Atividade física e nutrição como fatores na promoção do envelhecimento saudável na opinião de indivíduos idosos Actividad física y nutrición como factores en la promoción del envejecimiento saludable según la opinión de las personas mayores Physical activity and nutrition as factors in the promotion of healthy aging in the opinion of older adults |
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*Graduada em Nutrição pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS Residente em Nutrição. Grupo Hospitalar Conceição, POA/RS Graduada em Educação Física Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde, UFSM, RS ** Prof. Adj. Dr. da Universidade Federal de Santa MariaCentro de Educação Física e Desportos, UFSM/RS |
Mirceli Goulart Barbosa* Marco Aurélio de Figueiredo Acosta** (Brasil) |
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Resumo Faz-se cada vez mais necessário e importante discutir e divulgar novos temas relacionados ao envelhecimento saudável. Atividade física e nutrição são particularmente importantes e estão relacionadas com a manutenção da saúde especialmente na terceira idade. Propõe-se então, a associação destes fatores como elementos integradores na promoção de um envelhecimento mais saudável e com qualidade. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi identificar a importância da atividade física e da nutrição para a promoção de um envelhecimento saudável. A presente investigação utilizou como instrumento, uma entrevista realizada com 68 idosos, participantes de 10 Grupos de Atividade Física para a Terceira Idade da cidade de Santa Maria. A partir dos dados obtidos sobre alimentação pôde-se observar que em geral a população estudada possui uma boa noção do que é ou não saudável comer. Já nas questões sobre atividade física, um grande número de idosos considera a atividade física essencial para a manutenção de sua saúde. A introdução da prática da atividade física, além de uma alimentação saudável, trazem inequívocos benefícios à saúde. É importante a compreensão de que se deve investir no idoso saudável, privilegiando a atenção integral ao idoso, com ações de proteção e promoção de um envelhecimento saudável. Unitermos: Envelhecimento. Atividade física. Nutrição.
Abstract It is increasingly necessary and important to discuss and disseminate new issues related to healthy aging. Physical activity and nutrition are particularly important and are related to health maintenance especially in old age. It is proposed then, the combination of these factors as elements integrators to promote a more healthy aging and with quality. Therefore, the objective of this study was to identify the importance of physical activity and nutrition for the promotion of healthy aging. This research used as a tool, an interview with 68 elderly, participants from 10 Groups of Physical Activity for the Third Age of Santa Maria. From the data obtained on food could be observed that in the general population has a good notion of what is or is not healthy eating. Even on issues on physical activity, a large number of elderly considers physical activity essential for the maintenance of their health. The introduction of the practice of physical activity, as well as healthy eating, bring clear benefits to health. It is important to understand that we must invest in the healthy elderly, focusing the full attention to the elderly, with shares of protection and promotion of healthy aging.Keywords: Aging. Physical activity. Nutrition .
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Considerações iniciais
Em todo o mundo, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais está crescendo mais rapidamente que a de qualquer outra faixa etária. Em 2025, existirá um total de aproximadamente 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos. Até 2050 haverá 2 bilhões, sendo 80 por cento nos países em desenvolvimento (OMS, 2005).
O Brasil vivencia um processo de envelhecimento populacional que se caracteriza por um aumento proporcional de pessoas idosas em relação à população total. Presentes tendências demográficas revelam que no Brasil, a atual proporção de indivíduos idosos irá tornar-se mais de 7% da população geral (BAGRICHEVSKY; ESTEVÃO; PALMA, 2006). Esse aumento no número de pessoas idosas realça a importância de iniciativas que busquem preservar a qualidade, o significado e principalmente o direito à vida nas idades avançadas, a fim de garantir que os idosos tenham maior autonomia e um envelhecimento mais saudável.
