Qualidade de vida de mulheres com câncer de mama e ginecológico no município de Rio do Oeste segundo o olhar do WHOQOL – BREF da OMS Calidad de vida de mujeres con cáncer de mama y ginecológico en el municipio de Río do Oeste según la consideración del WHOQOL – BREF de la OMS |
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Enfermeira especialista em Gestão em Serviços de Saúde (Brasil) |
Regiane Borges |
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Resumo Aprofundando o conhecimento sobre a trajetória das mulheres acometidas com câncer de mama e ginecológico período de 2007 a 2008, o presente estudo tem como objetivo investigar a qualidade de vida de 11 mulheres residentes do município de Rio do Oeste, por meio do instrumento: WHOQOL- bref criado pelo WHOQOL Group (OMS). Buscou além disso, identificar as características culturais, históricas, das participantes. Foi desenvolvido estudo quantitativo, descritivo, observacional, caracterizando a QV das mulheres. O tema QV vem assumindo importância, sob vários aspectos, nos últimos anos, particularmente no que diz respeito a sua avaliação ou mensuração, quer individualmente quer coletivamente. Com base nos acontecimentos e nas descobertas de seus ideais a mulher está conseguindo sair do anonimato para conquistar seu espaço, deixando de viver a sombra do homem e se tornando personagem de sua própria história. O instrumento WHOQOL-bref, consta de 26 (vinte e seis) questões, sendo duas questões gerais sobre qualidade de vida (não aplicadas ao grupo em estudo) e as demais 24 (vinte e quatro) representam cada uma das vinte e quatro facetas que compõem o instrumento original, representando 04 domínios da vida cotidiana. O domínio físico engloba aspectos como dor, energia para o trabalho, dependência de medicações; o domínio psicológico aborda a auto-estima, sentimentos negativos como mau humor, ansiedade, espiritualidade. No domínio relações sociais está incluído a atividade sexual e o apoio social. No domínio ambiente, aborda recursos financeiros, segurança no lar, e a participação em oportunidades de lazer. Tais resultados incitam à discussão sobre a qualidade de vida das mulheres. Unitermos: Qualidade de vida. Mulher. Câncer.
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http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
O câncer é um importante problema de saúde pública nos países desenvolvidos e em via de desenvolvimento, sendo o responsável por mais de seis milhões de óbitos anuais, representando 12% de todas as causas de morte no mundo.
No cenário mundial, o câncer de mama é considerado como o segundo tipo de câncer mais comum na mulher. Encontra-se relacionado ao processo de industrialização, com um risco de prevalência altamente associado ao elevado nível social, além de outros fatores de risco. Tais fatores classicamente descritos, dizem respeito à baixa ou nula paridade, idade precoce da menarca e tardia menopausa, obesidade, consumo de fumo e álcool, bem como outros relacionados com os estilos de vida (GUERRA et al, 2005).
Com relação ao câncer ginecológico, no Brasil são esperados 22.910 casos novos de câncer uterino (colo e corpo) para o ano de 2006 (INCA, 2006) e, apesar da melhoria dos programas de rastreamento, uma proporção significativa de casos ainda é diagnosticada em estágio avançado. (HALBE E SAKAMOTO, 2000).
O diagnóstico e a terapia antineoplásica determinam repercussões sociais, econômicas, físicas, emocionais/psicológicas e sexuais.
Atualmente, apesar das dificuldades no diagnóstico precoce e na efetividade do tratamento, a maioria das mulheres acometidas viverá com sua doença por muitos anos. Nesse sentido, melhorar a qualidade de suas vidas representa um desafio tanto para elas como para os profissionais de saúde.
Não existe consenso quanto à definição de QV. Porém, a maioria das definições contempla os aspectos multidimensional e subjetivo da QV, que varia de pessoa para pessoa.
No Brasil e no mundo cresce o interesse pelo estudo da QV. Em recente revisão da literatura foram identificados 11 trabalhos em língua portuguesa sobre QV, abrangendo diversas áreas. A tradução e a validação de questionários de QV para a língua portuguesa estimularam a realização de pesquisas sobre o tema.
Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo conhecer a qualidade de vida das mulheres acometidas de câncer de mama e ginecológico do município de Rio do Oeste. Desse modo, utilizou-se o conceito e o instrumento desenvolvido pela OMS, para conhecer a qualidade de vida destas mulheres, através de uma pesquisa de campo, com aplicação do instrumento WHOQOL-Bref, validado para o português, que consta de 26 (vinte e seis) questões, sendo duas questões gerais sobre qualidade de vida e as demais 24 (vinte e quatro) divididas em 4 (quatro) domínios: físico, psicológico, relações sociais e ambiente.
2.1. Tipos de pesquisa
Entende-se pesquisa como um processo no qual o pesquisador tem “uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente”, pois realiza uma atividade de aproximações sucessivas da realidade, sendo que esta apresenta “uma carga histórica” e reflete posições frente à realidade. (MINAYO, 1994, p.23).
Com base neste conceito a pesquisadora utilizou a abordagem quantitativa, pois a qualidade de vida das mulheres portadoras de câncer de mama e ginecológico será estudada através de dados obtidos por meio do instrumento WHOQOL-bref, que avalia com base nos números, o problema proposto.
2.2. População
A população dessa pesquisa são 11 mulheres acometidas de câncer de mama e ginecológico, que residem no Município de Rio do Oeste, no período de 2007 a 2008.
2.3. Coleta de dados e instrumento de pesquisa
A coleta de dados pode ser feita por meio de: observações, entrevistas e história de vida, pesquisa bibliográfica, questionários, observação empírica, entre outros. É importante ressaltar que, existem diversos procedimentos utilizados para este fim, no entanto, cabe ao pesquisador decidir qual o procedimento que mais de adéqua ao tipo de pesquisa realizada.
Segundo Gil (1999), pode se definir questionário como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevando de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc.
Para a técnica de coleta de dados, utilizou-se o questionário denominado WHOQOL Bref, derivado do Whoqol 100, sendo este um instrumento oficial da Organização Mundial da Saúde, para mensurar qualidade de vida. Este instrumento possui 06 domínios: Domínio Físico, Psicológico, Nível de Independência, Relações Sociais, Meio Ambiente, Aspectos Espirituais, Religião e Crenças Pessoais. Vale ressaltar que este instrumento mede a qualidade de vida das pessoas nas últimas duas semanas. (FLECK et al, 2000).
3. Resultados e discussões
3.1. Apresentação do resultado dos domínios
Na tabela que segue apresenta-se o resultado geral da pesquisa por respectivos domínios, analisado através de suas facetas.
Tabela 1. Resultado dos domínios
3.1.1. Domínio Físico
No domínio físico que tem como facetas a dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso, mobilidade, atividade da vida cotidiana, dependência de medicação ou tratamento e capacidade de trabalho, observou-se que as facetas atividade da vida cotidiana e capacidade de trabalho obtiveram o mesmo percentual que é de 45,45%, em ambas as mulheres estão satisfeitas com sua capacidade de desenvolver suas atividades da vida cotidiana e de trabalho. Porém, a faceta energia e fadiga demonstra que as mulheres possuem muito pouco energia para seu dia-a-dia, ou seja, 36,36%. No caso da faceta dependência de medicação ou de tratamento, 45,45% das mulheres disseram que dependem muito pouco de algum tipo de medicação e de tratamento para levar sua vida diária. A faceta mobilidade obteve 36,36% de muito bom à capacidade de se locomover. Em relação à dor e desconforto 63,64% afirmam que sentem mais ou menos e 54,54% estão satisfeitas com o sono e o repouso.
