efdeportes.com

Análise da flexibilidade em atletas de jiu-jitsu

Análisis de la flexibilidad en luchadores de jiu-jitsu

 

*Pós-Graduado em Aspectos Biodinâmicos do Movimento Humano

Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF

**Graduandos em Educação Física

Universidade Federal de Viçosa, UFV

(Brasil)

Bruno Ferreira Marinho*

Osmar José Siqueira Júnior**

Cássia Farias Gonçalves Fernandes**

bruno.marinho@rocketmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O conhecimento de fatores relacionados ao desempenho dos atletas de alto nível, dentre eles a flexibilidade, é uma ferramenta de grande importância para a prescrição do treinamento, entretanto pouco se conhece em atletas de jiu-jitsu, sendo assim o objetivo do estudo foi investigar o nível de aptidão da flexibilidade de tais atletas. A amostra foi composta por 23 atletas de jiu-jitsu do sexo masculino com idade média de 28 ± 5,0, todos treinam a mais de 6 anos e são medalhistas em campeonatos estaduais ou nacionais. A análise da flexibilidade, através do Flexiteste adaptado, concentrou-se nas articulações do quadril, tronco e ombro, pois são muito solicitadas, principalmente em momento de combate. Os atletas demonstraram altos níveis de flexibilidade, o que é possível ser evidenciado em outras modalidades de lutas, tal como o judô e luta olímpica, porem não se encontrou outros estudos com mesma metodologia para comparações, sugerindo assim novas pesquisas para confirmar a melhora dos níveis de flexibilidade com o treinamento de tal modalidade, e verificar se esse comportamento persiste em outros atletas com mesma características. Futuramente estudos podem ser direcionados a comparações do nível de flexibilidade de acordo com o estilo de luta do atleta.

          Unitermos: Flexibilidade. Jiu-jitsu. Treinamento.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    O Jiu-Jitsu tem suas origens na Índia a mais de 2500 anos atrás, a partir do Vajramashti, uma arte tipicamente indiana. Ao percorrer toda a Ásia ela chega ao Japão, onde sofre modificações e passa a ser conhecida como jiu-jitsu. Esta arte nipônica chega ao Brasil através de Conde Koma, que ensina suas técnicas a Carlos Gracie. Hélio Gracie, irmão de Carlos, aprende esta luta e modifica as técnicas existentes adaptando-as a seu biótipo frágil, iniciando a mudança de nacionalidade desta luta, que passou a ser denominada de jiu-jitsu brasileiro (ANDREATO, 2010). Esta modalidade é categorizada de acordo com a graduação de faixa, normalmente associada ao tempo de treinamento e experiência técnica, e massa corporal.

    Seu objetivo é arremessar o adversário ao solo e fazê-lo desistir utilizando técnicas de imobilização, chave articular ou estrangulamento (FRANCHINI, 2001). As técnicas utilizadas constituem alavancas mecânicas, possibilitando que um indivíduo com menor força muscular consiga vencer um adversário mais forte, porém com menor habilidade nas execuções das técnicas (FRANCHINI, TAKITO e PEREIRA, 2003). Por ser uma modalidade esportiva anaeróbica intermitente, a resistência muscular, a flexibilidade e a força explosiva são valências físicas importantes para o desempenho.

    Franchini (2001) diz que atletas de jiu-jitsu são caracterizados por um bom desenvolvimento muscular e pequena espessura de dobras cutâneas, e que suas características antropométricas são similares aos atletas de luta olímpica e judô. Del Vecchio (2007) em sua instigação, afirma que os lutadores de jiu-jitsu apresentam predominância do componente mesomórfico e excelente potência anaeróbia. Em relação ao percentual de gordura, o autor encontrou valores similares com os de atletas do judô.

    O conhecimento de fatores relacionados ao desempenho de atletas de alto nível, dentre eles a flexibilidade, torna-se uma ferramenta de grande importância para a prescrição de treinamento para estes, uma vez que diferentes modalidades exigem níveis de flexibilidade variados em articulações específicas. Hollmann e Hettinger (1989) afirmam que os atletas apresentam maiores níveis de flexibilidade, pois desempenham movimentos também acima da média. Para Pitanga (2005) é de suma importância avaliar a flexibilidade, tendo em vista que ela é um importante componente da aptidão física

    Tendo em vista a importância dessa qualidade física, Araújo (2000) diz que a flexibilidade é um dos componentes da aptidão física, sendo considerada relevante para a execução de movimentos simples ou complexos para o desempenho desportivo. Portanto, a flexibilidade é uma das variáveis do desempenho físico, podendo ser definida operacionalmente como a amplitude máxima fisiológica passiva de um dado movimento articular.