Uma vez que o número de pessoas idosas está aumentando e que a partir daí o desejo de longevidade torna-se eminente, o significado de envelhecimento saudável ou envelhecimento bem-sucedido - segundo Gardner (2006), dois conceitos intimamente ligados - passa a ter maior importância, pois sabe-se que velhice não implica necessariamente doença, incapacidade e afastamento, que o idoso tem potencial para mudanças e muitas reservas inexploradas.
Envelhecimento saudável é definido através de uma série de critérios subjetivos (tais como satisfação de vida e disposição de espírito) e medidas objetivas (tais como morbidez e mortalidade) (GARDNER, 2006). A definição mais proeminente o descreve como sendo a habilidade de manter três características: baixo risco de doença e deficiências relacionadas à doença, elevada capacidade funcional, física e cognitiva e envolvimento ativo com a vida (ROWE; KAHN, 1997).
Outro modelo muito em voga atualmente, é o Modelo de Otimização Seletiva com Compensação (SOC). Nesta abordagem, o envelhecimento bem-sucedido é definido como a maximização e a obtenção de resultados (desejados) positivos e a minimização e o bloqueio de resultados (indesejados) negativos (FREUND; BALTES, 1998).
Faz-se cada vez mais necessário e importante discutir, estudar e divulgar novos temas relacionados ao envelhecimento com saúde. Acredita-se que é possível a maximização de resultados positivos (elevada capacidade funcional, física e cognitiva e envolvimento ativo com a vida) e minimização de resultados negativos (baixo nível de doenças e deficiências) relacionados à velhice a partir da promoção de um envelhecimento saudável através de fatores como a atividade física e nutrição, pois estas duas áreas são particularmente importantes e estão relacionadas na manutenção da saúde durante toda a vida e especialmente na terceira idade (FRANK; SOARES, 2006). Propõe-se então, a associação destes fatores como elementos integradores na promoção de um envelhecimento mais saudável e com qualidade.
A atividade física regular e os hábitos alimentares parecem ter efeitos positivos em várias funções fisiológicas, e vêm sendo discutidos em estudos e revisões como elementos fundamentais na melhora da saúde e qualidade de vida dos indivíduos (BARBOSA et al., 2001). Outros estudos sugerem que uma boa nutrição acompanhada de um programa de exercícios físicos exerce efeitos benéficos sobre a saúde da maioria dos idosos. Neste grupo, pequenas alterações nas atividades diárias e nos hábitos alimentares podem retardar muitos problemas e sintomas associados ao processo de envelhecimento, além de prolongar a saúde e o bem estar nos anos seguintes (FRANK; SOARES, 2006).
Existem várias razões que movem e motivam as pessoas idosas a realizarem atividade física, além disso, os benefícios que a prática de atividades traz são imediatos. Diversos aspectos incidem em uma melhora da qualidade de vida por meio de uma prática esportiva ou de atividades físicas contínuas. Em nível fisiológico e biológico, está comprovado que há uma melhora dos órgãos internos e das capacidades físicas, a prática esportiva influencia também em diversos aspectos como ocupação do tempo livre, criação de algumas obrigações a serem realizadas ao longo do dia, integração em um grupo social, etc. (GEIS, 2003). O exercício aeróbico tem sido há muito tempo uma recomendação importante para a prevenção e tratamento de muitas doenças crônicas normalmente associadas à velhice (EVANS; CYR-CAMPBELL, 1997).
Já a importância da alimentação no processo de envelhecimento é comprovada por estudos epidemiológicos, clínicos e de intervenção, que têm demonstrado ligação consistente entre o tipo de dieta e o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis (CERVATO et al., 2005). A modificação do comportamento alimentar, que inclui hábitos alimentares saudáveis, pode levar a uma diminuição dos fatores de risco para estas doenças e conseqüentemente, oferece condições de melhorar a qualidade de vida destes indivíduos. O menor gasto energético dos idosos induz uma menor ingestão alimentar. Em termos de energia, um novo equilíbrio pode ser alcançado, no entanto, as funções corporais podem exigir a mesma quantidade de nutrientes, ou talvez mais, como resultados de doenças e disfunções (JONG, 2000).
