Lecturas: Educación Física y Deportes
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O HISTÓRICO DA CAPOEIRA: UM CURTO
PASSEIO DA ORIGEM AOS TEMPOS MODERNOS

Leonardo José Mataruna dos Santos* e Luciana de Oliveira Barros** (Brasil)
mataruna@pop-gw.ruralrj.com.br

* Professor Convidado – Depto. de Corridas - Escola de Educação Física e Desportos - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Pós-Graduando em Docência do Ensino Superior – Universidade Candido Mendes – Instituto de Pesquisas Sócio-Pedagógicas.
Pos-Graduando em Judô – Centro de Capacitação Física do Exército – UFRJ – Federação de Judo do Estado do Rio de Janeiro.
** Professora da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro – Colégio Estadual Santa Amélia Pós-Graduanda em Docência do Ensino Superior – Universidade Candido Mendes– Instituto de Pesquisas Sócio-Pedagógicas.

Resumo
Este estudo apresenta uma visão global sobre a Capoeira, desde sua origem e seu desenvolvimento na sociedade brasileira, chegando a atualidade das academias, treinamentos e identificações sobre lesões. Esta pesquisa é de caracter descritivo baseado em revisão bibliográfica.

Abstract
THE HISTORY OF CAPOEIRA: FOLLOWING THE LINE FROM ITS EARLY TO ITS LATER DEVELOPMENTS
This paper presents a historical view of Capoeira, courring its origin, its development in the Brazilian society, and its current works on the academies, training and injuries identification. We apply a descriptive approach based on na extended bibliographical review.


A Capoeira e seu Histórico
A capoeira surgiu entre os escravos como um grito de liberdade. Os negros da África, a maioria da região de Angola, foram trazidos para o Brasil para trabalhar nas lavouras de cana de açúcar como mão de obra escrava. Segundo Menezes (1976), "...a vida dos negros trazidos da África de maneira forçada, brutal, consistia em trabalhar de sol a sol para os senhores portugueses que exploravam as riquezas brasileiras desde o descobrimento" (p.1).

Areias (1983), complementa dizendo que "chegando a nova terra, (os escravos) eram repartidos entre os senhores, marcados a ferro em brasa como gado e empilhados na sua nova moradia: as prisões infectadas das senzalas"(p.10). Os colonizadores agrupavam os africanos de diferentes tribos, com hábitos, costumes e até línguas diferentes, eliminando, assim, o risco de rebeliões.

Os negros chegavam ao Brasil, depois de passarem dias empilhados em navios negreiros, trazendo como única bagagem suas tradições culturais e religiosas, comenta Marinho (1995). Nas palavras de Menezes (1976), "... o negro trouxe consigo suas danças e lutas guerreiras que de muita valia veio a se tornar para os escravos fugitivos"(p.1). Na África, mais precisamente na região de Angola, os negros lutavam com cabeçadas e pontapés nas chamadas "luta das zebras", disputando as meninas das suas tribos com a finalidade de torna-las suas esposas. Na ausência de armas, os negros buscaram nas danças guerreiras sua forma de defesa. Da necessidade de preservação da vida, surgiu a capoeira. Encontramos a seguinte citação em Areias (1983):

Tendo como mestra a mãe natureza, notando brigas dos animais as marradas, coices, saltos e botes, utilizando-se das manifestações culturais trazidas da África (como, por exemplo, brincadeiras, competições etc. que lá praticavam em momentos cerimoniais e ritualísticos), aproveitando-se dos vãos livres que aqui se abriam no interior das matas e capoeiras, os negros criam e praticam uma luta de auto defesa para enfrentar o inimigo (p.15-4).
Capoeiras eram áreas semidesmatadas onde os escravos treinavam seus golpes, e provavelmente veio daí o nome da luta. Seus golpes quase acrobáticos e com aspecto de dança muito contribuíram para enganar os senhores de engenho, que permitiam a prática, julgando-a como uma brincadeira dos escravos. Segundo Areias (1983), "... a dança, por sua vez, representada pela ginga, servia para disfarçar a luta dando-lhe um caráter lúdico e inofensivo..." (p. 23-4).

A capoeira serviu por muitos anos como instrumento de luta dos escravos. O berimbau, que servia para dar ritmo ao jogo, também servia para anunciar a chegada de um feitor, ou seja, a hora de transformar a luta em dança. Com o passar dos tempos, os nossos colonizadores perceberam o poder fatal da capoeira, proibindo esta e rotulando-a de "arte negra", Santos (1998).