    Nesse mesmo sentido, Dantas (2003), afirma que a flexibilidade é a qualidade física responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações, sem o risco de provocar lesão. Corroborando com isso, Weineck (1991) relaciona a flexibilidade com a profilaxia de lesões, aumento da resistência e otimização do tempo de recuperação e do treinamento. O mesmo autor, ainda, afirma que os músculos não alongados e com pequena capacidade de alongamentos possuem uma menor força.

    Carnaval (1998), diz que o treinamento da flexibilidade pode melhorar a elasticidade muscular; aumentar a mobilidade articular; melhorar o transporte de energia; aumentar a capacidade mecânica do músculo; permitir um aproveitamento mais econômico da energia mecânica; evitar lesões musculares; reduzir o choque de impacto nos esportes de contato e nas quedas; aumentar a amplitude dos movimentos inerentes à inatividade e promover o relaxamento muscular.

    Para o maior conhecimento desta função neuromuscular, Dantas (2003) e Marins e Giannichi(2003) sugerem o uso do Flexiteste com 20 movimentos, um teste adimensional, onde não existe uma unidade convencional como ângulos ou centímetros. Posteriormente Monteiro e Farinatti (apud Fernandes, 1998), apresentaram um modelo simplificado com oito movimentos, sendo este o referido teste utilizado para analisar a flexibilidade no presente estudo.

    Levando em consideração os estudos citados acima, o objetivo desse estudo foi investigar os níveis de flexibilidade em atletas de jiu-jítsu

Materiais e métodos

    A amostra foi composta por 23 atletas de jiu-jítsu do sexo masculino, com idade média de 28 ± 5,0, sendo todos praticantes desta modalidade a mais de seis anos e medalhistas em campeonatos estaduais ou nacionais. A coleta de dados foi iniciada após palestra explicativa acerca dos objetivos do estudo e as devidas orientações sobre os protocolos utilizados.

    Os atletas foram submetidos a medidas do peso corporal (kg) e estatura (cm) em uma balança Welmy com estadiômetro acoplado (com precisão de 100g e 0,5 cm respectivamente), e todos os atletas foram pesados descalços e com o mínimo de vestimentas. Abaixo segue a tabela com os valores antropométricos dos atletas:

Tabela 1. Características antropométricas dos atletas

*desvio padrão

    A flexibilidade foi mensurada pelo Flexiteste adaptado, proposto por Monteiro e Farinatti (apud Fernandes, 1998). Cada movimento é pontuado em uma escala de 0–4, onde é obtido o flexíndice através do somatório dos pontos em cada movimento, podendo ser classificado em muito pequeno (<9), pequeno (09 a 12), médio negativo (13 a 16), médio positivo (17 a 20), grande (21 a 24) e muito grande (>24).

    Para o tratamento estatístico utilizou-se o software Excel, do pacote de programas Microsoft Office 2010, expressando a estatística descritiva média, desvio padrão, valores mínimos e máximos, e porcentagem.

Resultados e discussão

    Segue na figura abaixo os resultados obtidos pelos atletas de jiu-jitsu no teste de flexibilidade Flexiteste.

Figura 1. Distribuição do percentual da flexibilidade dos atletas.

    Os atletas demonstraram altos níveis de flexibilidade, o que é possível ser evidenciado em outras modalidades de lutas, tal como, a influência da prática no aumento dos níveis de flexibilidade. O presente estudo procurou demonstrar os níveis de flexibilidade nas articulações do quadril, tronco e ombro, pois são muito solicitadas, principalmente em momento de combate. Entretanto, não existem estudos realizados com atletas de jiu-jitsu que envolvam estas articulações, para que possamos fazer comparações.

    Souza (2005) investigou a influência do tempo de pratica de jiu-jítsu, nos níveis de flexibilidade do quadril, comparando atletas iniciantes com avançados, usando o teste de sentar e alcançar. Foi evidenciado que os atletas avançados, ou seja, com maior tempo de prática da modalidade, possuíam um maior nível de flexibilidade. Concluindo que a pratica desta modalidade, aumenta o nível de flexibilidade nesta articulação. Tal fato, também foi evidenciado no judô (FRANCHINI, 2001).

