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Influências das adaptações neurais no aumento 

de força em membros treinados e não treinados

Influencias de las adaptaciones neuronales en el aumento de la fuerza en miembros entrenados y no entrenados

The influences of the neural adaptations in the force increase in trained and not trained limbs

 

*Graduada em Educação Física e

Pós-graduanda em Musculação e Personal Trainer

Centro Universitário de Patos de Minas - UNIPAM/ Patos de Minas, MG

**Graduado em Educação Física, UFV

Mestre em Promoção da Saúde – UNIFRAN

Coordenador e docente do curso de Educação Física do Centro Universitário

de Patos de Minas - UNIPAM/ Patos de Minas – MG

Priscilla Rosa Queiroz Ribeiro*

priscillarqr@yahoo.com.br

Gilson Caixeta Borges**

gilsoncaixeta@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O treinamento neuromuscular ou exercício contra resistido (ECR) tem demonstrado ser bastante eficaz em promover o ganho de força, tanto em função de adaptações neurais como do aumento da massa muscular ocorridas em resposta ao treinamento. O presente estudo objetivou avaliar o ganho de força de membros inferiores em indivíduos submetidos a treinamento de membros superiores. A amostra foi composta por oito voluntários do sexo masculino, sedentários e sem experiência prévia em ECR, com idade de 22,5 ± 4,4 anos, massa corporal de 71,8 ± 5,2 kg. O protocolo de treinamento foi composto por exercícios de supino, remada, desenvolvimento de ombros e puxada alta à frente. Todos os indivíduos fizeram testes de 1RM dos exercícios acima mencionados acrescentado do leg press, os quais foram seguidos por dez sessões de treinamento resistido com uma carga de 70% de 1 RM, sendo que, posteriormente todos foram reavaliados. Os resultados encontrados demonstraram os seguintes aumentos percentuais: supino 5,9; remada 13,7; desenvolvimento de ombros 10,9; puxada alta à frente 10,0; e leg press 20,9. Concluiu-se no presente estudo que o treinamento de ECR proporcionou aumento de força mesmo em membros não treinados, o que pode indicar influência de adaptações neurais no ganho de força verificado.

          Unitermos: Ganho de força. Adaptação neural. Exercícios contra resistidos.

 

Abstract

          The neuromuscular training or counter resisted exercise (CRE) has demonstrated being very effective in promote the force gain, not only in function of neural adaptations but also in the increase of muscular mass in response to training. The present study aimed at evaluating the force gain of inferior limbs in individuals submitted to superior limb training. The sample was composed by eight male voluntaries who were sedentary and inexperienced in CRE, at the age of 22,5 ± 4,4 years old, corporal mass 71,8 ± 5,2 kg. The training protocol was composed by exercises of supine, rowing, shoulder development and high pulled ahead. All individuals took tests of 1RM of the exercises mentioned above adding leg press, which were followed by ten sessions resisted training with a load of 70% of 1 RM, and, afterwards all of them were reassessed. The results demonstrated the following percentage increases: Supine 5,9; Rowing 13,7; Shoulder development 10,9; High pulled ahead 10,0; and leg press 20,9. It is concluded in the present research with the counter resisted exercise training provided the force increase in trained and not trained limbs, it can to indicate influence of neural adaptations in the verified force gain.

          Keywords: Force gain. Neural adaptation. Counter resisted exercises.

 

Resumen

          El entrenamiento neuromuscular o ejercicios contra resistidos (ECR) demostraron ser bastante eficaces en promover la ganancia de la fuerza, tanto en función de las adaptaciones neuronales ocurridas en respuesta al entrenamiento como del aumento de la masa muscular. El presente estudio tuvo por objetivo evaluar la ganancia de fuerza de miembros inferiores en individuos sometidos a entrenamiento de miembros superiores. La muestra estuvo compuesta por ocho voluntarios del sexo masculino, sedentarios y sin experiencia previa en ECR, con edad de 22,5 ± 4,4 años, y masa corporal de 71,8 ± 5,2 Kg. El protocolo de entrenamiento estuvo conformado por ejercicios de músculo supino, remada, desarrollo de hombros y empuje alto hacia adelante. Todos los individuos hicieron el test de 1 RM de los ejercicios arriba mencionados sumados del leg press, los cuales fueran seguidos por diez sesiones de entrenamiento resistido con una carga de 70% de 1 RM; además, posteriormente todos fueron re-evaluados. Los resultados demostraron los siguientes aumentos en porcentaje: supino 5,9; remada 13,7; desarrollo de hombros 10,9; empuje alto hacia adelante 10,0; e leg press 20,9. Se concluyó que el entrenamiento de ECR proporcionó aumento de fuerza también en miembros no entrenados, lo que puede indicar influencia de adaptaciones neuronales en la ganancia de la fuerza confirmada.

