Uso de esteróides anabólicos androgênicos por praticantes de musculação nas academias brasileiras Uso de esteroides anabólicos androgénicos por parte de practicantes de musculación en los gimnasios brasileños |
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*Universidade Luterana do Brasil, Torres, RS Graduado em Educação Física ULBRA, Torres, RS **Universidade Luterana do Brasil, Torres, RS Graduada em Educação Física Mestre em Ciências do Movimentos Humano, UDESC/SC |
Alberto Forte Brum Filho* Marinei Lopes Pedralli** (Brasil) |
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Resumo Neste trabalho, investiga-se a produção científica a respeito do uso de Esteróides Anabolizantes Androgênicos (EAAs) nas academias de ginástica do Brasil. O estudo foi desenvolvido de acordo com os métodos científicos e teve, como parâmetro de pesquisa, a documentação indireta. Para tanto, foram escolhidos artigos originais brasileiros, no período de 2002 à 2009, nas bases de dados Scielo, Pubmed e Lilacs. Foram utilizadas as palvras chaves: esteróides anabólicos androgênicos, prevalência e musculação. A maior prevalência observada do uso de EAAs foi em Aracajú com (31%), seguido por Rio Grande e Pelotas (24,9%), São Paulo, capital (19%), Porto Alegre (11,1%), Goiânia (9%), Erechim e Passo Fundo com (6,5%), incluindo usuários e ex-usuários. Fatores como compartilhamento de seringas, foram citados nos estudos realizados em Salvador e Bahia. O uso de produtos veterinários e outros hormônios foram abordados no estudo realizado em Porto Alegre. Sobre o uso de suplementos alimentares observou-se apenas nos estudos realizados em Aracajú, Passo Fundo e Rio Grande. A predominância é de usuários do gênero masculino, com o principal objetivo a buscando por um corpo mais volumoso. Os EAAs mais utilizados foram o Decanoato de Nandrolona (Deca-Durabolin) e o Estanozolol (Winstrol), para fins de ganhos de massa muscular. As drogas em sua maioria foram obtidas em farmácias com ou sem prescrição médica. O pequeno número de estudos que relacionam o uso EAAs sugere a necessidade de mais estudos sobre o assunto, devido ao grande crescimento do uso de EAAs e seus possíveis efeitos colaterais, além de promover campanhas de prevenção. Unitermos: Esteróides Anabólicos Androgênicos. Musculação. Academias.
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http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Os esteróides anabólicos androgênicos (EAAs) são substâncias sintéticas, derivadas do hormônio sexual masculino, a testosterona. Apesar de terem sido criados com fins terapêuticos, usados por homens com hipogonadismo e outras patologias, devido aos seus efeitos anabólicos e androgênicos, são utilizados por indivíduos praticantes de musculação. (FRIZON, MACEDO & YONAMINE, 2006)
Wilmore & Costill (1999) colocam que a fórmula estrutural da testosterona é a base de todos anabolizantes. Além disso, o anabolismo é responsável pelo aumento de células vermelhas do sangue e da concentração de hemoglobina, pela retenção aumentada de eletrólitos e água, além de reduzir o percentual de gordura corpórea.
Os efeitos anabolizantes estimulam a síntese de proteínas, fornecendo o crescimento de massa muscular, já os efeitos androgênicos estão ligados diretamente as características sexuais masculinas, dentre elas a agressividade, e essa característica é interessante ao treinamento, pois ocorre um maior desempenho de força rápida e a motivação é aumentada (WEINECK, 2005).
Na década de 50, os EAAs começaram a serem utilizados no meio esportivo, através dos fisiculturistas e halterofilistas com a intenção de melhorar a estética e desempenho no esporte. Desde então, a prática vem aumentando entre os atletas. Popularizou-se nos anos 70, fazendo com que os EAAs fossem incluídos no grupo de substâncias proibidas pelo Comitê Olímpico Internacional (SILVA & MOREU, 2002 & WEINECK, 2005).
Os EAAs são utilizados por muitos praticantes de musculação, não atletas, com a finalidade de melhorar a performance e a estética (ANDREOLO, ARAÚJO & SILVA, 2002).
Apesar de contribuir para o aumento da massa corporal e da força, Foss & Keteyian (1998), apontam que o uso de EAAs não aprimoram a capacidade aeróbica dos indivíduos na realização da atividade física.