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi identificar a importância da atividade física e da nutrição para a promoção de um envelhecimento saudável na ótica de uma amostra de idosos.
2. Metodologia
Este estudo foi de caráter descritivo transversal, sendo o instrumento utilizado uma entrevista estruturada composta de questões abertas e fechadas com a finalidade de compreender a realidade da população estudada. A entrevista foi estruturada em eixos temáticos: Perfil Nutricional; Questões referentes à Atividade Física e Questões referentes ao Envelhecimento Saudável.
O Perfil Nutricional foi avaliado tomando como base um modelo de Questionário de Freqüência Alimentar (QFA) (FISBERG, 2005). O QFA utilizado na pesquisa possuiu basicamente dois componentes: uma lista de alimentos divididos em grupos alimentares e um espaço para os idosos marcarem com que freqüência consomem cada alimento.
As questões referentes à atividade física e ao envelhecimento saudável foram elaboradas pelos autores da pesquisa e tiveram a finalidade de conhecer as atividades realizadas, saber como está a sua saúde e identificar, na visão dos idosos, quais são os aspectos considerados importantes para se obter um envelhecimento saudável.
A seleção dos idosos foi realizada com base nos grupos de atividade física para a terceira idade vinculados a projetos de extensão do Núcleo Integrado de Estudos e Apoio a Terceira Idade/ NIEATI/ UFSM, mais especificamente de acordo com a pesquisa “O envelhecer na cidade: um estudo sobre os grupos de atividades físicas para a Terceira Idade em Santa Maria” (ACOSTA, 2005) que delimitou 20 destes grupos de acordo com os seguintes critérios: grupos apenas da zona urbana de Santa Maria; grupos mais antigos, que se mantenham ativos; grupos com maior visibilidade em promoções, atividades e eventos para a terceira idade; disposição geográfica dos grupos para garantir uma distribuição espacial na cidade, objetivando maior abrangência, e buscando uma representação do maior número possível de bairros.
A análise estatística utilizada para análise dos dados desta pesquisa foi a descritiva simples com o auxílio do Programa Microsoft Office Excel 2003.
3. Resultados e discussão
Nos 10 Grupos de Atividade Física para a Terceira Idade selecionados realizou-se a entrevista com 68 idosos, numa faixa etária entre 60 a 88 anos, sendo que 97,06% dos idosos eram do sexo feminino e 2,94% do sexo masculino.
O aumento da expectativa de vida da mulher é mais significativo que a do homem, o que pode ser atribuído a fatores biológicos e à diferença de exposição aos fatores de risco de mortalidade. Por outro lado, devido à maior duração de vida da mulher em relação ao homem, elas estão mais expostas por períodos mais longos às doenças crônicas não-transmissíveis, à viuvez e a solidão (VERAS, 1996).
Acrescenta-se que as mulheres idosas têm tido, uma participação qualitativa e quantitativamente maior que os homens em todas as atividades relacionadas às políticas de saúde do idoso, como fóruns de gerontologia, conselhos municipais e estaduais de idosos, e também nos cursos das Universidades de Terceira Idade (PAPALÉO NETTO, 2006).
3.1. Perfil nutricional
Com a finalidade de identificar o hábito alimentar do grupo de idosos estudados e, assim, determinar seu padrão alimentar, optou-se por enfatizar os alimentos mais consumidos diariamente. Verifica-se a partir dos dados obtidos que quanto à ingestão de alimentos do Grupo do Leite e seus derivados, 75% dos idosos consomem leite diariamente. Os derivados de leite, como o iogurte e o queijo também são ótimos para o idoso (BUENO, 1999). Em um estudo realizado por Ramos (2000), em um centro recreativo para idosos em Copacabana/RJ o leite foi ingerido diariamente por 94% dos idosos entrevistados.
