Crescimento físico de crianças com idades de 10 a 14 anos Crecimiento físico de niños de 10 a 14 años |
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*Acadêmica do Curso de Educação Física (CEFID/UDESC) **Professora Doutora do Departamento de Educação Física (CEFID/UDESC) (Brasil) |
Joiana Dias Prestes* Zenite Machado** |
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Resumo O estudo objetivou verificar o crescimento físico (estatura, massa corporal e índice de massa corporal) de crianças de 10 a 14 anos de idade residentes em Florianópolis. Fizeram parte da amostra não probabilística, intencional, 552 crianças (268 do sexo masculino e 284 do sexo feminino). Os dados coletados foram a estatura e a massa corporal. Foram utilizadas como padrão de referência as tabelas de crescimento da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2006) e Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN, 2008). Para a classificação do IMC utilizou-se o escore- Z como ponto de corte. Para a estatura e massa corporal, ocorreu um aumento linear com a idade independente do sexo. Os valores médios do sexo feminino foram superiores na estatura nas idades de 11 e 12 anos, na massa corporal em todas as idades e no índice de massa corporal nas idades de 10, 13 e 14 anos. Em relação aos valores do IMC evidenciou-se que o índice mostra-se adequado em mais de 70% dos casos. Tais resultados sugerem que as crianças investigadas evidenciam um padrão de normalidade, embora ressaltem a importância do monitorando do desenvolvimento devido aos percentuais de sobrepeso e obesidade. Unitermos: Desenvolvimento infantil. Crescimento físico. Indice de massa corporal.
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http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Organização Mundial da Saúde OMS (1983) vem enfatizando a necessidade da realização de estudos sobre os níveis de crescimento em populações pertencentes a países subdesenvolvidos e/ou em desenvolvimento. Isto se deve a sua importância como um dos melhores indicadores de saúde da criança, em razão de sua estreita dependência de fatores ambientais, tais como alimentação, ocorrência de doenças, cuidados gerais e de higiene, condições de habitação e saneamento básico, acesso aos serviços de saúde, refletindo assim as condições de vida da criança, no passado e no presente (CADERNO DE ATENÇÃO BÁSICA, 2002). A infância e a pré-adolescência são consideradas períodos sensíveis na vida do ser humano, pois o organismo está em pleno desenvolvimento. Por esta razão a obtenção de informações detalhadas do crescimento infantil é considerada como um excelente indicador de saúde, ao permitir o estabelecimento de padrões de vigilância do desenvolvimento da criança (SARANGA et al, 2006).
A nutrição inadequada e o baixo peso continuam a ser problemas significativos em muitos países em vias de desenvolvimento. No entanto, a obesidade é agora igualmente uma ameaça séria e predominante à saúde dos jovens (HOSSAIN, KAWAR, NAHAS, 2007). Assim vale ressaltar que uma alimentação adequada durante os primeiros anos de vida é de fundamental importância para o crescimento, o desenvolvimento e a saúde ao longo prazo (ONIS, 2008). Desta forma torna-se muito importante a realização de inquéritos nutricionais no espaço escolar, uma ferramenta de extrema importância para compreensão da dinâmica nutricional de crianças e adolescentes (ANJOS et al, 2003).
Em vista do que foi exposto e devido à grande preocupação em se estar monitorando e acompanhando o desenvolvimento das crianças, o presente estudo objetivou verificar o perfil de desenvolvimento de crianças residentes em Florianópolis caracterizado através do crescimento físico (estatura e massa corporal) e estado nutricional.
Materiais e métodos
Amostra
A amostra do presente estudo foi constituída por 552 escolares (268 do sexo masculino e 284 do sexo feminino) com idades de 10 a 14 anos, inclusive. Os participantes estavam regularmente matriculados em estabelecimentos de ensino da rede pública estadual, sediadas em diferentes distritos da Ilha de Santa Catarina. O plano amostral foi não probabilístico, por acessibilidade, haja vista a necessidade de concordância dos pais ou responsáveis legais na participação das crianças. Foram utilizadas como critérios de inclusão a idade e a ausência de qualquer deformidade física que pudesse interferir nas aferições.