Os EAAs que são aplicados oralmente e possui meia-vida de algumas horas, devendo ser ingeridos diversas vezes ao dia para que ocorra a concentração da substância no sangue. Já os anabolizantes injetáveis à base de óleo possuem meia-vida de alguns dias, tendo assim uma concentração sanguínea mais estável, os injetáveis a base aquosa possuem meia-vida curta, sendo assim necessárias injeções diárias (NETO, 1997).
A utilização dos EAAs pode trazer a curto e/ou longo prazo, efeitos colaterais indesejáveis, alguns que se resolverão com o término do uso e outros somente com intervenção cirúrgica. Problemas como ginecomastia, problemas cardiovasculares, acne, insônia, cefaléias, agressividade (WILLMORE & COSTILL, 1999), selamentos das epífises ósseas, atrofia testicular, distúrbios menstruais, virilização, hipertrofia do clitóris, infertilidade, hipertensão arterial (FOSS & KETEYIAN, 1998).
Doenças como o HIV e Hepatite B e C também foram observados, devido ao uso compartilhado de seringas e frascos ampolas, e isso aumenta o risco de contaminação para esses indivíduos (IRIART & ANDRADE 2002).
Outro agravante do uso de EAAs são as doses. Os usuários utilizam doses de cinco a vinte vezes maiores que as doses terapêuticas, podendo trazer um grande número de efeitos colaterais (FRIZON, MACEDO & YONAMINE, 2006). Já Santos et al (2006) apontam óbitos por morte súbita e transtornos psiquiátricos.
O uso indiscriminado de EAAs vem aumentando o número de indivíduos influenciados por amigos, instrutores de musculação e a mídia de forma indireta (SILVA & MOREAU, 2003). Sardinha, Oliveira e Araújo (2008), indicaram um subtipo de transtorno disfórmico corporal como um dos muitos problemas causados pelo uso abusivo dessas substâncias.
Dentro deste contexto, o objetivo do estudo é verificar o uso de EAAs no Brasil, através de uma revisão dos artigos publicados no país sobre o assunto.
Método
Este estudo foi elaborado a partir de uma revisão sistemática de artigos publicados no Brasil sobre a prevalência do uso de EAAs. Os bancos de dados consultados foram Scielo, Pubmed e Lilacs. As palavras chave utilizadas foram “esteróides anabólicos androgênicos”, “musculação” e “prevalência”. Foram critérios de exclusão artigos publicados em outros países, pois o propósito é verificar o uso de EAAs em território nacional brasileiro.
Após pesquisa na base de dados, foram encontrados 8 artigos referente ao uso de EAAs, sendo que destes, 6 utilizaram o método de pesquisa quantitativo e 2 qualitativos/etnográficos.
Resultados e discussão
O objetivo deste estudo foi apresentar e discutir os achados da literatura nacional referente ao uso de EAAs, através de estudos originais (Tabela 1).
Tabela 1. Resultados dos artigos consultados
Os artigos que utilizaram o método quantitativo tiveram como propósito identificar a prevalência do uso, já os que utilizaram o método qualitativo visaram analisar o consumo no contexto sócio-cultural, com a preocupação de cunho social (Tabela 2).
Tabela 2. Objetivos dos estudos, assim como seus métodos e variáveis abordadas.
Maior et al (2009), realizaram estudo em Rio Grande e Pelotas. Participaram do estudo 506 voluntários, 24,9% relataram utilizar ou ter utilizado EAAs, destes 38,8% permaneceram utilizando os EAAs e 58% dos usuários de EAAs relacionaram o uso ao treinamento de força visando a estética corporal. Os EAAs mais utilizados foram o Decanoato de Nandrolona (55%) nos injetáveis e o Oximetolona (29%) nos orais. Os EAAs adquiridos em farmácias chegaram a porcentagem de 56% e os usuários que tinham informações sobre os possível efeitos colaterais do uso atingiu 10% dos indivíduos.Em Erechim e Passo Fundo, no RS, 37,04% dos usuários ou ex-usuários de EAAs relataram ter obtido o esteróide Decanoato de Nandrolona com receita médica e 25,92% em farmácias sem receita médica, comprovando nos casos citados a falta de ética e cuidados com a saúde pública local. A prevalência do uso foi de 6,5% de usuários de EAAs, sendo que desses 83% são homens (FRIZON, MACEDO & YONAMINE, 2006) .
