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Educação Física no ensino médio: 

considerações a partir da realização de estágios

Educación Física en la Escuela Media: consideraciones a partir de la realización de pasantías

 

*Acadêmicas do curso de Especialização em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde

do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria, RS

Integrantes do Núcleo de Estudos em Medidas e Avaliação da Educação Física, NEMAEF

** Especialização em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde

Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria, RS

Integrante do Núcleo de Estudos em Medidas e Avaliação da Educação Física, NEMAEF

***Doutora em Ciência do Movimento Humano e Professora Adjunta do

Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria, RS

Coordenadora do Núcleo de Estudos em Medidas e Avaliação da Educação Física – NEMAEF

Lidiane Amanda Bevilacqua*

Juliane Berria**

Tatiele Marques Rodrigues de Castro*

Luciane Sanchotene Etchepare Daronco***

julianeberria@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetiva-se com este trabalho, relatar algumas dificuldades enfrentadas por professores de Educação Física do Ensino Médio de Escolas Públicas, que foram observadas em Estágios realizados durante o curso de graduação em Educação Física – Licenciatura e relaciona-las com aspectos presentes na literatura. A desconsideração com a disciplina por parte da comunidade escolar, falta de espaço físico e materiais didáticos, o horário das aulas e as atividades vivenciadas pelos alunos anteriormente são algumas das dificuldades que se apresentam aos professores no trabalho da Educação Física no Ensino Médio de escolas públicas. Em vista disso, considera-se fundamental o conhecimento dos graduandos dos cursos de Educação Física – Licenciatura, do seu futuro campo de atuação, sendo essa vivência oportuna na realização de estágios durante a formação acadêmica.

          Unitermos: Educação Física. Ensino Médio. Estágio.

 

 
http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A formação do jovem deve ser concebida integralmente: corpo, mente e espírito, desenvolvendo plenamente a personalidade do aluno. A educação física vem somar-se à educação intelectual e à educação moral. A matemática, as ciências, as línguas, a geografia, etc. correspondem às áreas do saber científico e erudito que se desenvolveram, especializada e isoladamente, com base em um modelo de ciência que também remonta há dois ou três séculos. A Educação Artística, a Educação Moral e Cívica e a Educação Física não se enquadram nesses limites e ocupam hoje um lugar incômodo na Escola, o que leva ao questionamento de suas finalidades (BETTI, ZULIANI, 2002).

    A Educação Física, tornou-se obrigatória no currículo escolar em 1937, mas somente em 1961 a disciplina foi efetivada, com o advento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, influenciada pelo contexto social, histórico e político vivido pelo Brasil (MEDEIROS, 2009).

    A Educação Física brasileira após muitos anos de sua inserção na escola, ainda não encontrou sua identidade, seu papel na formação do indivíduo. Por esse motivo os alunos e a comunidade escolar em geral, não destinam a devida atenção e importância para esta disciplina que, se bem trabalhada, tem muito a contribuir com a formação dos alunos (POSSEBON, 2001).

    Esta falta de identidade vivenciada pela Educação Física Escolar, faz com que alunos e professores precisem enfrentar diversas dificuldades para realização das aulas, como: o desconhecimento da comunidade escolar da importância da disciplina, a falta de espaço físico e materiais, a influência das experiências motoras anteriores, entre outros.

    A Educação Física Escolar é o tema central de estudos dos Cursos de Educação Física – Licenciatura. Nas mais variadas disciplinas analisa-se a situação que a Educação Física Escolar brasileira se encontra, porém, ao deparar-se com a realidade desta, o acadêmico pode perceber que os problemas com os quais os professores convivem diariamente são mais graves do que se apresenta apenas no âmbito acadêmico.

    Em vista disso, nesse trabalho, objetiva-se relatar algumas dificuldades enfrentadas por professores de Educação Física do Ensino Médio de Escolas Públicas que foram observadas em Estágios realizados durante o curso de graduação em Educação Física – Licenciatura e relaciona-las com aspectos presentes na literatura.

A Educação Física no Ensino Médio

    Segundo Etchepare (2000), a escola possui atualmente a tarefa de desenvolver no aluno as características que lhe permitirão viver de forma eficiente numa sociedade complexa.

    Quando os alunos ingressam no Ensino Médio, já trazem consigo uma bagagem motora adquirida nas etapas anteriores e esses conhecimentos devem ser ampliados, permitindo sua utilização em situações sociais (MATTOS, NEIRA, 2000). Almeida e Cauduro (2007) consideram que a fase a qual o aluno se encontra no Ensino Médio, é extremamente importante na formação da sua personalidade, através da definição de valores e a Educação Física como componente curricular precisa contribuir para a formação do seu aluno.

    De acordo com Betti e Zulliani (2002) os adolescentes adquirem uma visão mais crítica, e já não atribuem à Educação Física tanto crédito. No Ensino Médio, caracterizam dois grupos de alunos: os que vão identificar-se com a prática esportiva formal, e os que vão perceber na Educação Física sentidos vinculados ao lazer e bem-estar. Assim a Educação Física deve visar atender a esses interesses.

