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As relações intergeracionais: encontros ou conflitos?

Las relaciones intergeneracionales. ¿Encuentros o conflictos?

 

*Possui graduação em Licenciatura Plena em Educação Física

pela Universidade Federal de Santa Maria

Mestrado em Ciência do Movimento Humano Pedagogia do Movimento pela UFSM

Doutorado em Ciência do Movimento Humano- Pedagogia do Movimento Humano pela UFSM

**Possui Graduação em Educação Física Licenciatura Plena

pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Graduação em Direito Bacharelado pela UFSM

Mestrado em Educação pela UFSM

Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas

***Possui Graduação em Educação Física Licenciatura Plena

pela Universidade Federal de Santa Maria

Pós-Graduação em Pesquisa e Ensino do Movimento Humano pela

Universidade Federal de Santa Maria

Carmen Lúcia da Silva Marques*

José Francisco Silva Dias**

Vera Regina Pontrémoli Costa***

pontremolicosta@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A pesquisa de abordagem qualitativa refletiu uma caminhada de vários anos de trabalho com idosos em Santa Maria/RS reportada por uma reflexão do fazer da educação física. Utilizou-se para coleta de dados questionário orientado, onde se buscou identificar o significado e as principais alternativas atribuídas a esta experiência, a partir de um diálogo com diversas idades, e preocupou-se com a manifestação como uma característica fenomenológica. Concluímos que as gerações em suas realidades se mesclaram; a questão afetiva esteve muito presente nos grupos etários. A experiência do trabalho em grupo com proposta intergeracional comprovou que nosso objetivo foi alcançado. Groisman afirma: a velhice atual "não é um problema social é, antes de tudo uma construção social".

          Unitermos: Idosos. Relação entre gerações. Conflitos. Santa Maria.

 

Resumen

          Esta investigación de enfoque cualitativo refleja un recorrido de varios años de trabajo con personas mayores en Santa María, RS tomada a partir de una reflexión del hacer de la educación física. Se utilizó para reunir datos un cuestionario orientado, en el que se buscó identificar el significado y las principales alternativas asignados a esta experiencia, a partir de un diálogo con personas de diversas edades, que se refería a sí mismo con la expresión como una característica fenomenológica. Llegamos a la conclusión que las generaciones en sus realidades se mixturaron; la cuestión afectiva estuvo muy presente en los diferentes grupos etáreos. En la experiencia de trabajo en grupos con propuestas intergeneracionales se comprobó que nuestro objetivo fue alcanzado. Groisman afirma que la vejez actual "no es un problema social es, ante todo, una construcción social."

          Palabras clave: Personas mayores. Relación entre generaciones. Conflictos. Santa María.

 

Abstract

          The research with a qualitative approach reflected a hike of several years of work with older people in Santa Maria/RS reported a reflection of doing physical education. It was used to collect data questionnaire oriented, where to identify the meaning and the main alternatives assigned to this experience, from a dialogue with various ages, which concerned itself with the expression as a feature phenomenological. We conclude that the generations in their realities are mixed. The affective issue was very present among age groups. The experience of working in groups with proposed intergenerational shown that our goal was reached. Groisman says that the oldness actual "is not a social problem is, first of all a social construction."

          Keywords: Elderly. Relationship between generations. Conflicts. Santa Maria.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Com o aumento da expectativa de vida, várias gerações viverão simultaneamente, com isso torna-se necessário mudar o conceito que nossa sociedade tem sobre o velho, uma vez que muitas pessoas pensam ser a velhice uma fase de perdas e declínios, tendo uma imagem negativa sobre essa fase da vida.

    Se as gerações são continuamente construídas, desconstruídas e reconstruídas, a relação entre elas também está sempre sendo refeita. Novas relações por sua vez determinam novos comportamentos das gerações, num movimento dialético de retroalimentação permanente. Ficamos então instigados a saber o que ocorre na relação entre gerações. Conflito, competição, cooperação, afetividade, indiferença, autoritarismo, igualitarismo? Afinal, como se relacionam os diversos grupos etários?