Na cidade de São Paulo, Silva & Moreau, (2003) realizaram estudo onde participaram 209 indivíduos e verificou-se que o percentual de usuários foi de 19%, destes 8% ainda utilizavam e 11% utilizaram anteriormente. Destes indivíduos 82% visou a estética, sendo que 90% dos usuários era do gênero masculino. O EAA’ s mais utilizados foi o Decanoato de Nandrolona. Foi verificado que 12% adquiriram as drogas em farmácias, com receita médica. Sem receita médica os números foram de 65% dos usuários e 23% de ex-usuários.
Em Aracajú (SE), teve uma amostra de 58 indivíduos do gênero masculino. Dos entrevistados, 31% já utilizaram os EAAs, 38% consideram os EAAs como uma droga prejudicial, 32% consideraram o uso de EAAs como recurso que gera rápido efeito e 30% considerou como procedimento que não traz benefício algum. O alto percentual de usuários possivelmente deve-se ao número reduzido de indivíduos participantes do estudo, umas vez que este número não pode representar um real número total de usuários (SANTOS et al, 2006).
Foram entrevistados em Goiânia-GO, 183 indivíduos, o estudo apontou que 9% fizeram uso de EAAs. Desses, 66% usaram Deca-Durabolin, Hemogenin e Testosteron, 31% usaram Equipoise e Anabol e 3% usaram Hormônio do Crescimento (GH). Neste estudo o uso de EAAs foi feito com a finalidade de aumentar a massa muscular, atingindo 85% dos usuários. O EAA mais citado foi a Deca-Durabolin (Decanoato de Nandrolona - 21%). A orientação para o uso de esteróides anabólicos androgênicos foi dada pelos professores e instrutores das academias (ARAÚJO, ANDREOLO & SILVA, 2002).
Em Porto Alegre, Silva et al (2008), realizaram estudo com 288 indivíduos, onde 65% eram homens e 35% mulheres, sendo que 83% praticavam a musculação com seu foco na estética. O percentual de usuários e/ou ex-usuários de EAAs, que atingiu os 11,1% dos participantes do projeto, destes 93,7% sabiam dos efeitos colaterais do uso supra-fisiológico. Os EAAs mais usados foram o Decanoato de Nandrolona e o Estanozolol.
Iriart e Andrade (2002), em Salvador, Bahia, realizaram estudo, onde foi analisado o consumo associando os contextos sócio-culturais e condições psicossociais de fisiculturistas locais. Através desse estudo, foi identificada a falta de informação sobre os danos que o uso dos EAAs causa a saúde. A vontade desses indivíduos de conseguir grande massa muscular sobrepõe-se aos riscos dos efeitos colaterais. Com esses resultados, os autores identificaram à necessidade de campanhas voltadas a prevenção do abuso do uso de EAAs.
Iriart, Oliveira e Araújo (2008) também em Salvador realizaram outro estudo onde o objetivo foi investigar os motivos para o uso de EAAs por grupos sociais, em bairros de classe média/ alta e classe baixa. As substâncias mais utilizadas nos bairros de classe média/alta foram o Durateston, Deca-Durabolin e o Winstrol. Nas academias de classe baixa, as mais utilizadas foram o Durateston, ADE e Deca-Durabolin. Confirmando desta forma, que indiferente da classe social o uso é comum. O objetivo principal foi estético, onde foi verificado que através da hipervirilização os indivíduos encontraram um meio de " impor sua masculinidade".
A droga mais utilizada foi a Deca-Durabolin (Decanoato de Nandrolona), sendo citada em todos os estudos. Essa droga é encontrada em farmácias e conforme os resultados, de fácil acesso (Tabela 3).
Tabela 3. Esteróides Anabólicos Androgênicos mais utilizados segundo os estudos
Distorções da auto-imagem de alguns usuários de EAAs
Em todos os estudos revisados, verificou-se que os indivíduos participantes tinham conhecimento dos efeitos colaterais do uso de EAAs, porém os estudos concluíram que a vontade de ganhar massa muscular sobrepoem-se a saúde dos mesmos. Apenas 1 dos 8 artigos estudados, preocupou-se em indentificar qual a causa dessa sobreposição ou outros motivos para essas atitudes (Tabela 4).
