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Avaliação da coordenação motora: 

comparação entre crianças do meio urbano e meio rural

Evaluación de la coordinación motora: comparación entre niños del medio urbano y rural

 

*Professor do Colegiado de Educação Física

Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UNIOESTE

**Professora de Educação Física.

***Acadêmica do Curso de Educação Física – UNIOESTE

(Brasil)

Douglas Roberto Borella*

Makiele Schneider**

Jalusa Andréia Storch***

douglasedufisica@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: O presente estudo teve com objetivo avaliar a coordenação motora em crianças de 8 e 9 anos pertencente ao meio urbano e ao meio rural, para verificar a existência de diferenças entre as duas realidades distintas. A hipótese inicial do estudo era de que alunos do meio rural tivessem níveis mais altos de coordenação motora do que alunos do meio urbano. Metodologia: A amostra foi composta de 60 crianças, sendo 30 alunos de uma escola do meio rural (15 meninos e 15 meninas) e 30 alunos de outra escola, do meio urbano (15 meninos e 15 meninas), ambos de um município localizado no oeste do Paraná /BR. Como instrumento para a coleta de dados, utilizou-se o Teste de Coordenação Motora KTK – Koperkoordinations Test for Kinder – (GORLA & ARAÚJO, 2007). Os dados foram interpretados por meio da estatística descritiva (média e desvio padrão) e o teste T de Student não-paramétrico. A análise dos dados foi verificada através do Software SPSS 12.01. Resultados: Em todas as tarefas os alunos do meio rural apresentaram maiores valores. Entretanto, apenas na tarefa 4 (transferência sobre plataforma), foi encontrada diferença significativa. Os alunos do meio rural apresentaram maior número de atividades de lateralidade em suas aulas de Educação Física do que alunos do meio urbano, o que justifica a diferença encontrada na tarefa 4. Considerações finais: Conclui-se que, os alunos do meio rural, participantes deste estudo, possuem melhores índices quanto às suas habilidades motoras, sobretudo nos campos de lateralidade e agilidade, devido ao meio em que vivem, favorecendo maiores estímulos para o desenvolvimento dessas habilidades. Dessa forma, os professores de Educação Física devem estar atentos às suas práticas pedagógicas, buscando suprir a falta de estímulos sobre os alunos do meio urbano.

          Unitermos: Coordenação motora. Meio rural. Meio urbano.

 

 
http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Ao comparar o desenvolvimento motor de crianças que residem no meio urbano com as do meio rural, percebe-se que há diferença entre os tipos de coordenação motora apresentadas por elas, pois tratam-se de realidades distintas, e portanto, de estímulos e experiências diferentes.

    O termo coordenação motora é designado por Barbanti (2001, p. 51), como a “capacidade de assegurar uma adequada combinação de movimentos que se desenvolvem ao mesmo tempo ou em sucessão. Ela permite ligar habilidades motoras como corrida e salto, impulso e lançamento, e com os movimentos de membros superiores e inferiores”.

    Para que a coordenação motora de uma criança se desenvolva de modo satisfatório, seja no desempenho de atividades do cotidiano ou no esporte, Gallahue e Ozmum (2003), Magill (2000), bem como Gorla e Araújo (2007), pontuam que é necessário um ambiente rico em estímulos que favoreçam a aquisição de experiências, pois quanto mais diversas forem as situações vividas no meio urbano ou rural, melhor será o desenvolvimento da coordenação motora.

    As crianças do meio urbano apresentam maior dificuldade no desenvolvimento da coordenação motora devido à falta de espaços adequados para as suas vivências. Segundo Marmeleira e Abreu (2006), no meio urbano, a densidade habitacional e de tráfego, os estilos de vida das famílias e a gestão do tempo das crianças, dificultam o seu acesso aos espaços da rua e aos grandes espaços verdes.

    Em contrapartida, as crianças do meio rural têm uma vivência diferenciada. Faustino et al., (2003), têm analisado que, crianças residentes no meio rural possuem maior liberdade e ambientes mais espaçosos para a sua utilização. Deste modo, o espaço pode ser fator decisivo para um melhor desenvolvimento da coordenação motora, uma vez que poderão tirar o melhor aproveitamento dos seus impulsos de aprendizagem.

    Sendo assim, a coordenação motora é um foco de estudo na área da Educação Física, e nesta visão, Gallahue & Ozmun (2003), citam a importância na monitoração e avaliação das alterações desenvolvimentistas, bem como a identificação de retardos desenvolvimentistas e no fornecimento de uma nova visão esclarecedora sobre estratégias instrutivas.