Em 1888 foi abolida a escravatura e com isso muitos escravos foram lançados nas cidades sem emprego e a capoeira foi um dos meios utilizados para a sobrevivência. Alguns ex- escravos passaram a ganhar a vida fazendo pequenas apresentações em praça pública, porém muitos deles utilizaram a capoeira para roubar e saquear. Os marginais brancos também aprenderam a nova luta com o convívio mais direto com os negros e introduziram na sua prática as armas brancas. Formaram-se verdadeiros bandos de marginais aterrorizando a população. Já em 1890 a capoeira foi colocada fora da lei pelo Código Penal da República, que dizia:

Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, promovendo tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal: Pena: De prisão cellular de dous meses a seis mezes. (Barbieri, 1993, p.118).
Segundo Sodré (1983, p.14-7), as punições aplicadas eram reclusão na ilha Fernando de Noronha e castigos corporais, tais como chibatadas.

Pessoas como o regente Feijó, Sampaio Ferraz e o major Vidigal foram os responsáveis para manter a ordem; tiveram pouco sucesso. Segundo Areias (1983), "os seus chefes foram encarcerados ou exterminados. Mas a capoeiragem continuou fazendo o seu trajeto"(p.50).

A capoeira se espalhou pelo Brasil, porém foi nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco onde se encontravam os maiores comentários entre o povo e a imprensa local. Apesar de reprimida a capoeira continuou a ser praticada e ensinada para as gerações seguintes.

Em 1929 ocorreu a quebra da Bolsa de Nova Iorque e a conseqüente crise do capitalismo. O Brasil viveu um momento de ebulição das forças sociais. Com a entrada de Getúlio Vargas no governo do país, medidas foram tomadas para angariar a simpatia popular, entre elas a liberação de uma série de manifestações populares. Para tal, Getúlio Vargas convidou Manoel dos Reis Machado, o mestre Bimba, para uma apresentação no Palácio do Governo. Temendo a popularização da arte - luta, Getúlio Vargas permitiu a abertura da primeira academia de capoeira, que teria um cunho folclórico. Após essa passagem, a capoeira perdeu suas características de luta marginal e vadiagem, visto que para freqüentar a academia de mestre Bimba os indivíduos eram obrigados a ter carteira de trabalho assinada.

Grande parte do que se sabe hoje sobre a capoeira praticada pelos escravos foi transmitido pelas gerações de forma oral, visto que "...a documentação referente a época da escravatura foi queimada por Rui Barbosa, Ministro da Fazenda no governo de Deodoro da Fonseca" (Sete, 1997, p.19-20).

Enfim, a capoeira ganhou a popularidade estimada por Bimba, e até os dias de hoje vem reunindo adeptos pelo país.


Instrumentos, Ritmos e Cantos
As rodas de capoeira são ritmadas pelo toque de instrumentos e pelas palmas dos capoeiristas. "O jogo da Capoeira é acompanhado por instrumentos musicais, comandados pela figura máxima do berimbau, o qual dá o tom e comanda o ritmo para a execução das cantigas: Cantos Corridos ou Ladainhas" ( Areias, 1983, p.95). Podemos encontrar em uma roda de capoeira, além do berimbau, pandeiro e atabaque e, menos comumente, o agogô e o ganzá. "Atualmente não se concebe uma roda de capoeira sem o toque característico do berimbau, podendo no entanto, os demais instrumentos serem dispensados" afirma Menezes (197, p.14-5). O berimbau dita o ritmo do jogo, é ele que comanda o toque a ser executado.

A capoeira apresenta diversos toques que são executados de acordo com a ocasião. Dentre eles Santana (1985) destaca:

Durante a roda são entoadas cantigas que, segundo Areias (1983, p.96), se dividem em dois tipos: cantos corridos e ladainhas. A diferença entre o canto corrido e a ladainha está no fato de, na ladainha, sempre contar-se uma história, geralmente sem a resposta ou interferência do coro, que participa apenas no momento que o cantador acaba a história e entre no canto de entrada dizendo "iê vamos simbora/ iê é hora é hora" e assim por diante, até chegar na expressão "dá volta ao mundo". Já no canto corrido, o cantador não tem a preocupação de contar nenhuma história, as frases são ditas aleatoriamente, falando de assuntos diversos, e a participação do coro é imediata e necessária desde o seu início. Durante a roda, os capoeiristas, que ficam de pé formando a roda, acompanham a cantoria com palmas. A única exceção são as rodas de Angola, onde os capoeiristas ficam sentado e não batem palmas, só começando a cantar quando acaba a ladainha.