A preocupação excessiva com o corpo foi descrita no Manual de Diagnósticos e Estatísticas da Associação Psiquiátrica Americana como uma distorção da auto-imagem chamada dismorfia muscular. Está diretamente ligada a vontade de aumentar massa muscular sem a preocupação com a saúde. Alguns praticantes de musculação sofrem de dismorfia muscular, indivíduos que mesmo estando musculosos, procuram aumentar ainda mais a massa muscular, utilizando EAAs, dieta hiperproteica e exercícios excessivos (SARDINHA et al,2008).
Santos et al (2006), aponta em seu estudo a dismorfia muscular como possível causa do uso de EAAs, uma vez que os usuários tinham conhecimento sobre seus efeitos colaterais, porém a vontade da aumentar a massa muscular era o desejo principal desses indivíduos, indiferentemente dos danos que o uso das substâncias poderiam trazer a própria saúde. Neste estudo foi citado os transtornos psicológicos causados pelo uso dos EAAs (dismorfia muscular), mas não foram levantados dados na pesquisa sobre o assunto naqueles locais.
O uso de EAAs, associadas a outros ergogênicos, como o GH, insulina e anfetaminas são muito comuns, sendo que em alguns casos, quando o indivíduo não tem condições financeiras de custear tais substâncias, e recorrem a injeções de óleos para aumentar o volume muscular, como o Monovin, Potenay e o ADE (SILVA et al,2007).
Segundo Neto (2006), os óleos não causam anabolia ou aumento de força, apenas o aumento do volume muscular, muitas vezes por inflamação, tornando a prática muito dolorosa e perigosa. Em alguns casos é administrado morfina juntamente aos óleos, tamanha é a dor causada pela aplicação.
Em 2004, o assunto foi debatido no senado federal, após a morte de um estudante em Padre Bernardo, cidade do interior de Minas Gerais, que utilizou uma droga chamada Estigor ( Fenilpropionato Nandrolona e Vit ADE ), indicado para a engorda de gado, onde também foi colocado que o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas ( CEBRID ), constatou ser significativo o números de jovens paulistanos não esportistas, que utilizam de forma indiscriminada e abusiva os EAAs ( Diário do Senado Federal, 2004 ).
Tabela 4. Verificação se houve a abordagem e relação do uso de sobre a dismorfia muscular nos artigos estudados
Variáveis para o efeito máximo do uso de EAAs
Segundo Weineck (2005), os esteróides anabólicos androgênicos têm seu efeito máximo, quando se dá estímulos de treinamento suficientes e uma dieta de proteínas adequada na alimentação.
A hipertrofia é um aumento do corte transversal da fibra muscular, de proteína contrátil e densidade capilar da mesma, porém é necessário que o percentual de distribuição de fibras do tipo II seja positivo, fibras essas que são solicitadas em maior número no treinamento de força (FOSS & KETEYIAN, 2000).
O treinamento de intensidade muito elevada, ativas as fibras do tipo IIb, essas possuem uma maior capacidade de tamponamento de prótons com associação ao acúmulo de lactato, causando maiores microlesões as fibras, havendo assim uma maior necessidade de síntese proteica (MAUGHAN, GLEESON & GREENHAFF, 2000).
Para que haja a degradação de proteínas, são necessárias grandes quantidades de hormônios, ocorrendo assim uma adaptação morfológica e conseqüentemente a hipertrofia do córtex da supra-renal, onde são produzidos os andrógenos, responsáveis pela síntese de proteínas (WEINECK, 2005). Isso explica o quanto é importante ter um treinamento intenso para haver a hipertrofia.
Quanto mais intenso o treinamento, mais hormônios são liberados.
A importância da suplementação com proteínas é devido a necessidade da reparação do tecido lesado, pelo acúmulo de ácido lactico, após o exercício, onde há grande degradação das mesmas (MAUGHAN, GLEESON & GREENHAFF, 2000).
Para que ocorra a hipertrofia, é necessário que haja após o treinamento intenso, reposição das proteínas degradadas durante a sessão. Isso é feito com a ingestão de proteínas após o treinamento (NETO, 2006).
Sem a ingestão adequada de proteínas, não haverá a síntese de proteínas necessária para a reparação tecidual, ocorrendo assim uma perda considerável de tecidos. Dessa forma a hipertrofia será prejudicada (MAUGHAN, GLEESON & GREENHAFF, 2000).