    Nesse sentido, o ensino médio não pode ser uma simples repetição, do programa de Educação Física do ensino fundamental, um pouco mais aprofundado, deve apresentar características próprias, que considerem o contexto sócio-histórico dos alunos (DARIDO et al., 1999).

    Darido et al. (1999) apresentam vários objetivos para o trabalho com o Ensino Médio como: proporcionar o conhecimento sobre a cultura corporal dos movimentos através do lazer, saúde e bem estar e expressão dos sentimentos; discussão sobre as manifestações e práticas corporais e educação para um estilo de vida ativo ensinando conceitos de atividade física, aptidão física e saúde.

    Nesta fase é comum correr um impasse entre alunos e professores, pois os primeiros querem apenas praticar os esportes e os segundos querem desenvolver os conteúdos programados. Muitas vezes os mesmos transformam as aulas de Educação Física em um espaço de recreação e lazer, para descontrair das responsabilidades das outras aulas (MATTOS, NEIRA, 2000).

Dificuldades para o trabalho dos professores de Educação Física no Ensino Médio de Escolas Públicas

    A Educação Física escolar deve ser entendida como um componente curricular, que como todas as outras disciplinas, procura possibilitar ao aluno a aprendizagem de determinados conhecimentos relacionados a fatos, conceitos, princípios, procedimentos, atitudes, normas e valores que devem acompanhar o ser humano durante toda a vida. (OLIVEIRA, 1995).

    Percebe-se atualmente, que a Educação Física em especial a do Ensino Médio é um componente curricular que muitas vezes é marginalizado, discriminado e desconsiderado (BARNI, SCHNEIDER, 2003).

    De acordo com Medeiros (2009) uma escola em más condições ou sem instalação e recurso material em quantidade insuficiente ou inexistente para as aulas de Educação Física, pode contribuir para um esquecimento e/ou desvalorização da disciplina por parte dos alunos, como se não fosse relevante para sua formação.

    Maraschim e Kuss (2003) afirmam que a Educação Física escolar apresenta-se condicionada a vários fatores como: espaço físico, condições climáticas, materiais, horários, número de alunos, entre outros.

    O fato de existir uma quadra nas escolas é considerado um fator positivo para o trabalho do professor de Educação Física, como apontado por Medeiros (2009) que investigou a realidade das escolas municipais de Belém e observou que em todas as escolas existia uma quadra. Porém em muitas escolas a existência de apenas uma quadra ou espaço para as aulas é insuficiente para atender a todos os alunos.

    De acordo com Ramos (1992) grande parte das escolas apresenta péssimas instalações, mal conservados, e algumas ocupam instalações emprestadas muitas vezes longe da escola, para as aulas de Educação Física. Esse fato gera uma grande dificuldade em desenvolver um planejamento adequado às necessidades do aluno, afetando o seu processo de aprendizagem e prejudicando seu desenvolvimento (POZZOBON, 1992). Além disso, os espaços mal conservados oferecem riscos a integridade física dos alunos.

    Embora seja mencionada em lei, a necessidade de um local adequado ou até mesmo uma sala de aula para as aulas de Educação Física quando chove, a observação demonstra que a realidade é muito diferente, a Educação Física é um componente curricular cujas aulas dependem de fatores atmosféricos (RAMOS, 1992), realidade frequente no sul do Brasil, que geralmente enfrenta invernos com frio rigoroso e muita chuva, impossibilitando o acontecimento de um grande número de aulas nesse período.

    O número limitado ou falta de materiais didáticos e sua má qualidade e conservação também é fator constante no cotidiano do professor de Educação Física, acrescenta-se ainda, que esses materiais, muitas vezes precisam ser divididos afim de atender a duas ou mais turmas que tem aula no mesmo horário. Medeiros (2009) observou nas escolas municipais de Belém que é baixo o número de escolas que apresentam quantidade de material acima de 10 unidades, sendo esse material para o ano todo, então, se por ventura o recurso se deteriorar não há substituição, diminuindo ainda mais a quantidade de materiais. Cordas, arcos ou bambolês, cones, bolas de borracha, colchonetes, entre outros são materiais mais difíceis de serem encontrados nas escolas.

    A falta de material didático faz com que os professores utilizem-se de meios alternativos para o desenvolvimento das aulas de Educação Física. Para Medeiros (2009) a utilização de espaços e material alternativos, compreendem um excelente recurso pedagógico, entretanto esse não deve ser o único meio para que o trabalho da Educação Física na escola aconteça.

    Os horários das aulas de Educação Física no Ensino Médio, em muitas escolas, são no turno contrário as outras disciplinas, isso faz com que os alunos encontrem vários empecilhos para a participação nas aulas, como: as atividades extra-curriculares (cursos preparatórios para vestibular e de ensino profissionalizante) trabalho, cuidar dos irmãos, dificuldades financeiras para deslocar-se até a escola duas vezes no mesmo dia entre outros, ocasionando um elevado número de dispensas (atestados) e de faltas, o que segundo Ramos (1992) resume a Educação Física a aulas para poucos alunos, principalmente aos que moram perto da escola e que não trabalham.