    O principal meio utilizado para verificar a flexibilidade nas modalidades de combate tem sido o teste de sentar e alcançar, que verifica a flexibilidade da articulação do quadril. Desta forma, torna-se necessário conhecer a flexibilidade de outras articulações, que também são muito importantes e muito utilizadas nesta modalidade.

    Podemos encontrar na natação, uma grande quantidade de estudos demonstrando evidências de como a flexibilidade pode influenciar no desempenho de uma modalidade esportiva (FARINATTI 2000).

    Franchini (2001) diz que a flexibilidade na articulação do quadril é importante na performance do judô, sendo muito solicitada na execução de golpes. Porém, não é um fator determinante para o sucesso do atleta, pois mesmo que ele não se enquadre nos perfis ideais desta modalidade, ainda poderá obter o sucesso esportivo através de técnica e tática superior ao adversário.

    Em uma comparação entre judocas de massa corporal inferior e superior a 73 kg, participantes do campeonato mineiro de judô, Meloni et. al. (2007), não encontrou diferenças significativas entre os grupos, aplicando o teste de sentar e alcançar. Indicando que, talvez, a flexibilidade não seja tão determinante na performance do judô.Em outro estudo comparando a flexibilidade de judocas japoneses universitários de diferentes categorias, não foi encontrada diferença significativa entre os grupos Iida (apud FRANCHINI, 2010).

    Tal influência também ocorre na esgrima. O estudo de Cunha e Fernandes Filho (2005) verificaram a flexibilidade de dezessete articulações, utilizando a goniometria, em oito atletas do sexo feminino, com o melhor ranking nacional da Confederação Brasileira de Esgrima (CBE). Em todos os movimentos articulares foram encontrado valores superiores aos de não-atletas.

    Mirzaei et. al. (2009) investigando outra modalidade de luta de domínio, a luta olímpica, encontrou um alto nível de flexibilidade 38.2 ± 3.94, utilizando o teste de sentar e alcançar, avaliando 70 atletas juniores de elite. Estes atletas, ainda, foram caracterizados com baixo percentual de gordura, e alto nível de força isométrica.O bom desenvolvimento muscular e pequenas espessuras de dobras cutâneas, também foram características observadas no estudo de Franchini, Takito e Pereira (2003), entretanto a força isométrica não foi tão alta quando comparados a atletas de Judô.

    No karatê, a flexibilidade demonstrou valores inferiores aos valores das lutas de domínio. Del Vecchio, Michelini, Gonçalves (2005), compararam a flexibilidade entre o grupo masculino e feminino, e ambos demonstraram baixo nível de flexibilidade. Entretanto, os atletas encontravam-se em período inicial de treinamento, devido ao processo recuperativo de transição. No estudo de Artioliet. al. (2009), investigando atletas olímpicos de Kung-fu, foi encontrado um alto nível de flexibilidade entre os dois gêneros, masculino e feminino (45,5 ± 6.1 e 44,0 ± 6.3 cm) respectivamente.Nos referentes estudos, a flexibilidade foi verificada com o teste de sentar e alcançar.

    No estudo de Araujo (1999), utilizando o Flexiteste de 20 movimentos, ele comparou atletas de alto nível de diversas modalidades esportivas entre si e com não atletas, e verificou que a maioria dos atletas possuía um nível de flexibilidade apenas mediana utilizando o Flexiteste com 20 movimentos.

Conclusão

    Com base nos resultados obtidos neste estudo, podemos concluir que os atletas de jiu-jítsu apresentaram um alto nível de flexibilidade, já que 61,11% dos atletas apresentaram um nível de flexibilidade médio positivo. Com esses resultados, a flexibilidade demonstrou ser um componente importante para o desempenho e ter o mesmo grau de importância em todas as categorias.

    Considera-se, que a identificação destes níveis de flexibilidade, possa ser aplicada ás estratégias de treinamento visando aperfeiçoar, ou até mesmo, minimizar alguma deficiência na aptidão física do atleta.

    Estudos futuros poderiam verificar se esse comportamento persiste em outros atletas de jiu jitsu com mesma características e ainda ser direcionados ao estabelecimento do estilo de luta de cada atleta, por exemplo, o que defendem na guarda ou que atacam a guarda, e seus níveis de flexibilidade.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 150 | Buenos Aires, Noviembre de 2010
© 1997-2010 Derechos reservados