DA CIDADE COLONIAL AO ESPAÇO DA MODERNIDADE:
A INTRODUÇÃO DOS DEPORTES NA
VIDA URBANA NO RIO DE JANEIRO
Gilmar Mascarenhas de Jesus (Brasil)
Departamento de Geografia da UERJ
O objetivo disso tudo era tornar a vida social na cidade estável,
predizível, produtiva e, acima de tudo, veloz (...) para tornarem-se
velozes e adaptadas às modernas fontes de energia as pessoas
tinham de ser fisicamente condicionadas e psicologicamente motivadas.
Foi para isso que os esportes modernos foram inventados.
(SEVCENKO, 1993:82)Introdução
Parece desnecessário, por sua notória ubiqüidade, reafirmar que os esportes ocupam incontestável lugar de destaque no mundo contemporâneo. Em suas atuais estruturas, a vida urbana abriga inúmeros espaços destinados à prática esportiva, seja ela de caráter profissional/espetáculo em grandes estádios, autódromos, ginásios cobertos, etc., seja como atividade físico-educacional ou ainda de mero entretenimento informal, amplamente disseminada pelo tecido urbano, nas escolas ou sob a forma de locais improvisados nas ruas e praças. Para atingir este patamar de inserção na dinâmica espacial da cidade os esportes cumpriram historicamente um longo e complexo itinerário, do qual trataremos aqui de uma etapa que julgamos crucial.Trabalhamos com o pressuposto básico de que um momento decisivo do processo histórico de construção deste amplo cenário "coincide"e guarda importantes conexões com o advento da modernidade urbana. O que Sevcenko quer afirmar no trecho supracitado é que os esportes modernos (não as estritas modalidades em si e seu corpo específico de regras e equipamentos, mas o esporte como prática social de amplo significado) adquiriram tal pujança na sociedade justo por responderem prontamente a determinadas demandas historicamente determinadas. Em outras palavras, os esportes foram "inventados" num primeiro momento, no âmbito da recreação escolar por exemplo, para depois serem "reinventados" no bojo da modernidade urbana, e neste segundo momento adquiriram conotações simbólicas e dimensão político-econômica até então imprevistas.
A modernidade, com sua reiterada aura otimista de fé inabalável no progresso, impulsionou nas cidades novos valores comportamentais, dos quais destacamos aqui a difusão da cultura física. Vale registrar que entendemos a atmosfera moderna como portadora não apenas de todo um conjunto de novas expectativas e práticas sociais, mas também de decisivas transformações na espacialidade urbana, destruindo velhas urbanidades e as substituindo por novos formatos. As grandes reformas urbanísticas européias do século XIX abriram amplos espaços públicos e os preencheram com monumentos que discursam o triunfo da burguesia, bem como os dotaram de eventos e cerimoniais atléticos de apologia ao ideário mens sana in corpore sano. Neste contexto de transformações queremos verificar como se comportou a cidade do Rio de Janeiro.
Neste sentido, este trabalho se estrutura a partir de dois objetivos centrais. O primeiro é tentar demonstrar, através de dados e situações concretas, que a cidade do Rio de Janeiro vivenciou, a partir de 1850 e mais intensamente no período que se estende pelas três primeiras décadas de vida republicana, uma rica atividade esportiva, caraterizada pela introdução e multiplicação de novas modalidades e pela proliferação de associações civis criadas para este fim. Tal foi a intensidade deste movimento que podemos atribuir a esta época a ocorrência de uma verdadeira febre esportiva, uma alusão às famosas epidemias que tanto preocuparam a cidade de então. Uma peculiaridade, porém: esta epidemia, diferente das demais, afetava majoritariamente os segmentos abastados da população carioca, sendo portanto bem aceita e estimulada. O segundo objetivo é levantar e debater algumas hipóteses que expliquem tal fenômeno. Buscamo-las não apenas na escala local (âmbito de profundas transformações no uso e na forma dos espaços públicos), mas também no contexto das metrópoles européias, de onde se originou a onda mundial de glorificação do fisiculturismo e dos esportes, como entretenimento e como via de obtenção uma vida saudável, e ainda como espetáculo para a nascente indústria do entretenimento urbano.