          Palabras clave: Ganancia de fuerza. Adaptación neuronal. Ejercicios contra resistidos.

 

Artigo apresentado no formato de pôster no V Congresso Mineiro de Ciências da Saúde do Centro Universitário de Patos de Minas em novembro de 2009.

 

 
http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O sistema neural é considerado por excelência como o responsável por coordenar e controlar o funcionamento de todos os outros sistemas do corpo. A integração do ser humano com o meio assim como as suas funções orgânicas são dependentes do funcionamento desse sistema. O controle e coordenação das diversas funções corporais pelo sistema neural se dão através da recepção de estímulos vindos do meio externo ou das partes periféricas do organismo, da integração desses mesmos estímulos e da subsequente elaboração e transporte de respostas aos estímulos recebidos (GUYTON, 1988).

    Assim como todos os sistemas corporais, o sistema muscular esquelético tem seu funcionamento coordenado por sua interação com o sistema neural. A comunicação entre os terminais axônicos do neurônio e a membrana da fibra muscular esquelética recebe o nome de placa motora ou junção neuromuscular. As células musculares esqueléticas assim como os neurônios também são capazes de transmitir impulsos neurais. Assim, o sistema neural somático, o qual os impulsos neurais terminam em fibras musculares esqueléticas, através dos potenciais de ação que se propagam ao longo dos neurônios motores ocasionam a liberação do neurotransmissor acetilcolina na placa motora, o que gera um potencial de ação na fibra muscular esquelética e ocasiona a contração muscular.

    O neurônio motor e todas as fibras musculares esqueléticas inervadas por ele recebem o nome de unidade motora. Segundo McArdle, Katch e Katch (2008) “a unidade motora constitui a unidade funcional do movimento”. As unidades motoras seguem o princípio do tudo ou nada, isso quer dizer que o impulso neural tem que ser vigoroso o suficiente para atingir o limiar de excitação do motoreurônio promovendo a contração de todas as fibras musculares inervadas pelo neurônio motor simultaneamente, caso não atinja o limiar, nenhuma fibra muscular se contrairá. Quanto maior for o número de unidades motoras recrutadas em um músculo maior será a força gerada por ele.

    Devido às interações existentes entre os sistemas neural e muscular esquelético o treinamento deste último através de exercícios contra resistidos (ECR) envolve a ocorrência de adaptações tanto em seus componentes, bem como em componentes do sistema neural, e por isso, pode ser denominado treinamento neuromuscular. O controle da quantidade de unidades motoras recrutadas e da freqüência de disparo destas é de controle intrínseco do sistema neural. Entretanto, as adaptações deste mecanismo de controle sofrem influência dos estímulos produzidos pelo treinamento de força. A habilidade do sistema neural em recrutar sincronicamente as unidades motoras para produzir força tem demonstrado ser um fator importante (WILMORE e COSTILL, 2001). O drive neural, que está relacionado ao nível de intensidade com que os centros de controle motor estimulam o grupamento muscular para produzir força, também tem influência na produção de força (HICKSON; HIDAKA e FOSTER, 1994).

    O treinamento de força conduz a adaptações neurais e estruturais no sistema neuromuscular (FLECK; KRAEMER e EVANS, 1996). Segundo Wilmore e Costill (2001) o treinamento de força promove várias alterações no sistema neural que potencializam o aumento de força muscular. Há aumento no recrutamento de unidades motoras, inibição da atividade dos órgãos tendinosos de golgi com redução da inibição autogênica e menor co-ativação da musculatura antagonista.

    Sendo assim, o treinamento de ECR é na verdade treinamento neuromuscular, isto é, o sistema neural como o sistema muscular são treinados e estimulados a produzirem alterações positivas, capacitando este sistema a otimizar a produção de força. As pesquisas científicas demonstram que nas fases iniciais do treinamento de ECR, os aumentos em força são devidos quase que exclusivamente às adaptações neurais, e a hipertrofia tem pouca contribuição neste processo.

    O presente estudo objetivou investigar o aumento de força muscular de membros inferiores de indivíduos sedentários e sem experiência prévia em ECR submetidos a treinamento de exercícios contra resistidos de membros superiores.