Instrumentos
As avaliações foram realizadas no próprio ambiente escolar respeitando os seguintes procedimentos. A estatura foi verificada através de uma régua fixa com 2 metros de altura, com fita métrica inextensível, escalonada em cm e mm, postada a 1 m do chão em uma parede sem rodapé. Para a verificação da massa corporal foi utilizada uma balança digital Laica, com plataforma escalonada em quilos e intervalos de 200 gramas, com registro mínimo e máximo de 12 Kg e 136 Kg respectivamente, cuja tolerância máxima corresponde a aproximadamente 1% do peso aplicado.
Procedimentos
Após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos pais ou responsáveis legais e o consentimento das Direções dos estabelecimentos de ensino a coleta foi agendada. Os dados propriamente ditos foram coletados nos meses de abril a julho de 2009. Todas as informações e medidas antropométricas foram obtidas nas próprias dependências dos estabelecimentos de ensino sendo que a coleta e a anotação dos dados foram realizadas por profissionais ou alunos de graduação da área de saúde, treinados especialmente para esta finalidade.
Para a avaliação do crescimento físico as crianças foram classificadas de acordo com a adequação Estatura/Idade, Massa Corporal/Idade e IMC/Idade, utilizando-se como padrão de referência, as curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2006) e Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN, 2008). Segundo estes referenciais os pontos de corte do IMC/Idade adotados foram: Baixo IMC para a idade (< Escore-z – 2), IMC adequado para a idade (³ Escore-z – 2 e < Escore-z + 1), Sobrepeso (³ Escore-z + 1 e < Escore-z + 2) e Obesidade (³ Escore-z + 2).
Tratamento estatístico
Os dados foram digitados e processados através do software SPSS 16. Os resultados foram analisados através da estatística descritiva (média, desvio padrão, freqüência simples e percentual) e organizados em tabelas e gráficos.
Resultados
Crescimento físico
Para a apresentação dos resultados optou-se pela seguinte seqüência: Valores médios da estatura, valores médios da massa corporal, valores médios do IMC e adequação do IMC para a idade. Os valores obtidos para a estatura e massa corporal são apresentados na tabela 1.
Tabela 1. Valores médios e desvio padrão da estatura e da massa corporal
Os dados da tabela 1 revelam inicialmente que embora se trate de um estudo transversal, os valores para a estatura apresentam um aumento linear com a idade, independente do sexo. Da comparação entre os sexos verifica-se que o feminino apresenta maiores valores para estatura nas idades de 11, 12 e anos. Este resultado é compatível com a precocidade do estirão pubertário das meninas. Para análise dos valores de massa corporal observa-se efeito similar ao ocorrido com a estatura, ou seja, observou-se aumento linear com a idade para ambos os sexos. Foi possível verificar que o sexo feminino apresenta médias de massa corporal superior ao do sexo masculino em todas as idades. A linearidade crescente dos valores para estatura e massa corporal, quando analisados isoladamente sugere um crescimento físico harmonioso. Nos gráficos 1 e 2 estes resultados podem ser melhor visualizados.
Gráfico 1. Médias de estatura corporal
Gráfico 2. Médias de massa corporal
Comparamos os resultados com outros estudos. Na variável estatura os valores médios dos sujeitos do sexo masculino, da presente amostra, são maiores que os dos meninos investigados por Anjos et al (2003) apenas na idade de 10 anos, e os do sexo feminino em nenhuma das idades. No estudo de Araújo e Petroski (2002), realizado em Florianópolis com crianças de escolas públicas, foram verificadas médias superiores para todas as idades e em ambos os sexos, exceto para sexo feminino na idade 13 anos. Os valores médios obtidos no presente estudo só foram superiores aos obtidos por Guedes et al (2006) nas idades de 10 e 12 anos no sexo masculino e na idade de 11 anos no sexo feminino. Verifica-se, portanto, uma tendência a menor estatura por parte da amostra do presente estudo.
