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Efeitos da especialização desportiva precoce no 

desenvolvimento integral da criança: estudo de revisão

Efectos de la especialización deportiva precoz en el desarrollo integral del niño: un estudio de revisión

 

Especializanda em Atividade Física Desempenho Motor e Saúde UFSM, RS

(Brasil)

Ellen dos Santos Soares

ellensoa@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A iniciação esportiva e competitiva de crianças, ainda nos primeiros anos de vida, é muito freqüente. No entanto, quando o treinamento esportivo é realizado precocemente, de forma intensa e sistemática, pode ocasionar sérios prejuízos à saúde e ao desenvolvimento das crianças. Com isso, o objetivo deste estudo foi identificar os efeitos da especialização desportiva precoce no desenvolvimento integral da criança. O fenômeno da especialização desportiva precoce pode levar a uma rápida estagnação do desempenho, no entanto, a exigência de altos rendimentos nas primeiras fases da vida pode vir a ser muito mais prejudicial que positiva.

          Unitermos: Criança. Desenvolvimento. Especialização precoce.

 

 
http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Atualmente existem diversos estudos comprovando que a prática de atividades físicas e esportivas, quando realizada com conhecimento e responsabilidade, contribui positivamente para o desenvolvimento psíquico, social e motor da criança. Por outro lado, quando o desporto é voltado para a competição e iniciado precocemente, pode trazer graves problemas ao desenvolvimento do praticante.

    Neste sentido, Ferreira (2001) afirma que, ao falarmos na relação da criança com a especialização desportiva, não podemos esquecer que o desempenho técnico de uma criança está diretamente ligado às suas possibilidades motoras, ou seja, para exercer total domínio sobre as técnicas individuais de um desporto, faz-se necessário que a criança tenha total domínio sobre seus movimentos. O processo de ensino, para ser eficiente, deve levar em conta o nível de desenvolvimento real da criança e o seu nível de desenvolvimento potencial adequado a sua faixa etária, conhecimentos e habilidades que já possui.

    A especialização desportiva precoce é a atividade esportiva que se caracteriza pela alta dedicação aos treinamentos, desenvolvida antes da puberdade e caracterizada, principalmente, por ter uma finalidade eminentemente competitiva. Essa prática pode desenvolver, em crianças competidoras, problemas ósseos, cardíacos, musculares, entre outros, visto que, o treinamento excessivo ou incorreto é extremamente prejudicial à saúde da criança (NETO & VOSER, 2001).

2.     O desenvolvimento integral da criança

    De acordo com o conceito de Weineck (1991), o desenvolvimento descreve a soma dos processos de crescimento e diferenciação do organismo, que finalmente levam ao seu tamanho, forma e função definitivas. É dividido em fases que são descritas como períodos de um desenvolvimento uniforme, que podem ser nitidamente distinguidos uns dos outros, através de características claramente distintas. Estas fases assumem um papel decisivo no desenvolvimento integral do ser humano e são caracterizadas por Weineck (1991) da seguinte maneira, de acordo com a sequência de desenvolvimento:

  • Primeira fase: é a fase de lactação. Engloba o período desde o nascimento até o 1° ano de vida, caracteriza-se por um extraordinário aumento de altura e peso e paralelamente ocorre um rápido e progressivo desenvolvimento e diferenciação das funções cerebrais.

  • Segunda fase: é a fase de bebê, que vai do 2° ao 4° ano de vida. Nessa fase o aumento atual da altura e do peso já diminui nitidamente. O cérebro, na idade de dois anos, já alcançou três quartos do peso do adulto, este acelerado crescimento é característico para o rápido desenvolvimento do cérebro e do cerebelo, o que assume um importante papel no controle das funções mentais e equilíbrio do corpo.

  • Terceira fase: a idade pré-escolar é a terceira fase e abrange o período de cerca de 3-6/7 anos (entrada na escola). Com quatro anos a criança já dobrou seu tamanho de nascimento e seu peso é cerca de cinco vezes maior. Esta faixa etária caracteriza-se por um alto ímpeto para movimentos e brincadeiras e possui uma pequena capacidade de concentração.

  • Quarta fase: é a primeira infância escolar, abrange o período entre o início da escola (6/7 anos) e aproximadamente os 10 anos de idade (fim do ciclo básico escolar). Até o 9°/10° anos de vida o desenvolvimento da altura e peso ocorrem de forma mais ou menos paralela nas meninas e nos meninos, a capacidade de aprendizagem e desempenho motor é muito boa. Outras características são o bom equilíbrio psicológico, atitude otimista em relação à vida, despreocupação, aquisição entusiasmada, mas destituída de crítica, de conhecimento e habilidades.

