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Efeito de 10 semanas de treinamento 

do método ATR em atletas de orientação

Efecto de 10 semanas de entrenamiento del método ATR en atletas de orientación

 

*Bacharel em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul

**Mestre em Saúde Coletiva e Professor dos cursos de Licenciatura

e Bacharelado em Educação Física da Universidade de Caxias do Sul

(Brasil)

Yonel Ricardo de Souza*

yonel@click21.com.br

Ricardo Rodrigo Rech**

ricardo.rech@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi analisar os efeitos de 10 semanas de treinamento do método Acumulação, Transformação e Realização (ATR) de Issurin e Kaverin (1986) em atletas de orientação nas variáveis apontadas como fundamentais. Para isso, 15 atletas de nível de competição estadual, do gênero masculino, foram avaliados nas variáveis antropométricas massa corporal, percentual de gordura e índice de massa corporal e nas variáveis cineantropométricas resistência anaeróbica lática e VO2max antes e depois do período de 10 semanas de treinamento. Não ocorreram diferenças significativas nas variáveis antropométricas, porém houve melhora significativa nas variáveis cineantropométricas, embora a amostra já fosse fisicamente condicionada, concluído-se sobre a eficiência do método ATR.

          Unitermos: Orientação. Treinamento. Variáveis. ATR.

 

Abstract

          The aim of this study was to examine the effects of 10 weeks of training method Accumulation, Processing and Development (APD) of Issurin and Kaverin (1986) in orientation athletes guidance on the variables identified as crucial. To this end, 15 athletes from the state level, males, were evaluated for anthropometric variables body mass, fat percentage and body mass index and the variables cineantropometrics lactic anaerobic endurance and VO2max before and after the period of 10 weeks of training. No significant differences in anthropometric variables, but there was significant improvement in the variables cineantropometrics, although the sample has been physically conditioned, finished up on the efficiency of the APD method.

          Keywords: Orientation. Training. Variables. APD.

 

 
http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A corrida de orientação é uma moderna modalidade esportiva que usa a própria natureza como campo de jogo. É um esporte em que o praticante, com o auxilio de um mapa e de uma bússola, tem que passar por pontos de controle distribuídos no terreno no menor tempo possível. É um desporto onde o praticante escolhe o caminho a ser seguido em meio à natureza, gerando deste modo, uma componente mental e lúdica capaz de atrair um grande número de praticantes de todas as idades (CBO, 2010).

    A Orientação, como atividade, acompanha o homem desde sua origem. No entanto, como esporte, surgiu nos países nórdicos há mais de cem anos, com o propósito de realizar-se uma atividade física ao ar livre, mantendo a mente do praticante ocupada em toda a sua execução e contribuindo para a educação ambiental (CBO, 2010). No Brasil, surgiu em 1970 com a participação de alguns militares que foram a Europa observar as competições de orientação do International Military Sports Council (CISM) e desde 1991 o Brasil participa de competições internacionais de Orientação com aceitação cada vez maior do público civil.

    Por ser um esporte ainda novo no Brasil, vários métodos de treinamento tem sido utilizados para maximizar a performance do atleta durante as competições. Com fins de embasar tais métodos, Etchepare et al (2003) realizam uma pesquisa com 16 atletas do sexo masculino da equipe de elite de Orientação dos quartéis da cidade de Santa Maria, indicados pela Confederação Brasileira de Orientação, comparando seus componentes para a aptidão física atlética com componentes de atletas de elite não brasileiros (WILMORE e COSTILL apud POLLOCK e WILMORE, 1993), e traçaram o perfil físico dos atletas deste esporte. Houve destaque no desempenho dos testes de resistência, principalmente resistência aeróbica e resistência anaeróbica lática, o que vem ao encontro das características das provas de Orientação, que são de longa duração, além disso, o atleta constantemente necessita do substrato anaeróbico pelos aclives do terreno e pela necessidade de corridas em velocidade.

    A forma geralmente encontrada na preparação dos atletas é a organização do treinamento através de períodos e etapas. Esta forma de estruturas do treinamento desportivo tem como seu idealizador o russo Matveiev (1990). Este baseou-se nos ciclos de super compensação, criados pelo Austríaco Hans Seyle e modificado pelo bioquímico esportivo Yakolev, e idealizou a periodização do treinamento apoiado em avaliações estatísticas do comportamento em atletas de diversas modalidades esportivas da ex-União Soviética nas décadas de 50 e 60. Os ciclos de treinamento desportivo foram formulados então por Matveiev (BOMPA, 2001) nos primeiros anos da década de 60 e rapidamente se unificaram a estrutura periódica, estabelecendo um híbrido estrutural nas diversas formas de organizar o treinamento. Este caráter cíclico se define em dois níveis fundamentais: nível de micro estrutura, conhecidos como microciclos; e nível de meso estrutura, conhecidos como mesociclos (BOMPA, 2001).

