efdeportes.com

As aulas de Educação Física na infância: capacidades 

motoras, crescimento e princípios do treinamento

Las clases de Educación Física en la infancia: capacidades motoras, crecimiento y principios del entrenamiento

 

*Programa de Mestrado em Educação Física

da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT)

Especialista em Fisiologia do Exercício (FIBRA)

Coordenador de Educação Física do Colégio Ipiranga

**Programa de Mestrado em Educação Física

da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT)

Professora de natação Infantil da Academia Pelé Club

***Especialista em Fisiologia e Cinesiologia do Exercício (UVA)

Rodolfo de Azevedo Raiol*

Paloma Aguiar Ferreira da Silva Raiol**

Maikon Alexandre Tavares Araújo***

rodolforaiol@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Com o avanço das pesquisas referentes à motricidade humana a Educação Física vem crescendo em importância no âmbito escolar. Em conseqüência disto, professores de educação física estão sendo requisitados para trabalhar no nível da Educação Infantil. Este estudo busca abordar o comportamento e desenvolvimento das capacidades motoras, o crescimento e treinamento durante a fase da infância, enfocando aspectos do cotidiano da vida escolar desse aluno desde a o início até o final da infância no que se refere a atividades físicas. Para isso, foi feita uma revisão de literatura com 19 trabalhos situados entre os anos de 1999 e 2008. Foi identificado que a Educação Física durante a Infância ocupa lugar de destaque no desenvolvimento das Capacidades Motoras e no Crescimento, estas são a base para a execução das tarefas do cotidiano das crianças. Fica claro também a importância gigantesca que o professor de educação física tem nesse processo, pois com o treinamento adequado e orientado para cada faixa etária os benefícios para as crianças tanto nas capacidades motoras quanto no crescimento é otimizado.

          Unitermos: Educação Física. Capacidades motoras. Princípios do treinamento.

 

 
http://www.efdeportes.com/ EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 149, Octubre de 2010. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Anteriormente vista como sem grande importância no âmbito escolar, a Educação Física no período da infância tem ganhado espaço nas escolas. Em um passado não muito distante, os próprios professores de sala, que são formados em Pedagogia ou em Formação de Professores, eram os responsáveis por ministravam as aulas de educação física intitulando as mesmas como Recreação ou simplesmente como horários de jogos e brincadeiras (FREIRE & LEITE, 2008).

    Com o avanço das pesquisas no campo da motricidade humana, a educação física escolar passa a te um papel de maior importância durante a educação infantil e, atualmente, é cada vez mais comum as escolas terem em seu quadro de professores, pelo menos, um professor de educação física para esse nível.

    Aspectos físicos, sociais, psíquico e cognitivo fazem parte do conteúdo da Educação Física durante a infância (FERREIRA, 2006) e isso mostra sua importância no desenvolvimento das crianças, pois vivemos em um mundo onde os espaços públicos de lazer estão cada vez mais escassos, com isso o único espaço que as crianças têm para praticar exercícios e socializar-se fica sendo o próprio colégio, sobretudo nas classes mais baixas da sociedade.

    Os professores na educação física durante a infância têm conteúdos e objetivos a serem atingidos com seus alunos de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as próprias diretrizes das instituições de ensino em que trabalham, dessa forma, se faz necessário um aprofundamento dos conteúdos da educação física para que os professores possam atuar com maior segurança e direcionamento. (AZEVEDO & PEREIRA, 2007; BETTI & ZULIANI, 2002).

    Essa revisão irá enforcar o aspecto do Crescimento Físico e do Desenvolvimento Motor, bem como as formas de treinamento e atividades adequadas a serem realizadas pelas crianças durante a infância nas aulas de educação física.

Capacidades motoras

    As capacidades motoras são componentes do rendimento físico, são elas que nós utilizamos para realizar os mais diversos movimentos durante a nossa vida. São em um total de cinco: Resistência, Força, Flexibilidade, Agilidade e Velocidade. (MARQUES & OLIVEIRA, 2001).

    O período etário que compreende a infância vai dos 2 anos até os 10 anos de vida, sendo dividido em início da infância, entre 2 e 6 anos e final da infância entre os 6 e 10 anos. (GALLAHUE & OZMUN, 2005).

    Durante o início da infância a uma melhora expressiva da coordenação dos movimentos que são treinados pelas crianças com regularidade (MATTOS & NEIRA, 2007) embora essa afirmação pareça obvia ela vem demonstrar a importância da realização dos exercícios físicos de forma ordenada planejada e segura.