    Nossa pesquisa abordou um grupo de terceira idade da periferia da cidade de Santa Maria/RS, onde dentro dos estatutos do grupo era pré-requisito ter idade igual ou superior a 55 (cinqüenta e cinco anos). Conversando com a direção então, foi permitida a participação de pessoas com idade inferior ao exigido pelo estatuto, sendo assim, aceitas seis mulheres com idade variando entre 37 e 76 anos de idade, todas, portanto, caracterizando a amostra deste estudo.

    Este artigo refere-se, portanto, aos resultados obtidos através de pesquisa com abordagem qualitativa e característica de estudo de caso. Assim para realizar a presente investigação utilizou-se para coleta de dados questionário orientado, cujas questões buscaram reflexões sobre o pensamento dos atores sociais com respeito ao fato de realizar atividade física com pessoas de idades bem diferenciadas. Além disso, buscou-se identificar o significado e as principais considerações atribuídas a esta experiência de acordo com seus respectivos relatos.

    Segundo Both (2001) os educadores ainda não perceberam a longevidade humana como um fenômeno de substancial alteração no perfil humano. O mesmo autor também argumenta que a questão fundamental da reabilitação da memória reside no fato de se buscar os conhecimentos e sua respectiva fixação para a produção de recursos, conseguindo a pessoa mais velha inserir-se melhor em seu meio e, pelas aprendizagens, possuir uma representatividade mais viva na comunicação com o universo de sua comunidade.

    Este estudo reflete uma caminhada de vários anos de trabalho com a terceira idade, pautada não só por uma ação extensionista de ensino nos grupos de atividades físicas, mas também orientado por uma reflexão do fazer da educação física. Com a clareza e o objetivo de tentar produzir uma ação pedagógica com a terceira idade na forma que mais condiz com este segmento etário, consideramos também algumas reflexões sobre as falas e o pensamento de nossas colaboradoras.

    O objetivo deste trabalho definiu-se assim: “Compreender as entrelinhas nas relações intergeracionais considerando as falas e pensamentos em idosos de Santa Maria/RS, a partir de um diálogo com outras gerações mais jovens”. Este não se prende exclusivamente a uma busca de quantificação e mensuração, ou seja, não trabalha com variáveis que sejam quantificáveis, para posterior comparação, mas preocupa-se com a manifestação que é uma característica fenomenológica.

Relações intergeracionais

    As relações interpessoais entre indivíduos jovens e os de idade avançada têm variadas implicações psicodinâmicas. Para D’Andréa, (1996) duas delas chamam a atenção:

    (1) Os jovens que consideram os velhos não podendo ter mais lugar na sociedade de evolução rápida e intensa, estão negando as contribuições que estes mesmos velhos deram a esta mesma sociedade em tempo não muito remoto e o cabedal de experiências que adquiriram e com o qual podem ainda contribuir para o progresso.

    Esta negação leva os primeiros a evitarem os segundos e ao temor de identificarem–se com eles.

    Esta distância afetiva entre as gerações, assim como a pequena co–participação das experiências dos mais velhos, provoca nos mais jovens uma ansiedade de realizarem muitas coisas para as quais só teriam condições com mais idade.

    Não percebem que ao rejeitarem a experiência dos mais idosos já estão se predispondo, por identificação, a uma posição de desconfiança em relação às gerações futuras reforçando inconscientemente sua fobia à velhice.

    (2) Por outro lado, os jovens observando velhos, antes produtivos, e que agora, pelo declínio físico e mental, já não conseguem realizar tanto, mas, ao contrário, necessitam de cuidados, não aceitam sua posição cada vez mais dependente e desejam que eles se mantenham no mesmo nível de auto–suficiência de tempos passados. Esta forma de agir dos mais jovens pode ser entendida como meio de defesa contra a percepção antecipada do que lhes poderá acontecer na velhice.