Em se tratando de um exercício de geografia histórica, uma preocupação que atravessa todo o trabalho é a de relacionar o amplo movimento supracitado com as mudanças na forma e dinâmica urbanas. Queremos vincular o surto da febre esportiva ao momento em que a espacialidade urbana finalmente está apta a vivenciá-la. A análise do material obtido nos sugere que a cidade levou algumas décadas para "responder" positivamente aos apelos quanto ao desenvolvimento dos esportes, que nos chegavam pela zona portuária e pelos jovens bacharéis recém-vindos da Europa, mas que também já ocorriam no interior da vida urbana carioca, através dos ingleses que aqui viviam.
Com esta preocupação procuramos assim enfatizar o papel dos espaços públicos, que aqui aparecem como logradouros em geral, baldios, praias e também como equipamentos de uso coletivo destinados (ou apropriados) ao lazer. Tal preocupação não é gratuita: o movimento que difundiu amplamente a prática esportiva apresentou dois fortes apelos relacionados diretamente aos espaços públicos. Por um lado, a busca de áreas amplas para reunir espectadores em torno de um espetáculo esportivo, e neste aspecto as praças antecederam os modernos estádios. Por outro, a busca da atividade ao ar livre, tendo o sol e a oxigenação como ingredientes de uma prática saudável. Uma de nossas hipóteses sugere que a relativa demora da cidade do Rio de Janeiro em absorver o modismo europeu de esportização se explica em parte pela situação e uso de seus espaços públicos: o estado precário de conservação, o porte acanhado, a tradição cristã de uso austero e ritualizado (pela sacralização), o aparato de controle e vigilância da Igreja e da burocracia estatal, e por fim a escravidão, ao dotar tais espaços de um significado predominantemente pejorativo e repelente às parcelas dominantes da sociedade.
E assim o trabalho se divide em dois segmentos. No primeiro, tratamos da cidade colonial brasileira, e em particular do Rio de Janeiro (até meados do século XIX), como um urbano pouco permeável à introdução da atividade esportiva. A rigidez que caracterizou o uso de seus (poucos) espaços públicos, imprimiu uma sociabilidade restrita e muito pouco aberta a novas formas de comportamento. O objetivo é exatamente contrapor um cenário urbano colonial relativamente "fechado" a um outro, posterior, caracterizado (ao menos no plano das idealizações burguesas), pela abertura cosmopolita a novas idéias e atitudes, algo que Marshall Berman (1986:18) definiu como euforia da modernidade: exacerbação dos prazeres mundanos, atmosfera de agitação e turbulência, aturdimento psíquico e embriaguez, expansão das possibilidades de experiência e destruição de barreiras morais. Ainda que tal atmosfera tenha se implantado por aqui de forma bastante incompleta (ou mesmo artificial), ela pode ajudar a explicar a velocidade pela qual a cidade passou a absorver os esportes, na virada do século.
No segundo segmento, visando atingir o primeiro objetivo central já aqui mencionado, tratamos de descrever a ampla ocorrência de atividades esportivas que atingem seu ponto culminante na cidade no início do período republicano. Novamente, procuramos inserir tal movimento no contexto da dinâmica sócio-espacial urbana de então, sugerindo hipóteses que articulam a febre esportiva ao movimento geral da sociedade e substancialmente à espacialidade moderna.
Observando a difusão dos esportes na cidade de São Paulo nas primeiras décadas deste século, Nicolau Sevcenko (1993) localiza importantes agentes sociais promotores da "cultura física", como a influente Academia de Direito do Largo de São Francisco, e atores particulares como Fernando de Azevedo, autoridade educacional de grande audiência nos meios políticos de então. Neste nosso trabalho, não chegamos a detectar agentes específicos (certamente eles existem, como Coelho Neto, por exemplo) pois não tivemos tal preocupação. Nos interessa tão somente delinear um contexto espacial propício ao fenômeno da febre esportiva no Rio de Janeiro. Toda uma abordagem geográfica dos esportes está por ser construída no Brasil, e contamos com os amplos caminhos já trilhados por geógrafos europeus (BALE, 1989, 1993; AUGUSTIN, 1995), mas é preciso compatibilizar tais contribuições às particularidades de nossa realidade histórica e sócio-espacial. Este trabalho pretende oferecer uma pequena contribuição neste sentido.