2.     Metodologia

2.1.     Amostra

    A amostra foi composta por oito voluntários do sexo masculino, sedentários e sem experiência prévia em ECR, com idade de 22,5 ± 4,4 anos, massa corporal de 71,8 ± 5,2. Foram considerados sedentários os sujeitos com prática de atividade física com duração inferior a 2 horas por semana. Os voluntários foram informados pelos pesquisadores sobre a natureza da pesquisa bem como sobre os prováveis benefícios e possíveis riscos associados e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido de acordo com a resolução do Conselho Nacional de Saúde (196/96). A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM, Protocolo n° 33/09.

2.2.     Procedimentos de coleta de dados

    O procedimento de coleta de dados foi dividido em três fases. Na primeira fase todos os voluntários foram submetidos ao teste de força máxima (1RM) nos aparelhos supino reto com barra livre, remada articulada, desenvolvimento de ombros articulado sentado, puxada alta à frente no pulley, e leg press 45º. Os voluntários tiveram até 5 tentativas para conseguir determinar a 1RM, com intervalo de 3 minutos entre as tentativas e 3 minutos entre os exercícios, caso não conseguisse o teste era marcado para outro dia não consecutivo. Foram realizados no máximo três testes de 1RM a cada dia obedecendo sempre a ordem de exercícios acima descrita, seguindo o protocolo adaptado por Moura, Almeida e Sampedro (1997).

    Na segunda fase todos foram submetidos ao protocolo de treinamento com duração de dez sessões, sendo realizadas 3 sessões semanais em dias não consecutivos. As sessões de treinamento foram compostas dos seguintes exercícios e na seguinte ordem: supino reto com barra livre, remada articulada, desenvolvimento de ombros articulado sentado e puxada alta à frente no pulley. Todos os exercícios foram executados em três séries a 70% de 1RM até a exaustão, com intervalo de descanso de 1 minuto e 30 segundos entre as séries e 3 minutos de intervalo entre os exercícios. Antes do treinamento propriamente dito foi realizado aquecimento específico com 10 repetições a 40% de 1RM. Os treinamentos foram realizados no período da manhã sempre no mesmo horário por todos os sujeitos.

    Na terceira e última fase, os indivíduos foram submetidos a uma avaliação final de força máxima através de nova realização dos testes de 1 RM seguindo o mesmo padrão e procedimentos do primeiro teste.

    Tanto durante a realização dos testes de 1 RM bem como durante o treinamento os exercícios foram realizados da seguinte forma:

  • Supino reto com barra livre - Posição inicial: Em decúbito dorsal no banco com os pés apoiados no mesmo. Pegada na barra a uma distância superior a largura dos ombros, extensão completa dos cotovelos. Execução: Na fase excêntrica do exercício abdução horizontal dos ombros até que os braços fiquem paralelos ao solo e flexão de 90º dos cotovelos. Na fase concêntrica adução horizontal dos ombros e extensão completa dos cotovelos retornando a posição inicial.

  • Remada articulada – Posição inicial: Sentado com os pés apoiados no solo e peito encostado no apoio, cotovelos estendidos e pegada em posição neutra. Execução: Na fase concêntrica do exercício, extensão dos ombros e flexão dos cotovelos até que este ultrapasse o plano do tronco. Na fase excêntrica flexão dos ombros e extensão completa dos cotovelos, retornando a posição inicial.

  • Desenvolvimento de ombros articulado sentado – Posição inicial: Sentado com os pés apoiados no solo com flexão dos joelhos a 90º, braços elevados com extensão dos cotovelos e articulações radioulnares pronadas. Execução: Na fase excêntrica adução dos ombros até que os braços se encontrem paralelos ao solo e flexão do cotovelo até 90º. Na fase concêntrica abdução dos ombros e extensão completa dos cotovelos retornando a posição inicial.

  • Puxada alta à frente no pulley – Posição inicial: Sentado com os pés apoiados no solo e joelhos fixados no apoio, tronco levemente inclinado posteriormente, braços elevados com cotovelos estendidos, articulações radioulnares pronadas e afastamento das mãos maior que a largura dos ombros. Execução: Na fase concêntrica adução dos ombros e flexão dos cotovelos trazendo a barra até o peito. Na fase excêntrica abdução dos ombros e extensão completa dos cotovelos retornando a posição inicial.

  • Leg press 45º - Posição inicial: Em decúbito dorsal, quadril e joelhos estendidos, pés afastados a largura do quadril e apoiados na plataforma. Execução: Na fase excêntrica flexão do quadril e dos joelhos a 90º. Na fase concêntrica extensão do quadril e dos joelhos concomitantemente retornando a posição inicial.