3.1.2. Domínio Psicológico
No domínio psicológico que tem como facetas os sentimentos positivos, pensar, aprender, memória e concentração, auto-estima, imagem corporal e aparência, sentimentos negativos e espiritualidade/religião/crenças pessoais, percebe-se que a faceta espiritualidade/religião/crenças pessoais foi a que mais se destacou. 63,64% das mulheres disseram que tem bastante espiritualidade o que favorece as formas de enfrentamento apreendidas na busca pela cura. 45,45% das mulheres revelam que sentem algumas vezes, sentimentos negativos, que podem tornar o dia-a-dia mais difícil. Quanto à capacidade de pensar, aprender, memória e concentração 36,36% delas revelaram possuir muito pouco concentração e memória. Em relação aos sentimentos positivos 36,36% possuem bastante sentimentos positivos, o que favorece o enfrentamento da doença. Sobre a auto-estima, 27,27% estão satisfeitas e 18,18% estão muito satisfeitas com relação a sua imagem corporal e aparência, ou seja, aceitam-se como são.
3.2. Relações Sociais
No domínio relações sociais, que tem como facetas as relações pessoais, suporte (apoio) social e atividade sexual, o que mais se destacou foi à faceta relações pessoais que obteve um percentual de 63,64%. Diante deste resultado podemos perceber que as mulheres estão satisfeitas com as suas relações pessoais e mantém uma boa relação com as pessoas que estão ao seu redor. Na faceta suporte (apoio) social o percentual foi de 45,45% para satisfeito e 45,45% para muito satisfeito com o apoio que recebem. Vale destacar neste item que o apoio dos amigos é uma ferramenta favorável ao bem estar das pessoas. Em relação à atividade sexual 36,36% das mulheres estão muito satisfeitas com a vida sexual.
3.3. Meio Ambiente
O domínio meio ambiente que é composto pelas facetas segurança física e proteção, ambiente no lar, recursos financeiros, cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade, oportunidades de adquirir novas informações e habilidades, participação em, e oportunidades de recreação/lazer, ambiente físico: (poluição/ruído/trânsito/clima) e transporte. A que mais se destacou foi à faceta relacionada aos cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade, onde 72,73% declararam estar satisfeitas com seu acesso aos serviços de saúde e qualidade dos mesmos. Quanto à segurança física e proteção 54,55% se sentem seguras em sua vida diária. 45,45% estão muito satisfeitas com o local onde vivem. Quanto aos recursos financeiros 45,45% das mulheres definiram como sendo médio seus recursos para satisfazer suas necessidades financeiras. Quanto ao ambiente físico 54,55% consideram bastante saudável o lugar em que vivem e com a qualidade do mesmo. Na faceta oportunidades de adquirir novas informações e habilidades 36,36% disseram que conseguem muito obter as informações que precisam, de forma a atingir suas expectativas. No que diz respeito à participação e oportunidades de lazer, 27,27% das mulheres possuem muita participação e lazer, já se somarmos os resultados muito pouco e nada teremos um total de 54,54% de mulheres que não possuem oportunidades de lazer. Para esses dados torna-se necessário esclarecer que algumas mulheres revelaram não gostar muito do convívio social e preferem estar só. As mulheres estão satisfeitas com o transporte, 63,64% delas confirmaram que os meios de transportes estão sempre disponíveis quando precisam.
4. Considerações finais
O presente estudo foi realizado no Município de Rio do Oeste localizado no Alto Vale do Itajaí em Santa Catarina, com 11 mulheres portadoras de câncer de mama e de câncer ginecológico, no período de 2007 a 2008.
A questão sobre qualidade de vida vem assumindo importância, sob vários aspectos, nos últimos anos, particularmente no que diz respeito a sua avaliação ou mensuração, quer individualmente quer coletivamente. O termo qualidade de vida envolve significados diversos, de origem cultural, social, econômica, histórica.
Após a análise dos dados colhidos detectamos no domínio físico, que a maioria das mulheres em estudo mostrou que em relação à dor e desconforto, sentem mais ou menos. Este índice necessita de atenção, pois indica que a dor pode comprometer a realização satisfatória das atividades da vida cotidiana e refletem de forma direta na qualidade de vida. Porém, dependem muito pouco de medicação e tratamento médico e estão satisfeitas com sua capacidade de trabalho.
