Prevalência de excesso de peso corporal em jovens: revisão da literatura nacional e internacional Predominancia de exceso de peso corporal en jóvenes: revisión de la literatura nacional e internacional |
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*Curso de Especialização em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR **Programa de pós-graduação em Educação Física da Universidade Federal do Paraná, UFPR, Curitiba, PR **Instituto Federal do Paraná, Foz do Iguaçu, PR (Brasil) |
Maicon de Siqueira Bontorin* Valter Cordeiro Barbosa Filho** Rosimeide Francisco Santos Legnani** Érico Felden Pereira** Elto Legnani** *** |
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Resumo O presente estudo realizou uma revisão da literatura brasileira e internacional sobre os estudos de prevalência de excesso de peso corporal em jovens, publicados entre os anos de 2000 e 2009. Foram incluídos nesta revisão dezessete estudos internacionais e dezoito estudos nacionais sobre a prevalência de excesso de peso corporal em crianças e adolescentes. Os estudos internacionais evidenciaram a tendência secular de aumento do excesso de peso corporal entre os jovens de diferentes países. Nos estudos nacionais foram encontradas prevalências de excesso de peso corporal variando entre 9,9 e 38,9%, sendo semelhante e, para alguns estudos, superior a diagnosticada em países desenvolvidos. Fatores sociodemográficos como nível socioeconômico, sexo, idade e tipo de escola foram associados com o excesso de peso corporal, entretanto, houve diferenças entre os países. Em conclusão, evidenciou-se que o excesso de peso corporal está cada vez mais presente na população jovem mundial, o que estimula a realização de programas de combate e prevenção ao sobrepeso e à obesidade na juventude. Unitermos: Excesso corporal. Jovens. Estúdios.
Abstract This study realized a review of Brazilian and international literature concerning the studies of overweight prevalence in young, published between the years 2000 and 2009. This review included seventeen international and eighteen national studies concerning the overweight prevalence in children and adolescents. The international studies evidenced the secular trends of increase in overweight among young people from different countries. The Brazilian studies showed prevalence of overweight ranging between 9.9 and 38.9%, being similar or sometimes higher than the identified in developed countries. Sociodemographic factors such as socioeconomic status, gender, age and school type were associated with overweight, however, there were differences between countries. In conclusion, it was found that overweight is increasingly in the global youth population, which stimulates the development of programs to combat and prevent overweight and obesity in youth. Keywords: Overweight. Young. Studies.
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http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O sobrepeso e a obesidade, apresentados na literatura como excesso de peso corporal, estão cada vez mais presentes na sociedade contemporânea. As previsões atuais que 1,6 bilhões de pessoas apresentam este desfecho (FORD; MOKDAD, 2008), sendo considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como sério problema de saúde pública do século XXI (OMS, 2000).
O excesso de peso corporal é um sério fator de risco à saúde por estar relacionado com outros problemas físico-metabólicos da população (KOHN et al., 2006; KATZMARZYK et al., 2003). Hipertensão, diabetes tipo II, problemas osteomusculares, câncer, aterosclerose e outras doenças crônico-degenerativas estão direta ou indiretamente associados com a presença de sobrepeso ou obesidade, seja em indivíduos jovens, adultos, ou idosos (OMS, 2007).
Neste contexto, o excesso de peso corporal é considerado responsável por diversas causas de morte na população mundial (BENDER et al., 2006). Nos países europeus, o índice de massa corporal (IMC) elevado, um importante indicador de sobrepeso e obesidade, está relacionado com mais de um milhão de mortes todos os anos (OMS, 2007). Além disso, os problemas relacionados com o excesso de peso corporal custam mais de 129 bilhões de dólares por ano aos sistemas públicos de saúde dos Estados Unidos (DANIELS et al., 2009). Outro problema relacionado ao excesso de peso corporal que preocupa os profissionais de saúde é o fato de que este desfecho, quando observado na infância ou adolescência, tende a permanecer até a vida adulta e a colaborar para o desenvolvimento de disfunções orgânicas já mencionadas (EISENMANN et al., 2005; JANSSEN et al., 2005b; KATZMARZYK et al., 2001).
Habitualmente, o excesso de peso corporal é ocasionado a partir do balanço energético positivo, ou seja, ingestão maior que o gasto energético total (DANIELS et al., 2009; MARQUES-LOPES et al., 2004). Contudo, fatores bioquímicos, genéticos, psicológicos, fisiológicos e ambientais também têm influência no desenvolvimento do excesso de peso corporal (TERAN-GARCIA; RANKINEN; BOUCHARD, 2008), sendo considerado um desfecho multifatorial (OMS, 2000).
