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Os benefícios da atividade física para portadores de transtorno mental

Los beneficios de la actividad física para los pacientes con trastornos mentales

The benefits of physical activity for patients with mental disorders

 

*Graduando em Educação Física – UFV (Universidade Federal de Viçosa)

Bolsista de Pesquisa FUNARBIC

**Professora adjunta do Departamento de Educação Física, UFV

(Brasil)

Felipe Alves Soares*

Eveline Torres Pereira**

felipeefi_ufv@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Os transtornos mentais podem ser definidos como aqueles que levam o indivíduo a apresentar deterioração do funcionamento mental, social e motor. As estimativas iniciais indicam que, atualmente, cerca de 450 milhões de pessoas no mundo sofrem transtornos mentais ou neurobiológicos ou, então, problemas psicossociais, como os relacionados com o abuso do álcool e das drogas. Os serviços de atendimento à saúde mental têm buscado formar equipes multiprofissionais aptas a trabalhar com esse público, entretanto percebe-se ainda algumas lacunas neste setor. Objetivou-se com essa revisão literária sistemática baseada nas fontes de indexação Bireme, SciELO e Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP mostrar os benefícios da atividade física para portadores de transtorno mental, tornando-se esta mais um mecanismo facilitador para o tratamento deste público específico. Pôde-se perceber algumas evoluções, como melhora do humor em geral e em relação aos sintomas da depressão e ansiedade em indivíduos normais e pacientes psiquiátricos; integração entre os próprios pacientes e a equipe terapêutica; ampliação das possibilidades de comunicação não-verbal; elevação da auto-estima; melhora na percepção e consciência corporal; e também melhora da aptidão física. Entretanto, os trabalhos na área ainda são escassos, sendo necessárias novas pesquisas para que a atividade física seja solidificada no tratamento dos transtornos mentais em geral, e, consequentemente, que a figura do educador físico torne-se uma constante em serviços de atendimento à saúde mental.

          Unitermos: Atividade física. Saúde mental. Transtorno mental.

 

Abstract

          Mental disorders can be defined as those that lead the individual to present deterioration of mental functioning, social and motor. Initial estimates indicate that currently about 450 million people worldwide suffer from mental disorders and neurobiological it, or psychosocial problems, such as those related to the abuse of alcohol and drugs. The services of mental health care have sought to form multidisciplinary teams able to work with this population, but one still observes some gaps in this sector. The objective of this systematic literature review based on indexing sources Bireme, SciELO and Digital Library of Theses and Dissertations USP show the benefits of physical activity for patients with mental disorders, making it is more a facilitating mechanism for addressing this public specific. We could see some developments, such as improved mood in general and in relation to symptoms of depression and anxiety in normal subjects and psychiatric patients; integration between the patients and therapeutic team; expanding the possibilities of non-verbal communication; raising self esteem; improves the perception and body awareness; and also improves physical fitness. However, studies in this area is scarce and requires further research so that physical activity is solidified in the treatment of mental disorders in general and, therefore, that the figure of the physical educator to become a constant in health care services mental.

          Keywords: Physical activity. Mental health. Mental disorder.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os transtornos mentais podem ser definidos como aqueles que levam o indivíduo a apresentar deterioração do funcionamento mental, social e motor. O comprometimento cognitivo pode preceder o transtorno psiquiátrico em geral1, e as pessoas com déficits na saúde mental apresentam maiores limitações físicas2.

    Algumas dificuldades enfrentadas tornam-se comuns, como concentração diminuída, ansiedade severa, problemas no relacionamento social, sentimentos de incapacidade, déficits na elaboração e resolução de problemas, etc. Nesse grande espectro, encontram-se transtornos como esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar, transtorno obsessivo compulsivo, dentre outros3.

    As estimativas iniciais indicam que, atualmente, cerca de 450 milhões de pessoas no mundo sofrem transtornos mentais ou neurobiológicos ou, então, problemas psicossociais, como os relacionados com o abuso do álcool e das drogas. Em termos globais, muitos indivíduos se transformam em vítimas por causa da sua doença e se convertem em alvos de estigma e discriminação4. Os transtornos mentais já representam quatro das dez principais causas de incapacitação em todo o mundo e esse crescente ônus vem a representar um custo enorme em termos de sofrimento humano, incapacidade e prejuízos econômicos4.

    A busca de alternativas por esse tipo de serviço tornou-se mais incessante a partir de 1970, com o início da reforma psiquiátrica, visto as fragilidades do modelo manicomial, extremamente excludente e ineficiente no tratamento. O processo de desinstitucionalização – cujo objetivo principal reside na re-inserção social das pessoas excluídas pelo modelo manicomial – exige, necessariamente, a criação de dispositivos capazes de operacionalizar tal intento, garantindo, ainda, o vínculo das pessoas desinstitucionalizadas com o sistema de saúde e agregando-as ao contexto comunitário5.

    Com isso, os serviços de saúde têm buscado melhorias para o tratamento desse público. Profissionais da área como psiquiatras, psicólogos, terapeutas e assistentes sociais se vêem envolvidos e inseridos em trabalhos nesse ramo. Entretanto, a integração das equipes, em geral, ainda é falha, e é necessário o surgimento de equipes terapêuticas que realmente dialoguem, discutam e trabalhem em conjunto no tratamento dos pacientes6.