  • Quinta fase: é a da infância escolar tardia, que inicia aproximadamente aos 10 anos e dura até a entrada na puberdade. Esta faixa etária geralmente é considerada a melhor idade para aprender. A criança está mais encorpada, as proporções corporais otimizadas e o crescimento da força relativamente mais acentuado, com menor aumento do tamanho e força. A acentuada necessidade de movimentos e o arrojo continuam a existir, a coragem e a disposição para o risco exercem uma influência extremamente profícua sobre a capacidade de desenvolvimento motor.

  • Sexta fase: é a primeira fase puberal, que começa com 11/12 anos (meninas) e 12/13 (meninos) e dura até os 13/14 e 14/15 anos, respectivamente. Weineck também diz que a liberação dos hormônios específicos do sexo leva ao desenvolvimento dos caracteres sexuais primários e secundários, assim como as alterações típicas no âmbito da estrutura corporal. A alteração completa da existência psicofísica e social leva a radicais revoluções nos interesses gerais, o que não passa sem conseqüências para o interesse esportivo. Também as expectativas que são ligadas à atividade esportiva, sofrem uma mudança radical.

  • Sétima fase: a Segunda fase puberal (adolescência), é a última fase do desenvolvimento e começa aos 13/14 anos (meninas) e 14/15 (meninos). A adolescência forma a última fase do desenvolvimento da criança para o adulto, sendo caracterizada por uma diminuição de todos os parâmetros de crescimento e de desenvolvimento. Na segunda fase puberal, fase de encorpar e re-harmonizar, ocorre então um progressivo retardamento e finalmente paralisação destas medidas de crescimento.

    Nesse contexto, Proença et al (1988) ressaltam que o desenvolvimento, biologicamente, pode ser caracterizado por três fases importantes para a educação física: a fase pré-puberdade, a fase da puberdade e a fase pós-puberdade. Na fase pré-puberdade a criança está mais apta a desenvolver atividades e capacidades perceptivo-motoras do que as capacidades físicas. Há uma aceleração no crescimento físico e no funcionamento dos sistemas vegetativos, que aumentam a capacidade da criança de responder às demandas da atividade muscular. Com isso, a educação física para crianças pré-púberes deve enfatizar o desenvolvimento de habilidades e capacidades perceptivo-motoras considerando as limitações impostas à performance pelas capacidades físicas.

    Durante a fase puberal a prática de atividades motoras regulares parece ser fundamental para a prevenção de enfermidades relacionadas à falta de atividade. Isto se torna mais importante se considerarmos que, na puberdade, há uma diminuição da atividade física espontânea da criança, em geral, bastante elevada na criança pré-púbere. Antes de completar a puberdade, devem ser evitadas atividades que envolvam grandes sobrecargas sobre o sistema ósteo-articular e contatos físicos violentos, pois, há riscos de lesões sobre as cartilagens de crescimento que são ainda muito frágeis até este período.

    Após a maturação sexual plena, na fase pós-puberdade, as crianças poderão ser tratadas e consideradas como adultos, já que finalmente elas são capazes de regular a intensidade da atividade muscular de acordo com as suas limitações.

    Segundo Quintão et al (2004), o desenvolvimento do ser humano se dá a partir da integração entre a motricidade, a emoção e o pensamento. O processo de desenvolvimento do indivíduo tem relação direta com seu ambiente sócio-cultural e estes não se desenvolveriam plenamente sem o suporte de outros indivíduos da mesma espécie.

    Nesse sentido, o profissional de educação física possui ferramentas valiosas para provocar estímulos que levem a esse desenvolvimento de forma bastante prazerosa: a brincadeira, o jogo e o esporte. A escola, ao estabelecer situações desafiadoras para seus alunos, tem um papel fundamental no aprendizado e consequentemente no desenvolvimento dos indivíduos.

    É importante ressaltar que cada fase do desenvolvimento infantil tem suas próprias características e, portanto, exige estudos aprofundados sobre os métodos pedagógicos, a peculiaridade de cada fase pela qual o aluno passa e as particularidades de cada jogo, brincadeira ou esporte que possam auxiliar o educando no seu desenvolvimento integral (QUINTÃO et al, 2004).

