A prática do treinamento de força na adolescência: um estudo de caso La práctica del entrenamiento de la fuerza en la adolescencia: un estudio de caso |
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Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Pós-graduado Lato Sensu em Fisiologia do Exercício pela Universidade Gama Filho (UGF) (Brasil) |
James Fernandes de Medeiros |
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Resumo O treinamento de força aplicado a adolescentes é um método seguro e eficiente na melhoria do condicionamento físico e da saúde destes jovens. O objetivo do estudo foi realizar uma análise no ganho de força muscular quando um adolescente é submetido a um programa de treinamento de força supervisionado. A metodologia empregada caracteriza-se como sendo do tipo descritivo de delineamento transversal. A amostra constitui de um adolescente do sexo masculino com 13 anos de idade, inexperiente na prática do treinamento de força, o qual foi submetido a um programa de exercícios de força supervisionado realizado durante um período de 12 semanas. Os resultados apontam significativos ganhos de força muscular que variaram de 25% a 50% por cento. Este aumento de força pode ser importante na melhoria do rendimento esportivo e na redução do risco de lesões na prática esportiva, aumento do condicionamento físico, elevação da densidade e da massa óssea. O treinamento de força aplicado a adolescente é uma modalidade de exercício físico eficiente e segura quando realizado sob supervisão profissional que pode gerar efeitos benéficos à saúde. Unitermos: Adolescência. Treinamento de força. Saúde.
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http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A adolescência refere-se basicamente ao período da vida situado entre a infância e o período adulto, a qual é caracterizada psicologicamente por conflitos e esforços de autoafirmação, seguido de diversas respostas metabólicas e fisiológicas. Nesta fase, os níveis hormonais são alterados, sobretudo aumentando a concentração de testosterona nos adolescentes. O aumento deste hormônio gera maior produção de enzimas participantes do sistema endócrino por meio do efeito anabólico (Ramos, 1999).
As mudanças hormonais são responsáveis pelo aumento da força dos 11 aos 18 anos nos sexos masculino e feminino (Fleck e Kraemer, 2006). Conforme Tsolakis et al. apud Fleck e Kraemer (2006), no estudo destes pesquisadores foi demonstrado que concentrações sanguíneas de testosterona e hormônio do crescimento, indicando um ambiente mais anabólico que pode ocorrer devido ao treino de força em meninos pré-púberes (11 a 13 anos) e púberes (14 a 16 anos).
O treinamento de força – atividade esportiva comumente praticada por culturistas – atualmente vem conquistando como adeptos os adolescentes, pois tem provado que é um método seguro e eficiente na melhoria do condicionamento físico destes jovens (Simão, 2008). Esse tipo de treino pode ser realizado em clínicas, clubes ou academias, utilizando-se de barras, halteres, anilhas, elásticos ou da própria massa corporal (Vehrs, 2005). É uma modalidade de exercícios que promove significativos ganhos de força e resistência muscular.
O desenvolvimento do sistema nervoso é um aspecto importante no aumento da força muscular. O desempenho das fibras musculares está diretamente associado ao funcionamento do sistema de células nervosas. O desenvolvimento do sistema neural contribui no aprimoramento de capacidades que requerem equilíbrio, agilidade, força e potência (Simão, 2008). No decorrer da idade cronológica ganhos de força muscular são observados em pré-adolescentes sem treinamento, no entanto quando submetidos ao treinamento de força tem sido registrado ganhos de força aproximadamente duas vezes mais num período de 8 a 20 semanas (Weltman et al., 1986).
As evidências científicas existentes ainda não elucidaram plenamente a relação entre o treinamento de força muscular e seus respectivos ganhos de força na fase pré-púberes. Desta feita, são necessárias mais investigações para confirmar a efetividade do treino de força sobre a obtenção dessa aptidão física relacionada à saúde. Portanto, o objetivo do presente estudo foi realizar uma análise no ganho de força muscular quando um adolescente é submetido a um programa de treinamento de força supervisionado.
Metodologia
Este estudo caracteriza-se como sendo do tipo descritivo de delineamento transversal, no qual foi analisado o ganho de força muscular oriundo de um programa de treinamento de força supervisionado. Como critérios de inclusão foram adotados os seguintes itens: ser inexperiente na prática do treinamento de força, sem histórico pessoal prévio de doenças, ser candidato a iniciarem a prática regular de exercícios físicos em academia. O avaliado praticava regularmente a atividade de natação com freqüência de duas vezes semanais durante 12 meses, praticado 3 vezes semanais com duração de 45 minutos por sessão e em dias não consecutivos.