    Um conceito alternativo de classificação dos mesociclos é proposto por Issurin e Kaverin (1986) e se diferenciam em três fases: acumulação, transformação e de realização (ATR). Sua essência baseia-se na periodicidade e na troca da orientação preferencial do treinamento. A idéia geral da estrutura ATR se baseia em dois pontos fundamentais: a concentração de cargas de treinamento sobre capacidades específicas ou objetivos concretos de treinamento (capacidades/objetivos) e desenvolvimento consecutivo de certas capacidades/objetivos em blocos de treinamento especializados ou mesociclos (NAVARRO, 1998).

    Segundo Etchepare et al (2003), devido a escassez de estudos específicos sobre orientação, atualmente não existem parâmetros para treinamento no esporte. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi analisar os efeitos de 10 semanas de treinamento do método ATR de Issurin e Kaverin (1986) em atletas de orientação nas variáveis apontadas como fundamentais por Etcheparte et al (2003).

Metodologia

    A amostra foi composta por 15 atletas de orientação de nível estadual de um quartel do Exército de Caxias do Sul -RS, Brasil, todos fisicamente ativos, saudáveis, voluntários, do gênero masculino, condicionados fisicamente, com experiência no esporte de orientação de pelo menos 5 anos, com idade média de 33,67 + 10, 46 anos, estatura média de 174,67 + 7,07 cm e massa corporal média de 75,29 + 8,39 Kg.

    Inicialmente foi observado o caráter ético da pesquisa, apresentando aos atletas o projeto a ser desenvolvido na unidade militar e esclarecendo o voluntariado, o sigilo e os riscos provenientes das atividades, garantindo o direito de cada atleta se retirar do estudo em qualquer tempo. Posteriormente, para aqueles que aceitaram participar da pesquisa, foram mensuradas a estatura e a massa corpórea, utilizando-se uma balança marca Filizola®, com precisão de 100g, e um estadiômetro da marca Invicta®, com precisão de 5 mm. Para mensurar o percentual de gordura foi usado o protocolo de Jackson e Pollock (1972), de três dobras.

    Em seguida, antes do período de treinamento, foram estimadas a resistência anaeróbica lática num teste de corrida de 40 segundos de Matsudo (ACSM, 2007) e 48 horas depois, o consumo máximo de oxigênio (VO2max) pelo protocolo de 1,5 milha (ACSM, 2007), visando avaliar a resistência aeróbica. Todos os testes foram aplicados numa pista oval sintética de 400 metros (padrão).

    Os atletas foram então submetidos a um programa de treinamento (ATR) que consistiu em 1 sessão de 120 minutos 3 vezes por semana. Nos microciclos de Acumulação (1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 7ª, 8ª e 9ª semanas) foram intensificadas a resistência aeróbica (segundas-feiras) com corridas contínuas de 40, 45 e 50 minutos; corrida (fart leck) em aclive (quartas-feiras) num percurso de 800 metros e aproximadamente 10% de inclinação com 4, 5 e 6 lances, retornando pelo mesmo percurso; e trabalho intervalado (sextas-feiras) numa pista de 400 metros de cascalho, realizando 6, 7 ou 8 tiros com intervalo de 1,5 minutos entre eles. Nos microciclos de Transformação (5ª, 6ª e 10ª semanas) foram realizadas pistas cross country de 6 e 8 quilômetros respectivamente (segundas e quartas-feiras). O microciclo de Realização consistiu em corrida de intensidade leve de 20 minutos 48 horas antes da prova e a pista propriamente dita, que constou das 2ª e 3ª etapas do Campeonato Gaúcho de Orientação (fim da 5ª e 10ª semanas).

    Devido a heterogeneidade do grupo, o controle da intensidade dos exercícios foi monitorado pela freqüência cardíaca mensurada pelo atleta em 15 segundos antes e depois (imediatamente, após 30 segundos e após 3 minutos) da atividade e pelo protocolo de Borg durante a atividade (corrida contínua: 14 a 16; fartleck em aclive e intervalado: 16 a 20; ACSM, 2007).