    Percebe-se que a formação de uma equipe multidisciplinar é primordial na busca do êxito. Entretanto, notam-se também lacunas na elaboração de um grupo consolidado e apto a tratar os pacientes com transtorno mental nos âmbitos cognitivo, social e motor.

Métodos

    A seleção de informação para esta revisão literária sistemática deu-se através do uso das bases de dados Scielo e Bireme, onde foram digitados os termos “transtorno mental” (Scielo) e “mental disorder AND physical activity” (Bireme). Além disso, foram pesquisadas dissertações de mestrado no site da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, com o uso do termo “transtorno mental e atividade física”.

    O material específico da revisão sobre atividade física e transtorno mental englobou o período de 2005 a 2009, sendo que se priorizou trabalhos nacionais, a fim de analisar especificamente o tratamento de portadores de transtorno mental no Brasil.

Resultados

    Nos últimos anos determinadas pesquisas demonstraram os benefícios que a prática da atividade física pode causar aos portadores de transtorno mental, tornando-se mais um ponto positivo do tratamento7,8. Dentre esses benefícios, os exercícios físicos parecem ser efetivos na melhora do humor em geral e em relação aos sintomas da depressão e ansiedade em indivíduos normais e pacientes psiquiátricos; possibilitam a integração entre os próprios pacientes e a equipe terapêutica; permitem ampliar as possibilidades de comunicação não-verbal; elevam a auto-estima; e auxiliam na percepção e consciência corporal.

    O caminho para o alcance dessas evoluções pode ser variado. O exercício aeróbico parece ser efetivo na melhora do humor e da reabilitação física em geral7. O mesmo estudo verificou o papel terapêutico da ginástica para esse público, e concluiu que os pacientes mais graves apresentaram melhorias na adaptação à comunidade terapêutica e em seu processo de reabilitação clínica7.

    Em outro estudo foram alcançadas melhoras na expressão corporal e inclusão dos pacientes através de trabalhos com atividades de dança, automassagem, reconhecimento do corpo, alongamentos, ou seja, atividades de autoconhecimento corporal8.

Discussões

    Os aspectos explicitados remetem a criação de um programa de atividade física com estímulos diferenciados, a fim de maximizar os resultados e possibilitar uma melhora global do portador de transtorno mental.

    A incapacidade de auto-percepção do indivíduo no mundo relaciona-se diretamente com os déficits encontrados na prática do exercício físico, e assim, reforça-se o papel deste último como agente facilitador no tratamento do transtorno mental2.

    Percebe-se que é comum em todos os estudos da área, alguns objetivos, como: elaborar um programa de atividade física adequado para o público específico; auxiliar no processo de tratamento, reabilitação e inclusão do portador de transtorno mental na sociedade; buscar a melhora dos domínios cognitivo, motor e social dos participantes; permitir a integração e um convívio melhor entre os participantes do serviço.

    Contudo, nota-se que determinadas pesquisas dessa área têm sido conduzidas por fisioterapeutas, enfermeiros, dentre outros7,8,9,10. Pode-se concluir pelos estudos analisados que a atividade física possui papel primordial no tratamento desse público específico, e assim, Educação Física deve possuir um papel mais significativo nas equipes multidisciplinares dos Serviços de Atendimento à Saúde Mental.

    Reforça-se também a necessidade de aplicação de mais estudos na área, com o intuito de solidificar os benefícios do exercício físico e do papel do educador físico no setor de saúde mental.

Referências bibliográficas

  1. David AS, Zammit S, Lewis G, et al. Impairments in cognition across the spectrum of psychiatric disorders: evidence from a swedish conscript cohort. Schizophrenia Bulletin, 2008; 34(6): 1035–1041.

  2. Ruo B, Baker DW, Thompson JA, et al. Patients with worse mental health report more physical limitations after adjustment for physical performance. Psychosom Med, 2008; 70(4): 417-421.

  3. Ratto LRC. Transtornos mentais graves na sociedade: um estudo em São Paulo. (Dissertação de mestrado). São Paulo: USP, 2005.

  4. Organização Mundial de Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde. Relatório sobre a saúde no mundo 2001: saúde mental - nova concepção, nova esperança. Geneva: OMS; 2001.

  5. Barros MMM, Chagas MIO, Dias MSA. Saberes e práticas do agente comunitário de saúde no universo do transtorno mental. Ciência & Saúde Coletiva 2009; 14 (1): 227-232.

  6. Waidman, MAP, Elsen I. O cuidado interdisciplinar à família do portador de transtorno mental no paradigma da desinstitucionalização. Texto Contexto Enferm, 2005; 14(3): 341-349.

  7. Takeda, OT. Contribuição da atividade física no tratamento do portador de transtorno mental grave e prolongado em Hospital-Dia. (Dissertação de mestrado). São Paulo: USP, 2005.

  8. Tessitore, EC. Os talentos do corpo: uma experiência de trabalho corporal com pacientes com transtorno mental. (Dissertação de mestrado). São Paulo: USP, 2006.

  9. Carniel ACD. O acompanhamento terapêutico na assistência e reabilitação psicossocial do portador de transtorno mental. (Dissertação de mestrado). São Paulo: USP, 2008.

  10. Nagaoka, AP. Usuários de um Centro de Atenção Psicossocial e suas vivências com a doença mental. (Dissertação de mestrado). São Paulo: USP, 2009.

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