Após ter tomado conhecimento da pesquisa, manifestou interesse em participar referida pesquisa. Para tanto, foi necessário preencher alguns critérios previamente estabelecidos em anamnese. A amostra analisada foi constituída de adolescente de 13 anos de idade, portanto um estudo de caso (Thomas, Nelson e Silverman, 2007). A prática do treinamento de força foi realizada em uma academia da Zona Sul de Natal/RN. Os procedimentos constituíram-se de dados que foram coletados na sala de avaliação física da referida academia. Inicialmente o adolescente foi submetido a uma avaliação física previamente agendada, a fim de aferir coleta de dados antropométricos (massa corporal e estatura) por meio de equipamentos previamente aferidos e calibrados.
Descrição da aplicação do teste: foi realizado um teste de carga por repetições para aferir as cargas iniciais aplicadas na prescrição dos exercícios de força muscular. Nessa aferição foram registradas as cargas dos exercícios após a execução, na qual buscou estipular uma intensidade de nível moderado cujo volume de treino constitui-se de 2 séries de 15 repetições (Anderson e Twist, 2005) com ajuste de carga a cada 6 sessões de treino, ou seja, a cada 15 dias. Do total de 36 sessões no período de 3 meses constatou-se uma assiduidade de 89 por cento, sendo apenas 4 faltas aos treinos. Foram anotadas as cargas de todos os exercícios selecionados conforme serão elencados a seguir.
Seqüência da rotina de exercícios nas sessões
1. No primeiro momento, o aluno ao chegar a academia realizava um aquecimento geral com duração de 10 minutos em esteira ergométrica da marca Moviment cuja intensidade do esforço ficou entre 60 a 70 por cento da freqüência cardíaca máxima (calculada pela fórmula: 220 subtraído da idade). A freqüência do ritmo cardíaco foi aferida por meio de um monitor de batimentos cardíacos da marca polar modelo F2.
2. No segundo momento foi executado o treinamento de força propriamente dito. Neste, a ordem dos exercícios ocorreu numa seqüência, na qual primeiro foi realizado os exercícios multiarticulares (grandes grupos musculares) seguido dos monoarticulares (menores grupos musculares), conforme (Sforzo e Touey, 1996; Fleck e Kraemer, 2006; ACSM, 2009). A seqüência dos exercícios de força muscular foi a seguinte: leg press horizontal, puxador por frente, cadeira extensora, supino sentado na máquina, flexora sentada, remada alta, panturrilha baixa, abdominal sentado na máquina. Utilizou-se neste treinamento de força os aparelhos da marca Gerva Sport.
3. No terceiro momento foram realizados exercícios de alongamento para os três segmentos corporais (tronco, membros superiores e inferiores) cuja duração foi de aproximadamente 5 minutos, e cada posição permanecia durante 15 segundos.
Resultados
Tabela 1. Apresenta coletados dados antropométricos (massa corporal e estatura) do adolescente pré-púbere
Tabela 2. Apresenta os resultados obtidos referentes aos ganhos de força muscular nos membros inferior e superior e abdominal
Os resultados da tabela acima revelam que houve significativos ganhos de força muscular, sendo que o menor aumento foi de 25 por cento e o maior aumento foi de 50 por cento, representando assim uma melhora considerável na força muscular, importante aptidão física relacionada à saúde. O que confirma neste estudo, a eficiência do treinamento com peso aplicado ao adolescente.
Discussão
A utilização dos exercícios de força muscular tem sido uma das intervenções eficientes para desenvolver a força e resistência nos músculos, sendo importante para alcançar o pico de densidade mineral óssea e massa óssea. Motivo pelo qual esse tipo de exercício pode ser incluído nos programas de condicionamento físico, com a finalidade de manter ou desenvolver a aptidão física muscular (Vehrs, 2005).
A prescrição dos exercícios aplicados para o desenvolvimento da força dos músculos deve ser individualizada, pois se considera o principio da individualidade biológica um dos mais importantes princípios do treinamento. Tendo em vista que, majoritariamente, crianças e adolescentes são confundidos com adultos no quesito prescrição, tendendo a ser igual a dos jovens adultos.
Consoante Figenbaum et al. (1999) e Figenbaum et al. (2002), o treinamento de força praticado por um período de 8 a 12 semanas pode produzir ganhos significativos na força muscular que variam entre 30% a 50%. Esses dados corroboram com o presente estudo de caso, pois foram encontrados resultados semelhantes, cujos ganhos nesta aptidão física variaram entre 25% e 50% de desenvolvimento na força muscular.