Para caracterizar a presença do excesso de peso corporal entre crianças e adolescentes de diferentes regiões, bem como apresentar os principais fatores sociodemográficas relacionados a este desfecho, o presente estudo objetivou realizar uma revisão da literatura brasileira e internacional sobre os estudos de prevalência de excesso de peso corporal em jovens. Além disso, os resultados desta revisão foram comparados com outros estudos sobre o excesso de peso corporal em crianças e adolescentes.
Prevalência internacional de excesso de peso corporal
Visando a caracterização da prevalência de excesso de peso corporal em crianças e adolescentes de diferentes países, foi realizada uma revisão dos principais estudos sobre esta temática, publicados entre 2000 e 2009. O detalhamento destes estudos pode ser verificado na Tabela 1. Foram apresentados 17 estudos internacionais de prevalência de excesso de peso corporal em crianças e adolescentes. Estas investigações foram realizadas em países desenvolvidos, como a Alemanha (KLEISER et al., 2009), Canadá (JANSSEN et al., 2004) e Estados Unidos (MIECH et al., 2006), e em países com menor nível socioeconômico, como o Paquistão (WARRAICH et al., 2009), Equador (YEPEZ; CARRASCO; BALDEÓN, 2008) e Colômbia (MCDONALD et al., 2009).
Tabela 1. Estudos de prevalência de excesso de peso corporal em crianças e adolescentes, publicados entre 2000 e 2009
Autores |
Região/País |
Amostra |
Critério IMC |
Prevalência de EP |
Principais achados |
Kleiser et al. (2009) |
Estudo nacional/ Alemanha |
13.450 jovens de 3 a 17 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
Entre 8,6 e 40,7%, variando com os determinantes do EP |
O sobrepeso nos pais e o baixa classe econômica foram determinantes do EP |
Booth et al. (2007) |
Estudo nacional/ Austrália |
5.402 escolares de 5 a 15 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
Entre 19,0 e 24,8% no sexo feminino e entre 25,7 e 26,1% no masculino |
EP aumentou significativamente entre 1985 e 1997 e sobrepeso entre 1997 e 2004 |
Janssen et al. (2004) |
Estudo nacional/ Canadá |
5.890 escolares de 11 a 16 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
19,6% da amostra total |
Houve associação inversa da atividade física com o EP |
Miech et al. (2006) |
Estudo nacional/ Estados Unidos |
4.748 jovens de 12 a 17 anos de idade |
CDC (2000) |
Entre 14,4 e 23,3%, variando de acordo com o nível econômico e idade |
Aumentou significativo do EP desde 1971 |
Vuorela, Saha e Salo (2009) |
4 regiões da Finlândia |
4.013 jovens de 5 a 12 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
Entre 9,8 e 17,7% aos 5 anos de idade, e 19,1 e 23,3% aos 12 anos |
Aumento da prevalência de EP em relação ao ano de 1986, sendo maior na zona rural |
Whelton et al. (2007) |
Estudo nacional/ Irlanda e Irlanda do Norte |
19.617 escolares de 4 a 16 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
23 e 28,0% no sexo masculino e feminino, respectivamente |
Prevalência de EP semelhante entre os países |
Jebb, Rennie e Cole (2003) |
Estudo de base populacional / Reino Unido |
1.836 jovens de 4 a 18 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
19,4% da amostra total |
Maior prevalência de EP na classe econômica mais alta e na Escócia |
Kim et al. (2006) |
Estudo nacional/ República da Coréia |
2.272 jovens de 10 a 18 anos de idade |
CDC (2000) |
11,4% da amostra total |
Em 1998, a prevalência de EP foi de 5,4% |
Vignerová et al. (2008) |
Estudo nacional/ República Tcheca |
41.737 jovens de 3 a 18 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
Entre 6,0 e 13,9%, variando com a idade |
Prevalência de EP menor quando utilizado o critério nacional |
Pedrozo et al. (2008) |
Posadas/ Argentina |
532 jovens de 11 a 20 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
14,1% da amostra total |
O IMC apresentou correlações significativas com os componentes da síndrome metabólica. |