Na variável massa corporal os escolares investigados no presente estudo apresentam valores superiores aos dos escolares investigados por Anjos et al (2003) apenas na idade de 10 anos, em ambos os sexos. No estudo de Guedes et al, (2006) os valores foram superiores em todas as idades, para ambos os sexos. Comparando ainda estes resultados para a massa corporal foi observado evidencias semelhantes no estudo de Pires e Lopes, (2005) em que constatou além do aumento linear com idade, valores muito próximos aos obtidos neste estudo.
Índice de Massa Corporal
Tabela 3. Valores médios e desvio padrão do Índice de Massa Corporal para a idade
Quanto aos valores do IMC (tabela 3) verifica-se que para o sexo masculino o maior valor é observados aos 12 anos de idade e o menor e aos 10 anos de idade. No sexo feminino o menor valor é verificado aos 11 anos e o maior aos 13 anos de idade. Quando se compara o comportamento desta variável entre os sexos verifica-se que o sexo feminino apresenta valores superiores nas idades de 10, 11, 13 e 14 anos. Enquanto as meninas investigadas no presente estudo só apresentam valor superior ao obtido por Anjos et al, (2003) na idade de 10 anos, os meninos ultrapassam os valores aos 10 e 12 anos. Uma congruência observada entre estes dois estudos é o fato de que os valores do IMC só são superiores para o sexo masculino na idade de 12 anos. Entretanto, no estudo de Guedes et al (2006) foi observado valores médios para o IMC inferiores ao da amostra atual para ambos os sexos e independente da idade. No gráfico 3 o comportamento desta variável pode ser melhor visualizado.
Gráfico 3. Médias do IMC para a idade
Em relação à adequação dos valores do IMC destaca-se inicialmente que independente do sexo, o índice mostra-se adequado em mais de 70% das crianças avaliadas. Verifica-se, entretanto, que 18,1% dos sujeitos do sexo feminino estão inseridas dentro do índice de sobrepeso sendo que para o sexo masculino este percentual é de 15,9%. Na observação da obesidade tem-se 8,5% das crianças do sexo masculino contra 10,4% do sexo feminino.
Tabela 3. Adequação do Índice de Massa Corporal (IMC)
Como pode ser verificado, o sexo feminino, quando comparado com o masculino, apresenta menor valor de inadequação do IMC em função do déficit de massa corporal para a estatura e valor inferior também para adequação. Estes valores inferiores são compensados com um discreto aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade, que atingem, quando somados, aproximadamente 30% da amostra.
Gráfico 3. Médias do IMC para a idade
Quando comparamos os resultados do presente estudo com os de uma amostra investigada por Guedes et al (2010) verificou-se que as crianças de Florianópolis encontram-se em uma situação mais crítica pois os escolares de Montes Claros apresentam valores inferiores para sobrepeso (13,4% e 17,1% respectivamente para o sexo masculino e feminino) e obesidade (2,5% igualmente para o sexo masculino e feminino). Por fim constatou-se que a anterior observação de que os dados isolados de estatura e massa corporal sugeriam um crescimento harmonioso não se confirmou plenamente quando do cálculo do IMC.
Conclusão
Os resultados das variáveis estatura e massa corporal, na área geográfica em que o estudo ocorreu (interior da Ilha de Santa Catarina), indicam que as condições de vida têm favorecido o desenvolvimento físico de crianças na faixa dos 10 aos 14 anos de idade. Isto se evidencia pela tendência observada de aumento tanto da estatura quanto da massa corporal. Verificou-se ainda uma harmonia entre as variáveis, haja vista os percentuais de crianças que apresentam IMC adequado para a sua idade.
No entanto, os resultados da adequação do IMC revelaram um dado preocupante. Apesar de a maioria dos escolares apresentarem índice de massa corporal adequado para a idade, os sujeitos do sexo feminino, principalmente, apresentam tendência maior ao sobrepeso e obesidade em relação a outros estudos. Estes resultados sugerem a necessidade da continuidade do monitoramento do crescimento físico das crianças desta região, haja vista a tendência de aumento dos casos de obesidade. Por fim, acredita-se que os resultados obtidos sirvam de alerta no sentido de suscitar a implementação de medidas que colaborem com a redução dos casos de sobrepeso e obesidade.
Referências bibliográficas
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