Hiponatremia e o esporte Hipoanatremia y deporte |
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*Graduada em Educação Física, UniEvangélica-Anápolis, Goiás **Acadêmica do Curso de Educação Física Universidade Estadual de Goiás, ESEFFEGO/UEG. ***Mestre em Ciências da Saúde; Especialista em Fisiologia do Exercício Coordenador do Laboratório de Fisiologia do Exercício, ESEFFEGO/UEG Docente da UniEvangélica e da ESEFFEGO/UEG. (Brasil) |
Glaucy da Silva Inácio* Erika Mendes Costa** Nayara Barbosa Costa de Aguiar** Raphael Martins da Cunha*** |
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Resumo O presente estudo teve por objetivo investigar os efeitos da hiponatremia relacionada ao esporte. Trata-se de uma revisão sistemática da literatura. Para desenvolver esse estudo foram identificados os conceitos, fatores, sintomas, riscos e formas de prevenção da hiponatremia. Como conclusão, atletas de endurance e ultraendurance necessitam dar especial atenção a alimentação e hidratação, pois a ingestão de líquidos e sódio em quantidades corretas pode reduzir o aparecimento da hiponatremia. Unitermos: Hiponatremia. Esporte. Atleta de endurance.
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http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A hiponatremia é classificada como um distúrbio eletrolítico que resulta na queda anormal da concentração plasmática de sódio para valores abaixo de 135 mEq/L (JOHNSON, 2000).
A hiponatremia pode acometer diversas pessoas praticantes de exercícios físicos. O esforço físico promove uma quebra da homoestasia e a reposição hídrica isolada não é suficiente para manter um indivíduo em equilíbrio hidroeletrolítico.
Os principais sintomas da hiponatremia são: confusão mental, desorientação, agitação, falta de ar, fala confusa, edema pulmonar e em casos mais extremos podendo levar ao óbito (BORSATTO; SPINELLI, 2007).
O objetivo do presente estudo é investigar os efeitos da hiponatremia relacionada ao esporte, tal como seus fatores, sintomas, riscos e formas de prevenção.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa descritiva, sendo uma revisão sistemática e fundamentada em literatura científica. A literatura utilizada tem base no idioma da língua portuguesa e inglesa. Foi considerado neste estudo, artigos e livros. Na busca de artigos, foram utilizadas as seguintes plataformas de base de dados: Bireme, Lilacs; Pumed e portal capes. Utilizado referências entre os anos de 1998 a 2009. Foram utilizadas as palavras chave para pesquisar sobre os temas propostos: hiponatremia, desidratação, hiponatremia endurance, ultraendurance, intoxicação água e hiponatremia atleta.
Hiponatremia: conceito, fatores que a induzem e sintomas
Borsatto e Spinelli (2007, p. 51), relatam que
“Desde a primeira descrição da hiponatremia, em 1985,as teorias expostas tentaram explicar sua etiopatogenia. Antes de 1981, o termo hiponatremia era totalmente desconhecido, sendo os atletas orientados a não ingerir líquidos durante os exercícios, o que poderia resultar em desidratação e em hiponatremia. Após o ano de 1981, passou-se a recomendar, para os atletas, uma alta ingestão de líquidos, sem restrição, durante exercícios de resistência. Foi difundida, neste período, a frase “drink as much as possible”. Entretanto, nesta época, houve um aumento dos casos de hiponatremia nos esportes de endurance e ultraendurance, em conseqüência do recomendado (Porcel et al., 2004). Estudo realizado por Garrigan e Ristedt (1999), demonstrou que, nos Estados Unidos, pelo menos quatro atletas militares, de 1989 a 1999, faleceram devido à hiponatremia, e 190 foram hospitalizados. Tal fato proporcionou uma revisão nas recomendações de reposição de líquidos nas Forças Armadas dos EUA, em 1999.”
Com a prática do exercício, e durante a realização do mesmo o indivíduo perde cerca de 240 mEq.l-1 de sódio, e isso pode levar o indivíduo a ter hiponatremia, ou seja, concentração de sódio plasmático menor que 130 mEq.l-1, ocasionado por reposição hídrica com líquidos que não possuem sódio ou sua concentração é baixa, isso pode ocorrer em eventos longos (HERNANDEZ; NAHAS, 2009). A hiponatremia decorrente em atletas é mais freqüente pela baixa osmolidade do plasma, e isso quer dizer que existe mais água do que o normal para a quantidade de substâncias dissolvidas no plasma (MURRAY; EICHNER e STOFAN, 2003).