Bener e Kamal (2005) |
Estudo nacional/ Catar |
7.442 escolares de 6 a 18 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
30,4 e 22,3% no sexo masculino e feminino, respectivamente |
EP maior que desnutrição na maioria das idades, independente do critério do IMC |
Mcdonald et al. (2009) |
Bogotá/ Colômbia |
3.075 escolares de 5 a 12 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
11,1% da amostra total |
Amostra das crianças de classe econômica baixa e média |
Núñez-Rivas et al. (2003) |
34 escolas de diversas regiões da Costa Rica |
1.718 escolares de 7 a 12 anos de idade |
Must et al. (1991) |
34,5% da amostra total |
Prevalência de EP maior em meninas, faixa etária de 7-9 anos de idade e na zona urbana |
Yepez, Carrasco e Baldeón (2008) |
Estudo nacional/ Equador |
2.829 escolares de 12 a 19 anos de idade. |
Percentil > 85 da amostra nacional |
21,2% da amostra total |
Prevalência de EP maior nas escolas privadas |
Groeneveld, Solomons e Doak (2007) |
Quetzaltenango/ Guatemala |
583 crianças de 8 a 10 anos de idade |
CDC (2000) |
Entre 4,6 e 17,1%, variando entre as classes econômicas |
Alta prevalência de desnutrição e EP |
Funke, 2008 |
Osun/ Nigéria |
401 jovens de 10 a 19 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
1,1 e 3,7% no sexo masculino e feminino, respectivamente |
Desnutrição mais presente no sexo masculino e EP no sexo feminino |
Warraich et al. (2009) |
Karachi/ Paquistão |
284 escolares de 11 a 17 anos de idade |
Critério asiático modificado |
14,0% da amostra total |
Prevalência de desnutrição de 51,8% da amostra, e EP mais presente na classe econômica mais alta |
EP = excesso de peso corporal corporal; IMC = índice de massa corporal; CDC = Center for Disease Control and Prevention.
Os estudos de diagnóstico do excesso de peso corporal apresentados na Tabela 1 confirmam os indícios da OMS de que o sobrepeso e a obesidade podem ser considerados como um problema mundial (OMS, 2007). Este desfecho está presente em crianças e adolescentes de países desenvolvidos e em desenvolvimento, no sexo masculino e feminino, assim como em pobres e ricos (KLEISER et al., 2009; GROSS et al., 2009; MIECH et al., 2006). Contudo, a proporção do excesso de peso corporal em crianças e adolescentes é variada entre os países.
Na Europa, as perspectivas regionais estimam que este continente alcance 15 milhões de crianças obesas até 2010 (OMS, 2007). Entretanto, nos Estados Unidos, estima-se que 34,6% das crianças americanas apresentam excesso de peso corporal, o que já representa 17 milhões desta população (TUDOR-LUCKE et al., 2007). As estimativas na Argentina, em 2001, apresentavam que 2,5 milhões das crianças e adolescentes de 2 a 19 anos de idade apresentavam excesso de peso corporal (O'DONNELL et al., 2004).
Uma revisão sistemática (JANSSEN et al., 2005) incluindo 137.593 adolescentes de 34 países, verificou maiores prevalências de sobrepeso e obesidade em Malta (25,4 e 7,9%) e nos Estados Unidos (25,1 e 6,8%), enquanto os países com menores prevalências destes desfechos foram Lituânia (5,1 e 0,4%) e República da Látvia (5,9 e 0,5%). Entretanto, na presente revisão, houve estudos que tiveram prevalências superiores às verificadas na revisão supramencionada (WHELTON et al., 2007; BENER; KAMAL, 2005; NÚÑEZ-RIVAS et al., 2003).
Diversos estudos apresentaram uma tendência secular de aumento do excesso de peso corporal em jovens. Na Escócia, 15,9% dos adolescentes apresentavam excesso de peso corporal em 2006, sendo aproximadamente 2,5 vezes maior que a prevalência desse desfecho (6,7%) no final da década de 1980 (SWEETING; WEST; YOUNG, 2008). Na Itália, o estudo com 52.300 famílias realizado nos anos de 1999 e 2000 verificou aumento do excesso de peso corporal e de outras doenças neste país em apenas um ano (CALZA; DECARLI; FERRARONI, 2008).