    Nesse período inicial é importante propiciar as crianças as mais diversas experiências motoras para o cérebro possam criar engramas motores que serão utilizados em atividades mais complexas posteriormente, isso significa que as aulas de educação física devem conter exercícios, na verdade, brincadeiras ou jogos por conta da ludicidade, que contemplem as mais diversas capacidades motoras como força, flexibilidade, agilidade, resistência e velocidade. (THOMPSON, 2005; DARTAGNAN, 2007).

    Vamos tomar como exemplo a brincadeira de “Pira-alta”: Alguém é eleito o pegador que deve tocar as outras crianças e essa criança quando tocada passa a ser o pegador no lugar do primeiro, a forma de refugio, ou seja, de não ser pego, é estar em algum lugar alto, pois assim o pegador não poderá tocá-lo por regra do jogo. Nessa brincadeira trabalhamos as capacidades motoras da agilidade nas mudanças de direção fugindo do pegador ou tentando pegar os colegas, velocidade ao correr em direção aos colegas, força para subir em qualquer lugar alto e resistência para conseguir manter a atividade durante toda a aula, ou seja, praticamente todas as capacidades motoras estão sendo trabalhadas de uma só vez em apenas um jogo ou brincadeira validando o conhecimento da cultura popular, pois essa brincadeira que vem sendo passada de geração em geração possui um cunho motor riquíssimo (MATTOS & NEIRA, 2007; GALLAHUE & OZMUN, 2005; FERREIRA, 2006).

    Já no final da infância, as crianças já estão em um estágio de amadurecido na maioria de suas capacidades motoras fundamentais. A partir de agora o desenvolvimento dessas capacidades motoras vai depender do quanto essa criança será estimulada, serão necessários jogos que combinem as capacidades motoras e que exigem um pouco mais e seu condicionamento físico geral (GALLAHUE & OZMUN, 2005).

    Assim no que se refere às atividades a serem desenvolvidas pelas crianças é importante aumentar o grau de dificuldade daquelas brincadeiras aprendidas durante a fase inicial da infância como, por exemplo, colocar mais uma regra nos jogos de “pira” ou utilizar implementos diferentes nos jogos de Estafeta (corridas de vai-e-vem). Os esportes adaptados em suas regras de acordo com a faixa etária, é claro, também se tornam uma boa opção de novo estímulo para que possamos continuar a desenvolver as capacidades motoras de nossas crianças (MATTOS & NEIRA, 2007).

Crescimento

    O termo “Crescimento” é utilizado para definição da totalidade de alterações físicas que ocorrem com as crianças (GALLAHUE & OZMUN, 2005; BOHME, 1999). Existem outros autores que preconizam que a definição acima não seria de crescimento e sim de “desenvolvimento” (CAMPOS, 2001; ROBERTS & ROBERGS, 2002) esses autores consideram que o termo crescimento estaria relacionado apenas com o aumento da estatura e do peso e as outras alterações físicas estariam relacionadas com o termo desenvolvimento. Para efeito do nosso trabalho utilizaremos a primeira definição de Crescimento, pois abrange todas as alterações que a criança sofre na infância.

    O processo de crescimento no início da infância vai desacelerando em relação à primeira infância (período compreendido entre o nascimento e os dois primeiros anos de vida), nesse período também é notável a redução do tecido adiposa e o aumento da massa muscular, fato esse que vai progredindo ao longo da infância. Essa taxa de crescimento é aferida, em geral, através das variações de peso e estatura de acordo com o tempo (idade) (ROBERGS & ROBERTS, 2002). As alterações físicas são avaliadas de forma subjetiva ou através de avaliação da maturação biológica (DANTAS & FERNANDES FILHO, 2005) no caso de crianças mais velhas.

    Na fase final da infância o crescimento se dá de forma mais lenta que no início da mesma, mas estável e há um progresso maior em direção a organização das capacidades motoras. Nessa fase, a criança tem excelentes ganhos no seu desempenho esportivo, fato esse que se deve justamente a estabilização do crescimento permitindo a criança se acostumar com seu corpo, facilitando assim a sua relação com seu centro de gravidade, por conseguinte, lhe proporcionando maior estabilidade (GALLAHUE & OZMUN, 2005).

    Na proporção que a criança vai crescendo as capacidades motoras tendem se desenvolver o que demonstra que esse processo é interligado, em outras palavras, o crescimento físico das crianças é diretamente proporcional a melhora das capacidades motoras das mesmas (RÉ et. al., 2005).

Treinamento

    Todo treinamento tem por objetivos gerar adaptações estruturais e funcionais para aprimorar o desempenho em tarefas específicas (MCARDLE, KATCH & KATCH, 2008).

    Deve-se ter atenção especial na elaboração do treinamento para as crianças, pois elas ainda não são seres humanos totalmente desenvolvidos.