I. A Cidade Colonial: Espaço de Sedentarismo e Sociabilidades Restritas
Operar uma distinção absoluta entre um urbano colonial e um outro que lhe é consecutivo e "moderno" é reconhecidamente uma tarefa arriscada. No caso brasileiro, estes dois períodos da evolução urbana comparecem de forma visível em cidades como o Rio de Janeiro, o que não significa dizer que se pode estabelecer um momento preciso de ruptura entre um passado colonial que cede lugar à modernidade. A vida urbana encerra facetas diversas, e cada uma delas pode apresentar um movimento relativamente diferenciado do conjunto. No plano político-administrativo, por exemplo, a cidade perde sua condição colonial em 1822, com a proclamação formal da independência nacional. No plano econômico, entretanto, as estruturas de dominação e exploração colonial persistiram, sob a égide do Império Britânico, posto que, segundo os termos talvez exagerados de Gilberto Freyre (1948:15), Portugal já não passava de um vinhedo dos ingleses. Se observarmos por outro lado a forma urbana, podemos concordar com Maurício Abreu (1987:67) e supor que a herança colonial-escravocrata na fisionomia da cidade somente é removida definitivamente da paisagem carioca com a radical reforma de Pereira Passos, já no início do século XX, quando o traçado irregular e acanhado de vielas, largos e becos da área central cede a preferência aos amplos e retilíneos boulevares de arquitetura monumental, símbolos da modernidade capitalista. No plano das sociabilidades e usos dos espaços públicos na cidade do Rio de Janeiro, talvez seja prudente basear-se num longo processo de transição das estruturas da vida cotidiana, que se inicia discretamente em 1808, com a abertura dos portos e a chegada da família real e seu novo conceito de vida urbana. O movimento adquire força a partir de 1850, com a adesão crescente ao "mundanismo"(BUARQUE, 1994) e vai se consolidar já em plena belle époque, quando finalmente novas possibilidades de experiência encontram um cenário urbano propício. Estudando o advento dos esportes modernos no Rio de Janeiro, é esta a dimensão que nos interessa, a passagem gradual de uma cidade vigiada e de escassa sociabilidade ao ar livre para uma outra, onde o espírito laico e hedonista da modernidade subverte e dessacraliza os espaços públicos. Comecemos então pelo urbano colonial.A cidade colonial brasileira, quase privada de poder, dinamismo e vida cultural, pouco contribuiu para o desenvolvimento de uma rede de sociabilidades sobre a qual pudessem mais tarde germinar as associações esportivas. Debret nos deixou registrado que o único esporte praticado no Brasil Colonial é a caça. Fernando de Azevedo, influenciado pelo nacionalismo de seu tempo, procurou negar a influência inglesa e tentou acrescentar outras modalidades (que Gilberto Freyre trataria apenas como nossos quase-esportes rurais), como a cavalhada, espécie de mimetismo da guerra, herança da cavalaria medieval. Havia ainda a eventual tourada, mas o próprio Azevedo (1930:25) admite que até 1888 nossa prática esportiva era ínfima, pois "a vida social, tolhida de preconceitos, não estimulava os exercícios físicos".
Excetuando-se o vasto mundo rural, podemos dizer que no urbano colonial brasileiro a disponibilidade de espaços abertos para as manifestações coletivas era muito pequena. Ademais, muitos destes espaços estavam associados diretamente à Igreja e seu consistente aparato de vigilância, sendo o adro "o único largo generoso ou capaz, ainda que modesto, de abrigar todos do lugar e das redondezas", segundo afirma Murilo Marx (1991:54). A vigilância cotidiana também se realizava através do forte controle do poder estatal: somente a presença ameaçadora do pelourinho, instituição medieval portuguesa que dotava o espaço circundante de silêncio e terror, poderia elevar um povoado brasileiro à condição de vila ou cidade. Abreu (1996:155) nos alerta para o fato de que, "na verdade, o Estado Português se insinuava por todas as dimensões da vida urbana, e muito especialmente nas cidades reais". Trata-se de um mundo de pouca flexibilidade no domínio da "economia de gestos", para utilizar a expressão criativa e muito apropriada de Margareth Rago (1987).