O Chile também passou por uma transição nutricional em apenas quarenta anos (1960-2001), reduzindo a proporção de desnutrição em crianças de 37,0 para 2,9%, enquanto a prevalência de obesidade aumentou 20% nas crianças desse país (BAMBS et al., 2008). Mesmo em países como Israel, a obesidade em adolescentes tem aumentado nas últimas décadas, passando de 1,2 para 3.8% entre os anos de 1967 e 2003 (GROSS et al., 2009). Alguns estudos apresentados na Tabela 1 também verificaram que países como a Austrália (BOOTH et al., 2007), República da Coréia (KIM et al., 2006), Estados Unidos (MIECH et al., 2006) e Finlândia (VOURELA; SAHA; SALO, 2009) apresentaram uma tendência secular no aumento do excesso de peso corporal em crianças e adolescentes.
Os estudos apresentados nesta revisão demonstraram que fatores sociais, culturais e demográficos estão associados com o desenvolvimento do excesso de peso corporal em jovens. Entretanto, há diferenças entre os países. Enquanto os estudos realizados no Paquistão, Reino Unido e Equador verificaram maior prevalência de excesso de peso corporal nos jovens de classes econômicas mais elevadas (WARRAICH et al., 2009; YEPEZ; CARRASCO; CALDEÓN, 2008; JEBB; RENNIE; COLE, 2003), o estudo realizado na Alemanha apresentou uma relação inversa, sendo maior nas classes econômicas mais baixas (KLEISER et al., 2009).
Vale destacar que alguns estudos desta revisão indicaram que a obesidade também está relacionada com outros fatores de risco à saúde. Kim et al. (2006) verificaram que obesos têm quatro vezes mais chances de ter hipertensão ou triglicerídeos elevados, até nove vezes mais chances de ter o colesterol LDL elevado, e até quatro vezes mais chances de ter o colesterol HDL baixo, comparados aos pares de adolescentes com peso normal. Além disso, aproximadamente 60% das crianças obesas apresentam pelo menos um fator de risco cardiovascular elevado. A presença destes fatores também foi elevada em adolescentes da Argentina, onde 44,7% dos adolescentes com excesso de peso corporal apresentavam algum componente da síndrome metabólica (PEDROZO et al., 2008). Diante disso, ressalta-se que a obesidade está associada com outros problemas metabólicos que podem trazer sérias complicações metabólicas para indivíduos ainda na juventude (JONHSON et al., 2009).
Prevalência nacional de excesso de peso corporal
O Brasil não é uma exceção na tendência mundial de aumento do excesso de peso corporal na população jovem. O excesso de peso corporal também se encontra em diversos contextos sociodemográficos, idade, sexo e classes socioeconômicas (MONTEIRO et al., 2009; MONTEIRO; CONDE; POPKIN, 2004). Visando caracterizar a prevalência de excesso de peso corporal no Brasil, alguns estudos realizados em diferentes municípios ou estados brasileiros, publicados entre 2000 e 2009, foram apresentados na Tabela 2. Os dados destes estudos foram comparados com outras publicações que caracterizam a prevalência de excesso de peso corporal em diferentes regiões e com os resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada entre os anos de 2002 e 2003 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006), por ser o estudo nacional atual que melhor representa a população brasileira de crianças e adolescentes.
Foram incluídos nesta revisão 18 estudos brasileiros, os quais foram realizados em diferentes regiões do país: um estudo no Norte (RIBAS; SILVA, 2009), sete no Nordeste (SOUZA LEÃO et al., 2003; CAMPOS; LEITE; ALMEIDA, 2007; PEREIRA; LIMA; MARTINS, 2004; SILVA et al., 2009; FARIAS JÚNIOR; SILVA, 2008; SILVA; BALABAN; MOTA, 2005; BRASIL; FISBERG; MARANHÃO, 2007), um no Centro-Oeste (GUIMARÃES, 2001), quatro no Sudeste (NOVAES, 2007; ANJOS et al., 2003; FREITAS JÚNIOR et al., 2008; COSTA, CINTRA; FISBERG, 2006) e cinco no Sul (GUEDES et al., 2006; OLIVEIRA, 2008; GARLLIP et al., 2005; VIEIRA et al., 2008; FARIAS JÚNIOR; LOPES, 2003).