    Como forma de avaliar o nível de coordenação motora, um dos métodos propostos é a utilização do teste KTK (Körperkoordinationstest für Kinder), proposto por Gorla e Araújo (2007). O teste é composto por quatro provas, utilizando as mesmas tarefas de coordenação para várias idades. Entretanto, os conteúdos das tarefas devem apresentar dificuldades acrescidas conforme os indivíduos apresentam maior idade. Os objetivos do teste do KTK são as caracterizações de facetas da coordenação corporal total e o domínio corporal (GORLA e ARAÚJO, 2007).

    Atualmente, sabe-se da importância da Educação Física na promoção do desenvolvimento da coordenação motora nos alunos, e desta forma, o teste KTK revela-se como um instrumento de pesquisa fidedigno para avaliação de tal capacidade física.

    Como problema de pesquisa, acredita-se que crianças do meio rural têm maior riqueza de experiências motoras, ao passo que crianças de meio urbano levam vidas mais sedentárias. Logo, supõe-se que, crianças de meio rural têm níveis mais altos de coordenação motora que as crianças do meio urbano.

    Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi o de avaliar a coordenação motora em crianças de 08 e 09 anos do meio urbano e do meio rural para verificar a existência de diferença em relação a coordenação motora entre as duas realidades distintas.

2.     Metodologia

    Este estudo encontra-se ancorado na pesquisa quantitativa, descritiva do tipo transversal, envolvendo variáveis que buscaram identificar os níveis de coordenação motora das crianças envolvidas no estudo, de acordo com os princípios de Thomas e Nelson (2002).

    A população da presente pesquisa foi composta por alunos de ambos os gêneros, com idades entre 08 e 09 anos, de duas Escolas Públicas Municipais, localizadas em um município no Oeste do Paraná/BR. A amostra foi constituída por 60 alunos, sendo 30 alunos (15 do gênero masculino e 15 do gênero feminino) de uma escola localizada no meio rural e 30 alunos (15 do gênero masculino e 15 do gênero feminino), de outra escola do meio urbano.

    Os dados coletados nesta pesquisa foram obtidos por meio do teste de coordenação motora KTK, proposto por Gorla e Araújo (2007), composto por uma bateria de quatro provas: Tarefa 1: trave de equilíbrio; Tarefa 2: salto monopedal; Tarefa 3: salto lateral; e, Tarefa 4: transferência sobre plataforma.

    O tratamento estatístico dos dados foi realizado por meio da comparação feita com estatística descritiva (Média e desvio Padrão) e teste t - Student não paramétrico, para verificar a existência de diferenças estatisticamente significativas. Para a análise dos dados foi utilizado o pacote estatístico SOFTWARE SPSS 12.01 (SPSS INCORPORATION, 1997).

3.     Resultados e discussões

    O teste de coordenação motora KTK possibilita três tipos de análises, entre elas: o quoeficiente motor de cada tarefa, o somatório dos quoeficientes motores das quatro tarefas, ou ainda o quoeficiente motor total onde são classificados os níveis de coordenação motora. Ainda neste estudo, foi possível realizar a comparação entre o gênero feminino e masculino e a comparação entre meio urbano e meio rural.

    A seguir, serão apresentados os resultados obtidos por meio da tabela 01, que permite a verificação da comparação entre os alunos do gênero feminino e masculino dos meios rural e urbano:

Tabela 01. Comparativo entre os meios: teste de significância estatística para as variáveis média, desvio padrão e P.

    Em relação a comparação do gênero feminino entre os meios rural e urbano, as meninas do meio rural obtiveram níveis superiores de coordenação em todas as tarefas, havendo diferenças significativas nas tarefas 1 (trave de equilíbrio), tarefa 2 (salto monopedal), tarefa 4 (transferência sobre plataforma). Foi encontrada também diferença significativa no somatório com nível de (p=0,0018) e no QM Total com nível de (p=0,005).

    A comparação do somatório do gênero feminino entre meios permite a observação de que, as meninas do meio rural trouxeram média superior às meninas do meio urbano, com diferença significativa (em nível de p=0,0018).

    Entre o gênero masculino, os meninos do meio rural tiveram níveis superiores de coordenação motora em todas as tarefas em relação aos meninos do meio urbano. Verificou-se diferença significativa na tarefa 1 (trave de equilíbrio) e na tarefa 2 (salto monopedal). Foi encontrada também diferença significativa no somatório com nível de (p=0,003) e no QM Total com nível de (p=0,003).