A Capoeira e suas Concepções
Acredita-se que a capoeira pode e deve ser ensinada globalmente, deixando que o educando busque a sua identificação em quaisquer dessas enumerações que veremos a seguir. Caberá ao docente um papel relevante orientando e estimulando para que o discente possa aproveitar ao máximo toda a sua potencialidade. Ribeiro (1992), concebe capoeira das seguintes maneiras:


Capoeira Hoje - As Academias
A capoeira, antes treinada livremente pelos escravos, é agora treinada dentro das academias. A passagem dos campos de mata aberta para as salas das academias não foi a única modificação sofrida pela arte. Com a entrada da capoeira nas academias, algumas modificações ocorreram na capoeira dos escravos do engenho. Além de lugar fixo para o treinamento, foram implantados também horários para tal. Foi padronizado um uniforme que consiste em calça branca (representando as calças de saco que os negros usavam para a lida) e uma corda que deve ser amarrada na cintura da calça. Alguns grupos que praticam a capoeira Angola utilizam-se de calça preta.

Os capoeiras, ou capoeiristas, agora se dividem em grupos que carregam um nome que normalmente representa a força negra nos tempos da escravidão. Comumente, os capoeiristas representam o grupo, ao qual participam, com o símbolo gravado na calça. Esses grupos ou associações tem por objetivo expandir a arte da capoeira pelo país, alguns chegando até a levar a nossa arte para o exterior.

A maioria dos grupos de capoeira convivem pacificamente, apesar de cada um interpretar a capoeira de uma maneira diferente (alguns trabalham a capoeira numa visão mais folclórica, outros a entendem mais como luta, uns dão maior ênfase a parte esportiva, outros valorizam principalmente a educação pela capoeira).

Como prova do convívio de amizade entre os grupos, são realizados periodicamente encontros entre eles, que se reúnem com a finalidade de compartilhar conhecimentos. Juntamente com os batizados, que falaremos posteriormente, esses encontros são responsáveis pelo papel da capoeira no campo social.

Nos tempos modernos, os capoeiras são graduados de acordo com os seus conhecimentos e com o tempo de prática na capoeira. Cada graduação é representada por uma cor na corda, que é amarrada na calça do capoeirista. Cada grupo designa um conjunto de cores que irá representar as graduações.

Os indivíduos entram para as aulas de capoeira, em seguida, começam um treinamento. Nesse período inicial eles são chamados de "pagãos", ou seja, eles não foram ainda batizados. O batizado de capoeira representa o momento em que os indivíduos recebem a sua primeira graduação pelo grupo. Nesse dia eles deixam de ser pagãos, pois durante esse evento é costume entre os grupos dar um apelido ao capoeirista. O apelido é uma tradição desde os tempos que a capoeira era considerada uma arte marginal e os capoeiristas eram obrigados a usar codinomes para não serem identificados, mediante isto, serem presos pela polícia. O dia do batizado é um dia de grande importância para os capoeiristas, posto que, nesse dia realiza-se uma festa em que os novos capoeiras são apresentados a comunidade capoeiristica, jogam com outras pessoas e desfrutam da oportunidade de até conhecerem os mestres mais antigos.

O jogo de capoeira não possui mais características violentas, perdeu seu objetivo principal do tempo da escravidão, que era a luta pela liberdade. Numa roda de capoeira um jogador não tem como finalidade acertar, ferir, lesionar ou matar o outro jogador. O jogo de capoeira não passa de uma representação, simbolismo esportivo. Na realidade eles, os capoeiristas, são dois companheiros que querem brincar de capoeira, recrear. Eventualmente acontecem quedas, que são interpretadas como descuido por parte de quem caiu. Importante ressaltar que o jogo, só atribui este valor recreativo dentro das academias, ou seja, em seus próprios grupos. Em se tratando de rodas informais, jogos que acontecem em parques, ruas, praias, a capoeira às vezes, perde o seu atributo de lazer e encarna o seu valor de capoeira - Luta.

Os capoeiristas se cumprimentam todas as vezes que entram ou saem de uma roda como sinal de respeito pelo companheiro. Fazem uma reverência também ao berimbau, pedindo e agradecendo proteção aos céus.