Tabela 2. Estudos de prevalência de excesso de peso corporal em jovens brasileiros, publicados entre 2000 e 2009
Autores |
Cidade/Estado |
Amostra |
Critério IMC |
Prevalência de EP |
Observações |
Novaes, 2007 |
Viçosa/ Minas Gerais |
769 escolares de 6 a 10 anos de idade |
CDC (2000) |
9,9% da amostra total |
Crianças com mães obesas, que assistem mais que 3 horas de TV e que não realizam educação física escolar apresentaram maiores prevalências de EP |
Guedes et al. (2006) |
Apucarana/ Paraná |
4.319 escolares de 7 a 18 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
30,6 e 26,0% no sexo feminino e masculino, respectivamente |
Maior prevalência de EP nos escolares mais velhos e na classe econômica mais alta |
Oliveira (2008) |
Maringá/ Paraná |
4.753 escolares de 6 a 10 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
35,6% da amostra total |
Maior prevalência de EP no sexo masculino e classe econômica mais alta |
Anjos et al. (2003) |
Rio de Janeiro/ Rio de Janeiro |
1.705 escolares de 4 a 17 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
23,7 e 18,9% no sexo feminino e masculino, respectivamente |
Amostra de alunos da rede pública de ensino da cidade |
Garlipp et al. (2005) |
Rio Grande do Sul |
6.794 jovens de 7 a 14 anos de idade |
Sichieri e Allam (1996) |
18,9 e 18,3% no sexo masculino e feminino, respectivamente |
Prevalência de baixo peso maior no sexo masculino |
Vieira et al. (2008) |
Pelotas/ Rio Grande do Sul |
20.084 escolares de 7 a 11 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
38,9% da amostra total |
Maior prevalência de EP nas escolas particulares |
Farias Júnior e Lopes (2003) |
Florianópolis/ Santa Catarina |
1.832 escolares de 15 a 18 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
11,4% da amostra total |
Maior prevalência de EP no sexo masculino |
Freitas Júnior et al. (2008) |
Presidente Prudente/ São Paulo |
1.327 jovens de 7 a 19 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
Entre 9,1 e 46,9%, variando entre sexos e idades |
Amostra com padrão de crescimento comparável ao de países desenvolvidos. |
Costa, Cintra e Fisberg (2006) |
Santos/ São Paulo |
10.822 escolares de 7 a 10 anos de idade |
CDC (2000) |
33,7% da amostra total |
Obesidade mais presente que sobrepeso, sendo maior nas escolas privadas |
Souza Leão et al. (2003) |
Salvador/ Bahia |
387 escolares de 5 a 10 anos de idade |
Anjos et al.(1998) |
15,8% da amostra total |
Maior prevalência de EP nas escolas particulares e de nível econômico mais baixo |
Campos, Leite e Almeida (2007) |
Fortaleza/ Ceará |
1.158 escolares de 10 a 19 anos de idade |
Must et al. (1991) |
19,5% da amostra total |
Maior prevalência de EP nas escolas privadas e em adolescentes de 10-14 anos de idade |
Pereira, Lima e Martins (2004) |
Fortaleza/ Ceará |
2.385 escolares de 7 a 14 anos de idade |
CDC (2002) |
11,7% da amostra total |
Amostra composta por alunos de escolas públicas |
Guimarães (2001) |
Cuiabá/ Mato Grosso |
1.256 escolares de 6 a 11 anos de idade |
Must et al. (1991) |
14,4% da amostra total |
Maior prevalência de EP em jovens de escolas particulares |
Ribas e Silva (2009) |
Belém/ Pará |
437 jovens de 6 a 19 anos de idade de escolas particulares |
CDC (2000) |
28,8% da amostra total |
36,2% da amostra apresentaram excesso de adiposidade e 49,0% com alguma alteração lipídica |
Silva et al. (2009) |
João Pessoa/ Paraíba |
1.570 escolares de 7 a 12 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
13,3 e 21,4% no sexo masculino e feminino, respectivamente |
Jovens com EP apresentam mais fatores de risco cardiovascular, como a pressão arterial elevada |
Farias Júnior e Silva (2008) |
João Pessoa/ Paraíba |
2.402 escolares de 14 a 18 anos de idade |
Cole et al. (2000) |
10,0% da amostra total |
Maior prevalência de EP no sexo masculino de classe econômica mais alta, e no feminino com pais de maior escolaridade |
Silva, Balaban e Mota (2005) |
Recife/ Pernambuco |
1.616 escolares de 2 a 19 anos de idade |
CDC (2000) |
22,8% da amostra total |
Maior prevalência de EP nos escolares mais novos e nas classes econômicas mais altas |
Brasil, Fisberg e Maranhão (2007) |
Natal/ Rio Grande do Norte |
1.927 escolares de 6 a 11 anos de idade |
CDC (2002) |
33,6% da amostra total |
Nas escolas privadas, a prevalência de EP chegou a 54,5% |
EP = excesso de peso corporal; IMC = índice de massa corporal; CDC = Center for Disease Control and Prevention.