Esses fatores dependem de cada indivíduo, uma vez que cada um tem uma resposta distinta ao treinamento de força, mesmo com o uso de EAAs e suplementos alimentares, o usuário não tendo uma genética favorável, haverá pouca ou não haverá hipertrofia desejada (WEINECK,2005).
Após revisão, verificou-se que os estudos realizados em Porto Alegre, Erechim e Passo Fundo, São Paulo, Salvador e Goiânia preocuparam-se com tais detalhes fundamentais para atingir o resultado buscado. Verificou-se que a grande maioria dos estudos sobre o assunto visa identificar a prevalência dos EAAs, através do uso dos mesmos juntamente ao uso de suplementos alimentares, porém a intensidade do treinamento e a dieta utilizada não foram abordadas de forma clara e precisa (Tabela 5).
Em Porto Alegre, daqueles que faziam dieta especial com acompanhamento médico ou de nutricionista, 17,5% dos indivíduos tinham uma dieta hiperprotêica e e a mesma porcentagem de dieta hipercalórica, através da utilização de suplementação alimentar. Praticavam musculação a pelo menos 6 anos e uma freqüência semanal de 5 vezes, com média de 1:30 horas de treinamento diário (SILVA et al, 2008).
Frizon et al. (2006), também verificaram o uso de suplementos alimentares, onde os indivíduos acreditavam que o mesmo colaborava para o aumento da massa muscular juntamente com o uso de EAAs.
No estudo realizado em São Paulo, verificou-se também a intensidade de treinamento dos usuários e identificaram que 72% dos usuários praticam musculação a mais de dois anos, com freqüência semanal de 5 a 6 vezes por semana. Foi constatado que grande número dos indivíduos faziam uso de suplementos alimentares, em especial proteínas (SILVA & MOREAU, 2003).
Em Aracajú, 64% dos indivíduos praticavam musculação a mais de um ano, 28% de um a seis meses e 8% de 6 meses a um ano (SANTOS et al, 2006).
O suplemento alimentar mais utilizado em Goiânia foi a creatina (24%) dos 49% dos usuários de suplementos. Os suplementos alimentares foram indicados por nutricionistas e professores/instrutores das academias estudadas. A intensidade do treino foi citada no resultado, mas apenas de forma informativa, não sendo levantados dados especificos sobre o assunto (ARAÚJO, ANDREOLO & SILVA, 2002).
Em Salvador, verificou-se a utilização de suplementos alimentares e foi constatado que o uso de EAAs predomina sobre o mesmo devido o rápido ganho de massa muscular, além de considerarem o suplemento alimentar caro ao compará-lo ao anabolizante (IRIART, OLIVEIRA & ARAÚJO, 2008).
Em nenhum dos estudos realizados, foi abordada de forma precisa a intensidade do treinamento dos indivíduos, apenas o tempo de prática e freqüência. Não foram abordados os princípios e/ou métodos utilizados e nem qual o período de descanso era dado de uma sessão de treinamentos para uma nova sessão.
Tabela 5. Verificação sobre os fatores que influenciam no efeito máximo da utilização de EAAs
Treinamento intenso e a imunidade
O treinamento intenso pode causar uma diminuição do sistema imuno devido ao estresse causado pelo exercício, devido a vários fatores, como o tempo para recuperação insuficiente, lesões musculares, elevando o nível de cortisol (MAUGHAN, GLEESON & GREENHAFF, 2000). A imunodepressão também está ligado ao uso de EAAs, devido ao grande consumo de glutamina para a recuperação e síntese protêica, sendo que com o uso das substâncias citadas, esse processo é aumentado e acelerado( NETO,1997).
Análise de dados dos profissionais das academias estudadas
Sabe-se que as informações exibidas anteriormente, somente profissionais capacitados possuem e têm condições de passar e esclarecer aos seus alunos tais dados. Informações das quais fariam os possíveis usuários a reverem suas idéias sobre o uso.
Dos estudos revisados, apenas os realizados em Pelotas-Rio Grande e Porto Alegre tinham como autores profissionais de Educação Física, que são os responsáveis por orientar os indivíduos sobre a forma correta de atingir o físico desejado. O que comprova a falta de interesse dos profissionais da área sobre esse assunto.