    Tais procedimentos mostram que o velho tem de interagir com um meio cujas exigências são impostas pelos mais jovens; diante disto, a pessoa idosa precisa ter um ego relativamente forte para suportar as tensões advindas das modificações internas e das pressões externas atuais.

    Consideramos as palavras de Okuma, 1998 que nos diz:

    O envelhecimento é, sem duvida, um processo biológico cujas alterações determinam mudanças estruturais no corpo e, em decorrência, modificam suas funções. Porem, se envelhecer é inerente a todo ser vivo no caso do homem esse processo assume dimensões que ultrapassam o “simples” ciclo biológico, pois pode acarretar, também, conseqüências sociais e psicológicas (OKUMA, 1998.).

    Estas palavras nos levam a relevar Both (1999), que insiste na necessidade de que se estabeleça um diálogo aberto, solidário, sincero, construtivo entre todas as gerações e que seja possibilitado aos “velhos” à oportunidade de, pela comunicação e interação social, criarem uma identidade de cidadãos, de participantes do processo de reconstrução de uma sociedade mais humana e fraterna. Não há dúvida de que um dos primeiros desafios, nesse sentido, é o próprio “velho” considerar-se e permitir-se ser cidadão.

    Pode ser considerado impossível ou até parecer utopia insistir com essas idéias, quando no mundo os ideais predominantes são de uma sociedade cientificamente programada e globalmente integrada pela lógica do capital. Seria improdutivo, portanto nesta mesma lógica, raciocinar-se em solidariedade, em diálogo, em interação comunicativa, em história de vida, em qualidade para as pessoas de terceira idade.

    Entretanto, conforme escreve Mühl apud Both (1999): “Por mais que tentemos negar, são estas preocupações mais elementares que fazem o sentido de nossa existência e não permite que nossa vida se torne um acontecer sem sentido”.

    Segundo Beauvoir (1990), “o destino dos velhos depende do destino da sociedade, principalmente no que se refere aos seus valores e princípios. Qual será o futuro dessa sociedade”?

    Da mesma forma, Szajman (1999 p. 1) comenta:

    Inúmeros preconceitos atingem as chamadas minorias, como negros, crianças, deficientes e idosos entre outras. Os idosos vêm se constituindo em um segmento etário emergente em praticamente todas as partes do mundo como conseqüência do expressivo aumento da longevidade humana. No entanto, discriminados pela sociedade e pelos governos, os velhos são fadados à improdutividade e ao isolamento social. A boa notícia, porém, é que cada vez mais conscientes de seus direitos, os idosos têm reivindicado maior atenção da comunidade e dos poderes públicos para seus problemas em áreas como previdência e assistência social, educação, habitação, transporte, lazer e cultura.

    As categorias de idade são construções histórico-sociais na concepção de DEBERT (1998). Neste sentido a “terceira idade” também é uma criação das sociedades ocidentais contemporâneas, implicando na criação de uma nova etapa da vida entre a idade adulta e a velhice, acompanhada de agentes, instituições e mercados especializados em atender suas necessidades.

    Estas separações de idades trazem consigo a associação de práticas sociais. Assim são estabelecidos direitos e deveres em uma população, definindo diferenças entre gerações, distribuindo poder e privilégios. (DEBERT, 1998, p.53) define assim: “Categorias e grupos de idade implicam, portanto, a imposição de uma visão de mundo social que contribui para manter ou transformar as posições de cada um em espaços sociais específicos”.

    O diálogo entre as gerações de uma comunidade para Both (1999, p. 58), possui a propriedade de fortalecer o sentido da conscientização intersubjetiva e o sentido do respeito e do engajamento dos participantes do diálogo nas mudanças necessárias. E a base filosófica se alicerça no dizer de FREIRE in BOTH (1999): “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”.