No domínio psicológico como pontos fundamentais para o bem estar emocional, o sentido da vida, auto-estima, foram demonstrados estarem em grande evidência na vida das mulheres. Apenas uma pequena minoria optou na escolha pela opção “muito pouco” para esses contextos. Ficou evidente também a satisfação com a imagem corporal e aparência. Porém, as mulheres relataram sentir “alguma vezes” sentimentos negativos, que podem alterar o estado psicológico, afetando a saúde mental e qualidade de vida das mulheres.
No domínio das relações sociais, a evidência que mais se destacou foi a que se refere às relações pessoais. As mulheres revelam estar satisfeitas com suas relações pessoais, principalmente com o apoio que recebem dos amigos. Este item merece destaque, pois, as relações existentes entre amigos constituem assim, ferramenta favorável ao bem estar dos indivíduos e a qualidade de vida. Com relação à vida sexual a maioria encontra-se muito satisfeita o que é um fator positivo, pois o sexo é um termômetro da saúde física e emocional do ser humano.
No domínio do meio ambiente, há dois índices que merecem destaque, em relação aos cuidados de saúde e sociais, e transporte, a maioria das mulheres considera-se satisfeitas, principalmente na disponibilidade e qualidade dos serviços de saúde. Também estão muito satisfeitas em relação ao ambiente no lar e físico que consideram bastante saudável para realizar os afazeres cotidianos, estando bastante seguras e protegidas. Quanto aos recursos financeiros a grande maioria optou pela proposição “médio”, no que se referia a atender as necessidades.
Sabemos que esses domínios e visões sobre a vida, são de suma importância para implicação de qualidade de vida e saúde, pois dependendo da forma que são conduzidos, podem equilibrar ou desequilibrar todo o contexto de bem estar ao indivíduo.
Por meio da análise dos quatro domínios, pode-se dizer que de forma geral as mulheres portadoras de câncer de mama e ginecológico possuem uma qualidade de vida considerada boa.
O presente estudo permitiu verificar que, as mulheres estudadas, portadoras de doença com tratamento continuado, estão satisfeitas com a disponibilidade e qualidade dos serviços de saúde. Que apesar de sentirem dor e desconforto, dependem muito pouco de medicação.
Outro ponto muito importante que percebi neste estudo, foi em relação à espiritualidade. Em todas as mulheres entrevistadas percebemos muito presente a fé em Deus. Que buscam na crença religiosa o caminho e esperança para a cura. Também o apoio da família e amigos ficou muito evidente, contribuindo para a melhora do estado de saúde destas mulheres, pois, sabe-se que as pessoas que enfrentam uma doença grave como o câncer necessitam ter assegurado o amor e o suporte emocional daqueles que estão próximos, no sentido de manter o equilíbrio necessário para enfrentar a doença.
A realização deste estudo tornou-se importante para a pesquisadora, pois por ser profissional da área de saúde, pode participar e vivenciar os dados obtidos com a pesquisa. Importante destacar que este estudo propiciou a constatação de que os serviços de saúde oferecidos para este segmento da população estão disponíveis e considerados de qualidade, gerando satisfação e contribuindo no que diz respeito à qualidade de vida dessas mulheres. Esses dados ficarão disponíveis e irão contribuir para a área da saúde do município, como fonte de dados para evidenciar o nível de qualidade de vida das mulheres portadoras de câncer.
Referências
FLECK, Marcelo Pio de Almeida et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida “WHOQOL-bref”. Revista de Saúde Pública, [S.l.], v.34, n.2, p.178-183, 2000.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1999.
GUERRA, Maximiliano Ribeiro, GALLO, Claudia Vitória de Moura, MENDONÇA, Gulnar Azevedo e Silva. Risco de câncer no Brasil: tendências e estudos epidemiológicos mais recentes. Revista Brasileira de Cancerologia, Editorial INCA, vol.51, n.3, p.228, 2005.
HALBE, HW.; SAKAMOTO, LC. Câncer do Corpo do Útero: Quadro Clínico, Diagnóstico e Estadiamento. In: Halbe HW. Tratado de ginecologia. 3a ed. Vol. 3. São Paulo: Editora Roca Ltda; 2000. p. 2222-6.
INCA - INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Estimativa 2006: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2005. [Links]
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec-ABRASCO, 1994.
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