2.3.     Equipamentos

    Os testes e o treinamento foram realizados na academia de musculação do Centro Universitário de Patos de Minas. Foi utilizada uma balança digital da marca Filizola® com capacidade de 180 kg e precisão de 100 g, um banco supino reto, um aparelho de remada articulado, um de desenvolvimento de ombros articulado, um pulley alto, um leg press 45º, uma barra de aço inox de 1,80 m e anilhas de diversos pesos, sendo todos da marca Rigetto®.

2.4.     Tratamento estatístico

    Para o delineamento estatístico foi utilizado o teste t de Student para amostras em par para médias, com um nível de significância de p<0,05. Os dados foram tabulados em planilhas utilizando-se o software Microsoft Office Excel 2003®.

3.     Resultados

    A tabela 1 demonstra os resultados dos testes de 1 RM pré e pós-treinamento, nos quais foram encontradas as seguintes diferenças, em valor absoluto, de carga voluntária máxima em cada exercício: supino reto com barra livre, 3,7 kg; remada articulada, 6,7 kg; desenvolvimento de ombros articulado sentado 6,3 kg; puxada alta à frente no pulley, 6 kg; e leg press 45°, 52 kg.

Tabela 1. Distribuição dos resultados das variáveis analisadas no teste e reteste de 1 RM

Exercícios

Teste (kg)

Reteste (kg)

Supino

63,5 ± 6,6

67,2 ± 7,9*

Remada

69,3 ± 10,0

76 ± 5,1

Desenvolvimento

59,5 ± 7,1

65,8 ± 6,0*

Puxada

65,6 ± 7,3

71,6 ± 4,6*

Leg press

233 ± 43,9

285 ± 78,7*

Nota: Valores expressos em média e desvio padrão

* Diferença estatística significativa entre o teste e reteste da mesma variável (p < 0,05).

Fonte: Ribeiro e Borges. Pesquisa experimental/ jun./ago. 2009.

    Na figura 1 pode-se observar os aumentos percentuais em força das variáveis nos testes de 1RM. Pôde ser verificado aumento estatisticamente significativo nos seguintes ECR treinados: supino reto com barra livre, 5,9%; desenvolvimento de ombros articulado sentado, 10,9%; e puxada alta à frente no pulley, 10,0%. Também houve aumento estatisticamente significativo de força no leg press 45º, 20,9%, exercício o qual os indivíduos não foram submetidos a treinamento (p < 0,05). O aumento de força obtido no exercício de remada articulada (13,7%), não foi estatisticamente significativo (p = 0,09), provavelmente devido ao alto DP observado nos resultados do aumento de força nesse exercício.

Figura 1. Aumentos percentuais em força das variáveis nos testes de 1RM

4.     Discussão

    Os resultados obtidos demonstraram aumento significativo de força tanto para os exercícios treinados quanto para o não treinado. De acordo com Kramer et al. (2002) o ganho de força ocorre predominantemente nas fases iniciais do treinamento e segundo Souto Maior e Alves (2003), Moritani (1992) e Carroll et al. (2001) nas fases iniciais do treinamento o aumento de força se dá quase que exclusivamente em resposta às adaptações neurais ao treinamento de ECR, havendo nessa fase pouca influência da hipertrofia muscular no ganho de força. Enoka (1988 apud SOUTO MAIOR; ALVES, 2003) afirma que “os ganhos da força podem ser conseguidos sem mudanças estruturais no tamanho do músculo, mas não sem a ocorrência das adaptações neurais”. Considerando que os voluntários do presente estudo eram iniciantes em treinamento de ECR acredita-se que o aumento significativo de força observado nos cinco exercícios aos quais eles foram submetidos ao teste de 1 RM tenha se dado em virtude de adaptações neurais ocorridas em resposta às dez sessões de treinamento realizadas durante a execução do protocolo.

    Um fato que corrobora a hipótese de que o ganho de força tenha ocorrido em resposta às adaptações neurais é a ocorrência de aumento significativo de força de membros inferiores observado, apesar de não ter havido treinamento para esse segmento corporal durante a realização do protocolo de treinamento, mas apenas para membros superiores. Nesse mesmo sentido o American College of Sports Medicine (ACSM, 2003) descreve que em um experimento realizado com nove semanas de treinamento de força para apenas uma das pernas houve aumentos de 14% para a perna treinada e 7% para a perna não-treinada, demonstrando que fatores neurais estimulados pelo treinamento de um lado do corpo, produziu aumento de força sem ocorrer ação mecânica.