    Semelhante achado foi atribuído ao somatório do gênero, onde os meninos do meio rural tiveram média superior aos meninos do meio urbano, verificando-se diferença significativa (em nível de p=0,003).

    Levando-se em conta a média geral do meio urbano e meio rural, pôde-se observar através do quociente motor, que nas quatro tarefas recomendas pela bateria de teste, o meio rural apresentou maior conotação que o meio urbano. Verificaram-se também diferenças significativas no somatório e quociente motor total, implicando em média superior adquirida por alunos do meio rural, quando comparados aos do meio urbano.

    A tabela 02 demonstra o comparativo do quociente motor resultante da análise dos meios rural e urbano.

Tabela 02. Comparativo entre o meio rural e urbano

    Entre os meninos e as meninas do meio rural, houve diferença estatística significativa na tarefa 3, obtendo média para meninos de 94,4 (13,43) e para meninas de 77,4 (12,94) com nível de p=0,0015.

    Dentre os meninos e meninas do meio urbano, houve diferença estatística significativa na tarefa 3, com média para meninos de 87,4 (12,30) e para meninas de 75,5 (13,13) com nível de p=0,0016.

    Em relação ao somatório dos quocientes das tarefas, foi possível verificar que no meio rural os meninos tiveram performance superior às meninas, onde a média masculina computou 374,9 (32,51) ao passo de 359,7 (25,65) para a feminina. De igual modo, o somatório do meio urbano também repercutiu em diferenças entre os generos, com média dos meninos superior às meninas, de 328,2 (45,24) para 320,3 (36,20).

    O Quociente Motor Total demonstrou diferença entre alunos do meio rural, onde os meninos obtiveram média de 91,6 (10,41) sendo superior ao das meninas, com média de 86,8 (8,47). Quanto ao meio urbano os achados foram semelhantes, sendo a média dos meninos superior a média das meninas, de 76,7 (14,52) para 72 (11,98).

    Em relação a classificação da coordenação motora, nenhum dos 30 estudantes do meio rural apresentou classificação Alta (QM:131 – 145) e/ou Boa (QM: 116 – 130). Entretanto, 18 alunos foram classificados como Normal (QM: 86 -115), dentre eles, 11 meninos e 07 meninas. Ainda, 12 alunos foram classificados como Regular (QM: 71 – 85). Cabe ressaltar que, neste estudo, não foi reportado nenhum aluno com classificação Baixa (QM: 56 – 70).

    No meio urbano, observou-se que dos 30 educandos, nenhum apresentou classificação motora Alta ou Boa. Todavia, quatro alunos foram classificados como Normal, sendo 03 meninos e 01 menina; ainda, 13 alunos foram classificados como Regular, sendo 06 deles meninos e 07 meninas. Por fim, 13 alunos foram classificadas como Baixa, sendo 06 meninos e 07 meninas.

    Verificou-se por meio da análise das respostas, que não existiram diferenças estatisticamente significativas entre as médias de idade, onde os resultados encontrados não demonstram diferenças de idade entre os grupos, somente entre diferenças no gênero.

    Em relação a classificação dos níveis de coordenação motora, a análise das respostas permitiu verificar que alunos do meio rural apresentaram níveis de coordenação motora superior em todas as tarefas em relação aos do meio urbano. De modo geral, ao aferir entre meio rural e urbano revelou diferença significativa (em nível de p=0,02) beneficiando o meio rural.

    Corroboram com os achados deste estudo as referências de Marmeleira & Abreu (2006), onde os autores apontam que estudos comparam a performance motora em função do meio urbano versus rural. Os resultados transmitem-se significativamente superiores entre crianças do meio rural na coordenação geral. Tal motivo deve-se ao fato dos alunos do meio rural possuírem uma vivência diferenciada das crianças do meio urbano, e, por conseguinte, refletindo em diferenças nos níveis de coordenação motora.

    A vivência das crianças residentes no meio rural, ainda atribuída por Marmeleira & Abreu (2006), referem-se a vários fatores, tais como acessibilidade aos espaços para brincar, as características dos mesmos, e os estilos de vida relacionados à gestão do tempo de trabalho e lazer.

    Em relação ao somatório dos quocientes motores obtidos na execução das quatro tarefas propostas pelo KTK, tanto no meio rural quanto no meio urbano, os meninos obtiveram média superior ao das meninas. Enquadra-se também nestes achados o estudo de Lopes (1997), onde se revela em sua observação que meninas apresentaram valores médios significativamente inferiores aos meninos.

