o método mais comumente utilizado como indicador dos níveis de atividade
física habitual. Estudiosos da área reconhecem que instrumentos de
auto-recordação podem oferecer informações seguras quanto aos níveis de
prática de atividade física habitual, mediante indicações com relação ao
tipo, à intensidade, à duração e à freqüência das atividades do cotidiano
(SALLIS & SAELENS, 2000).
Ao analisarmos informações que correlacionam a condição do aluno, avaliada
pelo questionário IPAQ, e o gênero, observou-se que dentre os
indivíduos sedentários da amostra, 7(33,33%) são do sexo feminino e 9 (50,0%)
do sexo masculino, enquanto que dentre os classificados como ativos, 13 (61,90%)
são do sexo feminino e 6 (33,0%) do sexo masculino. Os resultados encontrados
neste estudo estão em desacordo com o estudo feito por Guedes et. al (2001) que
identifica níveis de prática de atividade física habitual em adolescentes.
Ele revelou que rapazes foram consistentemente mais ativos fisicamente que
moças. Por volta de 54% dos rapazes envolvidos no estudo foram classificados
como ativos ou moderadamente ativos, enquanto aproximadamente 65% das moças
analisadas mostraram ser inativas ou muito inativas. Os rapazes demonstraram
significativamente maior envolvimento na prática de exercícios físicos e de
esportes que moças (3:20 vs. 0:48 horas/semana).
No entanto, ao estabelecer a classificação dos alunos segundo o IPAQ em um
contexto geral, constatou-se que 41,03% dos alunos da amostra são sedentários,
corroborando com outros estudos como o Maitino (1997), que estudando escolares
de 10 a 17 anos de idade da periferia de Bauru, São Paulo, relatou que 42% dos
investigados eram classificados como sedentários.
Em comparação com o tempo em que o aluno fica em inatividade física
(assistindo a tv, lendo, ficar sentado) e o nível de escolaridade constatou-se
que, no ensino fundamental os alunos apresentaram uma média de 44,8 h/sem , já
os alunos do ensino médio uma média de 35,26 h/sem. O tempo gasto em assistir
à televisão, ler, ficar na posição sentada contribui substancialmente para a
inatividade física e para o desbalanço energético (GORTMAKER et. al,
1980).
Dietz (1990) encontrou forte relação entre assistir à televisão e obesidade,
em crianças e adolescentes. Apontou como mecanismos que justificam essa
associação, a diminuição do gasto energético e/ou o aumento do consumo de
alimentos. O primeiro pode ser explicado pela redução do tempo dedicado à
atividade física mais intensa ou alteração na taxa de metabolismo. O aumento
do consumo de alimentos pode ocorrer devido à prática de consumi-los enquanto
assistem à televisão, inclusive produtos veiculados pela mesma. Tucker e
Friedman (1989) verificaram que a inatividade física constitui-se no fator mais
importante para o desenvolvimento da obesidade.
Com o alto índice de sedentarismo que percebemos na amostra analisada,
sugere-se a intervenção de ações que incentivem esses jovens a praticar mais
atividade física, pois estes encontram-se, a maior parte do seu tempo, ociosos.
Portanto, a Educação Física escolar tem o papel importante de conscientizar
os alunos a uma prática regular de atividade física, principalmente durante a
semana, já que nos finais de semana os jovens buscam o lazer em forma de
dança, jogos coletivos, andar de bicicleta e etc.
Considerações
finais
Com base nos resultados conclui-se que os níveis de atividade física
encontrados nos alunos do último ano do ensino fundamental e ensino médio,
utilizando-se o IPAQ, foram baixos em ambos os sexos, embora as meninas tenham
sido, em média, mais ativas que os meninos. Foi identificado também que os
alunos do ensino fundamental passam mais tempo em inatividade física do que os
alunos do ensino médio.
No entanto, é importante destacarmos que, poucos estudos sobre o nível de
atividade física foram encontrados com amostras de crianças e adolescentes
brasileiros, tornando-se necessário a realização de novas pesquisas com esta
população.
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