    D’ANDRÈA 1996 corrobora o pensamento de FREIRE quando diz:

    Em qualquer fase do desenvolvimento, o reconhecimento social e a influência dos grupos de participação são de primordial importância para a manutenção do sentimento de pertinência e da valorização pessoal. A vida grupal provê aos seus membros oportunidade de dar e receber, e a aceitação e aprovação coletiva equivalem a amor. Ao aposentar-se, o indivíduo tem de abandonar seu grupo de iguais e esta separação é freqüentemente a maior responsável pelos sentimentos de autodepreciação e de perda de amor. (D’ANDRÈA 1996 p. 158)

    Levando em consideração o que é apresentado na mídia quando mostra um senhor de 80 anos bem sucedido, com os olhos brilhantes de interesse pela vida, normalmente, associa-se tal disposição à atividade com disciplina, cuidado na alimentação, que para nós tem uma aura de virtude. Como não ter admiração por velhos olímpicos? Como ignorar o que parece milagre? Essa é a mensagem.

    Néri (1995), entretanto, considera que o que hoje ainda é apontado como exceção está se tornando um fato cada vez mais possível para um número crescente de pessoas em todo mundo. As novas possibilidades do envelhecimento refletem avanços sociais que ecoam em novos costumes e estilos de vida. (p. 10)

    Uma das correntes teóricas mais influentes na emergente área da psicologia do envelhecimento, conhecida como life-span ou “curso de vida”, estabeleceu um modelo sobre a velhice normal ou bem-sucedida, que olha para ela a partir de uma perspectiva de desenvolvimento, considerando as variáveis do contexto que podem influenciá-la. Segundo essa teoria, a velhice bem-sucedida é:

    Uma condição individual e grupal de bem-estar físico e social, referenciada aos ideais da sociedade e às condições e aos valores existentes no ambiente em que o indivíduo envelhece e às circunstâncias de sua história pessoal e de seu grupo etário. . . Uma velhice bem-sucedida preserva o potencial para o desenvolvimento, respeitando os limites da plasticidade de cada um. (NÉRI, 1995, p. 34)

    Dessa forma, a velhice também pode ser vista como qualquer das outras fases do curso de vida, com potencial para crescimento, fazendo com que as fronteiras do envelhecimento sejam transformadas em relação à realidade atual. O ponto de vista sobre a velhice está sendo lentamente modificado.

    Okuma (1995, p. 16) afirma que “pode ser um tempo para novas liberdades, para explorações pessoais excitantes, para crescimento psíquico e prazer de viver”. Sempre é possível observar o prazer que os participantes do grupo sentem em estar com outras pessoas. Sorriem bastante. Há uma visível alegria em superar desafios e em estar com o outro. Como salientam alguns autores, a interação social parece ser fator muito importante no envolvimento das pessoas em programas de atividade física, particularmente para pessoas idosas.

    Segundo Motta, (1989) “As possibilidades de envelhecimento social são maiores para os que, por qualquer motivo, se sentem forçados a viver social e/ou humano indesejado: inversamente, são menores para as pessoas integradas em seu próprio meio”.

    Continuando a mesma autora: “É um processo que se inicia em algum momento da vida de um dado ser humano, acentua-se em diferentes ocasiões e, através de avanços e recuos nem sempre muito precisos, pode levar à chamada morte social”. (p. 16)

    Referindo-se às relações interpessoais RIBEIRO, (1999, p. 51). se expressa da seguinte forma:

    Um importante fenômeno para a reflexão sobre o envelhecimento é o conflito de gerações. Os idosos têm diversos e contraditórios sentimentos em relação aos jovens: inveja, orgulho ressentimento, alegria irritação, superioridade e inferioridade. Desaprovam-nos mais jovens as formas de tratamento pessoal, costumes e valores. Mas isso não os impede de possuir expectativas de compreensão e diálogo para a construção de uma nova sociedade. O contato entre jovens e adultos não deixa dúvidas de que, em nossa sociedade, os jovens estão sendo moldados para apenas tolerar o idoso, não para respeitá-lo e ouvi-lo com interesse, como acontecia no passado. A imagem que se pode construir da velhice, nesses casos, é uma imagem resultante da discriminação e da segregação.