    Darido et al. (1999), observou que a maioria dos professores entrevistados no seu estudo, defendem as aulas de Educação Física no mesmo período das outras disciplinas, principalmente por poder atender a mais alunos, entretanto outros professores apresenta-se contrários e entendem que com o aumento do número de alunos nas aulas há também interesses (ou desinteresses) e habilidades mais diversificadas, o que impede a condução de um ensino de maior qualidade.

    A Educação Física vivenciada no Ensino Fundamental é outro fator que interfere e influencia na Educação Física do Ensino Médio. Como constatado por Possebon (2001) em sua pesquisa de mestrado, o aluno que vivenciou somente a prática do esporte nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental e que nem sempre teve a possibilidade de experiência positiva devido a aulas desmotivantes e rotineiras, são desestimulados e têm uma atitude negativa em relação às aulas de Educação Física.

    É importante que os alunos cheguem no Ensino Médio com as habilidades motoras desenvolvidas, para que seja possível dar continuidade ao trabalho de formação. Darido et al. (1999) observaram que 25, dos 30 professores entrevistados, revelaram a falta de interesse dos alunos aliadas a falta de habilidade dos mesmos, resultado da restrita vivência motora, adicionada às experiências negativas anteriores como as suas maiores dificuldades nas aulas de Educação Física.

Conclusão

    Além dos aspectos apresentados no texto, os quais foram observados na realização de estágios em escolas públicas, acredita-se que com o convívio diário na escola, é possível perceber todos os aspectos que envolvem o trabalho docente, assim a realização de estágios, sejam eles obrigatórios ou não, é fundamental para a formação dos acadêmicos dos cursos de Educação Física – Licenciatura.

    A soma de vários fatores como falta de espaço físico e infra-estrutura adequada, falta de materiais didáticos, horário das aulas, influências da Educação Física no Ensino Fundamental, entre outros, tornam a prática da Educação Física no Ensino Médio de escolas públicas, bastante deficiente e passível de uma formação incompleta dos alunos ao finalizarem sua vida escolar.

Referencial teórico

  • ALMEIDA, C.; CAUDURO, M. T. O Desinteresse pela Educação Física no Ensino Médio. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires. Ano 11, n. 106, mar, 2007. http://www.efdeportes.com/efd106/o-desinteresse-pela-educacao-fisica-no-ensino-medio.htm

  • BARNI, M. J.; SCHNEIDER, E. J. A Educação Física no Ensino Médio: Relevante ou Irrelevante? Ago-Dez, 2003. Instituto Catarinense de Pós-Graduação, ICPG.

  • BETTI, M.; ZULIANI, L. R.; Educação Física Escolar: Uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. São Paulo, v. 1, n.1, p. 73-81, 2002.

  • DARIDO, S. C.; GALVÃO, Z.; FERREIRA, L. A.; FIORIN, G.; Educação Física no Ensino Médio: Reflexões e Ações. Motriz, v. 5, n. 2, Dez, 1999.

  • ETCHEPARE, L. S.; A avaliação escolar da Educação Física na rede municipal, estadual, particular e federal de ensino de Santa Maria – RS. Dissertação (Mestrado em Ciência do Movimento Humano) – Centro de Educação Física e Desporto, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2000.

  • MARASCHIM, M. F. L. e KUSS, M. O ensino da ginástica geral nas aulas de Educação Física para alunos de 5ª séries: um relato de experiência. In: III Congresso Mercosul de Cultura Corporal e Qualidade de Vida. Anais, Ijuí: UNIJUÍ, 2003.

  • MATTOS, M. G.; NEIRA, M. G. Educação Física na adolescência: construindo o conhecimento na escola. São Paulo: Phorte, 2000.

  • MEDEIROS, A. S. Influências dos Aspectos Físicos e Didáticos Pedagógicos nas Aulas de Educação Física em Escolas Municipais de Belém. Revista Científica da UFPA, v. 7, n. 01, 2009.

  • OLIVEIRA, A. A. B. A formação universitária em Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 16, n. 3, p. 209-212, maio, 1995.

  • POSSEBON, M. As dispensas das aulas de Educação Física no Ensino Médio: Um estudo de caso em Santa Maria. Dissertação de Mestrado – Centro de Educação Física e Desporto, Universidade Federal de Santa Maria, 2001.

  • POZZOBON, M.E. Instalações esportivas no contexto das escolas públicas estaduais da cidade de Chapecó – SC. Chapecó: Monografia de Especialização. Universidade Federal de Santa Maria, 1992.

  • RAMOS, M. P.; Educação Física Escolar: o lado oculto das ausências às aulas. Dissertação de Mestrado, Campinas, SP, 1992.

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