As limitações de sociabilidade não se restringem às praças, rossios e largos da cidade colonial: as ruas, segundo Reis Filho (1968: 130-1), não apenas apresentavam o por demais conhecido aspecto medieval de escassa largura e grande irregularidade como também não tinham, na maior parte dos casos, qualquer significado como local de permanência. Nas palavras de Sílvio Zancheti (1986:13):
Não se vivia, definitivamente, dentro dos perímetros urbanos, com exceção dos administradores da Coroa ou dos artesãos (...) muitos viajantes estrangeiros, que cruzaram o interior do país (foram levados) a interpretar as cidades brasileiras como simples pontos de reunião dominical dos latifundiários da área.
Apesar da citação acima se adequar mais a pequenas vilas do que a uma cidade de trinta mil habitantes e capital do vice-reino como o Rio de Janeiro em 1800, não podemos ignorar a debilidade da vida de relações no cotidiano dos espaços públicos cariocas de então, sobretudo no âmbito do segmento social detentor de posses e títulos de nobreza. Delgado de Carvalho (1994:105), por exemplo, comenta a falta de dinamismo social nas ruas ao apontar para o fato de inexistir nas elites e classes médias do Rio de Janeiro até meados do século XIX o hábito de sair de casa, exceto a freqüência socialmente obrigatória à missa dominical. A atitude das classes dominantes é bastante clara neste aspecto: deixar evidente a profunda diferença para com aqueles que, desprovidos de qualquer nobreza, necessitam trabalhar com base no esforço muscular. Tal atitude deixará profundas marcas nos espaços públicos de nossas cidades: durante a maior parte do tempo estes serão povoados quase que exclusivamente pelas massas de negros escravos em sua pesada labuta cotidiana: o varejo ambulante, a coleta de água, o transporte de pessoas e mercadorias, etc..
Benchimol (1990:28-32), em seu exaustivo levantamento sobre as condições materiais da cidade às "vésperas" da Reforma Passos, comenta que os escravos dominavam a paisagem das ruas, em trajes indecentes para os padrões "familiares". Outros aspectos como o mau cheiro, o tráfego intenso, barulhento e perigoso dos carroceiros, além do péssimo estado do calçamento das ruas, tornavam os espaços públicos muito pouco convidativos, sobretudo para as senhoras brancas, que praticamente viviam enclausuradas em seus lares.
O cotidiano do Rio de Janeiro sofrerá incremento dinamizador com a impactante chegada da corte portuguesa em 1808, habituada que estava esta a uma vida social urbana bem mais intensa desde a reforma pombalina na cidade de Lisboa (LOUSADA, 1995). Entretanto, ainda assim o Rio de Janeiro manterá basicamente as estruturas cotidianas fundamentais da sociedade de ordem: religiosos e militares alimentam as procissões e cerimoniais públicos que preenchem o dia-a-dia da cidade com rigorosos rituais espetacularizados ao longo do rico calendário anual de feriados. Silva (1978:67) alerta para o depoimento de viajantes europeus que vêem o Rio de Janeiro da época como cidade monótona e sem diversões ou reuniões sociais. Richard Graham (1973:127) salienta as impressões de um viajante que, em 1865, notara a inexistência de esportes praticados ao ar livre, algo tão difundido na Inglaterra vitoriana. Segundo o próprio Graham, preocupado em detectar e dimensionar a forte influência inglesa no Brasil.
"Antes de 1880 ou 1890, um jovem de boa família não dava nenhuma atenção aos esportes e exercícios físicos, tendendo muito mais para a poesia e política ou aventuras amorosas com atrizes de companhias visitantes" (GRAHAM, 1973:127).