3.     Iniciação e especialização esportiva na infância

    A iniciação esportiva e competitiva de crianças, ainda nos primeiros anos de vida, é muito freqüente. Esse fato, em grande parte, pode ser atribuído à forte influência dos adultos sobre a criança, sendo que nos países de maior hegemonia esportiva mundial esse fenômeno acontece com mais regularidade.

    De acordo com a Direção Regional do Desporto – DRD (2004), a etapa da iniciação desportiva inicia-se por volta dos 8 anos e prolonga-se até os 12 anos. Esta etapa caracteriza-se por objetivos educativos e formativos, apresentando atividades variadas e multi-desportivas, ajustadas às diferentes características dos escalões etários a que se destinam. Tem por objetivos apontar para o desenvolvimento global e harmonioso das crianças e para o desenvolvimento de suas capacidades e oportunidades de revelarem as suas aptidões. É um período que abrange desde o momento em que as crianças iniciam-se nos esportes até a decisão por praticarem uma modalidade, por isso, os conteúdos devem ser ensinados respeitando-se cada fase do desenvolvimento das crianças (OLIVEIRA & PAES, 2004).

    A especialização desportiva compreende o processo percorrido por uma pessoa (normalmente a criança), desde a escolinha até o esporte competitivo. Durante este processo existem algumas etapas pelas quais a criança passará, após a iniciação, que são as fases de aprendizagem, treinamento progressivo, melhora e aperfeiçoamento. (NETO & VOSER, 2001).

    A etapa de especialização desportiva pode ser dividida em três fases de desenvolvimento: fase especialização esportiva I; fase de especialização esportiva II; e fase de especialização esportiva III. Cada fase, apresentada a seguir de acordo com Oliveira e Paes (2004), possui objetivos específicos para o ensino formal e está de acordo com as idades biológica, escolar e cronológica, diferenciando-se de modalidade para modalidade.

    Fase de especialização esportiva I: corresponde da 1ª à 4ª séries do ensino fundamental, atendendo crianças da primeira e segunda infância, com idades entre 7 e 10 anos. Nessa fase, o envolvimento das crianças nas atividades desportivas deve ter caráter lúdico, participativo e alegre, todas as crianças devem ter a possibilidade de acesso aos princípios educativos dos jogos e brincadeiras, o que irá influenciar positivamente no processo ensino-aprendizagem.

    Fase de especialização esportiva II: é marcada por dar início à aprendizagem de diversas modalidades esportivas dentro de suas particularidades, atendendo crianças e adolescentes da 5ª à 7ª séries do ensino fundamental, com idades aproximadas de 11 a 13 anos, correspondente à primeira idade puberal.

    Fase de especialização esportiva III: corresponde à faixa etária aproximada de 13 a 14 anos, às 7ª e 8ª séries do ensino fundamental, quando os atletas estão passando pela pubescência. Enfatiza-se o desenvolvimento dessa fase, para os alunos/atletas, a automatização e o refinamento dos conteúdos aprendidos anteriormente, nas fases de especialização esportiva I e II, sendo que a aprendizagem de novos conteúdos é fundamental nesse período.

    Para Voser (2004), a especialização desportiva é um processo de ensino aprendizagem mediante o qual o indivíduo adquire e desenvolve as técnicas básicas para o desporto. O autor alerta que o trabalho de iniciação requer cuidados especiais, visto que, a infância, por ser a melhor fase para o desenvolvimento dos fundamentos técnicos, exige a realização de um trabalho com a devida moderação e que respeite as fases do desenvolvimento da criança.

    Para o desenvolvimento de um trabalho de especialização é de suma importância possuir um conhecimento mais amplo a respeito do grupo com que se irá trabalhar e isto requer pesquisas e estudos nas áreas diretamente envolvidas com o trabalho. As atividades desportivas e corporais, embutidas nas práticas regulares de educação física e na iniciação desportiva, aguçam de forma direta os domínios cognitivos e psicomotores da criança. A educação através do movimento, além de ser a base da educação generalizada, tem uma relação bem íntima com a iniciação desportiva, uma vez que, a criança bem desenvolvida no aspecto psicomotor, responde melhor aos estímulos à sua volta; o que facilita o aprendizado das técnicas específicas de um desporto. Desse modo, aprender a utilizar um desporto seria aprender a utilizar técnicas corporais básicas adequadas às características específicas de uma modalidade esportiva, logo, podemos considerar que a aprendizagem desportiva, é essencialmente uma aprendizagem corporal e motora (FERREIRA, 2001).