Inicialmente, é importante ressaltar os critérios de classificação do estado nutricional que foram utilizados nos estudos nacionais e internacionais. Percebeu-se que o critério recomendado pela International Obesity Task Force (IOTF – COLE et al., 2000) foi o mais utilizado na literatura nacional e internacional para identificar o excesso de peso corporal, tendo sido o critério de referência em 19 dos 33 estudos. Isso pode ser explicado por este critério de referência ter sido desenvolvido com base em dados de seis diferentes países (Brasil, Reino Unido, Holanda, Singapura, Hong Kong e Estados Unidos). Outro critério bastante utilizado para identificação do excesso de peso corporal em crianças e adolescentes foi desenvolvido pelo Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos (CDC, 2000), sendo utilizado em 9 estudos.
Quanto aos estudos realizados no Brasil, verificou-se que este país também passa por uma transição nutricional, caracterizada pela diminuição dos casos de desnutrição, principalmente nos grandes centros urbanos, e pelo aumento do excesso de peso corporal (MONTEIRO; CONDE; POPKIN, 2004; BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). Diante disso, esta doença se tornou um dos principais problemas de saúde pública neste país (WANG; MONTEIRO; POPKIN, 2002).
No Brasil, percebe-se o aumento nos valores do IMC de crianças e adolescentes com o passar dos anos (BERGMANN et al., 2009). Segundo a POF (2002-2003), em menos de três décadas (1975-2003), a prevalência de excesso de peso corporal no sexo masculino aumentou de 3,9 para 18,0%, enquanto que no sexo feminino passou de 7,5 para 15,4% (IBGE, 2006).
Araújo et al. (2007) revisaram os estudos de prevalência de excesso de peso corporal em adolescentes brasileiros de 10 a 19 anos de idade, realizados em cidades de diferentes contextos demográficos e socioeconômicos, entre os anos de 2000 e 2007. Foram analisados 21 estudos, sendo a maioria realizada nas regiões Sul e Sudeste do país (66,7%). A prevalência de excesso de peso corporal oscilou de 4 a 31%, onde mais de 60% dos estudos apresentaram prevalência deste desfecho superior a 15 pontos percentuais. Entretanto, nos estudos apresentados na Tabela 2, foram verificadas prevalências de excesso de peso corporal entre 9,9 (NOVAES, 2007) e 38,9% (VIEIRA et al., 2008), o que sugere que este desfecho ainda aumenta na população brasileira.
Em relação às diferenças regionais, o estudo de Pelegrini et al. (2008) analisou o excesso de peso corporal em 36.976 escolares de 10 a 15 anos, participantes de um projeto nacional que desenvolve práticas esportivas (Projeto Esporte Brasil). O estudo verificou prevalência de excesso de peso corporal em 14,5% dos adolescentes, sendo a obesidade significativamente maior nas regiões Sul e Sudeste. Na POF (2002-2003) também foi verificada prevalência de excesso de peso corporal maior na região Sul e Sudeste, em relação às regiões Norte e Nordeste do país (IBGE, 2006). Além disso, os estudos apresentados na Tabela 2 também seguem esta tendência de maior prevalência de excesso de peso corporal nas regiões mais ricas do Brasil. Por exemplo, o estudo realizado no município de Pelotas (Rio Grande do Sul) verificou o excesso de peso corporal em dois para cada cinco adolescentes (VIEIRA et al., 2008). No entanto, o estudo realizado na cidade de Natal (Rio Grande do Norte) verificou proporção de excesso de peso corporal (33,6%) semelhante à do estudo supramencionado (BRASI; FISBERG; MARANHÃO, 2007). Não obstante, outros estudos realizados nos municípios de Fortaleza (Ceará) e Recife (Pernambuco) verificaram prevalências de excesso de peso corporal de um para cada cinco adolescentes, sendo semelhante, ou até mesmo superior, ao verificado em outros municípios da região mais rica do país.