    Ao final da 10ª semana foram novamente submetidos a avaliação antropométrica de massa corporal, estatura e percentual de gordura, além de estimados VO2max e resistência anaeróbica nos mesmos protocolos da avaliação pré-treinamento.

    Os resultados são apresentados sob a forma de média e desvio padrão. Foi utilizado o teste T-students para comparação de médias entre os testes. Os escores de desempenho físico foram calculados segundo as normas estabelecidas nos manuais de cada protocolo. Todos os testes foram processados no pacote estatístico SPSS 16.0, sendo utilizado um intervalo de confiança de 90% e níveis de significância de p≤ 0,05.

Resultados e discussão

    As alterações antropométricas médias de massa corporal, percentual de gordura e índice de massa corporal seguem na tabela 1 abaixo após as 10 semanas de treinamento:

Tabela 1. Alterações antropométricas

    A massa corporal média mesurada no início do estudo se assemelha ao valor médio apresentado por Wilmore e Costill apud Pollock e Wilmore (1993), que cita a massa corporal média encontrada em atletas masculinos de orientação de 72,2 Kg, fornecendo fidedignidade ao estudo. A diferença não significativa após as 10 semanas de treinamento ocorreu provavelmente devido ao fato da amostra ser ativa fisicamente e condicionada a atividade de corrida por pelo menos 5 anos, minimizando o efeito morfológico do exercício de endurance (WILMORE et al, 2003).

    O percentual de gordura média mensurado no início do estudo pode ser considerado bom para a faixa etária média segundo Pollock e Wilmore (1993) e similar ao valor médio de atletas de orientação de 16,3% de gordura corporal, citado por Wilmore e Costill apud Pollock e Wilmore (1993). Provavelmente a situação fisicamente ativa e condicionada da amostra também pode ter tornado a melhora do percentual de gordura não significativa (WILMORE et al, 2003).

    O índice de massa corpórea (IMC) médio mensurado no início do estudo pode ser considerado normal para a faixa etária média (ACSM, 2007) e como não houve alteração na estatura e diferença não significativa na massa corporal, como conseqüência direta, a melhora no IMC médio da amostra foi minimizado possivelmente pelos mesmos motivos citados no que se refere à massa corporal média.

    As alterações cineantropométricas médias de resistência anaeróbica lática (teste 40 segundos de Matsudo, 1979) e VO2max seguem na tabela 2 abaixo após as 10 semanas de treinamento:

Tabela 2. Alterações cineantropométricas

* diferença significativa

    O VO2max médio estimado no início do estudo apresentou nível de aptidão física excelente pelo protocolo de Cooper (ACSM, 2007) para a média de idade da amostra, o que já era esperado por se tratar de atletas ativos e treinados. A diferença significativa em relação ao VO2max médio estimado após 10 semanas de treinamento aponta para a eficiência do método ATR, já que a amostra, embora condicionada, não havia experimentado tal método de treinamento, elevando o nível de aptidão física de Cooper para superior (ACSM, 2007) para a média de idade da amostra.

    De forma similar, o teste de 40 segundos de Matsudo (ACSM, 2007) apresentou, antes do treinamento, valores similares aos atletas de alto nível de demais esportes (MATSUDO, 1998), como natação (208,16 + 12,32), atletismo (258,83 + 25,31), basquetebol 228,61 + 16,96, ginástica (216,91 + 13,70) e voleibol (227,21 + 17,44), o que comprova nível médio de condicionamento dos atletas que participaram do estudo. Também, a melhora significativa após 10 semanas de treinamento pressupõe a eficiência do método ATR de treinamento, inédito para os atletas que participaram do estudo. Os resultados também foram similares aos encontrados por Etchepare et al (2003) quando avaliou o perfil físico dos 14 melhores atletas de orientação do Brasil no mesmo teste de Matsudo (1979), valores médios de 268,82 + 16,09 metros.

Conclusão

    Diante do exposto no presente estudo chega-se a conclusão que as alterações antropométricas médias de massa corporal, percentual de gordura e índice de massa corporal após 10 semanas de treinamento no método acumulação, transformação e realização (ATR), idealizados por Issurin e Kaverin (1986) não tendem a ser significativas, desde que o público alvo sejam atletas condicionados no esporte orientação.

    Em contrapartida, o método ATR de Issurin e Kaverin (1986) após 10 semanas de treinamento, mostra-se significativamente eficiente, mesmo em atletas condicionados, na melhora das variáveis resistência aeróbica e resistência anaeróbica lática, citadas como mais relevantes para os atletas de orientação, conforme estudos de Etchepare et al (2003).

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