É necessário estimular o consumo de alimentos ricos em cálcio no tocante à prevenção e ao tratamento da osteoporose (FRANK, 2004). A osteoporose é reconhecida como uma das mais importantes doenças associadas ao envelhecimento. É caracterizada por uma diminuição da massa óssea e alterações na arquitetura óssea, levando a um aumento da suscetibilidade a fraturas (JONG, 2000).
Quanto ao Grupo de Carnes e Ovos, dos 68 idosos entrevistados observou-se que 41,18% dos idosos consomem carne bovina pelo menos uma vez ao dia. Em um estudo realizado por Nahas e colaboradores (1994), na cidade de São Paulo, observou-se que embora a freqüência relativa de ingestão de carnes seja elevada, esses alimentos não fazem parte do hábito alimentar dos idosos pesquisados, visto que em torno de 40 % dos idosos as consomem. A carne seja de boi, aves ou peixes deve ser consumida no mínimo uma vez ao dia, pois são a principal fonte de aminoácidos que são responsáveis pela manutenção dos músculos, pelo combate a infecções e pela transmissão de informações entre as células. A carne também é a principal fonte de ferro e vitaminas do complexo B, especialmente a B12 (HIRSCHBRUCH MD, CASTILHO, 1999).
No Grupo das Gorduras e Óleos mais de 60% dos idosos utilizam óleo de milho, soja ou girassol diariamente. A manutenção e promoção da saúde na velhice exigem cuidados básicos no controle da ingestão de lipídeos. Associada a adequação do peso corporal, este controle em indivíduos com idade avançada é questão primordial na redução dos riscos para as enfermidades cardíacas (BARBOSA et al., 2001).
Já no Grupo dos Pães, Cereais e Massas, observou-se que 63,24% e 69,12% dos idosos costumam consumir pão branco e arroz respectivamente, no mínimo uma vez ao dia. Em um estudo realizado em um Ambulatório de Nutrição na cidade do Rio de Janeiro, observou-se que 100% dos idosos consumiam pão branco e arroz diariamente (MACHADO et al., 2006). Em uma pesquisa realizada por Nahas et al, (1994), observou-se que o pão branco e o arroz são consumidos por mais de 70% da população estudada. A adequação destes alimentos na dieta do idoso oferece, além de teor energético essencial dos carboidratos, nutrientes como fibra (quando integrais), ferro, e importantes vitaminas do complexo B.
No Grupo do Açúcar e Doces, dos 68 idosos 38,24% consomem açúcar todo dia. Ramos (2000) observou que 100% dos idosos entrevistados consomem açúcar diariamente. Não é recomendável o consumo em grandes quantidades de carboidratos simples, como o açúcar, prefere-se os complexos, como frutas, verduras e alimentos integrais como forma de minimizar os picos hiperglicêmicos observados no quadro de intolerância à glicose, presente com a evolução da idade (FRANK; SOARES, 2006)
Em relação ao Grupo das Verduras e Legumes os mais consumidos diariamente 73,53%, 55,9% e 44,12% são a cebola, o alface e o tomate respectivamente. No Grupo das Frutas as mais consumidas diariamente são a banana (48,53%), a laranja (35,3%) e o mamão (29,41%). Na pesquisa realizada por Ramos (2000), em Copacabana/ RJ, o consumo diário de verduras e frutas foi de 82% e 84% respectivamente, denota-se que não estipulou-se quais as verduras, legumes e frutas mais consumidos. No estudo realizado na cidade de São Paulo, mais de 85% dos idosos têm por hábito consumir frutas, verduras folhosas e legumes (NAHAS et al., 1994).