    Em contrapartida ao pensamento de Ribeiro (1999), Motta (1989), tornou-se a fonte justificável para, através de nossa investigação mostrar que é factível e indicada a convivência de grupos heterogêneos. Os jovens se interessam pelas experiências vivenciadas pelos mais velhos, sobretudo como era a vida em outros tempos. Quantas coisas diferentes podem ser recordadas por uns e aprendidas por outros. É para satisfazer indagações desse tipo que o convívio entre gerações pode ser extremamente rico e valioso. (p. 39)

    Moragas (1997) afirma que as relações intergeracionais podem ser solidárias, sendo que proporcionam ajuda em certos momentos vitais. Segundo o autor, quando se reconhece a necessidade da compreensão entre gerações e os jovens são educados para praticá-la, fomenta-se a integração entre as diferentes idades e conseqüentemente reduz-se o conflito social.

Resultados e discussão

    Dentre os depoimentos colhidos com as colaboradoras optou-se por alguns que se julgou mais dirigido para o objetivo da pesquisa.

    Na maioria dos textos colhidos dos depoimentos foi possível notar-se que elas declararam que as relações com participantes de idades diferenciadas só trouxe benefícios e vantagens para todas, sendo que a troca de experiências transmitidas pelos diálogos e pela alegria contagiante foi muito profícua.

    Depoimentos que denunciam esta relação podem ser resgatados:

“....Algo gratificante, oportunidade de dialogar com colegas idosas muitas vantagens....”,

“....O carinho que recebe e sente por todas que não a deixa desistir....”.

“....Um enriquecimento maior em conviver com pessoas de várias idades....”.

“....Ótimo, porque não tem nenhuma discriminação entre as jovens e as mais velhas....”.

“....É maravilhoso porque nos mantemos unidas e a amizade é maravilhosa....”.

    Aquelas com as idades mais avançadas dizem gostar muito, pois convivem com várias idades e vários pensamentos, absorvem a jovialidade das mais novas; não vêem nenhum problema nessa convivência, pelo contrário só encontram vantagens. Consideram importante a amizade que torna o grupo muito unido.

    O cenário que se configura a partir dos depoimentos vai ao encontro da abordagem de FERRARI (1996, p. 103) que coloca os grupos dirigidos às pessoas de terceira idade como um conjunto de benefícios que as levam a se modificar, reencontrar novos valores, novas formas de reflexão, de sentir e de agir: “Facilitam as modificações e transformações das relações sociais que vão continuamente se enriquecendo. Nesses grupos as pessoas conhecem outras pessoas, redescobrem-se, trocam, vivem, sonham, ajudam-se.”

    Enfim, com diversos graus de intensidade, todas as atividades tendem a se caracterizar pelo aprendizado mútuo. Esse processo se traduz em benefícios para todas as participantes, benefícios que se refletem no desenvolvimento da compreensão, do conhecimento e do afeto mútuos. Levando em consideração o fenômeno moderno da um contingente cada vez maior de idosos tem reagido a esses percalços e vem desenvolvendo um estilo de vida cada vez mais participativo e integrado. Também em relação a esses grupos é notável a riqueza de experiências permutadas. Assim, foi possível constatar a possibilidade de estabelecimento de expressivos processos de co-educação entre gerações.

    De acordo com os depoimentos e observações de nossa investigação, os mais velhos sentem-se cada vez mais inseridos no contexto atual, buscando seu espaço e seus direitos; sendo bem menor o preconceito etário em suas várias direções, dos velhos em relação aos jovens e destes em relação aos idosos.

    Cremos haver alguns indícios da abertura para outras gerações, principalmente pelas novas formas de se vivenciar a velhice e o processo de envelhecimento.