    De acordo com Hakkinen et al. (1985), Rutherford e Jones (1987) e Sale (1988) apud Souto Maior e Alves (2003) o ganho de força muscular ocorrido após o treinamento intenso de ECR ocorre devido a maior ativação neural do músculo. Wilmore e Costill (2001) dizem que o aumento no recrutamento de unidades motoras, inibição da atividade dos órgãos tendinosos de golgi (OTGs) com redução da inibição autogênica, e menor co-ativação da musculatura antagonista são fatores que potencializam o aumento de força muscular. Segundo Hickson, Hidaka e Foster (1994) o drive neural está relacionado ao nível de intensidade com que os centros de controle motor estimulam o grupamento muscular influenciando a produção de força. Desta forma, os aumentos de força que tivemos em todos os exercícios testados após o treinamento, inclusive no leg press 45°, que não foi treinado, demonstram mudanças adaptativas do sistema neural por vários fatores: primeiro, na capacidade dos centros neurais em potencializar o drive neural; segundo, maior capacidade em reprimir mecanismos inibitórios (OTGs); terceiro, aumento na capacidade de recrutar as unidades motoras para geração de força; e finalmente, melhor habilidade em ativar os músculos agonistas e inibir os antagonistas.

    Possivelmente, adaptações neurais ocorridas com o treinamento de força influenciaram a maior capacidade geradora de força dos membros inferiores. Entretanto, acredita-se que somente alterações neurais não expliquem tamanha diferença relativa obtida na força dos membros inferiores (não treinados), maior até mesmo que a diferença observada nos membros superiores (treinados).

    Fatores psicológicos (não controlados durante os testes) podem também ter influenciado a capacidade dos sujeitos de produzirem força, principalmente no leg press, por se tratar de um exercício no qual o indivíduo fica em uma posição mais vulnerável e com uma sobrecarga muito grande. Neste sentido, antes dos sujeitos iniciarem os treinamentos ainda não haviam experimentado situações nas quais eram desafiados ao limite, como aconteceu durante o treinamento, em que tinham que executar todas as séries de repetições até a exaustão, isto é, até o seu limite máximo.

5.     Conclusão

    A partir dos resultados obtidos no presente estudo, concluiu-se que o treinamento de ECR pode levar ao aumento de força mesmo na ausência de ação mecânica, proporcionando ganho de força em membros não treinados. Portanto, um dos fatores que pode ter influenciado o aumento de força no exercício de leg press 45° foi a ocorrência de adaptações positivas nos centros de controle neural (cérebro e medula), uma vez que os membros inferiores não foram submetidos a treinamento, mas apenas os membros superiores. Dessa forma, infere-se que em pessoas sedentárias e sem experiência prévia em ECR e nas fases iniciais do treinamento, as adaptações neurais exercem importante influência no aumento de força, sendo capaz de aumentar a força mesmo em membros não treinados.

Referências

  • AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Manual do ACSM: Diretrizes para os testes de esforço e prescrição de exercício. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

  • CARROLL, T .J.; RIEK, S.; CARLSON, R. G. Neural adaptations to resistance training: implications for movement control. Sports Medicine, Califórnia, v.31, n.12, p.829-840, 2001.

  • FLECK, S. J.; KRAEMER, W .J.; EVANS, W. J. Strength and power training: physiological mechanisms of adaptation. Exercise Sports Science Review, Indianapolis, v.24, p.363-397, 1996.

  • GUYTON, A. C.. Neurociência básica: anatomia e fisiologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.

  • HICKSON, R. C.; HIDAKA, K.; FOSTER, C. Skeletal muscle fiber type, resistance training and strength related performance. Medicine and Science in Sports and Exercise, Indianapolis, n.26, p.593-598, 1994.

  • McARCLE, W. D., KATCH, F. I. e KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 5.ed. Traduzido por Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

  • MORITANI, T. Time Course of Adaptations during Strength and Power Training. In: KOMI, P.V. Strength and Power in Sport. The Encyclopedia of Sports Medicine. Oxford: Ed. Oxford; Blackwell Scientific Publications, 1992.

  • MOURA, J. A. R.; ALMEIDA, H. F. R.; SAMPEDRO, R. M. F. Força Máxima Dinâmica: Uma Proposta Metodológica para Validação do Teste de Peso Máximo em Aparelhos de Musculação. Revista Kinesis. 1997. 18: 23-50.

  • SOUTO MAIOR, Alex; ALVES, Antônio. A contribuição dos fatores neurais em fases iniciais do treinamento de força muscular: uma revisão bibliográfica. Motriz. Rio Claro, set./dez. 2003. v. 9. n. 3.

  • WILMORE, J.H; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2.ed. Traduzido por Marcos Ikeda. São Paulo: Manole, 2001.

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