Todas as frutas e verduras podem ser usadas de acordo com a estação, e são estimulantes quando ingeridas cruas (BUENO, 1999). Para Frank e Soares (2004), o consumo destes alimentos está relacionada a uma menor incidência de varias doenças, incluindo câncer, doenças cardiovasculares e hipertensão. Uma porção de frutas e vegetais frescos por dia (alimentos ricos em potássio) estão associados a uma redução de 40% no risco de hipertensão e contribuirá para o aporte de vitamina C, com ação anti-cancerígena e imunomodeladora (SCHILLING, 1995). Estes alimentos são uma boa fonte de fibras que tem papel no controle de peso, a regulação da glicemia e na diminuição dos níveis de colesterol sanguíneo (SILVA, MURA, 2007).
E por fim, dos 68 idosos entrevistados, pode-se ressaltar que dentre as Leguminosas, o feijão é consumido diariamente por mais de 50% desta população. Nahas e colaboradores (1994) observaram que o feijão era consumido diariamente por 100% dos idosos estudados. A fibra dos feijões é solúvel e tem ação positiva para reduzir níveis elevados de colesterol plasmático e LDL (SCHILLING, 1995).
Além da análise do perfil nutricional perguntou-se também o que o idoso faz no sentido de ter uma alimentação saudável, mais de 80% dos idosos entrevistados responderam possuírem algum cuidado na hora de se alimentar como, não comer gorduras e frituras; alimentar-se em horários adequados; consumir pouco sal; comer frutas, legumes e verduras; tomar muita água e comer em ambientes tranqüilos.
A ciência cada vez mais comprova que uma alimentação saudável não só ajuda a prevenir certas doenças, como também é capaz de melhorar o estado geral do organismo e a qualidade de vida (HIRSCHBRUCH; CASTILHO, 1999). Na Terceira Idade, é importante fazer uma dieta equilibrada para manter-se saudável. Uma dieta equilibrada consiste em ingerir uma ampla variedade de alimentos a fim de que estes proporcionem todos os nutrientes necessários ao corpo (GEIS, 2003).
3.2. Atividade física
Várias estratégias são importantes quando se aborda a questão do envelhecimento. Entre elas, não se pode deixar de lembrar dos benefícios da atividade física. Vários estudos demonstram que a simples prática de uma caminhada diária de 20 minutos pode melhorar a qualidade de vida nos anos posteriores (TIRAPEGUI, 2000).
Através do estudo constatou-se que 45,59% dos idosos realizam além da ginástica habitual praticada no Grupo de Terceira Idade também atividades como: caminhadas, natação, hidroginástica, bicicleta ergométrica e dança. Estes exemplos vêm ao encontro com a pesquisa de Rolim (2005), que cita que as atividades mais praticadas pela população da Terceira Idade são a hidroginástica, a caminhada e a ginástica.
Acosta (2004), cita alguns benefícios do exercício físico para o envelhecimento: os exercícios físicos melhoram alguns indicadores como pressão arterial, colesterol, controle da glicemia, etc.; possibilita re-socializar as pessoas devolvendo-as à vida associativa; os exercícios físicos permitem uma (re) equilibração emocional e a melhora de alguns “sintomas da idade” como dores constantes, artrose, etc. Idosos fisicamente ativos tendem a ter melhor saúde e mais facilidade para lidar com situações de estresse e tensão, reforçando a correlação forte que existe entre satisfação na vida e atividade física (SAFONS, 1999).
Dos 68 idosos entrevistados, 45,59% praticam atividade física para a melhoria ou manutenção da saúde e apenas 16,19% praticam por indicação médica. Em um outro estudo realizado por Márquez (2006), de 439 entrevistados, 111 responderam que praticam atividade física por indicação médica e apenas 50 responderam que é para a manutenção da saúde. Vários estudos relatam que ganhos proporcionados pela atividade física na personalidade das pessoas idosas têm sido demonstrados por um posicionamento em relação ao próprio corpo, ao estado de saúde e à capacidade de rendimento (SAFONS, 1999).