Acontece também um outro tipo de encontro de capoeiristas chamado "roda de rua". Essas manifestações ocorrem livremente em praças, ruas e praias. As rodas de rua são gerenciadas por qualquer capoeirista, independendo da graduação que ele carrega, e são abertas para qualquer um que queira participar. Normalmente essas rodas são pacíficas, mas como elas são abertas para o público, alguns capoeiristas acabam querendo resolver suas rixas com outros capoeiristas nessas rodas, afim de demonstrar superioridade sobre qualquer aspecto.


A Aula de Capoeira
As aulas de capoeira são realizadas em salões abertos que podem ser espelhados ou não, o que facilita aos capoeiristas a observação de sua performance.

As aulas são normalmente ministradas por capoeiristas de graduações elevadas, superiores, a maioria deles sem nenhuma formação acadêmica em Educação Física. "Existem vários métodos de ensino, e cada professor, cada academia, cada grupo alardeia que o seu é genuinamente original, é o melhor" (Capoeira, 1992, p.147). Freqüentemente os capoeiristas acabam ministrando aulas exatamente iguais aos que seus mestres ministram. Segundo Capoeira (1992), em seu livro "Capoeira: Os Fundamentos da Malícia":

Na verdade, de uma forma ou de outra, todos se baseiam na "seqüência" e na "cintura desprezada" criadas por mestre Bimba, adicionados aos treinos sistemáticos e repetitivos entre duplas introduzidas pelo Grupo Senzala na década de 1960. Mesmo os que praticam e ensinam a capoeira angola, que originalmente não tinha métodos de ensino, utilizam variações adaptadas desses elementos didáticos.
A Capoeira Angola, citada pelo autor, corresponde a capoeira original dos escravos.

Geralmente encontra-se nas academias um programa de treinamento de duas ou três aulas semanais, chegando a ser encontrado nas academias sede de alguns grupos, treinamentos de segunda a sábado. A duração da aula varia entre quarenta e cinco minutos a uma hora e meia. As aulas são divididas em quatro blocos:

O aquecimento freqüentemente começa com uma corrida, seguida de seqüências de movimentos calistênicos e um alongamento. "Se alguém quiser aproveitar para malhar uma abdominal, uma abertura, um alongamento ou exercícios de elasticidade, tudo bem, mas não é esse o objetivo" (Capoeira, 1992, p.146).

Depois do aquecimento, o segundo bloco da aula corresponde ao treinamento dos golpes individualmente. As aulas começam com os movimentos mais simples, passando para os mais complexos e, posteriormente, para a combinação dos movimentos sequenciados. Esses movimentos compreendem os golpes, as esquivas e as quedas. O professor indica e executa o golpe ou a seqüência de golpes e os alunos os executam repetidas vezes e para ambos os lados. Durante a execução dos movimentos os alunos são observados e corrigidos pelo professor. Nos salões com espelhos os alunos podem observar a execução dos seus movimentos.

O terceiro bloco da aula corresponde ao treinamento das seqüências em dupla.. Nesta parte da aula os capoeiristas se encontram sujeitos a receberem os golpes dos companheiros, porém o risco é menor do que durante o jogo. O treino em dupla se dá em forma de seqüências coordenadas. O professor dita exatamente o que deve ser feito e os alunos executam. Para os iniciantes, o professor apresenta uma seqüência de um golpe e uma esquiva; um dos capoeiristas executa um golpe enquanto o outro esquiva. Com o tempo de prática essa seqüência aumenta em número e variações de golpes, associados a floreios e saltos.

O jogo da capoeira é o momento que o capoeirista apresenta o que ele aprendeu durante a prática. Além de executar os golpes num jogo com um companheiro, entra em jogo um elemento novo, a surpresa. Não se sabe o que o outro capoeira vai fazer, os golpes já não são mais ditados pelo professor, por isso o capoeirista deve estar preparado e atento no jogo do outro para não ser atingido". Para iniciar o jogo da capoeira, os capoeiristas dirigem-se para onde estão os instrumentistas e agacham-se ao pé do berimbau" afirma Areias (1983, p.96). Durante a roda, que é comandada por instrumentos como o berimbau, o pandeiro e o atabaque, são entoadas cantigas que tem seu refrão repetido por todos os participantes da roda. Quem define as músicas e dita a velocidade do jogo é o tocador de berimbau. O ritmo começa lento e termina rápido, onde só os capoeiristas mais graduados devem jogar.

Depois da roda, alguns capoeiristas optam por fazer exercícios de força, como abdominais, flexões de braço ou elevação em barra fixa. Outros treinam saltos acrobáticos, ou treinam golpes atingindo sacos de areia.

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