3.1.     A especialização desportiva precoce

    De acordo com Fuzihara e Souza (2005), a especialização desportiva precoce ocorre quando crianças são introduzidas, antes da fase pubertária, a um processo de treinamento planejado e organizado em longo prazo, e que se efetiva em um mínimo de três sessões semanais, com o objetivo do gradual aumento do rendimento, além, da participação periódica em competições esportivas.

    Esta prática gera muitas controvérsias no mundo da atividade físico-esportiva, algumas pessoas apóiam totalmente esse processo, enquanto outras consideram ser um atentado contra a criança e defendem a proibição ou no mínimo a sua regulamentação.

    Brasil (2004) argumenta que a especialização desportiva precoce define a prática intensa, sistematizada e regular de crianças e jovens antes das idades consideradas normais. O autor refere-se à especialização precoce como o resultado da aplicação de sistemas de treino não adequados ou a utilização literal dos sistemas de treino dos adultos com crianças ou jovens. Segundo ele, a iniciação desportiva precoce caracteriza-se por cargas de treino muito intensas, que promovem rápidos desenvolvimentos da prestação desportiva nas fases iniciais, mas que levam a um esgotamento prematuro da capacidade de rendimento, promovendo aquilo que se designa por barreiras de desenvolvimento.

    Por outro lado, Weineck (1991) acredita que a especialização no tempo certo é inevitável no esporte de alto nível. Porém, afirma que ela deve ocorrer o mais tarde que for necessário e com base em uma estrutura de treinamento adequada ao desenvolvimento. Deve ainda levar em consideração o desenvolvimento individual que contém um aumento regular da carga nos moldes de uma formação básica múltipla e, principalmente, que garante o desdobramento ideal das capacidades coordenativas gerais, ou seja, a aquisição das habilidades motoras no tempo certo.

    Do ponto de vista de Ferreira (2001), a competição desportiva não é má nem boa e não constitui necessariamente uma experiência a impor à criança. Deve-se, no entanto, levar em conta que o fenômeno desportivo é complexo e gera muitas polemicas quando se trata de equacionar o desporto em crianças jovens quanto a sua formação, desenvolvimento e manifestação de valores ético-desportivos. O desporto para crianças deverá respeitar o contexto próprio para a sua idade, assumindo um papel formativo e fora de qualquer manipulação exercida pelos adultos, e ainda deverá promover a existência de uma concepção lúdica, respeitadora do seu desenvolvimento físico, mental, ético e social.

3.2.     Os riscos da especialização desportiva precoce para a criança

    Conforme Neto e Voser (2001), os prejuízos de uma especialização precoce podem ser divididos em quatro grandes áreas: físicos, psicológicos, motrizes e riscos do tipo esportivo. Os prejuízos de tipo físico se referem aos danos que a prática esportiva competitiva, iniciada precocemente, pode ocasionar à saúde corporal das crianças. Dependendo da especialidade esportiva, os problemas detectados podem ser ósseos, cardíacos, musculares e articulares. Em crianças em pleno desenvolvimento, um treinamento longo e muito intenso ocasiona uma carga demasiadamente forte para os ombros e articulações dos membros inferiores.

    Na área psicológica são agrupadas todas as conseqüências negativas que se relacionam com a conduta e o estado mental dos sujeitos. Os níveis de ansiedade, estresse e frustração são anormalmente altos em crianças competidoras.

    A criança esportiva também pode sofrer do que alguns autores chamam de “infância não vivida”, decorrente da exigência e da alta dedicação aos treinamentos que ocupam grande parte do tempo da criança, o que prejudica até mesmo a sua formação escolar, pois esta acaba tendo menos tempo para as atividades escolares e participa menos das brincadeiras e jogos do mundo infantil, atividades que são indispensáveis ao pleno desenvolvimento de sua personalidade.

    Os prejuízos de tipo motriz são aqueles relacionados com a falta de base poliesportiva que acompanha a especialização esportiva precoce. Em casos de esportes competitivos, que visam somente o rendimento em seu aspecto concreto de execução motriz e geralmente ignoram os outros importantes objetivos educacionais que o esporte pode oferecer, a criança pode inclusive impossibilitar-se da prática futura de um esporte diferente daquele que praticou durante toda sua infância.

    Por fim, os riscos de tipo esportivo podem ocasionar uma iniciação incorreta da criança no esporte, pois por ser muito pequeno é muito difícil conhecer suas características futuras com exatidão, podendo-se assim iniciar um atleta em um esporte no qual não possui as mínimas condições especiais exigidas.