A prática regular de atividade física preserva a força muscular, intensifica a capacidade aeróbica, contribui para a manutenção e melhora da densidade óssea, da mobilidade, do equilíbrio, prevenindo quedas, sendo de grande importância para manutenção da autonomia e da independência (FREITAS, 2005). A atividade física vem sendo considerada como forma de manutenção da aptidão física em indivíduos idosos, citada na literatura como forma de atenuar e reverter a perda de massa muscular, contribuindo para preservar a autonomia funcional e o envelhecimento saudável (FABRÍCIO; RODRIGUES; COSTA JR, 2004).
O aumento da força e da mobilidade articular com os exercícios físicos apresenta bons resultados na profilaxia e no tratamento terapêutico em relação a doenças crônico-degenerativas como a osteoporose, a sarcopenia e a manutenção de um estado de independência e desenvoltura das atividades cotidianas como se vestir, andar, cuidar da higiene pessoal, subir escadas e transportar objetos (AMORIM et al., 2002).
Referente a pergunta se a alimentação influenciava na atividade física 64,70% considera que sim, 17,65% que não e o restante não soube responder. Uma alimentação adequada e balanceada é de fundamental importância para uma boa saúde e bem-estar em todos os estágios da vida. A preocupação com a dieta, para praticantes de atividade física é ressaltada, visto que o corpo funciona como uma máquina em que o combustível, ou seja, a energia necessária para a prática do exercício é fornecido pelos nutrientes consumidos diariamente (MAGNONI; CUKIER; OLIVEIRA, 2005).
Dieta terapêutica e treinamento físico produzem uma abordagem mais significativa quando o assunto é perda de peso e aumento da ação da insulina. Em um estudo citado por Evans e Cyr-Campbell (1997), comparou-se os efeitos do exercício de resistência e de uma dieta de restrição calórica em mulheres obesas. Observou-se que o exercício de resistência resultou em um aumento da força e dimensão muscular, bem como a preservação de massa livre de gordura durante a perda de peso.
Quando perguntou-se o que o idoso fazia em relação à atividade física para ter um envelhecimento saudável as respostas foram: “pratico ginástica e o trabalho de casa”; “faço ginástica e caminhadas”; “faço ginástica e vou pra horta”; “além da ginástica no grupo, faço ginástica em casa (na cama)”, “caminho bastante, faço atividades domésticas. Não gosto de ficar parada, estou sempre ativa”, “faço ginástica e natação”, “faço ginástica e hidroginástica”, “faço ginástica, caratê, dança e muito amor”, “mantenho o corpo adequadamente com preparo físico em dia, levanto cedo e desenvolvo caminhadas regularmente.”
Acredita-se que a participação do idoso em programas de exercício físico regular poderá influenciar no processo de envelhecimento, com impacto sobre a qualidade e expectativa de vida (MÁRQUEZ, 2006). A possibilidade de intervir na promoção de saúde com ações que retardem o aparecimento de incapacidades podem melhorar a qualidade de vida dos idosos. Políticas públicas de saúde voltadas a programas específicos, como de atividades físicas ou programas de saúde que retardem o aparecimento de incapacidades, bem como a realização de atividades sociais poderiam contribuir para um envelhecimento saudável (FIEDLER, 2008).
3.3. Envelhecimento saudável
Em um estudo longitudinal feito por Rudinger e Thomae, em 1990, citado por Néri (1993), os autores concluíram que a saúde biológica é um dos mais importantes preditores do bem-estar na velhice. O modo como ela é percebida e o modo como às pessoas lidam com seus problemas de saúde são mais determinantes do que as condições objetivas de saúde.
Portanto, em relação à questão de como o idoso considera a sua saúde obtivemos que 50% dos idosos consideram sua saúde boa e apenas 1,47% consideram péssima. Em um estudo realizado por Moraes e Souza (2005), no Rio Grande do Sul, observou-se que 33,4% e 66,3% dos idosos classificados como tendo um envelhecimento normal e envelhecimento bem-sucedido respectivamente, consideraram que o estado de saúde era um preditor de envelhecimento bem-sucedido.