    Um ponto importante são os ossos. As crianças ainda não têm a ossificação completa, pois seus ossos ainda estão em crescimento, na composição desses ossos que ainda não se desenvolveram totalmente existem placas epifisárias feitas de cartilagem que posteriormente serão substituídas da composição óssea por osso compacto quando esses estivem completado o seu ciclo de crescimento, dessa forma, por haver essas regiões nos ossos ainda com cartilagens esse osso fica menos resistentes aos impactos externos e pode vir a sofrer lesão no desenvolvimento das atividades, essas lesões podem gerar conseqüências graves, inclusive danos ao crescimento longitudinal do osso lesado. (CAMPOS, 2001).

    Ainda segundo Campos as articulações, tendões e ligamentos também são regiões fragilizadas, pois elas ainda apresentam um maior nível de viscosidade e um menor nível de colágeno em relação aos seres humanos adultos, deixando essas estruturas mais instáveis, dessa forma, expostas a uma maior propensão para deslocamentos, inflamações e etc.

    Após esse breve apanhado das diferenças estruturais entre crianças e adultos podemos abordar os princípios básicos do treinamento desportivo. Segundo Dantas (2003) são:

    Com esse conhecimento prévio podemos abordar agora como se deve utilizar o treinamento durante as aulas de Educação Física, lembrando que independentemente de que fase da infância a criança se encontre é necessário estar atento as considerações anteriores.

    Primeiramente deve-se considerar que embora a atividade seja em grupo cada criança é um ser diferente (GENÚ, 2005) e assim dará respostas diferentes (princípio da individualidade biológica), algumas crianças vão mais rapidamente aprender a execução de determinada atividade, pois já possui, de maneira inata, a capacidade motora, necessária para realização dos movimentos referentes à atividade, genotipicamente desenvolvida, por outro lado outras crianças, terão dificuldades, porém com a insistência (princípio da continuidade) e o decorrer do treinamento alcançarão bons resultados (FLECK & KRAEMER, 2006).

    As atividades selecionadas para o desenvolvimento das capacidades motoras devem estar de acordo com o nível do grupo de crianças, pois atividades muito difíceis não possibilitarão que a criança as execute e assim não conseguirão melhora alguma, porém atividades muito fáceis não gerarão estímulos suficientes para que ocorra melhora das capacidades motoras trabalhadas (princípio da adaptação), além disso, deve-se atentar também para o princípio da sobrecarga, pois é de acordo com a sobrecarga aplicada que deveremos dar o intervalo de recuperação para outro estímulo de tal grandeza e que está sobrecarga deve ser progressiva (DANTAS, 2003).

    Por fim, devemos sempre escolher a atividade de acordo com a capacidade motora a ser trabalhada (princípio da especificidade) para que haja resultados ótimos e não esquecer o princípio da interdependência volume-intensidade, assim cada vez que aumentar a intensidade da aula, através de um exercício ou brincadeira que permita pouco descanso, por exemplo, devemos diminuir a duração (volume) da mesma. Do mesmo modo sempre que tivermos uma atividade mais longa, está de ser menos intensa para que se possa suportar a mesma (MCARDLE, KATCH & HATCH, 2008).

Conclusão

    A educação física durante a infância tem importância fundamental para o desenvolvimento da criança durante os seus primeiros anos de vida (2 a 10 anos), devido a essa importância ela deve ser trabalhada nas escolas desde a educação infantil por profissionais qualificados da área de educação física.

    O desenvolvimento das capacidades motoras serve para executarmos nossas ações durante toda a vida e seu treinamento começa na infância, de forma lúdica para aumentar o grau de interesse das crianças pela atividade física, desenvolvendo esse hábito saudável, dessa maneira é papel do professor de educação física tornar sua aula motivante e interessante, isso pode ser conseguindo contextualizando a brincadeira com assuntos rotineiros as crianças através de contos, músicas e outras ferramentas.

    Conforme a criança vai crescendo a tendência é que as capacidades motoras se desenvolvam, porém esse desenvolvimento só se dará de forma acentuada se as crianças forem devidamente estimuladas respeitando os princípios do treinamento desportivo. Esse treinamento deve ser cercado por cuidados especiais, sobretudo em relação à estrutura osteo-mio-articular das crianças que é mais frágil que nos adultos.

    A Educação Física Escolar, através dos recentes estudos, vem ganhando importância e destaque no cenário acadêmico, assim cabe a nós professores dar continuidade a esse trabalho para que nosso papel dentro da educação e do desporto seja cada vez mais uma referência.

Referencias bibliográficas

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 149 | Buenos Aires, Octubre de 2010
© 1997-2010 Derechos reservados