O esporte de alta performance requer um estudo detalhado sobre as influências fisiológicas durante sua prática (LIMA; MICHELS; AMORIM, 2007). Devido a este fato ocorre um aumento da atividade muscular promovendo uma elevada produção de calor no organismo, que é eliminado em parte, pelo suor. Este que acompanha o exercício de longa duração promove a perca de eletrólitos e de água no corpo. O sódio é o principal componente eletrolítico do meio extracelular e influência na regulação do equilíbrio osmótico (MARINS; DANTAS; NAVARRO, 2003).
A combinação da atividade física, estresse e calor impõem um desafio significativo para o sistema cardiovascular. Quando não há homeostase entre os líquidos perdidos (pelo suor, respiração e urina) e os absorvidos o indivíduo poderá entrar num processo de desidratação (SALUM, 2006). A perda de sódio é o problema mais comum associado ao exercício de alto rendimento, por isso para a manutenção das funções normais fisiológicas e a melhora no desempenho, a reposição de nutrientes como água, eletrólito e carboidrato são importantíssimos (REHRER, 2001).
A ausência de sódio pode ocasionar a hiponatremia, que poderá estar relacionada ao excesso na ingestão de água, que é caracterizada como “intoxicação pela água” (SPEEDY et al, 1997 apud LIMA; MICHELS e AMORIM, 2007).
O excesso de ingestão da água poderá levar o indivíduo a um estado de hiponatremia, onde o mesmo terá uma quantidade de água maior que a necessária, isso provocará uma diluição dos eletrólitos dentro da célula fazendo com que ela se inche (PEREIRA; MARQUEZI e LANCHA JUNIOR, 2004). A combinação causada pela perda de sódio e pela ingestão excessiva de água é uma das principais causas do aparecimento da hiponatremia (MURRAY; EICHNER e STOFAN, 2003).
Conforme Murray, Eichner e Stofan (2003, p.2)
“As principais causas da hiponatremia são: aumento da água corporal causados por redução da diurese, por exercícios e por exposição ao calor; perda de sódio por alta taxa de sudorese, condição física inadequada e aclimatação deficiente; ingestão inadequada de sódio por dieta hipossódica ou ingestão de sódio durante o exercício.”
A hiponatremia é decorrente de um esforço consciente com a intenção de anular os sinais fisiológicos e a ingestão de grandes quantidades de água ou outros elementos eletrolíticos que possuem baixo teor eletrolítico (MAUGHAN; BURKE, 2004).
Fatores que induzem a hiponatremia
Casos mais freqüentes de hiponatremia podem ocorrer quando houver um consumo de líquidos exagerados e, levando até ao aumento de peso corporal, pós competição, tendo como principal influência o consumo excessivo de água (MARINS; DANTAS; NAVARRO, 2003).
A hiperidratação com líquidos a base de glicerol pode facilitar a hiponatremia, pois se dilui mais facilmente, e tem-se vontade de urinar durante o exercício (HERNANDES; NAHAS, 2009).
A desidratação e hiponatremia podem gerar o colapso em provas de endurance (BORSATTO; SPINELLI, 2007). O colapso associado ao exercício pode ser definido como a incapacidade de caminhar sem auxílio, com ou sem exaustão, náuseas, vômitos ou cãibras. (HOLTZHAUSE & NOAKES, 1997; O'CONNER E COL., 2003 apud SALLIS, 2005 p.1/2).
A hiponatremia é incomum em provas com duração inferior a 4 horas e mais freqüentes em provas com permanência acima de 8 horas (CORRÊA, 2005). Em exercícios de longa duração e com reposição de muitos líquidos com baixa concentração de sódio, percebe-se a ocorrência de hiponatremia, que associada à desidratação durante uma prova, compreende a necessidade de atendimento médico para os atletas, em geral, após a rehidratação oral os sintomas desaparecem. Grandes partes dos casos de hiponatremia ocorrem em provas com duração maior que quatro horas. É necessário fazer a suplementação com sódio quando há grandes perdas na transpiração e quando um volume grande de fluídos é consumido (MAUGHAN; BURKE, 2004).