    Ainda, Lopes (1997), menciona que tal diferença no nível de desenvolvimento da coordenação motora entre os meninos e meninas deve-se principalmente a diferentes oportunidades de práticas de atividade físico-motora, sobretudo no meio familiar, pois as atividades permitidas entre os gêneros são diferentes.

    O estudo de Gorla e Araújo (2007) demonstrou que a Educação Física Escolar, embasada no princípio da educação psicomotora, pode contribuir para o desenvolvimento da coordenação corporal dos alunos.

    Desta forma, a bateria de tarefas propostas pelo teste KTK pode ser usada seguramente para avaliar o nível de coordenação motora em crianças, seja na Educação Física Escolar, como também na Educação Física Adaptada, para a monitoração, avaliação e identificação das alterações desenvolvimentistas auxiliando como recurso esclarecedor sobre estratégias instrutivas.

Considerações finais

    A comparação entre os meios rural e urbano merece atenção dos pesquisadores da área de Educação Física, devido às modificações que o meio urbano tem sofrido em conseqüência do processo de desenvolvimento e das complicações dele oriundas, tais como violência, mudanças na rotina das crianças, falta de espaços para prática de atividade física, entre outras.

    Neste estudo foram encontradas diferenças entre os dois meios, demonstrando através da média geral do quociente motor, que o meio rural obteve maior conotação nas quatro tarefas propostas pela bateria KTK. Em relação ao gênero, verificou-se que os meninos obtiveram maior desempenho no somatório dos quocientes das tarefas, em ambos os meios.

    Além dos maiores valores no teste, os alunos do meio rural apresentaram destaque em número de atividades de lateralidade em suas aulas de Educação Física, o que justifica a diferença encontrada na tarefa 4 (transferência sobre plataforma).

    Entretanto, as diferenças encontradas para os valores de coordenação motora dificilmente podem ser atribuídas à quantidade de aulas nos programas de educação física dos quais as crianças participam nas escolas do município investigado, pois todos os alunos apresentam a mesma quantidade de horas/aula semanais. As diferenças da coordenação motora reveladas neste estudo geram preocupação, pois permite levantar o seguinte questionamento: como serão as diferenças nas grandes cidades?

    Fica evidente também o importante papel da Educação Física para o desenvolvimento da coordenação motora. É preciso que os programas de Educação Física das escolas do meio urbano sejam mais completos, a fim de suprir a falta de estímulos sobre os seus alunos.

    Por fim, verifica-se que a bateria de testes KTK mostrou-se de grande utilidade como instrumento de avaliação da coordenação motora para a Educação Física Escolar.

    Após a realização desta pesquisa, foi respondido o objetivo do estudo, e uma nova questão pode ser levantada, a qual deverá orientar a realização de novas pesquisas: o quanto pode ser efetivo um programa de educação física para melhorar da coordenação motora dos alunos do meio urbano, a fim de sanar a falta de estímulos a que os alunos estão sujeitos.

Referências bibliográficas

  • BARBANTI, Valdir. Treinamento Físico: Bases Cientificas. 3. ed. São Paulo: Balieiro Editores, 2001.

  • FAUSTINO, Antonio Jose D.; PROENÇA, Maria João; MATOS, Mauro Filipe Pires de.; CRUZ, Nuno Rodrigo A. G. Estudo comparativo entre alunos de 2º ano da escola E.B. 1 Nº 4ª-SR.ª da Piedade (Castelo Branco) e os das escolas E.B 1 do Retaxo, Cebolais, Sobral do Campo e Juncal do Campo. 2003.

  • GALLAHUE, David L.; OZMUN, John C. Compreendendo o desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 2. ed. São Paulo: Phorte Editora, 2003.

  • GORLA, José Irineu; ARAÚJO, Paulo Ferreira de. Avaliação Motora em Educação Física Adaptada: teste KTK para deficientes mentais. 1. ed. São Paulo: Phorte Editora, 2007.

  • LOPES, Vitor Pires. Efeito do ensino no desenvolvimento da capacidade de coordenação corporal em crianças de oito anos de idade. 20. ed, São Paulo: Rev. Paul. Educ. Fis, 1997.

  • MAGILL, Richard A. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. 5 ed. São Paulo: Edgard Blücher LTDA, 2000.

  • MARMELEIRA, José Francisco Felipe; ABREU, João Paulo. O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo. Universidade de Évora, Portugal, 2006.

  • SPSS Incorporation, 1997. Statistical Package for the Social Sciences – SPSS, Version 12.01. Chicago: SPSS Incorporation.

  • THOMAS, Jerry R.; NELSON, Jack K. Métodos de Pesquisa em Atividade Física. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed: 2002.

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