Quando perguntou-se o que era mais importante para uma pessoa ter um envelhecimento saudável, convém salientar que nesta pesquisa, a alimentação e a atividade física ficaram empatadas (22,06%). Em um estudo realizado por Cupertino, Rosa e Ribeiro (2007), com 501 idosos em Juiz de Fora, 36% dos entrevistados responderam que alimentação e exercícios físicos eram importantes para se obter um envelhecimento saudável. Em uma revisão bibliográfica em estudos ingleses, Gardner (2006), aponta que a atividade física é um dos fatores físicos mais importantes associados ao envelhecimento saudável.
Algumas doenças e condições são muito prevalentes nesta população e devemos ter em perspectiva que a atividade física e vários aspectos nutricionais podem se relacionar de maneira a prevenir e auxiliar no tratamento ou serem fator de piora, quando não manejados adequadamente (MAGNONI; CUKIER; OLIVEIRA, 2005). Alguns estudos da área de gerontologia têm demonstrado que atividade física, alimentação adequada e hábitos saudáveis podem melhorar em muito a qualidade de vida e a saúde dos idosos (SAFONS, 1999).
E por fim, na questão que perguntava se os idosos conseguiam fazer alguma relação entre a alimentação adequada e a prática de atividade física para ter um envelhecimento saudável, 66,18% dos idosos não souberam responder. O idoso precisa de uma oferta nutricional adequada para a prática de atividade física. A correção de hábitos alimentares, a oferta balanceada de macro e micronutrientes além de reposição hídrica adequada são fundamentais para um bom desempenho físico, bem como na prevenção de complicações durante o exercício (MAGNONI; CUKIER; OLIVEIRA, 2005).
Independente da idade, a introdução no cotidiano da prática adequada e regular de exercícios físicos, além de uma alimentação saudável, trazem inequívocos benefícios à saúde. Essas atitudes são determinantes para que a população idosa tenha cada vez mais um envelhecimento melhor e mais saudável.
4. Considerações finais
Muito tem se falado em envelhecimento saudável, qualidade de vida na velhice, envelhecimento bem sucedido, mas pouco tem sido feito no sentido de compreender o que a população da Terceira Idade entende sobre temas ligados ao “envelhecer com saúde”. Através desta pesquisa procurou-se tratar de dois temas ligados ao envelhecimento saudável: a atividade física e a alimentação, por achar que estas duas áreas são imprescindíveis quando se fala em saúde.
Através do perfil nutricional pôde-se observar que em geral a população estudada alimenta-se diariamente de pelo menos um alimento de cada grupo alimentar, e através das respostas denotou-se um bom entendimento sobre o que é ou não saudável comer. A prática de algum tipo de atividade física também é imprescindível para termos um envelhecimento saudável, isto foi notório, pois, um grande número de idosos considera a atividade física essencial para a manutenção de sua saúde.
Alimentação adequada e prática de atividade física regular são aliados para se ter um envelhecimento saudável e bem sucedido. Um estilo de vida ativo e saudável dará aos idosos uma maior qualidade, autonomia e independência. É importante a compreensão de que se deve investir no idoso saudável, privilegiando a atenção integral ao idoso, com ações de proteção e promoção de um envelhecimento com saúde. Essas atitudes são determinantes para que a população idosa tenha cada vez mais um envelhecimento melhor e mais saudável.
O envelhecimento saudável em suas várias dimensões é pouco estudado, estudos interdisciplinares sobre este assunto são necessários. A produção e difusão do conhecimento no Brasil sobre os fatores para se obter um envelhecimento saudável é importante e urgente. Portanto, faz-se cada vez mais necessário e importante discutir, estudar e divulgar os novos conhecimentos relacionando estas duas áreas com a população idosa.
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