Para se engajar no modismo europeu das práticas esportivas (como veremos no próximo segmento), a sociedade brasileira precisou superar seu forte preconceito em relação às atividades que exigem esforço muscular. Durante três séculos e meio, qualquer atividade física mais exigente era encarada como moralmente degradante, incluindo-se até mesmo o mero ato de transportar às mãos um pequeno pacote, conforme atestam inúmeros relatos de viajantes europeus ao Brasil. Quando Rui Barbosa, na condição de chefe da comissão estadual de ensino, propôs em 1882 a introdução do exercício físico no currículo escolar, baseado na crença de que a debilidade física comprometia o desempenho intelectual, não foi levado à sério (AZEVEDO, 1930:15-6). Gilberto Freyre, em seu clássico Sobrados e Mocambos (1951:171-2), faz referência a esta aversão da sociedade patriarcal brasileira aos exercícios físicos, recorrendo às palavras condenadoras do médico Lima Santos:
"...metidos em casa, e sentados a mor parte do tempo, entregues a uma vida inteiramente sedentária, não tardam que não caiam em um estado de preguiça mortal (...) sahir à rua o menos possível, ser visto o menos possível, e se confundir o menos possível com essa parte da população que chamam de povo e que tanto abominam".
Não podemos entretanto imputar apenas ao modelo de sociedade escravista, ao desenho urbano e à suposta insuficiência da vida social nas cidades do Brasil Colonial a responsabilidade pela preponderância de uma conduta individual fisicamente passiva ou acomodada ao conforto e privacidade dos lares. Até mesmo porque tal comportamento não era uma especificidade brasileira, pelo contrário, havia se consolidado pela Europa desde o início da era medieval, atráves da difusão do ideário cristão.
Richard Sennett (1997) assinala a profunda transição do uso do corpo, transcorrida entre o Imperio Romano e o medievo: da orgia pública pagã às renúncias corporais do espaço cristão. Foi justamente o imperador romano Teodósio no ano de 349, portanto já em plena vigência da hegemonia cristã, que proibiu a continuidade dos Jogos Olímpicos, que existiam há mais de mil anos. O corpo deveria resignar-se aos imperativos da alma, que se quer purificar através do controle severo dos impulsos carnais. Neste sentido, encontram-se facilmente registros policiais de perseguição implacável às práticas esportivas populares nas cidades medievais, tais como o futebol ancestral ou folk football (ELIAS & DUNNING, 1985): a movimentação descontrolada de centenas de homens em luta por uma "pelota" provocava nas estreitas ruas medievais confusão, delitos, gestos considerados imorais e danos à propriedade privada.
Com o advento da era renascentista, os estudos sobre o corpo, a biomecânica, e toda uma filosofia de apoio à "educação física" começam a se expandir, ocupando mentes privilegiadas como Leonardo da Vinci, Montaigne e Francis Bacon, que estabeleceram exercícios físicos como ideal de uma educação cortesã (OLIVEIRA, 1994:36-7). E assim, alguns ideais greco-romanos relacionados ao uso do corpo são retomados, instaurando-se uma nova fase de desenvolvimento da cultura física. Todavia, mesmo no Renascimento, os esportes que exigem grande aplicação de força e/ou atritos corporais se mantiveram desprestigiados, dada a grande importância atribuída pelos humanistas à erudição, em detrimento da atividade muscular. Também o zelo moralista e o severo intelectualismo da Reforma e da Contra-Reforma, segundo o estudioso Huizinga (1996), investiram contra a prática esportiva. Somente no último quartel do século XVIII, já no contexto do Iluminismo, que efetivamente se expandem as idéias de resgate e revalorização dos exercícios físicos, tendo em vista agora o desenvolvimento individual. Tal movimento será melhor abordado no próximo segmento.
Por enquanto, o que nos importa é frisar a transição vivida pela cidade do Rio de Janeiro no tocante à experiência corporal pública e socializada. A partir de um determinado momento, a tradicional rigidez de nossos espaços públicos, vigente durante a maior parte do ano, tornara-se coisa do passado. Segundo Roberto Moura (1995:76),