Na análise de fatores sociodemográficos (sexo, idade e condição socioeconômica), os estudos apresentados na literatura também verificam diferenças entre os grupos sociodemográficos nas prevalências de excesso de peso corporal (FARIAS JÚNIOR; SILVA, 2008; GUIMARÁES, 2001). Em relação ao sexo, a POF (2002-2003) apresentou prevalência de excesso de peso corporal maior no sexo masculino (17,9%) em relação ao feminino (15,4%). Este padrão também foi verificado em outros estudos (FARIAS JÚNIOR; SILVA, 2008; OLIVEIRA, 2008; FARIAS JÚNIOR; LOPES, 2003). No entanto, alguns estudos verificaram maior prevalência deste desfecho em adolescentes do sexo feminino (FREITAS JÚNIOR et al., 2008; PELEGRINI et al., 2008).
Quando analisadas as prevalências de excesso de peso corporal em diferentes condições socioeconômicas, a POF (2002-2003) verificou maior presença deste desfecho nas classes econômicas mais altas e nos adolescentes de mães com maior nível de escolaridade (IBGE, 2006). Na literatura nacional, verifica-se que muitos estudos também identificaram o excesso de peso corporal superior nas classes econômicas mais altas (OLIVEIRA, 2008; SILVA; BALABAN; MOTA, 2005). Ainda assim, outros estudos indicam tendências regionais diferentes, onde o excesso de peso corporal está mais presente nas classes econômicas mais baixas (FREITAS JÚNIOR et al., 2008; FARIAS JÚNIOR; LOPES, 2003).
Outra característica sociodemográfica da prevalência de excesso de peso corporal em adolescentes é a maior presença deste desfecho em escolas particulares (VIEIRA et al., 2008; CAMPOS; LEITE; ALMEIDA, 2007; BRASIL; FISBERG; MARANHÃO, 2007; COSTA; CINTRA; FISBERG, 2006; GUIMARÃES, 2001). Este fato pode estar relacionado aos fatores de risco para a obesidade que estão mais presentes em escolas particulares, como a renda de alimentos pouco nutritivos nas cantinas e a falta de estímulos para a prática de atividade física (BARBOSA FILHO et al., 2007). Nenhum estudo desta revisão que foi realizado em escolas públicas e particulares identificou a prevalência de excesso de peso corporal superior em jovens de escolas públicas
Em relação às idades, a POF (2002-2003) verificou altas prevalências de excesso de peso corporal nos adolescentes de 10-11 anos (22,0%), diminuindo para 12 a 15% no final da adolescência (IBGE, 2006). Entretanto, os estudos apresentados na Tabela 2 não indicaram padrão na presença deste desfecho com a idade, semelhante ao verificado em outra revisão (ARAÚJO et al., 2007). Em alguns estudos, a presença de sobrepeso e obesidade segue a tendência da POF (2002-2003), com maior proporção de excesso de peso corporal nos adolescentes mais novos (RIBAS; SILVA, 2009; SILVA; BALABAN; MOTA, 2005), enquanto outros estudos verificaram um aumento na proporção de excesso de peso corporal com a idade (CAMPOS; LEITE; ALMEIDA, 2007; GUEDES et al., 2006).
Considerações finais
Os resultados da presente revisão sugerem que o excesso de peso corporal está cada vez mais presente na população internacional. Mesmo em países onde este desfecho não era considerado como problema de saúde pública, como Catar e Paquistão, o sobrepeso e a obesidade têm apresentado atualmente preocupantes proporções entre crianças e adolescentes. Além disso, também foram encontradas prevalências de excesso de peso corporal superiores às evidenciadas em outras revisões internacionais e nacionais, o que sugere que este desfecho ainda aumenta na população jovem.
Os resultados evidenciaram que questões sociodemográficas estão associadas com a presença de excesso de peso corporal entre os jovens. Por exemplo, adolescentes de classes socioeconômicas mais altas e de escolas particulares foram subgrupos com maiores prevalências de excesso de peso corporal. Contudo, é importante ressaltar que estes fatores não seguem o mesmo padrão em todos os países, sugerindo-se que estas diferenças devem ser consideradas no desenvolvimento de políticas de combate ao excesso de peso corporal em jovens.
Por fim, os resultados apresentados na literatura nacional indicam que algumas regiões brasileiras, assim como a população jovem total, apresentam proporções de excesso de peso corporal semelhantes a dos países desenvolvidos. Portanto, estimula-se a realização de programas que promovam hábitos saudáveis, como a alimentação adequada e a prática de atividade física, visando à prevenção e o tratamento deste desfecho, promovendo assim, uma melhoria no estado de saúde da população.
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