Nos levantamentos realizados, dados dos profissionais envolvidos nas academias não foram questionados. Se são realmente profissionais habilitados, se possuem autorização para exercer a atividade, dados importantíssimos, uma vez que os envolvidos são formadores de opinião quando o assunto é boa forma e saúde.
Em Salvador, veterano de academia, que dizia ser personal trainer, justificou que fazia uso de EAAs pois os alunos usavam o seu corpo como inspiração e orientava os novatos a utilizar as drogas, com o fim de desenvolver sua massa muscular tanto quanto seu “professor” (IRIART, OLIVEIRA & ARAÚJO, 2008).
Existem profissionais que não são capacitados, não possuem formação alguma na área e trabalham como instrutores, personal trainers e até mesmo professores responsáveis pelas academias, trazendo as mesmas, informações e indicações errôneas sobre os procedimentos a serem tomados para se atingir a forma física tão desejada. Não são capacitados para indentificar quando o seu aluno está sofrendo de algum efeito colateral do uso de EAAs, o que pode trazer problemas não só para o usuário, mas também para aqueles que fazem parte de sua vida, exemplo citado no estudo realizado em Goiânia, onde os instrutores e professores orientaram os indivíduos a usarem os EAAs.
Alguns dos indivíduos que participaram da amostra de Aracajú, colocaram que encerraram com o uso de EAAs após orientação de um profissional de Educação Física, que esclareceram aos mesmos que não há a necessidade do uso de EAAs para se ter um excelente desenvolvimento muscular ( SANTOS et al, 2006).
Diferentemente ao que ocorreu em Aracajú, nas academias pesquisadas em Pelotas e Rio Grande, 11% dos usuários tiveram a orientação de um profissional da área da saúde para início do uso de EAAs (MAIOR et al 2009)
Esse perfil possivelmente é de muitos “profissionais” envolvidos nas academias estudadas, comprovando a falta de informações e qualificações a esses indivíduos.
Considerações finais
A falta de esclarecimento sobre o assunto é o que torna possível o convencimento do uso de EAAs naqueles indivíduos que buscam a estética moderna, corpos atléticos como prevalência sobre os outros, já que estes corpos que são admirados. Culpa da moda e da mídia indiretamente. Infelizmente muitas pessoas utilizam os EAAs para atingir seus objetivos, já que para ter um corpo atlético, muita massa magra e pouco gordura, é uma tarefa árdua, onde exercícios físicos e dieta rigorosa, muito descanso, pouco estresse e muito dinheiro, são itens fundamentais, e esses itens estão cada vez mais difíceis para o homem moderno.
São poucos os estudos de prevalência ou o uso de EAAs realizados no Brasil e sabe-se que a desinformação sobre o assunto, faz com que os EAAs cheguem aos indivíduos como a saída mais fácil para atingir o corpo desejado. A maioria dos freqüentadores e usuário não distinguem a diferença entre saúde e estética, o que é errado e de conseqüências muitas vezes permanentes.
Existem inúmeros efeitos colaterais, alguns permanentes, onde deve-se colocar em pauta o custo benefício. Além da procedência dos produtos, de contrabando que em muitas vezes tem como fonte indústrias alternativas ou desconhecidas e os produtos que são fabricados por indústrias corretas e dentro dos padrões, são comercializados por estabelecimentos que possuem funcionários e até mesmo proprietários, sem ética, que visam somente o lucro, não preocupando-se com a saúde dos indivíduos.
A associação do uso a dieta e o descanso não foram abordados de forma precisa na maioria dos estudos, uma vez que estes fatores é que poderiam realmente estar colaborando com os resultados buscados, não necessariamente somente a utilização de EAAs. Possivelmente porque a maioria dos estudos foram desenvolvidos por profissionais não envolvidos com o treinamento de força ou esportes em geral.
Devido a esses fatores expostos, podemos considerar a prática do uso de EAAs assunto preocupante, considerá-lo assunto de grandeza epidemiológica, pois a falta de informação está transformando a conduta cada vez mais comum nas academias do Brasil. As doenças relacionadas ao excesso do uso, ao compartilhamento de seringas e os tipos de drogas usadas demonstra que no Brasil a prevenção ainda está fora da nossa cultura, cultura essa que deve ser utilizada para fins de saúde pública.
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