As mudanças mais relevantes proporcionadas pelo treinamento físico, durante a maturação, estão associadas ao sistema endócrino (hormonal), a saber: aumento da produção de testosterona, diferenciação das fibras musculares (rápidas e lentas) e diferenciação sexual na puberdade que o masculino mais forte do que o feminino. Devido a estas alterações no sistema endócrino os efeitos do treinamento de força sejam mais rápidos.
Para Cesari apud Farto e Carral (2001), é na fase puberal da adolescência que ocorre considerável resposta hormonal, ação protéica anabólica, hipertrofia e maior estabilidade no progresso treinamento físico. De fato, os hormônios testosterona e hormônio do crescimento criam um ambiente anabólico favorável ao desenvolvimento – quando submetido ao exercício de força – da força e resistência muscular.
Estas organizações: American Academy of Pediatrics (1990), National Strength and Conditioning Association (1996) e American College of Sports Medicine (ACSM) (1998) têm declarado que o treinamento de força para adolescentes é uma atividade segura e eficiente quando devidamente supervisionada. Entretanto, apenas do posicionamento contundente dessas instituições, ainda existem dúvidas e questionamentos a respeito do treinamento de força muscular para jovens (Fleck e Kraemer, 2006).
Considerações finais
O treinamento de força aplicado ao adolescente é uma modalidade de exercício físico eficiente e segura que quando realizado sob supervisão profissional, podendo gerar efeitos benéficos à saúde. Este é uma das atividades que propicia ganhos significativos na força e resistência muscular, pois tem como fator fisiológico as mudanças no sistema endócrino (elevação dos níveis de testosterona e hormônio do crescimento) que contribui de modo importante na melhoria dessa aptidão física relacionada à saúde. Ademais, o treinamento de força tem gerado alguns benefícios ao praticante como: aumento da força nos músculos, tendões e ligamentos, aumento da densidade e massa óssea, incremento do recrutamento de unidades motoras, aumento do condicionamento físico e redução do risco de lesão na prática esportiva.
O adolescente nesta fase da vida pode praticar o treinamento de força sob orientação do profissional e obter inúmeros benefícios com esta atividade. No entanto, não pode ser comparado a um adulto quanto aos parâmetros da prescrição dos exercícios. O princípio da individualidade biológica deve ser estritamente respeitado para que o jovem não seja tratado como adulto, nem seja submetido a treinos inadequados ou avançados como se fosse um atleta de culturismo. Além disso, os adolescentes devem ter a oportunidade de vivenciar o maior número possível de atividades motoras (esportes, lutas, danças, ginásticas e jogos), conhecê-las e praticá-las, especialmente aquelas que mais lhe proporcionar prazer e bem-estar.
Referências bibliográficas
American College of Sports Medicine. Progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc. 41: 687-708, 2009.
Anderson, G.S., Twist, P. Trainability of children. IDEA Fitness Journal. March, 2005.
Faigenbaum, A.D., et al. The effects of different resistance training protocolo on muscular strength and endurance development in children. Pediatrics. 104(1): 1-7, 1999.
Faigenbaum, A.D., et al. Comparison of 1 and 2 days per week of strength training in children. Research Quarterly for Exercise and Sport. 73(4):416-424, 2002.
Farto, E.R., Carral, J.M.C. El entrenamiento de la fuerza en natación: criterios a tener en cuenta para su desarrollo. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 7 - N° 37 - Junio de 2001. http://www.efdeportes.com/efd37/fzanat.htm
Fleck, S.J., Kraemer, W.J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Ramos, A. T. Atividade Física: diabéticos, gestantes, 3ª idade, criança, obesos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1999.
Sforzo, G.A., Touey, P.R. Manipulating exercise order affects muscular performance during a resistance exercise training session. J Strength Cond Res. 10: 20-24, 1996.
Simão, R. Fisiologia e Prescrição de Exercícios para Grupos Especiais. 3ª ed. São Paulo: Phorte, 2008.
Thomas, J.R., Nelson, J.K., Silverman, S.J. Método de Pesquisa em Atividade Física. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Vehrs, P.R. Strength training in children and teens: dispelling misconceptions – part one. ACSM Health & fitness Journal. Vol. 9, nº4, 2005.
Weltman, A., Janey, C., Rians, C. et al. the effects of hydraulic resistance strength training in pré-puberal males. Med Scie Sports Exerc. 18:629-638, 1986.
Weineck, J. Treinamento ideal. São Paulo: Manole, 1999.
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