A hiponatremia pode ocorrer em eventos longos que possam durar alguns dias e isso pode ocorrer devido ao stress crônico, pela perca de suor durante um longo período de exercício, junto a situações ambientais desconfortáveis como calor e umidade, e ainda uma baixa ingestão de sódio na dieta (MARINS, 1998).
Quando se produz suor excessivo, fica recomendado o uso de substâncias eletrolíticas, com, por exemplo, sódio, para tanto é necessário verificar o grau do exercício, intensidade, duração, estado de desidratação para poder relacionar a quantidade de sódio necessário (MARINS; DANTAS; NAVARRO, 2003).
Riscos da hiponatremia
A hiponatremia pode causar algumas manifestações neurológicas como apatia, náuseas, vômito, consciência alterada e convulsões (HERNANDES; NAHAS, 2009). Os principais sintomas caracterizados pela hiponatremia são: cefaléia, mal-estar, náuseas, confusão, cãibras e em casos mais graves pode haver convulsões, coma, edema pulmonar e podendo levar o indivíduo a morte (McARDLE; KATCH e KATCH, 2001). Ademais, pode-se citar o desconforto gastrointestinal; náuseas e vômitos; cefaléia latejante; inquietação; edema nos pés e mãos; letargia; confusão; coma podendo evoluir para o óbito (MURRAY; EICHNER e STOFAN, 2003). Como conseqüência de uma hipertermia pode haver um desconforto gástrico, causando no atleta a hiponatremia (WOLINSKY; HICKSON Jr, 2002 apud DRUMOND; CARVALHO e GUIMARÃES, 2007).
Os atletas que iniciam uma competição com hiponatremia devido ao excesso de líquido pré competição, correm risco de desenvolver casos mais graves de hiponatremia porque uma menor quantidade de fluído é necessária para que os níveis de sódio entrem em zona de risco (MURRAY; EICHNER; STOFAN, 2003).
Prevenção da hiponatremia
A presença de sódio em bebidas reidratantes, tomadas durante o exercício, pode ser utilizada como forma preventiva da hiponatremia (MARINS; DANTAS; NAVARRO, 2003). Com a inserção do sódio em bebidas reidratantes pode ocorrer uma maior absorção de água e carboidratos no intestino na execução e pós exercício. Isso ocorre, pois o transporte de glicose na mucosa do enterócito é associado com o transporte de sódio, isso gera uma maior absorção de água (HERNANDEZ; NAHAS, 2009).
Para recompor as percas hídricas, é recomendado o consumo de sódio, com reposição hidroeletrolítica com concentração de sódio aumentada entre 1,7 a 2,9 g de NaCl/l (CORTE, 2005). É recomendado em exercícios de longa duração ou de alta intensidade, a ingestão de líquidos que contenham de 0,5 a 0,7 g.l-1 (20 a 30 mEq.l-1) de sódio, essa quantidade refere-se a uma concentração próxima da real de suor de um indivíduo adulto (HERNANDES; NAHAS, 2009).
Uma rehidratação segura somente é possível quando se consome adequadamente as quantidades de água e sódio. Isso pode durar de 12 a 24 horas, já que as alimentações diárias dos atletas fornecem esses elementos necessários para hidratação (GUERRA, 2005).
Conclusão
A hiponatremia é um assunto novo, e o mesmo ainda não possui muitos estudos de campo. Atualmente tem se falado muito na alimentação e hidratação de atletas. Uma ingesta em quantidades corretas de sódio pode reduzir o aparecimento da hiponatremia. O fato de a hiponatremia poder ser fatal a atletas que não apresentam nenhuma patologia é motivo suficiente para fazer com que os profissionais de saúde que lidam com o esporte conheçam quais são os fatores de risco e como esse distúrbio pode ser evitado. Porém é necessário que sejam feitos mais estudos sobre a ingestão de sódio em atividades esportivas, pois se o mesmo for consumido em demasia, pode reduzir o ritmo de produção da urina e assim dificultando o equilíbrio hidroeletrolítico.
É importante que seja desenvolvido pesquisas científicas sobre hiponatremia, visando consolidar dados sobre a prevenção, visto que se trata de um tema muito relevante no meio esportivo, principalmente porque a hiponatremia pode levar a morte de indivíduos.
Assim, é de extrema importância que profissionais que lidam com o Esporte, dentre eles o profissional de Educação Física, se atentem para a prevenção da hiponatremia, e também para identificar possíveis sintomas visando intervenção antecipada.
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