    Enfim, pretende-se que os trabalhos sobre e para estas populações se aprofundem e se aperfeiçoem. Refletimos apoiados na convicção de que o compartilhamento das experiências de velhos e moços, ao combater o preconceito etário, pode efetivamente contribuir para a formação de uma sociedade mais justa, tolerante, democrática e solidária.

    As populações de diversos países, incluindo o Brasil, terão progressivo e significativo aumento de idosos a cada ano, remetendo-nos a preocupações de ordem sócio-político-econômicas. No Brasil conforme as projeções estatísticas da Organização Mundial da Saúde, entre 1950 e 2025, a população de idosos crescerá dezesseis vezes contra cinco vezes da população total. “Este crescimento populacional é o mais acelerado do mundo e só comparável ao México e a Nigéria” (Brasil, MPAS, 2002, p.07).

Conclusões

    Na análise que realizamos através dos diálogos, observamos que há uma interação plena entre as participantes, valorizando as trocas e experiências. Que as gerações em suas realidades se mesclaram, para discussões sadias e que foram aceitas, com prazer e curiosidade, criando alternativas de trabalho, respeitando a todos os pontos de vista de cada uma com suas potencialidades, em um grupo intergeracional.

    A questão afetiva está muito presente na interação realizada entre os grupos etários. A vontade de aprender, realizar trocas de conhecimento e afeto está em evidência, por isso consideramos que a experiência do trabalho em grupo com proposta intergeracional foi a comprovação que nosso objetivo foi alcançado.

    Após analisar os dados colhidos foi possível concluir que um grupo que admite além das alunas consideradas de terceira idade, outras com idades inferiores, só traz vantagens a suas participantes, proporcionando maior troca de vivências e experiências variadas. São registros bastante preliminares e necessitam de aprofundamento, encaminhando-nos para a construção de novos conhecimentos.

    Para Zimerman (2000, p.59) "(...) não basta ser velho, é preciso senti-lo e tentar entender a forma como ele sente". É o tempo de trabalhar a inter-relação entre o indivíduo, a sociedade e o mundo. É o tempo de refletir o diálogo entre gerações e acompanhar as transformações que ocorrem no mundo. É necessária uma mudança de atitude para que se possa estabelecer um verdadeiro diálogo. Zimermann (2000) acredita que a chave para mudança de atitude está na sensibilização para o respeito, comunicação e afeto.

    França e Soares (1997, p.151) defendem as relações intergeracionais para quebrar preconceitos e afirmam que "As trocas geracionais não devem se limitar à família e aos programas e políticas governamentais, mas serem expandidas às instituições privadas e a outras representações da sociedade".

    Vê-se que, como afirma Groisman (1999, p.44), a velhice atual "não é um problema social é, antes de tudo uma construção social".

    O “viés geracional” é considerado crucial para a eficiência das políticas públicas no Brasil. (Barros e Carvalho, 2003). Esse argumento parece ser o que melhor representa o debate sobre a emergência de um “conflito intergeracional”. Os autores sustentam que os programas sociais voltados para a redução da pobreza têm impactos positivos sobre todos os grupos etários, mas que essa redução foi muito mais efetiva entre os idosos quando comparada com crianças e adultos.

    Concluímos, pois, após a sensibilidade dos depoimentos revelados, com as sábias palavras de Both:

    O diálogo entre as gerações de uma comunidade possui a propriedade de fortalecer o sentido da conscientização intersubjetiva e o sentido do respeito e do engajamento dos participantes do diálogo nas mudanças necessárias. E a base filosófica se alicerça no dizer de Freire: “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”. (BOTH, 1999 p. 58)

Referências bibliográficas

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  • SZAJMAN, A. Apresentação. Revista A Terceira Idade ATI 184, nº 16. Maio de 1999 SESC São Paulo.

  • ZIMERMAN, Guite, I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

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