    Os perigos da especialização precoce, conforme Weineck (1991) fundamentam-se especialmente nos seguintes pontos:

    As cargas e conteúdos de treinamento freqüentemente unilaterais menosprezam a necessidade de uma formação múltipla, poliesportiva, como base para futuras cargas abrangentes e intensivas.

    Cargas físicas unilaterais e muito rapidamente elevadas podem levar a sobrecargas dos sistemas atingidos. Se cartilagem, ossos, tendões e ligamentos forem exigidos não fisiologicamente além de sua capacidade de suportar carga, então, podem ocorrer precocemente manifestações de desgaste nestas áreas. Através da super-exigência funcional, ou descuido em relação a grupos musculares especiais, ocorre uma redução da amplitude da articulação, com uma sobrecarga dos respectivos segmentos articulares, o que favorece prematuramente as alterações artróticas, podendo prejudicar o processo de treinamento.

    Cargas unilaterais, ou monótonas, e muito intensivas, podem levar rapidamente a uma saturação psicológica, principalmente a utilização acentuada de conteúdos de treinamentos à idade.

    Em relação aos prejuízos de uma especialização precoce dentro das competições, Mutti (2003) garante que o maior e pior erro cometido na fase de iniciação é a cobrança de resultados. Para conquistar resultados, muitos técnicos pressionam e cobram o melhor rendimento, sendo que esta cobrança de resultados, nessa fase, compromete todo o processo de formação e preparação dos jovens e ainda coloca a criança sob o risco de sofrer lesões.

    Neste aspecto, os pais também podem cometer alguns erros. Muitos pais querem se realizar a custa dos filhos e observam no filho aquilo que eles não foram capazes de ser ou conseguir. Outros transferem para o filho a responsabilidade de ser o representante da família acreditando que no desempenho da criança estará o orgulho ou a vergonha da família. Há ainda pais que acham que seus filhos são os melhores e os exaltam demais, e na mesma proporção esperam deles o máximo e não admitem fracasso, chegando até a puni-los. Todos esses tipos de comportamento são notados pelas crianças, que em resposta apresentam algumas reações como ansiedade, medo, nervosismo, revolta, etc. Estas reações são extremamente prejudiciais, tanto no momento do jogo como na formação da personalidade da criança (MUTTI, 2003).

    Segundo Pini (1978) O trabalho muscular intenso e excessivo, associado à sobrecarga emocional que a competição provoca, pode ocasionar perturbações no desenvolvimento normal da criança, principalmente no ritmo do crescimento em altura e no desenvolvimento somático, funcional e intelectual.

    Quando o treinamento esportivo é realizado precocemente de forma intensa e sistemática podem instalar-se perturbações no aparelho locomotor representadas pela resistência desproporcional entre a parte óssea e a hipertrofia muscular instalada. Surgem também conseqüências psicossomáticas relacionadas a dificuldades no aprendizado, dificuldades de memorização e o conseqüente desinteresse pela vida escolar. Além destes danos físicos e psicológicos a especialização esportiva precoce pode causar uma patologia conhecida como "síndrome da saturação esportiva", que é caracterizada, principalmente, por apatia, indiferença ou até aversão pela prática esportiva ou pelos fatos a ela relacionados exatamente no momento em que deveriam ser intensamente praticados (Pini, 1978).

4.     Considerações finais

    Todos sabemos da real importância da atividade física, praticada pela criança, para seu crescimento e desenvolvimento adequados. No entanto, é necessário analisar cuidadosamente que a exigência de altos rendimentos nas primeiras fases da vida pode vir a ser muito mais prejudicial que positiva. O fenômeno da especialização desportiva precoce, embora possa levar a uma rápida estagnação do desempenho, deve ocorrer o mais tarde que for necessário e com base em uma estrutura de treinamento adequada, levando-se em consideração o desenvolvimento individual das capacidades coordenativas da criança e a aquisição de suas habilidades motoras no tempo certo. Caso este treinamento esportivo seja realizado de maneira incorreta e irresponsável poderá causar diversos prejuízos à saúde e ao desenvolvimento da criança, como os riscos físicos, psicológicos, riscos do tipo motriz e os riscos de tipo esportivo.

    Como se pode perceber, o trabalho de especialização desportiva requer cuidados especiais referentes às fases do desenvolvimento infantil. Entende-se então que é necessário que se aplique à criança um modelo de esporte adequado às suas necessidades, características e possibilidades reais.

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